Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 63: Minecraft

Era fácil dar valor às atividades simples e pacatas da vida, como construir uma casa. 

Claro, quem faria isso normalmente seria o pedreiro, mas Lucas não tinha como se dar ao luxo de contratar alguém e pedí-los para magicamente atravessar um portal a outro mundo.

Seria suspeito o próprio contratante exigir que você fosse para um canto totalmente nada a ver antes de começar o trabalho, então sua decisão foi mais simples: fazer com as próprias mãos.

O motivo de querer fazer isso era porque até então dormia na cabana de Hurrto, e aquele lugar algumas vezes virava um inferno vivo, por isso precisava de um cafofo seu.

No tempo livre, mais especificamente nos intervalos, ele tirava o martelo de construtor da sua bagunça na cabana de Hurrto e olhava a paisagem para montar algo.

Só os postes com bulbos de luz e os banquinhos combinado com uma estradinha no meio da neve davam uma paisagem boa, mas ainda era muito “vazio”.

“Quero que meu cafofo fique num lugar bonito… De preferência num canto que com certeza eu terei paz. Não terei problema em construir com o tanto de madeira por aqui e a habilidade de escavar do martelo combinado a magia de demolir, mas ainda assim não sei onde vou colocar.”

Sua mente de arquiteto agiu a todo vapor. 

Um dos gêneros de jogos que ele mais gostava eram os de sobrevivência, e seu principal pensamento quando começava um jogo novo era achar um bom lugar para a base.

Seus olhos correram de lá pra cá, o espaço do lago ou o meio dos pinheiros parecia sem graça, como se tentasse esconder onde morava.

Lucas então avistou uma parte meio elevada da floresta de pinheiros. Aquele pedaço possuía algumas árvores, mas se limpasse a área, quem sabe daria um bom lugar.

Chegando lá, ele combinou seus socos com a magia Demolir, dando conta de limpar uma área considerável em pouco tempo.

“Eu pareço um personagem de anime fatiando esses troncos inteiros só com a mão. Isso é muito foda, vou te contar.”

Os frutos do treino estavam ficando cada vez mais aparentes, no entanto, os pesos permaneceram em seu corpo, especialmente nos braços.

Algumas vezes dóia fazer um movimento brusco, mas a essa altura virou tão rotineiro que mal dava para ligar com a dor.

 

50x madeiras obtidas

 

Iniciar modo de construção?

→ Sim | Não

 

Lucas clicou na primeira opção, sua visão mudou completamente para uma estranha interface com cores azuladas e estatísticas.

O modo construção era uma das opções do martelo. 

Não era necessário usá-lo para construir, você sempre teria a sua disposição um conjunto de obras possíveis de se fazer sem o modo.

A cabana de Hurrto, por exemplo, era uma das construções possíveis de se fazer de forma automática, então caso o usuário quisesse fazer algo mais sofisticado, precisaria acionar essa configuração.

 

5 madeiras são necessárias para a base da construção.

5 madeiras são necessárias para uma parede.

5 madeiras são necessárias para o teto.

Apenas a cor escura está disponível.

 

Ele dispensou rapidamente as notificações que iam e vinham conforme batia no ar e erguia um pedaço inteiro da casa.

“É bom ter um momento assim, lutar direto ou ficar treinando intensamente fica chato uma hora. Prefiro um momento com um simulador de construção do que lutar direto contra alguém… se bem que eu ainda amo Road Fighter.”

Lucas suspirou, reparando que os materiais acabaram. Outra vez ele farmou uma leva de madeiras, mais que o bastante para concluir a casinha.

Aproveitando a chance, ele abriu um caminho entre as árvores rumo ao lago. Depois faria um caminho, queria primeiro ver como aquele lugar ficaria.

Ele montou parede por parede, despreocupado se cairia de cima do apoio de um toco bambo ou se ficar na ponta do pé em cima da própria parede a derrubaria.

O serviço terminou. Lucas pulou do teto, apoiou as mãos na cintura e observou seu cafofo recém-montado. 

“Tá uma merda.”

Ele podia gostar de jogos de sobrevivência e construir coisinhas, mas isso não o qualificava como bom construtor.

