Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 28: Gelo

Um dos motivos para que Lucas viesse às zonas era o simples fato de que o tempo corria diferente ali. 

Na primeira vez que retornou, após deixar Mila junto com um par de morcegos, um temporizador demonstrou 670 horas, e como duas semanas possuíam cerca de 340 horas, então queria dizer que o tempo corria duas vezes mais devagar lá dentro.

Ao invés de uma semana, ele tinha duas para matar monstros e construir o máximo que pudesse. A parte de construir levaria tempo, agora a de matar… era onde sua diversão se encontrava.

Com a janela de dungeons abertas, escolheu uma com bioma gelado e frio. O que levaria para se proteger era um conjunto de roupas grossas que retirou direto do armazém da Scarlet Witch.

Ele colocou o casaco e por baixo deixou sua armadura órquica, mas antes de entrar, abriu sua janela de habilidades. 

O ganho de níveis permitiam ainda desbloquear mais habilidades, e estas poderiam ser cruciais para sua missão. 

Pretendia focar tudo no ladino, maximizar sua furtividade e se virar com uma build usando seu arco, para assim matar as criaturas num ataque que nem saberiam de onde viria.

Só que, a aba de Sovino estava brilhando. Queria ignorá-la, mas era impossível. Duas habilidades chamaram sua atenção logo de primeira, já que não estavam lá da primeira vez que checou.

 

Contatos de Mercado

 

Os valores de venda de seus itens na Loja dos Heróis será aumentado e o preço das compras reduzido.

 

Cleptomaníaco

 

Ganha atributos igual a 0.02x o valor de compra de seu item mais valioso no mercado.

 

A loja de heróis era outra coisa da qual não deu tanta atenção, pois não tinha dinheiro o bastante, porém aquelas coisas mudavam muita coisa. 

A tal loja funcionava de maneira simples, itens detinham valores, e quando colocados numa janela, seus preços eram disponibilizados.

Só que como tudo não era fácil na vida de Lucas, alguns dos preços eram exorbitantes, mesmo que vendesse muito do que tinha, isso até a skill Contatos de Mercado aparecer.

Como teste, jogou o Porrete de Brutamonte para a loja. Seu preço original era de 100 moedas e imediatamente ele subiu para 130. 

Rapidamente pegou um conjunto de medicinas e vendeu milhares delas de uma vez, junto com o orbe e o porrete do troll, ganhando por volta de 1.400, mais do que satisfeito com a venda.

Em seguida, liberou Cleptomaníaco, e seus atributos subiram cerca de 5 cada um.

“Um item, só um item que seja melhor que tudo o que tenho agora e mais caro…”

Seus olhos correram pela página da loja filtrada para o valor mais baixo ao mais alto, até encontrar um anel com o valor de 1.250

 

Anel do Abatedor

Raridade: Raro

 

Uma bijuteria criada por um clã de matadores, que absorve a energia vital das criaturas e a distribui em pontos. Para cada criatura morta, recebe 0.1 em força, agilidade, velocidade e resistência.

Máximo de 100 atributos.

 

Comprou, e imediatamente seus atributos aumentaram em 24. Número sugestivo, porém o bastante para sua aventura.

Colocou o item, e para sua tristeza, todos os goblins que matou não contaram em nada, precisaria só contar a partir daquele momento. 

Imediatamente deu meia-volta e retornou à vila, que agora estava com um conflito pequeno entre os homens-lagartos recém-chegados. 

Suspirou e chamou Mila de canto.

— Eu mudei de ideia e ficarei mais um tempinho, tenho que fazer algo aqui… — Abriu o casaco, mostrando o pescoço. — Pegue um pouco do meu sangue logo, vou te recompensar antes.

A vampira estufou os olhos e saltou na pele exposta de seu mestre, pressionando seus dentes e sugando as gotas de sangue. 

Só parou quando Lucas começou a bater em suas costas, indicando que já podia parar. O rapaz ficou um pouco pálido, porém inteiro.

— Quero que lembre, você vai ajudar os homens-lagarto a se integrarem na vila, você é a líder e responsável. — Ele levantou o dedo e estreitou os olhos, enquanto passava um pano seco no ferimento. — Se por um acaso der tudo errado, te deixarei passando fome.

— Entendido, mestre! Vou me comportar e ajudar!

