A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 1

Capítulo 1: Bem-vindo ao Sakurasou

Parte 1

 

Quando ele abriu os olhos, uma bunda branca e perfeitamente redonda estava diante de seu rosto.

— Hikari, é você de novo?

Depois de chamar seu nome, ela ronronou enquanto coçava as orelhas. Sorata Kanda pareceu não se importar, e empurrou a bunda de Hikari de seu rosto. Ele então se levantou do tapete em
que estava deitado. Hikari não gostou de ser acordada à força por Sorata, mas Sorata apenas suspirou em resposta.

— Que tragédia...

Sorata cerrou os olhos enquanto olhava para o céu brilhante do lado de fora da janela.
O lado oeste do horizonte ardia em vermelho profundo, como se estivesse o informando da aproximação do Armagedom.

— Acordar com a bunda de um gato... Quão trágica minha juventude pode ser?!

Sorata colocou as mãos no rosto, enquanto parecia se lamentar.

— Talvez usar a palavra “juventude” deixe tudo ainda mais trágico...

A gata branca em seu colo bocejou como se tivesse concordado com ele. Depois disso, os outros seis gatos no quarto começaram a miar, pedindo por comida.

Havia uma gata branca, um gato preto, um gato malhado, um gato marrom listrado, um gato
listrado, um siamês e um gato de pelo curto americano.

No total, haviam sete gatos que foram abandonados e agora foram adotados e são criados por Sorata. Ele também os nomeou em ordem: Hikari, Nozomi, Kodama, Tsubasa, Komachi, Aoba, Asahi.

Para todas essas bocas famintas, a única resposta que Sorata podia dar era dos barulhos de seu estômago:

— Seu mestre também tá com fome. 

Sorata disse isso com a mão na barriga.

Hoje era o último dia de suas férias de primavera. Dia 5 de abril, 17:00.
Este dormitório desgastado, tingido de vermelho pelo sol que estava a se pôr, é um dormitório da escola secundária afiliada a Universidade de Artes da Suimei.

O dormitório foi nomeado de Sakurasou, provavelmente devido à grande árvore de sakura no pátio.

A cozinha, a sala de jantar e até mesmo o banheiro eram todos compartilhados. Leva cerca de dez minutos para caminhar até a escola ou até a estação mais próxima.

O quarto 101, um dos quartos do dormitório, era o esconderijo de Sorata Kanda, que estava começando nesta primavera como um estudante do segundo ano. Na parede do quarto estava escrita
a seguinte frase: “Meu objetivo: Fugir do Sakurasou!”. Palavras essas que refletiam os sentimentos de Sorata depois de se mudar para lá.

Seu objetivo agora não era ter uma namorada, nem virar um atleta famoso, certamente não era jogar no Estádio Nacional, definitivamente também não era entrar na faculdade. A única coisa que ele queria era sair deste dormitório.

O motivo disso é que o Sakurasou é diferente dos dormitórios normais. Aqui moravam alunos que não se davam bem com os outros, e este era um lugar para eles mudarem. Simplificando: este era um
lugar para pessoas problemáticas.

Ao contrário dos outros dormitórios, não haviam empregadas ou refeitórios aqui, então tudo,
desde cozinhar, lavar a roupa, até mesmo limpar., tinha que ser feito pelos alunos, o que era muito trabalhoso.

Os funcionários da escola diziam que isso servia para “estimular a independência dos alunos”, mas Sorata achava que o motivo era que a escola não conseguia encontrar ninguém disposto a vir até
aqui.

Afinal, apenas falar para os seus amigos que você estava no Sakurasou já era motivo o suficiente para os deixar assustados.

Ambos os meninos e meninas viviam juntos neste dormitório estranho, somando quatro alunos no total. Sorata era um desses alunos. Havia também uma professora responsável por supervisioná-los.

No verão passado, Sorata foi chamado pessoalmente pelo diretor e foi forçado a tomar uma decisão.

— Sorata Kanda, jogue fora a gata que pegou, ou se mude para o Sakurasou.

— Então, eu irei para lá.

Sorata estava em sua fase rebelde, então, ele respondeu isso antes mesmo que o diretor terminasse o que estava dizendo.

Como resultado, ele foi expulso dos dormitórios normais naquele mesmo dia. Só depois disso ele percebeu que havia cometido um dos maiores erros de sua vida.

Depois que Sorata foi expulso, Mitaka Jin deu a ele uma resposta afiada em relação à sua tragédia:

— A gata branca Hikari é a única gata que você está mantendo. Se você trabalhar duro para encontrar alguém que a adote, então você poderá voltar aos dormitórios normais.

No entanto, isso atingiu Sorata com tanta força, que ele não conseguiu se recuperar do choque por um total de três dias.

E então, ele estava tentando encontrar pessoas dispostas a adotarem seus gatos. Mas por alguma razão estranha, depois de alguns meses, o número de gatos não diminuiu, mas, sim, aumentou.

Sorata percebeu que algo estava errado.

Como se estivesse amaldiçoado, Sorata encontrava gatos abandonados onde quer que fosse. Não havia nada que ele pudesse fazer sobre esse infortúnio.

Uma vez, ele tentou ignorar eles e fingir que não via, mas no momento em que deu alguns passos para longe da caixa de papelão, ele cedeu aos seus sentimentos de culpa e desconforto.

 

Nozomi, Kodama e Hikari se alisaram nele, talvez preocupados com Kanda, que estava imerso em seus pensamentos.

— Não fiquem tão perto de mim. Eu vou encontrar pessoas para adotar vocês em breve. Quando nos separarmos, eu certamente vou chorar e ficar muito triste, e vocês também.

Os gatos se viraram para Sorata. Sorata se perguntou se eles entenderam o que ele acabou de dizer.

Ele suspirou e olhou para o sol que estava se pondo pela janela.

— Eu não poderia ter um último dia de férias de primavera mais bacana? só pra me recuperar da minha tristeza...

Enquanto continuava a encarar o pôr do sol, ele riu meio sem graça.

Nesse momento, uma voz feminina veio de cima da cama.

E então, ele se lembrou do por que estar dormindo no chão duro.

Ele sempre dormiu em sua cama, aquele era o seu lugar favorito para dormir. Mas agora uma linda adolescente estava dormindo nela, igual a um bebê.

A boca da menina tinha a forma da boca de um gatinho, como se estivesse tramando alguma coisa.

Resumindo: ela era a rainha dos gatos.

Ela parecia saudável, pura e glamorosa, como uma gata de pelo curto americano. Sua saia mostrava um pouco de suas coxas delicadas.

Dava para ver claramente seu decote entre os botões abertos de sua camisa, e que ficava ainda mais marcados pelo aperto de seus braços.

Se Sorata estivesse vendo essa maravilhosa cena a um ano atrás, ele provavelmente teria começado a babar e chorar de um jeito esquisito.

No entanto, tendo morado no Sakurasou por mais de meio ano, ele não podia mais ser provocado por tais coisas.

— Misaki-senpai. Tá na hora de acordar.

Depois que ele suportou sua própria vergonha e chamou a dorminhoca, Kamiigusa Misaki saiu da cama e se esticou suavemente como um animal selvagem.

Sua camisa estava puxada para cima, então mostrava a linha pequena e curva de seu quadril, que
com certeza atrairia alguém para correr e abraçá-la. E uma barriga bonita como essa era muito difícil de se ver.

E mesmo que sem querer, até o cabelo na cama enfatizava ainda mais a fofura de Misaki.

Se ela passasse por uma rua com dez pessoas, cada uma delas definitivamente olharia para trás para poder vislumbrá-la.

Suas informações básicas também eram impressionantes: sua altura era de 1,56m, e ela pesava 46 quilos. Seu BWH era de 87, 56 e 85 — Os números perfeitos para uma aluna do terceiro ano do ensino médio.

Misaki emitiu seu glamour naturalmente enquanto arregalava os olhos para Sorata.

— ~No futuro, eu serei uma boa esposa~!

— Por favor, deixe suas fantasias para quando estiver sonhando. Esta é a regra deste mundo.

— ~Então, eu serei a esposa e você será meu marido. Vamos começar a atuar agora. Fingiremos que você acabou de chegar do trabalho~

— Como que as coisas ficaram assim?

— ~Você está de volta, querido. Você chegou cedo hoje ~

— Você está realmente levando isso a sério?!

— ~Você quer jantar? Ou tomar banho? Ou quer se enrolar comigo~?

— Para de falar assim!

— ~Até as preguiças ficam de bom humor quando copulam, não é mesmo~?

— Você tá mudando de assunto muito rápido!

— ~Suas habilidades de conversa são muito lentas. Nossa amizade é tão próxima, você deve ser igual a mim~!

Misaki apontou e piscou para Sorata, como se estivesse ensinando uma criança travessa.

Ela acabou de acordar, como consegue ficar tão animada?

Sorata pensou.

— De qualquer forma, bom dia. Além disso, eu disse inúmeras vezes que você tem que dormir no seu próprio quarto.

— ~Uma mulher nunca te deixaria se você insistisse nela~!

— Por que você fica mudando de assunto assim?!

— ~Seria deprimente vê-la insatisfeita e frustrada com você~!

