Volume 1 – Volume 2

Capítulo XXVII: É pelo visto teremos que ser Tanya Degurechaff

Então chegou a manhã e também chegou às más novas, eram aproximadamente 8 horas da manhã horário local do dia 10 de Maio de 2041 depois de Cristo e dia 9 do sexto mês do ano 817 da sétima era na Mesogeia.

Chegou ao povoado um homem-lobo. Este povo chama a sua raça de katzuleanos e se divide como os humanos em vários povos e tribos vivendo espalhados pela Mesogeia.

O indivíduo em questão se chamava Borz Tarlailaip Barz e pertencia à etnia dos Tepkadielnianos ou tribo do norte - leste, e ele estava assustado, muito ferido e muitos consideraram uma benção, quase um milagre por ele estar vivo.

Murmurando enquanto se arrastava abatido pela exaustão ele gritava:

—ASIOU!!!! ASIOU!!!!! ASIOU MO PECAS!!!!!!!!!!

—ASIOU MO PECAS EI PERI AGAPI

Traduzindo, o homem disse: Ajuda, ajuda, ajuda minha carne, ajude minha carne se há bondade. Esse tipo de grito de clemência era muito comum aos que precisavam desesperadamente de ajuda.

Vendo isso um dos rapazes que veio como colono e estava indo na casa de um nativo por acaso concertar algumas coisas avistou o ferido e berrou por ajuda mesmo não conseguindo entender o que o homem dizia (o rapaz sabia pouco yamareu), logo Frade Mathias veio acudir e ajudou a levar para a enfermaria que tinha sido montada pelos colonos.

Gilmar estava por perto, tinha ido à antiga estrebaria onde agora estavam estacionado os veículos trazidos pelos colonos para ajudar a consertar alguns dos mesmos veículos “que maravilha não me diga que vocês compraram para ir a outro mundo veículos de segunda mão, esse perua é igual ao que meu avô tinha quando virou o milênio” resmungou o Lusitano que planejava seguir viagem na manhã seguinte.

Vendo o caos ele correu até a enfermaria onde lá homem-lobo ferido ficava falando e repetindo a mesma coisa, Gilmar esperou as coisas tranqüilizarem um pouco e questionou o Frade:

—Mathias, por favor, traduza o que esse cara está falando de forma tão desesperada.

—Parece que um general leal a Apolonius resolveu marchar em direção a Forte São Jorge devastando todo o território que em algum momento foi controlado por Galba e de quebra exterminar nós os colonos Brasileiros em vingança a um incidente ocorrido dias atrás em uma cidade mercantil mais ao sul, aliás Gilmar, Kuria que incidente foi este? Estamos meio que sem conseguir receber notícias....

Gilmar foi que respondeu:

—Então fiquei sabendo também há pouco tempo parece que alguns soldados Brasileiros mandados para libertar uns escravos meio que se estranharam com os governantes da cidade em questão

—E então houve uma batalha e metade das forças da cidade e bom número de magistrados, proprietários de escravos, gente bacana, foi morta ou gravemente ferida na confusão. Completou Kuria.

—Pois segundo nosso amigo ferido, o filho adotivo que era sobrinho e também genro deste general, rapaz muito famoso e bonito está entre os mortos. É por isso que esse general está trazendo 5000 homens para cumprirem a sua missão e eles chegarão aqui amanhã. Respondeu Mathias.

—Está vendo Kuria, não sou o único que faz merda e põe tudo a perder, olha só que legal, aqueles filhas da puta de dedo mole causaram esse belo contratempo, aahhhh como é bom começar o dia com aquela redpill.

Gilmar inspira e expira profundamente tentando desestressar...

—É, senhores vamos morrer… 5000 homens...

—8000 Gilmar

—Não era 5000?

CARAMBA!!!Algum militar Brasileiro por aqui?

—Só você e a Kuria que tem posto de marechal. Respondeu um dos colonos

—Eu não vou me meter nessa batalha, nós divindades temos que intervir pouco na história dos homens.

