Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 19: Especial

O escritório da dona da Scarlet Witch Bazar se tornou uma zona de guerra. Bianca já havia esquecido o que era dormir de tantas ligações que recebia diariamente.

A situação era tão crítica que ela moldou seu escritório como se fosse um apartamento, com direito a cama, uma TV com Netflix, um pequeno freezer e pelo menos 10kg de café estocado.

A razão do lugar estar inclusive uma completa zona era por conta de uma pequena fração de uma determinada erva. A venda desse objeto causou comoção nacional imediatamente. 

As maiores empresas do Brasil como Serpente Dourada, Malícia e Éden Verde tomaram interesse imediato na pequena empresa de Bianca.

Toda a pressão estava sobre seus ombros. Ela não era uma Raider de renome, muito pelo contrário, era no máximo de rank C e o controle de sua habilidade não era pleno.

Isso, somado à repentina explosão das ações de sua empresa e os olhos dos gigantes mirados nela faziam sua vida ser movida a apenas café.

"Eu caí num poço de ouro por acidente depois de encontrar aquele garoto. Só preciso esperar… eu ainda vou me tornar a número 1 desse país."

Ao menos o café abastecia sua força de vontade diária. No meio das tecladas do notebook e das notificações irritantes do celular, houve um telefonema.

Ela olhou para a tela. Era Lucas. Apertou no botão de atender e pôs no viva-voz. 

Alô, senhora Bianca?

— Estou ouvindo, e por favor não me chame de "senhora" — respondeu, deslizando os dedos pelas teclas e suspirando toda vez que digitava errado. — Isso está começando a ficar irritante…

Ah, des-desculpe, é força do hábito. Eu prometo que vou evitar.

— Não reclamei de você, foi outra coisa. Por que me ligou a essa hora? Você deveria estar no hospital com seu irmão.

É que eu consegui mais das ervas hoje. — Naquele instante as mãos da mulher recuaram do aparelho. — Estou com elas na minha mochila e queria usar uma certa coisa que fiz pra melhorar o tratamento do meu irmão. Você pode vir?

Bianca jogou a cadeira para trás com toda força e ingeriu o restante de sua xícara de café garganta abaixo. 

A uma velocidade assustadora, maquiou-se e vestiu seu casual terno para negócios, apenas para matar sua feição morta por dentro e dar ao menos algum ar saudável ao seu rosto.

Alô? Chefe? Você tá aí?

Ela pegou o celular de volta e respondeu: — Eu já chego, espere por mim. 

Desligou a ligação, saindo de seu escritório e seguiu direto ao elevador. Desceu todos os andares até a recepção, onde deixou uma papelada para sua secretária.

— Resolva essas pendências enquanto eu estiver fora. Retorno daqui algumas horas.

Bianca foi ao estacionamento, ligou seu carro e saiu dali pelas ruas. Sua cabeça estava em outra dimensão, pois algo que a tirava de seu estado habitual era o cheiro de dinheiro. 

Não demorou para chegar ao hospital e seguir entre os corredores até a sala para qual Levi foi determinado. No entanto, logo ao lado da porta, Lucas esperava encostado na parede.

Ele a cumprimentou com um aceno de mão, que por algum motivo ficou meio hesitante. Abriu o zíper da mochila, enquanto a mulher se aproximava para ver o conteúdo dentro.

Ficou meio espantada, era como se Lucas fosse um traficante — o que naquele caso, parecia mesmo. —  vendendo alguma droga por uma bagatela.

Na analogia, Bianca era uma viciada, mas nesse caso era em dinheiro. 

— Eu queria arranjar um dinheiro pra comprar algumas coisas mais tarde. — Entregou uma sacola plástica nas mão dela. — Mas também queria te mostrar uma coisa.

— Caramba, você tá com um carregamento inteiro aí dentro. Não faça drama e desembuche…

— Eu consegui fazer um remédio com as ervas. Eu queria entregá-lo para que Arthur analisasse e se possível conseguisse um dinheiro. 