— Aliás, vamos logo ajudar esses pobres coitados. Vou matar uns goblins, leve os corpos para eles comerem.

O rapaz foi em direção ao seu sistema de mobtraps, e como não era burro de entrar numa masmorra sem ter certeza de que estava forte o bastante, deu voltas e voltas nas farms.

Depois de rodar muitas vezes em ciclos, ou melhor, por algumas horas, chegou a marca de 200 monstros, 20 atributos adicionais.

Respirou fundo, seu corpo parecia extremamente bem com aquela brincadeira. Puxou seus status para conferi-los.

 

Classe: Sovino
Nível: 22
··························
Força | 123
Agilidade | 77
Velocidade | 99
Resistência | 59
Inteligência | 30
···························
Atributo Técnico: 45
Esgrima | 12
Boxe | 33

 

— Muito bom… agora eu me sinto confiante pra enfrentar a dungeon, bora! 

Enfim selecionou a masmorra, que fez uma grande porta de gelo emergir do chão. Ela abriu, lançando um frio que o fez tremer, mesmo de casaco. 

Respirou fundo e procedeu entrando na masmorra. A porta fechou, e Lucas se deparou com um campo nevado infinito que ocasionalmente trocando com um mar de gelo. 

O caminho era extremamente monótono, e por algum motivo, Lucas sentiu que estava andando em círculos. 

Incomodava tanto que Lucas fez um bonequinho de neve e caminhou por mais um tempo, só para se deparar com o boneco de novo. 

— Ué… e agora? — Ele olhou de um lado para o outro, não tinha inimigos ou uma alma-viva para atazaná-lo. “O que eu faço…? Ah, o mar congelado, eu tive uma ideia!”

Acelerou o passo em direção a grande pista de gelo, seus olhos rodaram pela camada parcialmente transparente e por um momento sentiu ter visto algo.

“Eu sabia! Agora, só preciso descer, como faço isso?”

Ele bateu o pé no chão, o gelo era muito duro para ser partido por um toque fraco. Se isso não funcionava, então a única coisa capaz era um soco hiper potente, e tinha justamente isso.

Elevou seu punho e o despencou contra o gelo, o puro impacto fez inúmeras rachaduras crescerem ao seu redor. 

Ao ver que o chão começou a se desmontar, disparou de volta à terra firme, enquanto o mar se despedaçava em pequenas ilhotas geladas.

Lucas estava já numa posição segura e conseguia ver em parte o que eram as coisas que se esgueiravam pelo mar. 

Eram criaturas humanóides com escamas de peixe e tridentes, feios que chegava a doer. 

Os monstros entraram num tipo de pânico e vasculharam ao redor para saber quem fez aquilo, até se depararem com um rapaz de pé na margem.

Todos avançaram em conjunto, arremessando seus tridentes que eram facilmente esquivados. 

Lucas também pôde pegar um no meio do ar e devolvê-lo com toda sua força, empalando um dos monstros num bloco de gelo.

Aquilo estava fácil, e até que um pouco demais para seu gosto. Assim que eles se aproximaram o bastante, um jab direto no plexo solar derrubou o primeiro.

A marca de seu punho ficou estampada nas escamas do homem-sereio, e não demorou para que o mesmo acontecesse a outros ao seu redor. 

De certa forma, estava se divertindo com tudo, ao ponto que aquela violência gratuita dava certa satisfação.

Um tridente surgiu de cima e desapareceu tão rápido que um dos inimigos pensou ter visto a própria sombra do rapaz agir por conta própria.

Claro, era só Lucas rebatendo numa velocidade grande o bastante para não ser notado pelos olhos deles, mas que era impactante, com certeza era. 

E assim cada um dos monstros foram derrotados, o golpe final veio com a sua nova arma, que perfurou pelo pescoço de cada um e trouxe um monte de experiência para seu bolso.

No entanto, nenhum dropou algum item, e muito menos os tridentes ficaram no chão para serem catados. 

— Por que não veio nada? Devia ter acontecido algo, poxa… 

O chão de repente tremeu. Uma mensagem apareceu diante do garoto.

 

Leviatã, o Deus do Abismo Profundo, acordou.

 

— Agora sim, moleque!!! — gritou, vendo as ondas se mexerem e uma enorme serpente emergir. — Bora pro…!