— As mulheres também não entendem os sentimentos dos outros, então eu sou igual a elas.

Sorata finalmente desistiu e começou a responder normalmente:

— Então vamos continuar de onde paramos ontem.

No entanto, Misaki não deu atenção ao que ele tinha acabado de falar e começou a arrumar as coisas na frente da televisão.

Ela pegou o console de jogos e ligou a energia. Após alguns “bipes”, o sistema começou a ligar, lendo o jogo com sons de batida.

Mas Sorata desligou o jogo antes mesmo que o menu aparecesse.

— Ei~, o que você está fazendo?!

Misaki inchou as bochechas com raiva. O olhar zangado dela era muito fofo, e junto com seus olhos que estavam levemente inclinados para cima, não se podia deixar de mostrar um sorriso.

No entanto, ele não pode se deixar ser enganado.

— Mas você não tava falando sobre as mulheres até pouco tempo?

— Hein? Mas esse assunto é chato.

— Mas foi você quem começou a falar disso!

— Beleza, então vamos jogar alguns videogames.

— Você mudou de assunto de novo! Além disso, ontem, ou anteontem para ser exato, jogamos videogame até quase morrer. Jogamos por seis horas seguidas! Tô com vontade de vomitar
só de olhar pra essa tela! Meus olhos estão derretendo! Se eu for envenenado pelas ondas eletromagnéticas emitidas pela televisão mais uma vez, tenho certeza que vou virar areia ou sal!

A razão pela qual ele acordou no chão foi porque ele jogou videogame por tanto tempo que cochilou durante alguma partida.

Misaki ligou o videogame novamente.

— Tudo bem. Então, toda vez que você ganhar eu vou tirar uma peça de roupa. Que tal?! Isso com certeza será um colírio para os seus olhos! Vai excitar seu sangue e seus nervos! Essa é a incrível natureza da juventude! É o estágio no qual você salta direto para se tornar um adulto! É a cadeia da luxúria!

— Comparado a te ver tirar a roupa, descascar cebolas seria melhor para aumentar o meu fluxo sanguíneo.

— É porque você está pensando “Wa! Tem alguma coisa branca saindo!”, não é? Realmente não devo subestimá-lo. No entanto, você já está no segundo ano do ensino médio, já passou da idade para ficar excitado com vegetais. Na verdade, o que os alunos do ensino médio precisam é de carne! Venha, Kouhai-kun, vamos viajar para o mundo da carne!

Enquanto Misaki falava, ela estufou os seus seios, balançando eles sob a camisa, como se fossem bolos de pudim.

Devido à sua lamentável natureza masculina, Sorata não pôde evitar de olhar para eles.

Apesar disso, Sorata ainda tentou resistir com todas as suas forças.

— Eu não consigo pensar em você como uma garota quando faz esse personagem sem-vergonha, Senpai! Me deixe sair agora, por favor! Por favor, pare de agir assim, ou então eu vou começar a desconfiar das mulheres! Por favor!

— Nós finalmente superamos a distância de nossos gêneros e nos tornamos bons amigos. Boa, cara! Vamos comemorar hoje jogando videogame até o sol nascer!

— Isso não é nada digno de comemoração! O que você acha que está fazendo?! Você é uma alienígena! Por favor, volte para o seu planeta!

Durante as férias de primavera, Sorata foi forçado a ficar com Misaki todas as noites, jogando até o sol nascer. Depois das férias, ela finalmente iria voltar para o seu quarto. Então ele esperava ter um dia mais normal e tranquilo hoje.

— Isso é tudo que você vai dizer?!

— Se você acha que isso é tudo que eu tenho a dizer, então você está completamente errada! Ei, Senpai! Você tem sido muito egocêntrica! Você não acha que este é um país liberal?!

— Então vamos acabar com isso com um videogame!Vamos começar uma batalha sangrenta, e até que um de nós seja eliminado, essa batalha não irá acabar!

— É claro... que não! Eu já disse que não vou mais jogar videogame hoje!

Sorata pensou que Misaki iria ficar com raiva e olhar para ele novamente, mas em vez disso ela rapidamente tirou o jogo que estava no console, e inseriu um DvD, ignorando completamente
o que Sorata estava dizendo.

— ~Humph! Esquece, esquece. Se você odeia tanto jogar videogame, então me ajude dando uma olhada no meu novo anime~

A tela mostrava uma contagem regressiva de cinco segundos, assim como nos filmes antigos.

— Então esse é o seu novo trabalho?

— ~Eu editei de manhã antes de ontem, então está fresquinho. Por favor, divirta-se~

— Eu acabei de passar por um momento difícil, então não consigo me concentrar direito...

Após o último segundo da contagem regressiva, um anime original produzido apenas e únicamente por Misaki foi exibido na TV.

Não haviam vozes, nem música, nem sons de efeitos especiais, isso porque o anime não havia sido dublado. No entanto, tinha uma ótima animação, era vibrante e te prendia na TV. Ela ainda misturou personagens 2D no fundo 3D, mantendo uma harmonia perfeita entre os dois.

Os personagens e os cenários também foram desenhados de forma detalhada e complexa. O storyboard tinha o ritmo adequado, e a composição da imagem era algo único. O estilo de animação
complexo deve ter sido extremamente complicado de animar...

Era difícil imaginar que isso fosse feito por uma pessoa. Claro que não era a qualidade uma pessoa qualquer, parecia melhor até mesmo do que artistas profissionais.

A escola secundária afiliada a Universidade de Artes Suimei, muitas vezes abreviada para Suiko, não tem apenas os cursos gerais, os quais Sorata pertencia, mas também tinha aulas de música e arte, destinadas à pessoas de elite.

Essas elites vieram de todo o país. Eles tiveram que ter resultados incríveis para entrar
na escola com uma taxa de aceitação extremamente difícil.

Misaki era parte dessa elite. Ela era uma estudante de artes do terceiro ano.

Ela foi a única na escola a receber uma bolsa de estudos em artes nos últimos dez anos, porém, ela também foi a única a perder a bolsa, devido aos seus contínuos esforços em fazer desenhos
animados e animes. Isso a tornou extremamente famosa na escola.

— Esplêndido.

Misaki não respondeu ao comentário de Sorata, que seria o que qualquer um diria, pois estava ocupada fazendo os sons e efeitos do anime com a boca, ao lado de Sorata.

— ~Bang! Bang! Bong! Hack! Ha, Hahahahaha. “Seu destino chegou!” Bum. Swiin. Fing. Dadala. Droga. Droga. Droga. “Você é muito ingênuo. A única coisa que você pode fazer é sentir medo!”, “O-O que você está dizendo?”, “Tire sua roupa e comece de novo. Seu garoto imaturo e inexperiente! Fufu hahahaha... dang dang.”~!

No entanto, o esforço de Misaki para os efeitos sonoros foram completamente irrelevantes para o vídeo.

 — Em que tipo de mundo esquisito ela vive?

Ao mesmo tempo em que Misaki se acalmou, gradualmente, a tela foi escurecendo. O anime de apenas 5 minutos foi tão bom, que parece ter passado em um piscar de olhos.

— ~Vou ter um trabalhão para refazer isso...~

Misaki pegou o DvD, com uma cara de desânimo e decepção.

Mesmo que ela tenha dito um monte de bobagens, ela não gostou do resultado final.

— Não consigo ver nada que precise ser refeito.

— ~Kouhai-kun, você é muito ingênuo. A verdadeira batalha começa logo após você pensar que finalizou algo. O inimigo está em seu coração~!

— Oh, então é assim que fuciona?

— ~Eh, sim... Você acha que eu posso encontrar com a Nanamin para me ajudar a dublar~?

Quando ela disse “Nanamin”, estava se referindo a Nanami Aoyama, uma segundanista da mesma classe que Sorata. O sonho dela era se tornar uma dubladora no futuro, e, portanto, ela estava fazendo um curso para isso.

Ela disse em sua pesquisa de escolha de carreira que queria entrar no departamento de teatro da universidade.

Nota do autor: ela não gosta muito do apelido “Nanamin”.

Talvez por causa dos vários cursos disponíveis na Suiko, muitos alunos já haviam descoberto seus objetivos de vida e estavam se esforçando para alcançá-los.

No Sakurasou havia também um terceiranista que pretendia ingressar no Departamento de Literatura e Artes, pois ele queria se tornar um roteirista.

Tinha também um segundanista, que já estava fazendo trabalhos relacionados com a programação de jogos, que disse que queria entrar no Departamento de Mídia.

Ao contrário dos outros alunos que já tinham seus objetivos claros, Sorata entregou sua pesquisa de carreiras sem nada escrito.

Ele foi chamado à sala dos professores depois da escola naquele dia, e recebeu de volta a pesquisa, como sua lição de casa da primavera.

Nota do autor: Misaki, um ano mais velha que ele, escreveu em sua pesquisa de carreiras: “Meu futuro é muito brilhante, não consigo ver!” e também foi chamada para a sala dos professores, onde ela levou um sermão três vezes pior que o de Sorata. Entretanto, a professora que a repreendeu recebeu toda a força do contra-ataque de Misaki, que eram palavras estranhas e, portanto, ela foi tão gravemente ferida espiritualmente, que decidiu se demitir de seu trabalho sem planos de retornar.
Esta foi a segunda vez que um dos professores da escola de Misaki foram infligidos com um trauma incurável por causa dela. Pobres professores.