Um dos lados ficou completamente desalinhado com o resto, a entradinha que era para ser no centro estava deslocada para o lado, a porta dupla que queria na entrada não combinava…

De raiva, Lucas derrubou tudo, pegou o martelo e refez o projeto pelo menos duas vezes até que ficasse do seu agrado.

 

A profissão Arquiteto evoluiu

As construções feitas pelo usuário se tornaram mais resistentes.

 

“Porra, agora vai demorar mais tempo pra desfazer…”

Ele engoliu um pouco o estresse e verificou o interior vazio, agora vinha a parte difícil: decorar.

Como um gamer de longa data, ele não tinha o melhor dote para organizar o próprio quarto. 

A mesa, por exemplo, sempre teria um copo de café, uma action-figure, um teclado gamer, um mouse gamer, um lanche que ele não terminou de comer, uma caneta aleatória e muitas outras coisas características da falta de organização.

Em sua cabeça, seria legal ter um sofá, uma lareira, uma estante, uma poltrona confortável… como se fosse imitar o cenário de uma casa na neve visto em filmes americanos.

— Eu não tenho dote pra isso… Hah, ainda tenho que ver como vou conseguir lã pra uma cama e outras coisas…

— Não tem dote para o que?

Lucas saltou do lugar e olhou para o lado, de onde a voz da assombração veio. Pálida igual um fantasma, Solein inclinou a cabeça para o lado em dúvida.

Mal tinha terminado a casa e um demônio já veio tomar seu lugar lá dentro, era um tempo recorde absurdo.

— De-decorar… — respondeu o rapaz, querendo se recompor dos arrepios e do susto, mas sem conseguir nenhum dos dois. — Quando foi que você apareceu? Me matou do coração!

— Ah, eu só fiquei observando, sabe? Quando as árvores caem dá pra ver de longe, aí eu vi algumas enquanto andava, fiquei curiosa e vim olhar. Devo dizer, é impressionante quantas habilidades você tem pra um humano, huh…

Solein colocou as mãos na cintura e girou o pescoço para todos os lados, fazendo Lucas imaginar que ela estava completamente possuída.

Felizmente, ela não jogou nenhuma maldição, ao invés disso tateou as paredes e as coisas ao redor como uma pessoa com sério problema mental.

— O que você tá fazendo…?

— Estou pensando numa coisa, tocar facilita o meu processo mental. 

— E o que você tá pensando, no caso?

— Em como decorar a casa. Você disse que não tinha dote pra isso, pois sorte a sua que eu sei!

Ela esbanjou um grande sorriso, mas a felicidade não foi transmitida para Lucas. Mesmo que curioso, havia um certo medo do resultado final.

Pelas suas lembranças, o interior das casas dos elfos de gelo não eram muito agradáveis. 

Por exemplo, a casa do ancião possuía diversos apanhadores de sonhos e obras de artesanato nas prateleiras da qual Lucas não entendia nem um pouquinho.

Era por esse motivo que ficava difícil de confiar na habilidade Solein, ainda mais quando possivelmente elfos não teriam a formação de Design de Interiores.

Seus olhos julgadores perseguiram as costas dela como mísseis teleguiados, tentando adivinhar o que diabos ela faria com as paredes sendo apalpadas.

— Aqui seria legal um sofá… então a gente abre uma janela e tem uma entrada de ar agradável…

Os murmúrios também tornavam a coisa pior. O que diabos ela estava querendo dizer? Abrir uma janela e colocar um sofá abaixo da janela? Isso não era Minecraft para fazer de qualquer jeito.

Eles andaram pela casa inteira, e Solein usava um papel tirado de sabe-se-lá onde para desenhar um molde de suas ideias para a melhor aparência possível daquele lugar.

Um tempo depois, ela estufou o peito e mostrou o papel desenrolado, mais que orgulhosa de ter feito tudo isso por conta própria.

— Há! Isso tá perfeito, dê uma olhada! Não à toa sou chamada de “A melhor decoradora de coisas da vila”!

— Esse é um título muito… exótico — respondeu, abaixando os olhos por até se sentir mal dela receber um apelido assim. — Por que tem tantos apanhadores de sonhos…?

— Porque apanhadores de sonhos evitam pesadelos! Você precisa deles se quiser um descanso completamente bom!

— Eu mal sonho direito, então não têm motivo…

 

Iniciar modo de construção?

