Volume 1
Capítulo 1: O Pássaro e o Passarinheiro
*Tlim-tlim
— Bom dia! Sejam bem vindos ao Amai Café!! É a primeira vez de vocês?
— [...]
— Ei, Sahara! Você ouviu falar que Tsuda-senpai está saindo com a Vice-Presidente?
— O quê????!! Me conte tudo!!
— [...]
— Vocês não ouviram?! Eu falei para acelerar a documentação! Quando deixarão de ser tão preguiçosos?!
— [...]
Me pergunto quando me acostumei com essa visão: O cheiro forte de café torrado, o barulho surpreendentemente relaxantes das máquinas semi-automáticas e os risos estridentes das garotas de minha idade.
— Aqui está seu café expresso. Deixa eu ver aqui... seu nome é...?
— Ryoichi. Akihiro Ryoichi.
Hoje faz exatamente um ano que frequento esse local, o lugar que se tornou o meu refúgio. Estou no Amai Café — conhecido por ser o 2° melhor café de Kitakyushu — rival fervoroso do Nigai Café, que já vem algum tempo monopolizando os fregueses da cidade. As pessoas simplesmente veneram o café doce e suave do Nigai Café, inclusive, acaba atraindo diariamente a atenção de turistas, programas de TV e artistas famosos.
Pelo o que eu ouvi dizer ( Fofoca das garotas ), o Nigai foi criado por um ex-funcionário do Amai Café. Dizem que uma briga envolvendo o seu salário acabou causando sua demissão imediata. Irritado, algum tempo depois, a mesma pessoa acabou fundando um rival na região com o intuito de se vingar — O Nigai Café. Bem, é o que dizem...
De qualquer forma, acho que toda aquela comoção diária e a constante massa de pessoas que vão lá diariamente acabam me afastando daquele local. Claro, que não é apenas isso; afinal, eu sou um homem justo. Eu já fui lá uma vez e bebi do tão famoso café deles. Mas, sei lá... não que seja de todo ruim... porém, eu prefiro o café com um toque amargo do Amai Café! Sim, é insuperável.
— Eu venho sempre aqui Amano-san. Eu vou ficar triste se você acabar se esquecendo sempre do meu nome.
— Haha... me desculpe, Ryoichi-kun! É que minha cabeça vem estado cheia ultimamente...
— Muito trabalho, imagino.
— Sim... — Disse, Amano-san. Ela foi contratada há 6 meses atrás, então, ela não é exatamente uma novata, mas também está longe de ser uma veterana. Desde que a conheci, ela sempre foi meio avoada. —...O gerente tá sendo malvado comigo... faça algo Ryoichi-kun!
— Hahaha... apenas seja forte Amano-san.
— Droga...
Eu não posso perder muito tempo conversando com Amano-san hoje. Afinal, daqui a 30 minutos começaria a cerimônia de entrada. Se for como no último ano, não apenas a entrada como também o ginásio ficaram lotados de alunos. Por isso, me atrasar seria um problema enorme.
Sou do tipo de pessoa que prefere apreciar lentamente o café quente. Aproveitando em cada gole, o máximo do sabor amargo que eu posso. Não quero ter que começar meu ano letivo tendo que beber minha bebida ás pressas, também odeio queimar minha língua. Meu condicionamento fisíco também é bem ruim, então, correr para o colégio está fora de questão.
Ahh... está na hora do meu cafézinho!
—...Glub... Glub...
O líquido quente descendo pela garganta de maneira tão suave, somado ao pequeno e sutil amargor na língua ao engolir... sem contar, o aroma forte mas rico do café expresso...
O ambiente harmonioso causado pela música calma e ambiente da jukebox deixa tudo ainda melhor, como se fosse uma única e bela sinfonia. O ambiente ainda é enriquecido com os poucos passos, o barulho do sino e as poucas conversas das pessoas que frequentam esse local.
Eu amo esse lugar! Queria que esse momento durasse para sempre.
***
A cerimônia de entrada foi tão chata quanto a primeira. O diretor e os professores fazendo os meus discursos chatos, enquanto, nós alunos ficamos enfileirados em pé. O ginásio é enorme, e mesmo assim, estava tão lotado como da última vez. Alguns dos alunos mais — importantes — também realizavam alguns discursos de motivação e sobre a perspectiva do começo de mais um ano letivo, mas sendo bem sincero, eu sinto certa dificuldade para prestar atenção nessas baboseiras.
Por sinal, eu tenho que prestar mais atenção nessa minha forma de agir. Isso já me causou muitos problemas. Acabo ficando vidrado olhando ou simplesmente viajando e quando percebo estou sendo olhado com cara de reprovação ou até nojo por outro aluno ou professor. É realmente uma merda como sou desatento, ás vezes.