— Tudo bem, eu vou pedir a ela para ajudar.

— ~Então, tá com você! Se lembre de também ajudar no trabalho de gravação~!

— Você vai ter que me pagar um almoço em troca.

— ~Sem problemas~

Na verdade, isso realmente não seria um problema para Misaki.

Mesmo que ela tivesse que pagar as refeições dele por um ano inteiro, ela não se incomodaria nem um pouco. Isso porque o anime de trinta minutos que ela upou em um site de animes no verão
passado, foi um sucesso completo, recebendo críticas favoráveis instantâneamente, e recebendo mais de um milhão de visualizações.

Empresas correram para conversar com ela sobre criar vários produtos da obra. As vendas do DvD foram no início de janeiro, e vendeu mais de cem mil cópias, como se não fosse nada.

Certa vez, ele olhou o dinheiro na conta de Misaki, e viu um número que era o suficiente para ela apenas sentar e se divertir pelo resto de sua vida.

O roteiro do anime foi escrito por Jin Mitaka, amigo de infância de Misaki, que também morava no Sakurasou.

A história se passava em uma ilha artificial distante da Terra.

Era um conto de ficção científica que contava sobre um garoto quieto que vivia em uma ilha, se encontrando com uma jovem de fora da ilha. No início, o relacionamento deles foi incrível, mas
foi tão bom, que acabou se tornando um pouco chato.

O menino não tinha sentimentos amorosos, então a menina teve que tomar a iniciativa de se confessar pra ele. A menina também foi quem deu o primeiro beijo - o menino não sentiu nada, nem se importou com isso.

No entanto, havia algo misterioso em torno deles que levou a um grande plot twist no meio da história.

Um dia, o menino descobriu que o mundo em que vivia era “uma grande mentira”.

Ele não vivia na Terra, mas sim em uma ilha artificial de grande escala que flutuava no universo.

A Terra em que ele pensou que vivia, tinha se tornado inabitável, por causa das terríveis guerras
que os humanos começaram.

O menino percebeu que os seus dezesseis anos de vida eram uma farsa.

Ele pensava que vivia na terra, mas era tudo uma mentira completa. E essa não era a única mentira.
Seus pais não eram seus pais verdadeiros. Sseus amigos sabiam disso, mas ainda mentiam para ele.

Assim como a existência da menina: também uma mentira, que havia sido planejada especialmente para o menino. 

Todos esses dezesseis anos, ele viveu uma vida de acordo com um roteiro que alguém escreveu.

Quem planejou isso foi o Governo Mundial.

Para acabar com as batalhas sem fim, eles inventaram um plano chamado “Arca de Noé”. Seria algo
como criar crianças que seriam insensíveis à dor, tristeza, ódio e raiva.

Em outras palavras, eles queriam remover o instinto de luta dentro da humanidade.

A ilha artificial era a Arca, e o menino era mais uma cobaia deste experimento.

De certa forma, o plano deles foi um sucesso. Pois o menino não sabia o que fazer quando soube da verdade.

Ele entrou em pânico e estremeceu com o medo. Por fim, ele perdeu a cabeça e enlouqueceu, pois não conseguia enfrentar o terror em sua mente.

Ele destruiu tudo o que via pela frente, - destruindo o mundo em que ele vivia e que o manipulava - assim então, incendiando a ilha artificial.

Quando o Governo Mundial decidiu exterminar o menino, a menina voltou para ele.

A menina queria protegê-lo, mas estava cercada pelo exército, então ela acabou sendo baleada no peito, e morreu serenamente nos braços do menino.

Só depois que a menina morreu, o menino percebeu que, mesmo em meio a esse mundo de mentiras, existia algo real. Eram os sentimentos que ele tinha pela garota, e a bondade que ela tinha com ele.

Neste momento, o menino chorou pela primeira vez em sua vida.
Eram lágrimas de tristeza, que milagrosamente formou uma cena clássica de amor, que emocionou o público.

Sorata também derramou lágrimas quando assistiu pela primeira vez, ele não estava preparado para tudo isso. O excelente enredo o levou a chorar de emoção.

Este foi um trabalho que Misaki criou sozinha.

Cada cenário, conceito, storyboard, composição, esboços, animação, coloração, fundo, fotografia, computação gráfica, corte, gravação, mixagem de áudio e até trabalho de edição de vídeo,
que é um trabalho para diferentes pessoas de diferentes setores, foram feitos todos por Misaki.

Ela não era boa apenas em 2D, mas também em 3D. Ela criou cenas incríveis jutando as duas coisas.

Mesmo que o áudio e os sons tenham sido feitos por seus amigos que estudavam música, Misaki ainda tinha que terminar todo o resto do trabalho sozinha, e em um nível incrívelmente alto.

O anime que ela criou fez Sorata sentir no fundo de seu coração de que Deus era injusto. Misaki tinha sido presenteada com um talento tão anormal, mas ele não tinha sido presenteado com nada.

— Tudo bem! Agora tô indo refazer!

Misaki se levantou, e se espreguiçou.

Ela então saiu correndo da sala, e perdeu totalmente o interesse em Sorata.

Sons de passos subindo as escadas ecoaram no dormitório, seguidos pelos sons de Misaki andando acima do teto.

Na verdade, o quarto de Sorata era logo abaixo do quarto de Misaki.

— Eu preciso sair daqui antes que eu perca meu bom senso e fique que nem ela...

— Tô entrando.

— Ei, bata antes de entrar.

Chihiro Sengoku, a professora de artes, parecia ter se maquiado com cuidado e estava com uma bela roupa.

Ela apareceu na frente da porta. Ela era responsável por supervisionar os moradores do Sakurasou. E passou a viver no dormitório com eles. No entanto, ela não levava o trabalho à sério.

— Wuuahh! Pra quê tanta maquiagem?! Cê tá realmente desesperada por alguém, hein!

— Sorata. Você é apenas uma criança, não entenderia o sufoco de um adulto.

Depois de dizer isso, Sengoku piscou maliciosamente para Sorata.

Sorata segurou o enjôo e tentou dar um sorriso em resposta a ela.

— De qualquer forma, eu estou te dando um conselho.

— Eu vou encontrar meu futuro marido hoje, você vai ver.

— Então você veio até aqui só para me dizer isso?

— E por que eu teria que contar essas coisas a você?

— Bom, eu agradeceria se você não contasse.

— Você é apenas uma criança que gosta de responder para os mais velhos. Aqui, isso é para você.

 Ela mostrou uma foto e uma menina que tinha cerca de 5 a 6 anos de idade.

— Ela é sua filha ilegítima?

— Ela é minha prima que vai morar aqui a partir de hoje.

— Tá...

— O nome dela é Mashiro Shiina. Ela vai chegar na estação às seis, então, por favor, vá buscá-la para mim a essa hora.

— É o que?

— Eu disse que ela vai chegar na estação às seis, então, porfavor, vá buscá-la para mim à essa hora. Consegue me ouvir agora?

— Eu ouvi, e é por isso mesmo que tô te perguntando sobre o que você tá falando!

— Eu vou para um encontro mais tarde. E ele é médico. Sim, um médico! Esse é um alvo difícil de conseguir. Então, eu tenho algo importante que não posso perder! No entanto, olhe para você, cê tem tempo livre, certo? Tá estampado no seu rosto a frase “Tenho muito tempo livre”.

— E eu acho que você deveria agir mais como uma professora de verdade! Quão digna de respeito você é? De qualquer forma, não posso te ajudar hoje, porque tenho que descobrir o que quero
fazer da minha vida até amanhã.

— Do que cê tá falando?

— Foi você quem disse que eu precisava entregar a pesquisa de escolha de carreira!

— Oh, tudo que você precisa fazer é escrever algo como “famoso”.

— Eu não estou mais na escola primária!

— Ou então, “um cara rico”, também seria bom, não acha?

— Isso não é ainda pior?!

— Você é um menino tão mesquinho. Se você não consegue pensar em nada, não importa o quê, então apenas escreva “por enquanto, faculdade”, e os professores vão ficar satisfeitos.

— Você não pode pedir ao Jin pra buscar ela? Ele também deve ter bastante tempo livre.

— Aquele mulherengo não tá aqui. Ele provavelmente tá usando aquele rosto bonito e a outra “coisa” enérgica dele para levar uma mulher aleatória ao céu.

— Você realmente é uma professora? Tenha um pouco de respeito por essa profissão sagrada! Caramba!

— Respeito? Deixei isso no saco do meu pai há muito tempo.

— Wuahh! Que nojento! É a primeira vez que ouço uma mulher falando “saco”. Como esperado de alguém com mais de trinta anos. Pessoas velhas como você são realmente assustadoras!

As sobrancelhas de Chihiro se contraíram.

— Quem tem trinta anos?! Eu ainda tenho vinte e nove e quinze meses!

Ela bateu no chão com tanta força que estremeceu.

Sentindo o perigo, Sorata desistiu de dizer o que estava prestes a dizer: ‘Você certamente é uma velha sem salvação’.