—Por que você e seu irmão já estouraram a cota várias vezes.... Respondeu Gilmar aborrecido

—Eu cuidarei dos feridos e dos mortos em compensação.

—Adoro seu otimismo “DEUSA”, bom já que sou o único soldado aqui eu declaro que assumo o comando da situação! Pessoal, reúnam todos que podem segurar uma arma ou uma pá, também reúnam todas as armas, vocês trouxeram armas não trouxeram (se referindo aos missionários e colonos)

—Somos franciscanos e não andamos com armas. Respondeu um dos frades

—Put... Quase gritou Gilmar

—Tá e os colonos? Trouxeram armas? TROUXERAM?!!!!!!!!

—Sim trouxermos uns Winchester para caçar e autodefesa. Respondeu um dos colonos.

—Tem munição?

—Sim

—Muita?

—Acho que sim

—Quantos rifles?

—30 carabinas winchesters e 20 fuzis imbel para uso civil, também ensinamos alguns nativos a usar e sim temos muita munição apesar do desaprovo dos frades. Disse outro colono.

Gilmar pediu uma mesa e nela estendeu um mapa da região feito por um dos rapazes missionários que era por sinal formado em geografia e especializado em topografia e cartografia (que conveniente).

Este que era um dos colonos e que em breve receberia sua esposa e filho para viverem na região tinha feito um mapa extremamente detalhado com apenas papel e alguns simples instrumentos de medição e orientação.

Com o mapa em mãos, observando quase que debruçado sobre ele, Gilmar ficou o resto da manhã fazendo todas as perguntas possíveis, mas antes pediu a alguns colonos e nativos que se ocupassem da construção de uma trincheira na parte norte do terreno.

Instruiu que ela deveria se estender por todo o flanco norte o mais extenso possível, que deveria ter dois metros de profundidade e a terra retirada deveria ser jogada a frente formando uma pequena elevação e que se jogasse qualquer sorte de obstáculos à frente dela para dificultar o avanço inimigo. 

Pediu que se fizessem essa linha de defesa nem que para isso tivessem que trabalhar até a exaustão, as mulheres e crianças também ajudariam já que seriam poupadas do combate (algumas iriam participar da batalha por conta própria em meio aos colonos e nativos).

—Não é algo ao mesmo tempo tenebroso e empolgante? Tenho à minha frente um literalmente tudo ou nada, ou conquistamos as glórias ou morreremos e deixaremos para outros estes louros prometidos. 

Não, não, um soldado precisa ter fé ainda mais se está na linha de frente, neste mundo novo que nos abre temos que agarrar também na fé de que as forças armadas imperiais do Brazil são superiores, nós suaremos, sangraremos, mas venceremos afinal não estamos enfrentando nem mulçumanos, nem comunistas e mesmo que tivéssemos enfrentando, isso não importaria.

Ninguém entendeu o que o português estava falando, parecia que não era nada mais nada menos do que para ele mesmo que ele falava, uma espécie de auto discurso se é que existia isso. Seu olhar tinha uma mistura de medo e empolgação, medo e empolgação não é o que se sente na véspera de uma batalha? 

 

Ele estava “puto”, pois fora pego de repentino pela refrega que se avizinhava, estava contrariado, pois não fora o responsável pela situação, inseguro, pois não era oficial nem porra nenhuma, escolheu aquela carreira para ajudar o próximo a sua maneira, mas jamais sonhara em ser um “grande general sob os céus”.

Agora ele se via responsável por inúmeras vidas que mal conhecera e para salvá-las ele iria ter que ceifar outras tantas que jamais conhecerá. “In the Arm Now”. 

Ninguém se reuniu para almoçar naquele dia, comeram se é que comeram, foi de forma esporádica, todos estavam focados na defesa do seu lar, Gilmar com o auxílio de outros que conheciam melhor o terreno traçou todos os planos de batalha e encarregou alguns colonos e até frades a pegarem seus aparelhos de rádio (inclusive os do seu veículo) para ficarem sem descansar mandando pedidos de socorro e de reforços para Forte São Jorge em todas as frequências possíveis.