"Bem, é melhor eu ir para minha sala..."
Depois da cerimônia de formatura, me dirigi ao quadro apenas para confirmar a minha sala de aula. O quadro fica perto da entrada, no caminho para a entrada do enorme prédio do colégio. Assim como os outros alunos, eu fui direto para o ginásio. Os novatos que acabam dando uma olhada no quadro primeiro, provavelmente, se arrependeram já que vão ter ficar no fundo do ginásio, no meio de toda aquela gente.
Sim, eu caí nisso no ano passado. Não gosto nem de me lembrar disso...
"Oh, lá está..."
O quadro estava rodeado com os alunos veteranos. Alguns parecem felizes, já que vão poder ficar mais um ano junto com seus amigos mais próximos. Já os outros, parecem que terão que lidar com um ano longo e sozinho pela frente, a não ser claro, que ele consiga fazer novas amizades em uma classe desconhecida.
Sendo bem sincero, tanto faz pra mim. Já que não tenho ninguém tão próximo para chamar de — amigo — pelo menos, não que eu me lembre. Não que eu seja alguém super antissocial ou coisa parecida, mas é que eu não consegui fazer alguma amizade significativa no ano passado. Era tudo muito novo para mim, principalmente, em relação ao ambiente escolar. Talvez, eu lembre o nome de um ou outro colega... mas, não sei se conta exatamente como um amigo, pelo menos eu acho.
Entretanto, isso não irá continuar assim! Meu maior desejo é ter uma vida escolar dos sonhos antes de fazer faculdade ou coisa do tipo. Por isso, quero fazer muitos amigos. O máximo que eu conseguir! Tenho certeza que esse será o meu ano! Eu só preciso não ser agir como um estranho e conseguir virar amigo de pessoas populares e normais.
—...Agh... C-Com licença...
Me esgueirei pela multidão eufórica, até chegar no quadro. Quando finalmente cheguei em frente a ele, procurei pelos alunos do segundo ano.
"Cadê... cadê..."
"...Achei!"
Lá estava meu nome. Akihiro Ryoichi — Classe 2 - F. Mesmo não me importando muito com o resultado, não vou mentir que uma sensação fria percorreu meu estômago enquanto procurava pelo meu nome. Mas, lá estava! Depois de obter o que queria, repeti o processo e me esgueirei pela multidão mais uma vez, antes que fosse esmagado. Agora, só precisava chegar em minha nova classe.
Apesar disso, não quero correr. Devo ter algum tempo antes de chegar na minha classe e parece uma boa ideia aproveitar o passeio antes de ir para aula.
— Ah, onde que fica a sala 1- C... esse prédio é muito grande...
— Já olhou o 1° Andar?
"Gravatas verdes..."
— Ai, amiga! Estamos juntas de novo!
— Sim! Nada pode nos separar!
"...Gravatas vermelhas..."
— Então, esse é o nosso último ano, não é?
— Vou sentir saudades, não nego...
"...Gravatas azuis."
Colégio Particular de Ensino Médio "Kitakyushu" — é um colégio para a elite da cidade. Apenas os filhos de famílias ricas estudam nessa escola e eu não sou uma exceção. Meu pai é proprietário de uma importante empresa de automóveis e minha mãe é uma corretora de imóveis bem sucedida. Apesar de que existem sim algumas poucas exceções, mas para isso você precisa fazer uma prova bem difícil e conseguir uma bolsa.
Nesse colégio os alunos são divididos pelas cores das gravatas:
Verde — 1° Ano
Vermelho — 2° Ano
Azul — 3°Ano
Outras escolas também fazem isso, então, não é nada inovador. Mas, esse colégio se destaca em outras coisas; destaco principalmente a sua qualidade de ensino e sua acessibilidade para pessoas deficientes. O prédio inteiro é voltado para ajudar essas pessoas, como por exemplo: tendo rampas para cadeirantes, livros em braile para cegos e até mesmo vídeos audiodescritivos. Não existem muitas escolas com esse tipo de tratamento. É uma escola com uma ideia bem inclusiva.
Apesar disso, não nego que muito deles acabam sendo destratados por algumas pessoas. Não necessariamente por bullying, mas sempre tive a impressão que muitos dos alunos que tem alguma deficiência acaba sendo — deixado de lado — pelos outros alunos. Não são todos, claro.
— B-Bom dia... alguém poderia me ajudar?