— Que tal o Akasaka? Ele deve estar aqui, não é?

Sorata olhou para a parede do quarto ao lado do dele.

Quarto número 102, aqui mora um programador que está na mesma classe que Sorata, Ryuunosuke Akasaka.

— Sem chance desse recluso sair do quarto! Por favor, tenha um pouco de bom senso. Ahh, vou me atrasar se não sair agora! Tô deixando minha prima com você. Lembre-se de tomar cuidado dela!

Chihiro fechou a porta de um jeito assustador. No mesmo momento, um prego se soltou e a porta ficou torta.

Um dos gatos ronronou para confortar Sorata, como se estivesse desejando forças para ele consertar o prego.

Sorata olhou para as costas de Chihiro e tentou usar um poder psíquico para enviar a ela algo como “Você vai falhar no seu encontro!”.

Depois disso, ele pegou seu telefone que estava no chão e mandou uma mensagem para Ryuunosuke.

A mensagem foi respondida quase que instantaneamente.

— ^ O mestre Ryuunosuke está atualmente desenvolvendo um programa para uma empresa, na qual o mesmo será usado para equipamentos de som. Parece chato, mas ele ainda continua fazendo isso por causa do senso de responsabilidade que tem pelo trabalho. Então, mesmo sendo a mensagem de Sorata, sinto muito por não poder encaminhá-la para o Mestre Ryuunosuke. Desculpe pela inconveniência. Espero que entenda. — De Maid-chan, que também é a secretária ^


A Maid-chan era uma I.A desenvolvida por Ryuunosuke, que podia responder mensagens automaticamente.

Embora Sorata não tivesse certeza de como foi feita, ela era surpreendentemente emocional e muito inteligente.

Mesmo que só fosse capaz de usar palavras cotidianas, e até mesmo escrevesse incorretamente algumas palavras, suas respostas ainda eram precisas e adequadas.

Ela era muito interessante. Sorata falava com ela sobre a vida, praticava namorar uma garota e outras coisas quando não tinha nada para fazer.

No entanto, ele não tinha tempo para ficar trocando mensagens com a empregada eletrônica.

Ele enviou uma mensagem novamente, esperando uma resposta. Desta vez, ele obteve uma resposta em um segundo.

— ^ Se continuar sendo irracional, será punido. A punição por ser muito chato é um vírus que estou prestes a enviar pra você. (risadas) — De Maid-chan, que também é capaz de fazer vírus.

— Ah, merda!

Assustado com o que poderia vir, Sorata imediatamente enviou outra mensagem para explicar isso.

Ele se controlou, pois não queria receber um programa que danificaria o sistema de seu telefone, transformando ele em lixo.

— ^ Que bom que entendeu. É uma pena não poder usar o vírus que preparei especialmente para você. — De Maid-chan, que deseja em breve se tornar uma humana ^

Pensando na I.A, Sorata enviou outra mensagem pedindo desculpas. E quando estava no meio da mensagem, ele suspirou.

— Infelizmente, os alunos e professores aqui são todos malucos. Se eu não sair daqui logo, algo ruim pode acontecer. Eu também posso enlouquecer... Quando poderei voltar à minha vida normal de novo? Quem poderá me salvar?

Então ele olhou para a foto que Chihiro tinha lhe dado mais cedo. Era uma garota loira usando um grande chapéu de palha, ela estava com um vestido completamente branco de estilo ocidental. Não havia expressão em seu rosto... Ela nem sequer sorriu para a câmera. Seus olhos transparentes pareciam estar olhando para algum lugar além da câmera.

Uma dor tomou conta do coração de Sorata enquanto ele olhava para a foto. Ele se perguntou se era por causa da sensação estranha e familiar que a foto tinha. A garota lembrava ele de alguma
coisa.

Um gato ronronou.

— ... Sim, ela se parece com vocês há muito tempo.

Ele olhou para o gato que estava se alisando em seus pés, e imaginou uma garota olhando para ele de dentro de uma caixa de papelão, a sensação de devastação que isso trouxe quase o fez desmaiar.

 

Parte 2

 

O caminho mais rápido do Sakurasou para a estação era através do Centro Comercial. Era um lugar fabuloso, estilo retrô e histórico.

Nascido e criado aqui, Sorata se lembrou de quando brincava aqui quando era pequeno. A maioria das pessoas aqui o cumprimentaram enquanto ele passava pelas ruas.

O peixeiro o viu e disse:

— Ah, você não é o filho da Kanda? O peixe está ótimo hoje, vem ver.

A padeira disse:

— Eita, é você, Sorata? O que você quer comprar hoje? Eu posso te dar um croquete, é por conta da casa.

Sorata não comprou nada, mas pegou o croquete oferecido pela gentil senhora.

— Sorata, eu não te vejo há anos. A escola em que você está agora é a Suiko, né?

Quem disse isso foi seu antigo amigo de escola, que agora estava cuidando da loja de vegetais.

Relacionamentos entre vizinhos, que eram raros nos centros urbanos, ainda existiam nessa rua.

Ninguém iria querer que reconstruissem essa rua. Todo mundo gosta dessa cidade do jeito que ela é.

Cerca de três anos atrás, abriram um grande supermercado novo que oferecia uma enorme variedade de produtos por preço barato. Mesmo assim, Sorata ainda amava essa feira. Era um lugar reconfortante para ele.

E era esse tipo de sentimento que as outras pessoas que moravam por perto e as que trabalhavem lá tinham até hoje.

Enchendo a boca com croquete, Sorata chegou à estação antes mesmo de perceber.

Mesmo com a estação sendo nomeada como Estação da Universidade de Artes, levava 15 para andar de lá até a universidade.

Todo ano haviam estudantes desavisados que acabavam chegando no ultimo minuto, se atrasavam a lamentavam sua má sorte. Essa história acabou se tornando famosa por aqui.

Havia apenas uma cabine na estação, então moradores do outro lado tinham que atravessar o cruzamento para comprar os bilhetes, o que era extremamente inconveniente.

Sorata esperou no muro que ficava em frente à cabine.

Ele pegou a foto de sua carteira e deu uma olhada na garota novamente..

— O nome dela é Mashiro Shiina. Que nome estranho. Chihiro disse que ela é sua prima, mas elas não parecem ter a mesma idade.

Quando ele estava pensando sobre isso, o próximo trem entrou na estação. Normalmente, os alunos do ensino médio ficariam do lado de fora do trem em grupos nessa hora, que era no fim das aulas. Mas era primavera agora. Havia apenas alguns passageiros não identificados, os quais eram impossíveis descobrir a idade ou o que faziam, apenas pela aparência.

No entanto, Sorata reconheceu um rosto no meio dos outros. O dono do rosto também o reconheceu.

O mesmo arregalou os olhos, surpreso, e andou até Sorata, com passos leves.

— O que cê tá fazendo aqui? Você não tá esperando por mim, tá?

— Não.

— É óbvio que não.

Jin Mitaka sorriu. Sorata não achou graça nenhuma.

Jin tinha os cabelos castanhos, era alto e magro. Dava pra sentir sua insolência só de ficar perto dele, mas ele transpirava ternura. Os óculos limpos e brilhantes davam a ele uma imagem intelectual. Ele era perfeitamente bonito, mesmo que na opinião de Sorata.

Sorata entendia por que ele era tão popular.

Não era uma surpresa ver uma marca de beijo em seu pescoço, e isso era algo que acontecia todos os dias.

Jin morava no quarto 103 no Sakurasou. Sua especialidade era
descobrir as medidas do busto, cintura e quadril das mulheres, mesmo que elas estivessem vestidas.

— O que é isso aí na sacola? Tem um cheiro muito bom.

Jin olhou para a pequena sacola com croquetes. Seu rosto era como o de uma criança curiosa, mas ele ainda mantinha uma aparência madura e confiante.

— São os croquetes que a tia da padaria me deu no caminho para cá.

— Como são grandes. Por favor, me dê um. Eu só tomei café da manhã hoje.

Jin encheu a boca com croquetes, parecia que ele estava os comendo com prazer.

— Você é fabuloso, Sorata.

— Hein?

— Você consegue ganhar esses croquetes maravilhosos só de andar pela feira. Você é um gênio. Você tem o meu respeito.

— Você é mais fabuloso que eu, já que consegue engravidar garotas só de andar pela rua.

— Ei. Eu uso bons métodos preservativos.

— Você viu que o anime da Misaki­-senpai foi bem aceito?

Jin escreveu o roteiro do anime.

— Isso foi tudo graças a Misaki. Ela sempre foi incrível nisso. Hmm... é tão gostoso, eu amo os croquetes daqui.

Percebendo que Jin queria mudar de assunto, Sorata parou de aprofundar mais a sua pergunta.

— Eu vou agradecer à tia que me deu os croquetes mais tarde. Vou dizer que você gostou.

— Beleza. Você morava por aqui, né?

— Sim.

— Então por que você tem que ficar no dormitório?

— E por que você faz uma pergunta assim do nada? Mas não importa, não é nada de especial.