Só que, por mais brochante que fosse, as coisas acabaram muito rápido. 

Não deu um segundo que o chefão apareceu e um raio congelante atingiu Lucas, sequer dando-lhe uma chance de reagir.

Ele morreu, e morreu da maneira mais engraçada possível, igual um picolé. Mas, as ondas do destino estavam muito favoráveis, e por mais que sua sorte tenha acabado de maneira abrupta, uma nova mensagem apareceu para agraciá-lo.

 

Você morreu. Todos os seus pontos serão convertidos em Pontos de Prestígio. 

Gaste como bem desejar, e então seja revivido. Você perderá todos os seus atributos ao fazer isso e o mundo que vive será reiniciado ao estado em que o encontrou pela primeira vez.

 

— O que? — Lucas olhou para aquelas palavras de queixo caído. — Eu?! Morto?! Sem chance! Não, não, não! Eu… eu tinha muito o que fazer, eu encontrei um monte de gente e…!

 

Você morreu.

 

— Argh, merdaaaa!!! 

Balançou as mãos no vácuo daquele lugar. A frustração retornou tudo de uma vez, ele tinha perdido tudo num piscar de olhos por conta de uma escolha super boba. 

Não teve noção alguma do que esperava dentro das masmorras. A primeira tinha sido difícil por ser uma pessoa comum, no entanto, por que a segunda tinha que ser impossível assim?

Todos os seus bens-preciosos foram embora e junto com suas conquistas, então do que adiantava seu esforço? Nada, só uma pilha de amargura.

 

Está chorando? Você tem outra chance de recomeçar, e está chorando?

 

— Cala boca, sistema idiota! — Empurrou a tela, tentando limpar as lágrimas que fluiam para fora. — Eu perdi tudo, não tenho mais nada! Você sabe o que é isso?!

Ora, e pode tentar de novo e conquistar mais, então por que se sentir assim? Ande, gaste seus pontos.

Lucas não falou, enxugando a água nos olhos, e enfim a razão chegou a sua cabeça. O sistema… estava conversando com ele.

— Quem é você? 

 

Eu? Sou o CEO da Moonsoft. Pode me chamar de Moon, estive te observando desde que aceitou minha oferta.

 

— Você me mandou para um inferno, isso sim! 

 

Menos, por favor. Quem escolheu a minha oferta foi você, não outra pessoa. Eu estou apenas lhe ajudando a sobreviver nesse mundo brutal.

 

— E isso significa me mandar para outra dimensão e me matar?

 

Bom, só nessa dimensão meus poderes atuam com 100% de funcionalidade… te matar, isso eu não fiz. Foi produto de suas escolhas. 

 

— Desgraçado… — Sentou-se no vácuo, olhando para a tela azul e pensando no que faria. — E agora? O que vai acontecer quando eu voltar?

 

Será tudo reiniciado, como eu disse, porém, você pode escolher algumas coisas para te ajudar…

 

— Certo, não tenho outra escolha, não é?

Ele levantou a cabeça e se viu diante de uma grande árvore com globos amarelos, cada um com um custo em números. No momento, só possuía dois pontos. 

Ele gastou seu primeiro ponto no único slot possível, e então encarou a tela de novo.

— E agora? O que eu faço?

 

Renasça. É o único caminho possível.

 

— Entendi… ei, o que acontece se eu viver uma vida inteira e então voltar para cá?

 

Você renascerá de novo e de novo, até cumprir seu objetivo.

 

— E qual o meu objetivo?

 

Esse tipo de coisa eu infelizmente não posso contar…

 

— Uau, muito inteligente da sua parte. Me mandar a outro mundo e então não me dizer o que fazer…

Lucas suspirou. Estava internamente furioso, mas se havia uma escapatória, devia ter um jeito de encontrar esse objetivo sozinho.

Só que, ao invés de correr atrás na segunda tentativa, e se ele fizesse algo diferente? E se, no lugar de farmar tanto, pudesse só viver uma vida normal e acumular o máximo de coisas possíveis.

Algo clicou em seu cérebro. Precisava de força, mais do que nunca, e talvez isso não viesse por meios convencionais, mas talvez, só talvez, por meio daquele maldito CEO que acabara de lhe oferecer a coisa mais roubada de qualquer jogo: Continues infinitos.



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