Uma novata com problemas de visão parecia ter derrubado um livro no meio das escadas. Visto que as pessoas não pararam para ajudá-la a mesma se abaixou pra tentar pegá-lo. Entretanto, as pessoas não paravam de continuar andando e pisoteavam vez após vez o livro da pobre coitada. Ela parecia estar quase chorando.
Isso durou até a chegada de uma professora. Seus cabelos longos, lisos e castanhos se destacavam fácil em meio aquela multidão de alunos que adentravam o prédio. Era fácil saber quando ela estava chegando devido ao som característico de seu salto alto. Imponente, eu diria.
Com cuidado, ela se abaixou e entregou o livro para a garota.
— Aqui está. — Disse com uma voz muito calma e serena, enquanto esfregava a cabeça da garota. Ela estava claramente tentando acalmar a novata. — Tome cuidado, está bem?
— S-Sim. Muito obrigada.
A aluna logo se levantou e entrou no prédio. E a professora, por alguma razão, virou sua atenção para mim. Eu a conhecia, claro. Talvez de todas as pessoas dessa escola, ela seja a que mais me conhece e que poderia dizer que é realmente próximo de mim.
— Bom dia, Ryoichi-kun.
— Bom dia, Yoshiko-sensei! Lindo dia, não?
Por alguma razão, essa professora sempre pega no meu pé. Seja com relação a minhas atividades ou até meu comportamento, perguntando o porquê de eu não me relacionar com os outros e blá blá blá! Resumindo, ela me irrita. Apesar que não sei porque razão... eu não odeia ela. E acho que ela também não.
De qualquer forma, Yoshiko-sensei está me olhando de cima a baixo com um olhar estranho. Tão penetrante que parecia que ela podia até mesmo ler meus pensamentos
"Que medo! Não entre na minha cabeça!"
— [...]
— Realmente. — Disse, Yoshiko-sensei depois de uma eternidade. — Cuidado para não se atrasar. — Completou, saindo de cena enquanto balançava as mãos em despedida.
—...Haha... certo...
Devido ao encontro com Yoshiko-sensei, eu não consegui nem dar uma olhada nas cerejeiras. Mas, acho que me atrasar para a 1° aula realmente não é das melhores ideias. É melhor eu ir para sala.
"Vamos lá..."
***
Isso foi um mês depois do início das aulas.
TAM-TAM!
O alarme indicou o fim das aulas. Estou morto... Muitas atividades e muitos panorama do que vamos estudar no ano. Em outras palavras, um saco! Minha coluna está reclamando e minha cabeça dói.
A última aula foi de Yoshiko-sensei. Diferente do que havia ocorrido há um mês atrás, estranhamente, ela não me amolou ou ficou me observando de maneira esquisita. Ela apenas continuou dando suas aulas chatas de sempre.
— Bem, lembrem-se de fazer as atividades que passei.
— Sim!! — Exclamei com os outros alunos.
Não tive chance de conversar muito com os outros alunos hoje. Mas, amanhã eu posso tentar conversar com uma ou outra pessoa. Não quero ter que ficar comendo meu lanche sozinho pelo resto do ano de novo. Os meus colegas de classe começaram a sair, um por um, da classe. Eu também estou louco por um pouco de ar fresco. Não quero ficar mais nenhum minuto aqui.
Comecei, então, a guardar as minhas coisas na minha mochila. O sentimento de finalmente ter acabado foi gratificante. Entretanto, notei que a sensei ainda não tinha saído da classe. Era estranho, mas pensei que ela apenas estivesse esperando com que todos os alunos saíssem da classe, e não era como se eu fosse o único ali.
No entanto, o que era uma dúvida logo se tornou factível.
— Ryoichi-kun. Eu preciso falar com você.
— Hã?! — Exclamei frustrado. Pois, a última coisa que queria fazer era ficar mais tempo naquela escola.
— Venha comigo por um instante.
— Não dá pra deixar para outro dia, sensei?
— [...]
O olhar assassino que ela me deu deixava claro que isso não seria possível. Por isso, apenas decidi respirar fundo e fazer logo o que ela queria, seja lá o que fosse. Peguei a minha mochila e segui então Yoshiko-sensei pelo corredor.
Provavelmente, era só alguma mensagem idiota, ou uma tarefa que nenhum aluno quis e ela estava empurrando para mim. Isso seria o normal de se fazer.
Mas... por alguma razão... a minha mente a todo instante martelava a seguinte sentença, vez após vez, em minha mente:
"FUJA!!!"
Talvez, essa seja a sensação que um pássaro sente ao ser laçado pelo passarinheiro. Quando está prestes a ser engaiolado pelo resto de sua vida.
Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários
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