Como os Brasileiros eram recém chegados neste novo mundo, a comunicação com os que se aventuravam continente adentro era muito precária e até inexistente e esforços para a construção de um núcleo de infraestrutura estavam sendo realizados.

No final das contas os pioneiros deste mundo carregavam muitas semelhanças com os fundadores de sua nação, movidos por um sentimento maior, muitas vezes ficavam à própria sorte. A coragem quase suicida dessa gente repetindo passos de cinco séculos atrás gerou um culto a todos aqueles que se aventuravam para colonizar, atraindo ainda mais colonos que desbravando e se fixando na terra relativamente pouco povoadas, tomavam seus nacos distantes de terra para si e para o Grande Império Unido do Brazil. 

O suplício esperado era o caminho para a glória prometida, a glória de ser o primeiro ou um dos primeiros e de como dizia o poema de Guilherme de Almeida que se transformou no Hino dos Bandeirantes o hino de São Paulo:

Rompe a selva, abre minas, vara rios!

Bateia, escorre a ganga,

Lavra, planta, povoa!

 

Depois volta à garoa!...

Chegou o final do dia, as tarefas haviam sido divididas e de certa forma cumpridas, a trincheira cercando todo o flanco norte havia sido cavada, alguns colonos devidamente munidos com suas armas e suprimentos resolveram dormir naquelas valas. Alguns nativos escolheram alguns pontos nos bosques e nos telhados onde poderiam emboscar e lá ficariam posicionados no início da batalha. 

Todos estavam dentro do possível. Pelo menos uma boa notícia havia chegado no início daquela noite: o governo imperial Brasileiro tinha ouvido o pedido de socorro e já trabalhava para mandar reforços que chegaram pela manhã, estes reforços eram basicamente as forças militares prometidas para montar uma praça forte que ia ser enviada em breve mas que tiveram sua missão adiantada.

Mas como se o destino impusesse sua vontade, uma má notícia havia também chegado trazida de noite por um outro infeliz, era um rapaz branco ruivo que foi mandado de propósito como forma de intimidação do general inimigo. Ignora-se sua desgraça, pois ele teve sorte pior que o homem-lobo e logo expirou. Antes de morrer disse que as forças inimigas receberiam o reforço de mais 3 mil homens entre mercenários, vassalos e aliados.

—8 mil homens? Só para tomar esse povoadinho?

—Eu avisei, ele tinha esse número ou até mais. Disse o mesmo colono que antes avisou que acreditava que as forças inimigas possuiria essa mesma cifra, de certa forma esse sujeito era mais experimentando e tinha conseguido absorver mais do que os outros a situação na região e continuou:

—Eu to falando que esse general quer marchar até o Forte São Jorge.

—Kuria, você conhece nosso inimigo?

—Sim, Gilmar, só pode ser esse homem.

—E quem ele é?!!!!

—Esse homem se chama Antilonius Axioplo (que significa arma leal) Donbov Varegiannus, sua família há inúmeras gerações é cliente dos Khatapylos que sempre encobriu e se beneficiou dos negócios dos Donbov Varegiannus. Esclareceu Kuria. 

—Por isso, graças aos seus negócios, digo por ser um senhor feudal e também por ser general que ele conseguiu tantas tropas?

—Sim, sua família descende dos que atravessaram o portal e logo se tornaram guarda costas dos primeiros governantes que como eles também vieram pelo portal de seu mundo, o tempo foi passando e eles aumentaram seu prestígio e riqueza até chegarem ao ponto há poucas gerações de terem seus próprios vassalos.

Seus vassalos são gente que tem alguma ligação com eles ainda dos tempos em que servia segundo eles dizem o império que existia do seu lado do vórtice, esses vassalos são os Zierortopovieds, os Ragnarloffs e os Bordovics. Todos devem além do sobrenome de sua família ostentam “Varegiannus” no seu nome.