Aconteceu há cerca de um ano. Foi no dia em que ele recebeu os resultados das provas de admissão do ensino médio:

Sorata não podia nem sonhar que foi aceito em uma universidade. Para comemorar, ele foi ao karaokê com os amigos. Lá, eles cantaram e brincaram durante várias horas.

Cantando até meia-noite e voltando para casa depois disso, ele foi recebido por seu pai, que estava de pé na sala, assim como um deus ou alguém poderoso.

— Você já é um estudante do ensino médio. Acho que vou te dar o direito de escolher.

— O que?

— Venha conosco para Fukuoka, ou fique aqui sozinho.

O que seu pai disse enquanto cruzava os braços na frente do peito foi completamente fora do comum.

Sorata olhou triste para sua mãe que estava lavando pratos enquanto cantarolava uma música.

— Bem, de repente fui transferido para um novo local de trabalho.

— Ok, e...?

— Então você terá que escolher vir conosco ou ficar aqui.

— Espere. Por que você não vai pra lá sozinho?

— Do que você está falando, filho? Se eu fizer isso, ficarei solitário.

— Você deveria se abster de falar de coisas repugnantes como solidão, pai!

— E então, eu também vou levar a sua mãe e a Yuuko comigo.

— Por que você não me leva também?

— Porque a sua presença não faria diferença alguma.

— Ah, é mesmo? E a escola da Yuuko?

— Ela já mudou de escola.

— Que rápido!

No entanto, Sorata não se importava. Ele poderia finalmente ter a vida independente que desejava.

— A propósito, fui a um corretor de imóveis e decidi vender esta casa.

— Espera, você decidiu rápido demais!

— Querida, eu não aguento mais. Eu certamente não posso falar com meu filho na puberdade. Eu nunca soube que essa era uma fase tão complicada.

— Espera um pouco! Por que você quer terminar essa conversa como se fosse tudo culpa minha?!

Seu pai entrou no banheiro com pressa, aparentemente não querendo mais falar. Mas Sorata não queria correr atrás dele. Afinal, quem iria querer ver o próprio pai no banheiro?

Sua mãe, então, se sentou na frente dele.

— Então, o que você vai fazer? Esta é uma escolha de uma vida.

— O folheto de promoção da escola ainda está aqui? Quanto custa morar nos dormitórios?

— Diz que custa cinquenta mil ienes, com café da manhã e jantar inclusos.

Sua mãe disse isso com um sorriso maligno no rosto.

— Droga. Mais ainda dará certo se eu arranjar um emprego ou algo assim.

— Ehhh. Por quê?! Por quê?! Por que o Maninho não vem junto com a gente?

Sua irmã, Yuuko, que estava com um pijama rosa e infantil, interrompeu de repente.

Ela agarrou Sorata pela mão e gritou: “Por quê? Por quê?

E então ela rolou no chão.

— Eu quero estar com você, Maninho. Você não se importa em se separar de mim? Que absurdo!

A irmã de Sorata estaria no segundo ano do ensino médio em abril, mas a infantilidade dela era preocupante. Ela tinha um corpo fraco, e, como resultado, ela sempre dependia de Sorata para protegê-la e cuidar dela.

E, portanto, a primeira pessoa que discordaria da transferência de seu pai, seria sua irmã.

— Eu também não quero desistir da escola que eu batalhei tanto para entrar!

— Sua única motivação para entrar naquela escola foi porque era a mais próxima de casa! Então encontrar a escola mais próxima em Fukuoka seria a mesma coisa!

Mesmo depois disso, Yuuko ainda não queria desistir. Ela continuava a tentar persuadir Sorata, tentando levá-lo com ela, não importava o que acontecesse.

Yuuko olhou para o rosto decidido de Sorata e quase chorou.

Sorata se sentiu extremamente desconfortável com isso.

Por fim, Yuuko ficou em silêncio, devido às palavras de sua mãe:

 — Muito bem. Pare de ser tão teimosa, se não o seu irmão vai te odiar.

Afinal, ela tinha sido sua mãe por treze anos. Ela sabia como lidar com ela.

— Entendi... vou desistir do Maninho, então...

Yuuko voltou para seu quarto, com olhos que pareciam os de um pônei sendo vendido.

No dia seguinte, Sorata terminou os procedimentos para a admissão na Suiko e para morar nos dormitórios.

Por outro lado, sua família estava ocupada se preparando para a mudança.

Isso tinha sido apenas um ano atrás, mas Sorata sentiu que aconteceu há muito mais tempo.

Quando ele atingiu o clímax da história, Jin estava rindo muito.

— Que família invejável você tem.

— É tudo por causa do meu pai idiota.

— Mas ainda bem que não foi por nenhum motivo sério. Eu não estava preparado para nenhuma história trágica.

— Como minha família se separando, ou meu pai nos abandonando?

— Isso aí mesmo.

Jin sorriu abertamente.

— Ele deve ter usado esse rosto para pegar muitas mulheres.

Por algum motivo, Sorata pensou isso.

— E então, o que você está fazendo aqui?

— Ah, olha.

Sorata mostrou para Jin a foto que Chihiro tinha lhe dado.

— Que garota adorável.

— Sim.

— Ela deve ter cerca de cinco anos, não é?

— Eu também acho isso.

— Ela é sua irmã?

— Não.

 — Sim, ok... Entendo.

— O que você entende?

— Se entregue pra polícia, Sorata. Admita que você é um pedófilo. Admita seus crimes e as coisas pervertidas que você faz. Eu levo você até a delegacia.

— Por que você está dizendo isso com uma cara tão séria?! Não foi isso que eu quis dizer! Foi a Sensei que quis que eu viesse até aqui para dar as boas-vindas à essa menina!

— Quê? É só isso? Que chato.

— Você acharia mais interessante se eu fosse um criminoso?

— É um pouco melhor que essa realidade chata.

Sorata não conseguiu determinar o quão sério Jin estava ao dizer essas palavras, devido à expressão que ele estava fazendo.

Depois que a conversa idiota terminou, um táxi preto passou ali e parou em um um local a cerca de dez metros de Sorata.

Sorata conseguiu vislumbrar uma jovem usando o familiar uniforme da Suiko no banco de trás.

Era um uniforme novo, já que ela não parecia estar acostumada a usá-lo.

Ela segurou uma mala marrom em suas mãos e olhou para o táxista, que estava com um expressão entediada.

Os olhos leves com cor de fênix, davam a ela uma aparência um pouco madura. Ainda assim, ela deveria ser da mesma idade e série que Sorata, porque ela estava usando o mesmo tipo de uniforme.

Sua pele branca reluzente parecia tingir o ambiente inteiro de branco.

Sendo profundamente cativado por esta cena magnífica, Sorata fixou os olhos nela, apagando de sua mente tudo que estava ao seu redor, tendo apenas um mundo branco e sem fim no coração.

Ele gradualmente foi ficando incapaz de ver outras coisas ao redor dela também, e ficou difícil respirar. Ele até esqueceu onde estava neste momento.

A jovem parecia estar sozinha em um grande espaço branco.

Sorata ficou encantado com a aparência dela.

— Aquela garota parece única. Não é mesmo, Sorata?

— ...

— Sorata?

Sorata sentiu que Jin estava dizendo alguma coisa, mas não prestou atenção para ouvir o que era.

A garota caminhou até o banco, lenta e silenciosamente.

Se alguém fosse usar um gato para descrevê-la, ela seria como um gato-de-iriomote... Ela era chamativa, mas estava em um ambiente perigoso, o que a tornava uma dessas espécies ameaçadas
de extinção.

Como se fosse desaparecer no ar caso você olhasse para outro lugar, ela causava inquietação a quem a olhasse.

Ela se sentou no longo banco ao lado da estação, silenciosamente, igual a uma boneca.

Ela estava a cerca de seis metros de Sorata.

Com um estranho nervosismo em seu corpo, Sorata engoliu o croquete que estava comendo.

— Mesmo que ela seja tão bonita, é feio ficar apenas olhando para ela com desejo. Eu tenho certeza que ela é o tipo de garota que você gosta.

— ...

— Ela transmite a sensação de alguém que as pessoas gostariam de proteger.

Sorata disse isso ainda olhando para agarota.

— Tudo bem. Agora vou usar meus poderes especiais para ajudá-lo. Sim. Altura: 1,62M. Peso: 45 quilos. Seu BWH* é 79, 55, 78. Tenho certeza disso. Você tá achando que ela é uma tábua? Não seja tão pessimista... Como a cintura dela é fina, o número dos seios deve ser maior do que o esperado
depois que ela tira a roupa. Pode confiar em mim.

Sorata já tinha voltado a ouvir o que Jin estava dizendo.

— O que você tá dizendo, Jin-senpai?

— É que você é muito fácil de entender...

Mesmo que ele tivesse sido trazido de volta para a realidade, Sorata não conseguia tirar os olhos da garota.

O rosto dela parecia familiar, então ele começou a procurar uma resposta para isso.

Surpreendentemente, ele descobriu a resposta rapidamente.

— Ah, já sei.

— Belê. Você não precisa ficar envergonhado.

— Não. É ela.

Ele teve ainda mais certeza depois que falou isso.

— Hã? Do que cê tá falando?

— Eu pensei que ela iria vir de trem.