— Tudo bem. — Guardou o frasco na parte interna do terno. — Mas o que essa coisa tem a ver com o tratamento do seu irmão?

— É que… Bom, é meio difícil de explicar…

Lucas tentou da maneira mais crível possível resumir as últimas coisas que tinham acontecido. 

Disse que de alguma forma, enquanto mexia nas ervas, fez por acidente um remédio melhor que os anteriores.

A cor e o odor eram diferentes, então quem sabe poderiam ser algo melhor que a versão original. Era caseiro, então não tinha garantia de nada. 

— Escute, eu não acreditaria se uma pessoa comum me dissesse que consegue fazer um remédio com Ervas da Manhã dentro de casa, mas como estamos falando de você, vou deixar passar.

Ela suspirou, já não devia mais se impressionar com nada em relação aquele garoto.

— Eu verei se é possível implementá-las no tratamento... isso se forem melhores.

— Mu-muito obrigado, de verdade!

Bianca bateu nos ombros de Lucas, deu as costas e então foi embora. Por dentro estava explodindo de felicidade, uma mina de ouro jazia em suas mãos.

"Como eu amo ser sortuda!"

 

*****

 

Lucas se deitou no sofá ao lado da maca de Levi. Sua cabeça doía, há muitas noites que não tinha um dia de sono bom. 

A preocupação absurda e diária com seu irmão o fazia pirar toda vez que levantava. Queria que ele melhorasse logo, que pudessem sair daquele hospital e viver suas vidas, porém não era possível. 

Mesmo com raiders e pessoas dentro do próprio hospital capacitadas o bastante para curar num piscar de olhos uma pessoa, aquilo não era funcional.

Curar um paciente que possuía ossos quebrados e fraturados era semelhante a infringir mais dor. 

Se uma pessoa fosse curada rapidamente, seus ossos e músculos ganhariam uma deformação permanente pelo fator de cura acelerado.

Ou seja, usar uma habilidade era o mesmo que dar ao paciente uma condição crônica, e por isso que Levi estava há tanto tempo acamado.

Lucas anteriormente passou pelos tratamentos de Renato, que possuía uma habilidade de cura, mas não ganhou nenhuma dessas deformações.

Um dos motivos foi por não ter recebido nenhuma lesão grave, e a segunda é que a habilidade do raider servia para transferir energia e elevar a taxa de regeneração dos músculos.

O tipo de tratamento também não era rápido, era constante e lento, e só não era feito ao final, pois o ideal seria que Lucas sempre se recuperasse de maneira natural.

O rapaz deitou no sofá e virou a cabeça para o lado, vendo os aparelhos conectados ao seu irmão e escutando os bipes do coração ecoando na sala.

— Espero que você melhore logo…

Um morceguinho pousou na sua barriga e tomou sua atenção. Era Mila, cujo rostinho achatado era tristonho.

— Mestre, quem é essa pessoa? 

— É meu irmão. — Acariciou o pescoço peludo da morcega. — Ele é uma das pessoas mais importantes pra mim nesse mundo.

— Por que? O que ele fez para ser tão especial? Esse garoto só parece um fracote.

— Não é por isso que ele é especial, sua idiota.

Lucas sorriu e começou a falar da infância dos dois. Anos atrás, quando eram crianças, eles iam a uma locadora na vizinhança para jogar com outros meninos.

Passavam horas a fio com o controle em mãos e também ocasionalmente compravam alguns jogos numa banca perto do mercantil.

A vida deles se resumia a fazer tudo sem preocupação com nada, e se estivessem cansados de ficar na frente da TV, saíam para jogar bola na rua.

Levi era especial não por sua força ou por se destacar em alguma coisa, ele era especial porque sempre estava do seu lado, não importava o momento ou o lugar.

Era o melhor amigo e companheiro que podia pedir no mundo inteiro. 