Antilonius também paga alquimistas que constroem e controlam golens de ferro.... Gilmar, cadê você?

Gilmar havia deixado Kuria terminando de falar sozinha, pois foi correndo pegar seu rádio e após algumas tentativas que pareciam levar uma eternidade conseguiu contato com Forte São Jorge:

—Aeee rapaziada que está de boa construindo um grande Brazil, tudo bem? Então prometo ser breve, recebemos aqui no vilarejo a informação de que vamos receber mais convidados em vez de 5.000 vamos receber 8.000 olha que legal e parece que aquela galera ta fazendo um “tour” maneiro se bobear vão querer conhecer o bairro da liberdade e a baixada santista. Então o que peço ou os senhores mandam mais reforços e fazem os que já foram mandados (espero que tenham sido mandados mais gente de preferência os idiotas que causaram a merda que está acontecendo) que é apertarem o passo ou então mandem caixões muitos caixões só lembrando que o jazigo da minha família é caro e a conta irá para vocês!!!

—Entendido, mensagem recebida e repassada!

—Sozinho a gente não segura aquele exército nem se tivéssemos um “hack” de munição...

Antes de irem finalmente dormir Gilmar discursou para todos os presentes:

—Não sei quantos morrerão ou ficarão gravemente feridos, mas teremos que matar e matar muito, isso significa que amanhã morrerá muita gente, interessante não? Já peço desculpas se isso adiantar, mas não sou estrategista, não fui preparado para ver essa porra toda com mesma frieza de quem ver um tabuleiro de Xadrez, conheço táticas, as básicas, mas não tenho menor idéia do que virá pela frente já que até o tamanho da força inimiga é mera estimativa.

Digo isso porque eu sei eu admito que cometerei erros e pode ser que muita gente vá se foder por culpa minha, alguém que eu agora esteja olhando nos olhos mesmo de forma aleatória pode morrer de uma forma não muito bonita graças a mim e aqueles que estudarem esse confronto e principalmente aqueles que carregarão para sempre a dor da morte dos que certamente aqui morrerão e não estarão conosco após o próximo anoitecer dirão: aquele cara poderia ter feito de outro jeito, aguardado mais, agido mais cedo...

Nós pelo menos nessa vida (ou encarnação como prega os espíritas) nunca saberemos se o que fizemos como brasileiros de forma geral foi algo grandioso ou uma puta merda do caralho...Sim estou aqui falando palavrão mas mesmo que ficasse duas horas descrevendo as orgias mais nojentas para as crianças e jovens que estão aqui, isso não chega nem de longe no que se verá amanhã.

Então aqueles campos à nossa frente que poderiam receber lavouras ou casas ficarão por muitos anos muito bem e de forma diligente regados com sangue, de coração já que não dá para evitar que seja do inimigo, antes o choro das mães deles do que as das nossas.

Amanhã todos sem exceção que tomarem sua parte nos combates deverão ser como Tanya Degurechaff uma personagem de um mangá, para aqueles que sobreviverem recomendo que leiam, mas agora olhem o horizonte veja as luzes das fogueiras acho que esses desgraçados estão fazendo uma festa comemorando a vitória para eles já garantida, bem se eu fosse como dizem que é esse general/nobre eu estaria agora em volta de uma fogueira com algumas concubinas a minha volta para dizer a mim mesmo como sou poderoso e como naquele lugar satisfaço os desejos tão baixos, primitivos e presentes em nós que são a luxúria e o desejo de sangue gratuito.

Quantos daqueles risos de confiança e prazer, nós malditos e simples brasileiros, tratados como a piada do mundo, conseguiremos destruir, arrancar? Já ferraram o nosso dia, vamos agradecer por isso...

Entre semblantes de medo e ou confiança, movidos por uma fala sincera até demais, os presentes se preparavam, enchia e consolava seus corações, pois eles sabiam que a alvorada prometia ser um dia histórico…





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