— Você tá bem?

— Sim. Estou. Quer dizer... A foto!

Sorata entregou a foto para Jin.

— Eu não consigo ir até lá com você, sério.

— Esquece.

Sorata se levantou da cerca em que estava, e foi até a garota no banco.

— Ei, de que cor você quer ser?

Sorata não tinha percebido que essa era a voz da garota. Os olhos de Sorata se encontraram com os dela, que estava olhando para cima.

Isso quase o fez engasgar.

— Eu?

Ela balançou a cabeça levemente.

— Eu nunca pensei sobre isso...

— Então, por favor, pense.

— Ainda não sei o que quero ser no futuro, mas por enquanto, eu seria... iridescente.

— Isso é uma cor?

— Na verdade, é tipo um arco-íris. Em outro sentido, é uma mistura de várias cores.

— Isso é muito interessante

— E você?

— Hã?

— De que cor você quer ser?

— Eu nunca pensei sobre isso.

— O quê?

— Mas por enquanto... Seria branco.

— Igual ao seu nome.

— ...?

Ela olhou para Sorata, surpresa.

— Desculpe. Eu não sou ninguém suspeito. Eu sou Sorata Kanda, a Chihiro-sensei me enviou para dar as boas-vindas à você. Você já deve saber disso, não é?

— A Chihiro?

— Sim... A Sensei é uma sem noção.

Sorata pegou a foto e a comparou com a garota que estava na frente dele. Era impossível reconhecê-la só de olhar para a foto.

Sorata foi capaz de reconhecê-la porque o sentimento que ela transmitia era o mesmo de antes.

A jovem diante dele era Mashiro Shiina.

— De quantos anos atrás é essa foto que a Sensei me deu? Ela deve ter três vezes essa idade agora.

 

Parte 3


— Devo levá-la para o Sakurasou agora?

Mashiro Shiina caminhou ao lado dele em uma velocidade lenta. Parecia que a qualquer momento ela iria parar.

Sorata se perguntou sobre o que fazer, enquanto olhava para o rosto dela.

Mashiro tinha um corpo pequeno, uma voz fraca, um comportamento calmo e apático, um semblante constante e nenhuma expressão no rosto.

Ficar ao lado dela era como estar sobre gelo fino que estava prestes a rachar. Ela era como uma delicada jóia, que quebraria caso você tocasse nela.

Esta foi a impressão que Mashiro deu.

De repente, ela disse:

— “Sorata” não é ruim.

— Hein?

— É um bom nome. Eu gostei.

Sorata ficou encantado. Mashiro era uma jovem crédula.

No entanto, Sorata pensou um pouco sobre isso, Mashiro realmente não combinava com o Sakurasou.

O Sakurasou era um lugar para pessoas que ultrapassavam o bom senso e que tinham uma enorme personalidade. Era um lar para pessoas extraordinárias.

Misaki Kamiigusa era uma alienígena, Akasaka Ryuunosuke era um recluso, Mitaka Jin era o imperador das festas do pijama, até mesmo a professora, Chihiro Sengoku, era uma pessoa que
odiava fazer algumas coisas, e fazia tudo o que queria.

Jin, que estava com eles na estação, já tinha ido embora.

Graças a ele, Sorata foi forçado a ficar sozinho com uma garota que acabou de conhecer.

Quanto mais ele queria dizer algo legal ou inteligente, mais difícil era para pensar em algo para falar.

E graças ao que Mashiro disse antes, o rosto de Sorata estava completamente vermelho. No entanto, foi a expressão dela que fez Sorata ficar disposto a dar tudo de si.

— Então...

— Sim?

— Você vai estudar na Suiko?

Mashiro balançou a cabeça levemente.

— Eu fui transferida para cá.

— Ah sim... Então... você está na segunda série?

Mashiro novamente concordou com a cabeça.

— Nós estamos na mesma série, então.

Seus olhos brilhantes olharam de canto, sem nenhuma mudança em sua expressão facial.

Sorata se virou, envergonhado.

Eles continuaram caminhando até o Sakurasou em silêncio.

Já dava para ver o telhado do dormitório.

Assim que chegaram lá, um caminhão da empresa de mudanças partiu. A caminhonete ligou o motor, e foi em direção à estação.

Sorata ajudou Mashiro a colocar sua bagagem ao lado do portão.

— Vamos entrar.

Dito isso, Sorata entrou no dormitório com ela.

Na mesma hora, Misaki desceu correndo as escadas do primeiro andar, ela estava agindo igual a um predador olhando sua presa.

E então, ela pulou. Ela amorteceu a queda usando o calcanhar.

— ~Bem-vinda ao Sakurasou!~

Ela estourou os confetes que estavam em sua mão, atingindo diretamente o rosto de Sorata.
Sorata imediatamente revidou e tirou os confetes dela.

— Wuahh! O que você está fazendo com uma donzela?!

— Se você vai se chamar de donzela, por favor, pare de dormir no meu quarto!

— ~Está tudo bem! Eu nunca nem beijei ninguém. Eu sou um produto novo da cabeça aos pés.~

Mashiro olhou para eles sem entender.

— N-Não. A Senpai é apenas minha senpai da escola. Não temos nenhum relacionamento suspeito! Por favor, não tenha nenhum mal-entendido assustador, ok?

— ~Eh. O quê? Kouhai-kun, já está interessado na Mashiron?

— Não! Espere... Como você sabe o nome dela?

— Muito bem. Não fique aí parado. Se apresse e a leve para o quarto dela.

— É você quem está bloqueando nosso caminho, ok?!

— ~Eu finalmente tenho uma vizinha! Ela vai ficar no meu quarto, ou vai me convidar pro quarto dela? Ela vai discutir seus problemas de amor comigo? Uau, estou animada~!

Sorata empurrou a eufórica Misaki para o lado, e levou Mashiro para o primeiro andar, onde garotos eram proibidos de subir.

A placa da porta do quarto 202 estava marcada com as palavras "Quarto da Mashiro”, e com desenhos estranhos.

— ~Eu fiz isso ontem à noite.~

Misaki tinha surgido do nada e estava se aproximando deles.

— Você estava jogando videogame na noite passada.

Misaki o ignorou, e abriu a porta do quarto sem o consentimento da dona.

A porta fez um barulho de rangido enquanto era aberta.

Sorata estava se lembrando que aquele era um quarto vazio sem nada dentro. Agora tinha uma cama, uma penteadeira, uma mesa, um computador conectado a um grande monitor, e roupas na
bagagem que foram cuidadosamente colocadas.

— ~Que tal? Minha eficiência no trabalho é incrível. Enquanto vocês estavam fora, eu já fiz tudo. É simplesmente demais! A empresa de mudanças é incrível! Tão profissional! Eles são certamente profissionais~!

Misaki estava estranhamente eufórica, ela estufou o peito de orgulho, como se tivesse feito todo o trabalho.

— Você não fez nada na verdade.

— ~Eu fiquei observando eles.~

Mashiro, que estava prestes a entrar no quarto, ficou olhando para a conversa dos dois, sem nenhuma expressão no rosto.

— Shiina... você está realmente planejando ficar aqui?

— Sim.

Ela disse isso com calma.

Sua voz era baixa, mas era sauve, como o som de algo inimaginável.

O triste era que, enquanto ela falava, sua voz parecia entediante.

Ele ficava ansioso só em olhar para ela. O que havia de errado com aquela sensação estranha que ele tinha?

— ~Ah. Estou muito feliz por sermos companheiras no Departamento de Artes~

Insatisfeita e fascinada, Misaki quis apertar Mashiro, mas foi interrompida por Sorata, que empurrou sua cabeça.

— Shiina, você está no Departamento de Artes?

O Departamento de Artes tinha um índice de aceitação inacreditavelmente baixo. Deve ter sido bem difícil se transferir para lá.

— Sim.

Mashiro respondeu diretamente e com calma.

— ~ Você é tão bobo e inexperiente. Você realmente não sabe de nada. Informação é a chave para vencer as guerras modernas. Alguém como você vai sempre perder. Que miserável. Eu realmente preciso te dar umas dicas ~

Sorata cortou a fala de Misaki, e disse “tanto faz”, tentando voltar para o assunto.

— Então, o que você sabe, Senpai?

— ~A Mashiron é super famosa no mundo do design de arte contemporânea! Dizem que ela foi para a Inglaterra quando era pequena, para receber educação de elite~

Então, quer dizer que ela é uma daquelas pessoas que viajou pra fora e depois voltou.

Seu comportamento diferente, seu ritmo lento de fala e a atmosfera especial em torno dela, tudo isso podia ser atribuído ao fato dela ter vivido no exterior por um longo tempo.

— ~Alguns de seus desenhos já foram exibidos em galerias de arte, e ela ganhou vários prêmios! Seus desenhos parecem ter um valor alto~

Mashiro não negou o que Misaki disse, então devia ser verdade.

No entanto, ele não tinha certeza de como as coisas funcionavam no mundo da arte.

— Quão famosa ela é em termos de transporte ferroviário?

— Ela é um trem-bala!

— Isso é incrível!

Com os braços cruzados, Misaki parecia orgulhosa.

— E então? Está convencido agora?