Mesmo que às vezes fosse grosso ou brigasse com seu irmãozinho, as coisas sempre se resolviam e logo os dois estavam apostando quem iria comer o sorvete numa partida de Road Fighter.

O videogame podia ser velho ou pirata, os jogos não eram originais e nada daquilo era caro, mas os agradava e unia os dois diariamente.

Quando ficaram mais velhos, Levi deixou parte desse hábito para trás, enquanto o irmão mais velho abandonou a escola para manter a casa com sua mãe.

Eles já não eram crianças e possuíam prioridades, porém nem por isso aquelas memórias sumiriam, por isso Lucas se importava e o achava especial.

Além disso, era seu dever cuidar do mais novo, ser o exemplo e incentivá-lo a continuar. Isso significava ser um irmão mais velho.

— Então ele é especial só porque ficou ao seu lado? Que motivo idiota…

— Se um dia você cuidar de alguém mais novo, você vai entender, burrinha.

— Ei, eu não sou burra! 

Lucas riu da careta de bochechas infladas e olhos esbugalhados de Mila. Ela assumia um papel semelhante ao de Levi na sua mente.

Seus olhos rolaram pelo teto, cansados demais para suportarem o peso das próprias pálpebras. 

Caiu num sono profundo, cansado demais para pensar em qualquer coisa além de dormir. Sua consciência apagou e lentamente afundou para outro lugar.

Ele abriu os olhos. Não sentia mais sono e nem fadiga, mas o lugar era diferente de antes. O céu possuía uma cor azul e remexia como água, enquanto o piso era escuro e o horizonte branco.

 

Dimensão dos Sonhos gerada

Este ambiente ficará ativo até que o usuário deseje acordar.

 

"Ah, tinha uma fase no jogo igualzinha, só que não era desse jeito. Será que ficou assim porque é baseada na minha concepção das coisas?"

De acordo com sua memória, aquele lugar era semelhante a uma zona de tutorial. Não havia inimigos, apenas servia para apresentar os controles básicos e por vezes treinar.

No entanto, o treino não entregava nada. Para comprovar sua teoria, Lucas correu o mais rápido que pôde em linha reta por minutos. 

Continuou sem se cansar, junto disso os atributos permaneceram iguais. Para qualquer pessoa normal acharia aquele lugar inútil, porém ele possuía uma funcionalidade incrível.

Como estava vazio, nada o incomodaria, o que quer dizer que qualquer coisa que fizesse não teria efeito em nada além dele mesmo. 

— Eu não esperava ver a Dimensão dos Sonhos, mas ela é perfeita para subir habilidades que não exigem que meu corpo evolua. 

Essas eram duas em especial: Fluxo e Manipulação Menor de Energia Vital. Em circunstâncias normais faria sentido controlar a segunda em tempo real, porém não era o caso.

Magias e habilidades possuíam uma "sensação". Mesmo que dormindo, ainda era possível ter essa sensação, e por não exigir reflexo muscular, facilitava todo o trabalho.

Bastava sentar, dobrar as pernas e respirar fundo. O Fluxo ligou sua cabeça, descarregando pela sua mente um tipo de foco sobre-humano, fazendo ele notar pequenos pontos verdes flutuando.

Tentou puxar os pontos com sua própria cabeça, o que deu errado. Faltava alguma coisa a mais para eles se mexerem. 

Foi então que reparou que seu próprio corpo emanava essa energia. Era brilhante como fogo e se mexia suavemente como água.

Não conseguia tirá-la de si, porém de algum jeito podia movê-la de um lado para o outro. 

— Cara, acho que vou virar um xing-ling logo logo se eu continuar brincando com essas paradas.

Lucas sorriu e decidiu aproveitar aquelas boas horas de sono para melhorar ao máximo essas habilidades. 

Mal sabia ele o resultado que teria no final e o quanto evoluiria em apenas uma sessão de treino.

 

*****

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