→ Sim | Não

 

A visão de Lucas se modificou para demonstrar os objetos a serem construídos em azul e o restante nas suas cores tradicionais. 

 

Materiais necessários:

Coisa pra caramba

 

Até o sistema não conseguiu calcular direito o que precisava, então com certeza era um pouco demais para a mente de Lucas trabalhar.

Ele começou removendo todos os apanhadores de sonhos, seguido por algumas mobílias que não teriam utilidade agora, como estantes para guardar panelas.

“Eu não vou cozinhar aqui nem fodendo, pra que fazer num forno a lenha quando tem fogão lá fora?”

Reduzido a maioria, ele de novo voltou a farmar madeira com os punhos, enquanto Solein assistia com os olhinhos brilhantes para ver sua criação ser erguida.

Uma pena que decepção acertaria seu peito ao perceber que Lucas não faria tudo o que colocou, muito pelo contrário, tiraria tantos pedaços que ficaria irreconhecível.

 

Construção concluída.

Estrutura: Casa simples de madeira.

Rank: Comum

Quantia de pessoas que podem morar: 1/4.

 

— Caramba, tá bonitona… — disse, analisando-a por fora. — E pensar que deu pra fazer rapidinho, poxa.

— Óbvio, você tava com preguiça de seguir minhas instruções à risca! Se tivesse seguido, estaria mais bonita ainda, então pare de se vangloriar achando que ficou bom mesmo!

— Obrigado, Solein. — Lucas mandou um joinha e um sorriso, ele não esperava mesmo que fosse ficar tão boa.

— Hã? É… uhh… — Ela corou um pouquinho, acatando o elogio com um aceno de cabeça. — Não foi nada, além do mais, eu te entreguei o símbolo de…

— SIR LUUCAAASSS!

Lucas esticou a cabeça na mesma direção que foi chamado. Um anão saltava pela neve com suas perninhas curtas e acenava em sua direção.

Enquanto isso, Solein fechou a boca e franziu as sobrancelhas, ganhando uma expressão assassina capaz de esfaquear alguém sem ser por meio de uma facada.

— Eu… eu estou interrompendo algo? — perguntou o anão, desacelerando o passo ao ver a elfa de gelo de cara fechada.

— O que? Claro que não, Hurrto — respondeu Lucas, apertando a mão dele assim que se aproximou o bastante. — Por que veio aqui? Normalmente você fica até tarde na forja.

— Hah, Sir Lucas, é porque eu terminei… eu terminei ela!

— Terminou o que?  Ela quem?

— A armadura, eu terminei a armadura de escamas de Leviatã! Demorou mais do que o esperado, mas está completa!

— Sério?! Então bora lá que eu quero experimentar o negócio agora mesmo!

— Lucas, espe…!

Antes de Solein terminar de falar, o rapaz sumiu de vista carregando o anão por baixo do braço, deixando-a mais que irritada e em tempo de arrancar os fios de cabelo com as mãos.

— Que merda! — Um chute lançou neve para o alto. — HAAAAA! Desgraçado, maldito, humano burro! Por que diabos ele não consegue entender nada do que eu falo e não pega nenhum dos meus sinais?! Até o símbolo de compromisso foi entregue pra ele, esse idiota mal deu bola! Por que eu tenho que correr atrás dele ainda por cima?! Não é como se a tribo precisasse mais!

A elfinha se sentou encostada num toco de madeira entre os diversos por causa das árvores derrubadas. Era frustrante demais viver assim.

Sempre tentando alguma estratégia para atraí-lo, sempre querendo achar um meio de fazer com que esse humano lhe escutasse, como uma elfa aguentaria isso por tanto tempo?

E mais, por que deveria ir atrás do humano, quando viveria dezenas ou centenas de vezes mais que ele de qualquer forma? 

Lucas seria como um segundo para o universo na vida dela independente de como visse, até mesmo esse momento correspondia a milésimos de segundos.

Um longo suspiro fugiu de sua boca, ela arrumou a franja do cabelo. 

— Vou dar um jeito, uma hora precisa dar certo. 

Assim, decidida a resolver a situação extremamente embaraçosa que se colocou, Solein retornou a vila dos elfos de gelo, onde construiria um belo plano para capturar a atenção de Lucas.



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