— Bom, você é uma estudante do Departamento de Artes, afinal.

— Ué, como assim?

— É por isso que você sabe essas coisas sobre a Shiina.

— ~Não, a Chihiro-sensei me contou ontem!

— Então por que você tá se achando tanto?!

— ~Eu ainda venci, mesmo que sabendo um segundo antes de você. Muahahahaha!

Sorata tentou bater na cabeça dela por causa do sorriso idiota. No entanto, Misaki bloqueou o tapa.

 — ~Você não pode usar o mesmo movimento comigo duas vezes~

— Se esse é assim, então eu vou dar um bem na sua testa! — Sorata pensou.

— ~Wuaghh! Isso dói. Kouhai-kun, você é uma criança do jardim de infância que gosta de apalpar as garotas~?

— Eu não sinto nenhum sentimento por você, Senpai. Exceto pena.

— ~Eu sei que você está fingindo agora. Eu também sei que você quer parecer um adulto na sua idade! Mas mentir não é o jeito certo de fazer isso! Um tempo atrás você estava tentando
me ver no banho enquanto eu estava nua, e no fim, seu nariz começou a sangrar! É óbvio que você estava excitado por ver meu corpo molhado! E mesmo assim você é tão tímido... Que fofo~!

— O quê? Aquilo foi só um acidente porque você desobedeceu as regras do tempo de banho! Eu era a vítima, não você! Me devolva as células de sangue do meu corpo!

— ~Eu sou impressionante quando estou nua~!

— Você já é impressionante quando não está!

Sorata de repente se lembrou que Mashiro ainda estava ali, e olhou para ela com receio. Mas para sua surpresa, não havia expressão alguma em seu rosto. Ela estava apenas olhando para Sorata e Misaki, sem expressão.

— Eh... nós te assustamos?

— Por quê?

— Pela conversa que tivemos agora.

Mashiro apenas inclinou a cabeça, com uma cara de dúvida.

Seu comportamento encantador deixou Sorata sem palavras.

— ~“Droga... ela é tão fofa...” é o que você quer dizer, né, Kouhai­-kun? É tão aparente~

— Mesmo que saiba disso, você não pode apenas ficar quieta?

Sorata levantou a mão para bater na testa de Misaki

— Ai. Ai. Ai. Ai. Ai. Ai!

 — Vocês continuam se dando muito bem.

Ao virar sua cabeça em direção à voz, Sorata viu Chihiro andando até eles como um zumbi. Parece que ela não teve sucesso no encontro, provavelmente devido à maldição que ele jogou antes.

Andando atrás de Chihiro, estava Jin, que saiu da estação. Jin olhou para Sorata e Misaki com mau humor, segurando uma sacola de compras com as duas mãos. Dentro da sacola tinha
comida caseira, lanches e suco.

Depois dos olhos de Jin se encontrarem com os de Sorata, ele imediatamente sorriu levantando o canto dos lábios.

— Sua festa de boas-vindas deve precisar dessas coisas.

— Sensei, você voltou tão cedo. Quer dizer você não encontrou um marido?

— Você ainda se atreve a me desprezar, né... Não havia nenhum médico! Ele estava mentindo! Que ousadia dele mentir sobre seu emprego.

— Sensei, você também mentiu sobre a sua idade. Você não é melhor que ele.

Chihiro sempre dizia que ela tinha vinte e sete anos nos encontros.

— Isso é realmente triste! Como eu gostaria que cada um desses caras morressem.

— ~Chihiro, não se preocupe. O Kouhai-kun disse que se você não conseguir encontrar um marido, ele se casaria com você~!

— Eu nunca disse isso!

— Bom, eu aceito. Mas isso só seria aceitável depois de uns cinco anos.

— Nunca!

— Eu não estava falando sério.

Chihiro olhou para Mashiro, e parecia saber o que ela estava pensando. Chihiro olhou profundamente.

— Oi.

Mashiro falou com uma voz extremamente baixa.

— Sensei, posso fazer algumas perguntas sobre a Shiina?

— Tudo o que eu quero agora é bater em alguém, então fique longe.

— Então apenas uma pergunta.

Na verdade, haviam muitas outras perguntas que Sorata queria fazer. Por exemplo, por que alguém viria para cá quando ela já está aprendendo artes no exterior? Havia também algumas perguntas sobre seus pais.

Sorata escolheu a pergunta que ele mais queria saber dentre todas elas:

— Por que a Shiina vai ficar no Sakurasou? Deve haver vagas nos dormitórios normais.

— Eu ainda tenho que explicar?

— Sim. Eu não faço a mínima ideia do motivo.

— É porque... Este é o lugar mais adequado para a Mashiro.

— Hã?

— Você vai entender depois de um tempo. Sim, especialmente você.

No fim, Sorata ainda não conseguia entender o motivo do estranho brilho nos olhos de Chihiro.

 

Parte 4

 

— Estou com tanto sono. Eu queria dormir um pouco mais.

Enquanto se lamentava porque não era mais férias de primavera, ele saiu da cama contra sua vontade.

Ele colocou a culpa por ter dormido pouco em Misaki.

Recentemente, tudo que dava errado era culpa dela. Seja o aquecimento global, a queda das ações, ou aumento do dólar. Tudo era culpa de Misaki, tudo. Tinha que ser.

O motivo dele ter ido dormir tarde foi por causa da festa de boas-vindas para Mashiro.

Chihiro ainda não conseguiu se livrar da tristeza do encontro, e se trancou em seu quarto, assim como o Ryuunosuke Akasaka.

Como resultado, Sorata, Misaki e Jin foram os únicos responsáveis por receber Mashiro.

Ao redor da comida que Jin preparou, Misaki ficou falando sem parar, não parou nem pra respirar.

Por outro lado, Sorata se tornou o “escudo” para Mashiro, para protegê-la de ser prejudicada. Mesmo que Mashiro não tivesse mostrado nem um sinal de que ela estava irritada com Misaki, mas ela também não mostrava nenhuma mudança com as piadas engraçadas de Jin, então era difícil saber como ela se sentia.

Diferente da maioria das pessoas nos outros lugares, ela era calada e tranquila, era como se ela fosse desaparecer se alguém parasse de olhar para ela. Essa era a impressão que Mashiro passava para Sorata. Se ele não a protegesse cuidadosamente, ela poderia não sobreviver no Sakurasou. Sorata jurou a si mesmo que iria protegê­-la com tudo de si.

Depois que terminou de comer, Misaki animou um acrobata, que deu um salto mortal para trás com as mãos em uma barra horizontal, em um livro de inglês que ela já não usava há três anos, apenas por diversão. A qualidade da animação era comparável com animes de TV.

Depois disso, Mashiro tirou um caderno de desenho de sua mala e desenhou os sete gatos ao seu redor.

No momento em que Sorata viu o desenho, sentiu arrepios, pois os sete gatos desenhados no caderno pareciam que estavam prestes a se mover, e pareciam ainda mais reais do que os de verdade. Este desenho agora está na parede do quarto de Sorata.

A festa terminou ontem à noite às onze e meia. No entanto, Sorata foi forçado por Misaki a jogar videogame com ela até agora.

Ele não conseguia se lembrar de quando tinha adormecido, mas pelo menos era um milagre que ele estivesse acordado, em sua cama agora, e não tivesse visto Misaki nela.

Ele se lembrou que Jin simplesmente puxou Misaki para longe e exigiu que ela dormisse em seu próprio quarto. No entanto, Sorata não conseguia distinguir se tinha sido um sonho ou realidade.

Ele mal tinha saído do quarto, e um som veio da porta.

Ele olhou de longe.

— ~ Ayahh! ~

Misaki gritou em voz alta enquanto corria para fora.

Sorata se perguntou se ela estava animada por causa do novo semestre.

Por que Misaki estava tão cheia de energia? Sentindo que isso não era justo, Sorata se lembrou de ter jogado com ela noite passada, então ele decidiu olhar atentamente para sua saia, vendo uma calcinha azul clara, mas foi atingido na cabeça por Jin, que estava atrás dele.

Misaki saiu, mas a cabeça de Sorata ainda estava doendo.

— Não fique excitado logo de manhã.

Jin andou rapidamente para a sala de jantar, sem dar chances para Sorata reclamar.

Então Chihiro caminhou até Sorata.

— Sensei, você acordou cedo hoje.

Eram apenas sete e meia da manhã, ainda havia tempo suficiente, uma hora antes do início das aulas.

— Kanda, tenha isso em mente, um homem se torna forte depois de ganhar diferentes tipos de experiências.

Mesmo que ele não pudesse entender o que isso realmente significava, ele achou que ela estava se referindo ao encontro que ela foi ontem. E então ele decidiu não falar mais disso.

— Você pode ficar responsável pela Mashiro? Você só precisa levar ela para a sala dos professores.

— Sim. Afinal, é o primeiro dia de aula dela. Vou mostrar a escola para ela.

Chihiro se esticou para frente e cutucou o peito de Sorata.

— O-O que foi?

— Você realmente vai levar ela? Você assumirá a responsabilidade de levá-la com você?

— Eu já disse que sim.

— Muito bem. Eu deixarei isso com você!

— Hein? Isso parece um pouco desagradável...

Ele primeiro pensou que Chihiro iria respondê-lo, mas para sua surpresa, ela só foi embora depois de bufar, “Hng Hng”.

Depois de vê-la sair, Sorata olhou para o relógio na parede: eram 7h40.

Ele não ouviu os passos de Mashiro descendo a escada, então ele pensou que seria melhor acordá-la.

— É proibido os homens subirem no primeiro andar...

O chão rangeu quando Sorata subiu as escadas, deixando-o um pouco nervoso. Sua mente começou a imaginar Mashiro de pijama e dormindo. Isso criou uma expectativa peculiar nele.

Sorata não era o tipo de pessoa que tinha problemas para lidar com garotas. Isso foi graças a Misaki, que lhe deu imunidade.

No entanto, alguém poderia contar Misaki como uma menina?

Se alguém perguntasse, Sorata provavelmente diria à pessoa que ela é mais como uma alienígena.

Depois de andar até a porta de Mashiro, Sorata estava agora no auge de seu nervosismo. Seu estômago começou a embrulhar.

— Eu estou... com medo?

Ele tentou ficar aliviado, no entanto, sua voz aumentou e ficou ainda mais estranha.

— Ei! Shiina! Se você não acordar, você vai se atrasar.

Sorata percebeu que chamá-la era inútil.

Como não houve resposta, Sorata se perguntou se ela tinha ouvido ou não.

E então Sorata começou a bater na porta.

— Shiina! Acorda! Ela realmente não tá respondendo...

Ele bateu na porta com mais força. Knock Knock Knock.

A única resposta que ele obteve foi o silêncio.

Ele pegou na maçaneta, mas refletiu sobre oque estava prestes a fazer.

— Não, não, calma aí. Aqui não é o quarto da Misaki-senpai.

Como a porta poderia estar destrancada?

Para ter certeza, ele girou a maçaneta devagar, e não pareceu estar trancada.

E então ele teve certeza de que não estava.

— Eu já disse, este não é o quarto da Misaki-senpai. Abrir sem permissão seria ruim...

Mesmo assim, não adiantaria nada apenas ficar chamando do lado de fora.

— Não há outro jeito de fazer isso, então.

Ele inventou desculpas sem sentido para si mesmo enquanto segurava a maçaneta.

Ele lentamente girou a maçaneta, e olhou pela brecha da porta.

— Hein?

Sem palavras para o que viu, ele abriu a porta rapidamente.

— O que aconteceu?!

Pensando que entrou no quarto errado, ele verificou o número da porta de uma maneira confusa. Quarto 202. Certamente era o quarto de Mashiro. Certo. Ele estava no quarto certo. Bingo.

No entanto, o que estava agora na frente dele era totalmente diferente do que ele tinha visto ontem.

Haviam roupas, livros e mangás espalhados pelo chão. O tapete também sumiu. A sala parecia ter sido destruída por um furacão.

— O que aconteceu?

Ele pensou que poderia ter sido um ladrão. O sangue correu para seu cérebro e seu corpo começou a suar.

— Ei! Shiina!

Ele correu pelo quarto em pânico. Mashiro aparentemente não estava lá. E cada vez que ele olhava ao redor, mais em pânico ele ficava. O quarto todo bagunçado e Mashiro desaparecida, isso certamente foi desesperador.

Com os dois pés tremendo, Sorata se apoiou na mesa para se estabilizar. O monitor ligou quando Sorata tocou o mouse. A luz repentina fez Sorata se assustar um pouco.

Ele olhou para o monitor com medo.

Nos quadros, havia um desenho de um cara bonito que estava bajulando uma garota. Ele segurou o rosto da garota corada e se aproximou dela aos poucos. A arte ficou fantástica e bem desenhada. A proporção das cabeças e dos corpos era bastante equilibrada para que a imagem inteira não parecesse muito real.

Não importava como ele olhasse, parecia o rascunho de algum mangá shoujo.

— Por que a Mashiro...

Ele não conseguia pensar no que estava acontecendo. Sua mente parou de funcionar.

E então, algo se moveu nos seus pés.

Assustado, ele pulou para trás e olhou por debaixo da mesa com cuidado.

Apertada no pequeno espaço abaixo da mesa, Mashiro Shiina dormia tranquilamente com cobertores e roupas enroladas em volta dela. O espaço era como a cabana de um hamster.

Sorata deu um suspiro de alívio.

— Bom. De qualquer forma, isso é bom. Não, é muito bom.

Ele olhou ao redor do quarto novamente. Ele se perguntou sobre o que realmente aconteceu. De repente, algo brilhou em sua mente. Se não fosse um ladrão, só restaria uma resposta.

— Pare. Deixe­-me pensar por um momento.

Sorata não estava falando com ninguém, na verdade.

Ele fechou os olhos e se esforçou para encontrar uma resposta plausível.

— O motivo disso é que ela não está acostumada a viver no Japão. Mas como algum cidadão de qualquer outro país jogaria suas coisas como um furacão em seu quarto? Talvez o jeito que ela dorme seja um pouco ruim. De que forma seu jeito de dormir é ruim? Bom, ela estava dormindo debaixo da mesa... Já sei! Ela deve ter sido sequestrada por alienígenas... Isso não parece real. Agora que mencionei isso, talvez seja tudo um sonho. Sorata, você ainda está em seu sonho. Sim. Ah. Eu entendi. Eu ainda estou sonhando. Essa possibilidade é a mais plausível.

Foi isso que Sorata decidiu.

Tendo explicado isso para si mesmo e obtendo seu próprio consentimento, Sorata saiu do quarto de Mashiro. Ele fechou a porta com a mão e respirou fundo. Já está na hora de acordar de seu sonho.

Decidido que já havia acordado, ele abriu a porta novamente.

Logo em seguida, Sorata ergueu a cabeça. Certamente, o quarto estava exatamente como ele havia visto antes.

Era impossível de acreditar que alguém estava realmente vivendo ali.

Embora Mashiro fosse um pouco diferente das pessoas normais em alguns aspectos, Sorata pensou que ela pertencia ao mesmo grupo de pessoas que ele. Ele pensou até mesmo que ela fosse se tornar o “oásis” de sua alma...

— ...Ah, Deus, o que eu fiz de errado?

Embora desesperado no início, Sorata ainda decidiu caminhar pelos pequenos espaços entre as roupas e as calcinhas até a mesa.

Para um colegial saudável, ver as calcinhas de uma menina espalhadas pelo chão era estranho, principalmente porquê eram reais — Essa era a pior parte.

Ele tentou não olhar, mas seus olhos ainda iam para elas.

Ajoelhando­-se debaixo da mesa, Sorata a chamou.

— Humm... Shiina? Você se importaria de acordar?

Ela não deu nenhuma resposta.

— Ei, ei.

— ...

A única coisa que ele ouviu foi um som de respiração.

— Eu ficaria muito feliz se você pudesse se levantar...

— ...

Vendo que era inútil, Sorata tentou puxar os cobertores, mas Shiina estava os segurando com tanta força que ele não conseguiu. Então ele só podia desistir disso e sacudí-la pelos ombros.

— Ei. É de manhã. Hora de acordar.

— A manhã nunca chegará.

— Não, não. Já é de manhã! Não diga coisas assustadoras.

Mashiro levantou a cabeça, que estava enterrada em suas roupas, e olhou para Sorata fixamente por um tempo.

Depois de quase um minuto, seus olhos finalmente se encontraram com os dele.

— Bom dia.

— ...

O cabelo de Mashiro estava muito bagunçado.

— Não volte a dormir! É ruim chegar atrasada no primeiro dia de aula!

— ... Eu entendo. Vou me levantar.

— Ei, você é inesperadamente sensata.
Mashiro rastejou para fora da mesa e se levantou.

Os cobertores e roupas sobre ela caíram lentamente.

Seus ombros ficaram expostos primeiramente, depois foram seus delicados braços, peitos não tão fartos, uma cintura fina e a linha curva de seu quadril. Tudo estava completamente exposto diante dos olhos de Sorata.

Por um instante, o sangue de Sorata ferveu.

— Waaaargh!

O grito de Sorata ecoou pela casa.

— Que barulhento.

Mashiro esfregou os olhos.

— Espere! Você, você, você...! Wuaaagh!

— O que?

— Coloque suas roupas! Por que você está nua?! A que raça você pertence?!

Embora estivesse nervoso, Sorata usou tudo que tinha para tentar falar com ela.

— O que aconteceu?

— ... Fui ao banheiro...

— Sim, e depois?

— ... Tirei as roupas...

— Ok, agora você só precisa vestir elas novamente.

— ... Voltei para o quarto sem elas...

— Ok! Parou aí! Você precisa usar elas!

— Eu pensei que seria bom ficar assim.

— Que tipo de lógica tem nisso?! Você deveria pelo menos ter alguma responsabilidade. Além disso, coloque suas roupas! Qualquer coisa, apenas coloque!

Foi difícil para Sorata se acalmar, sabendo que Mashiro estava nua atrás dele.

— Vamos nos atrasar! Apenas coloque seu uniforme!

Sorata pegou o uniforme da Suiko na pilha bagunçada de roupas e jogou para  Mashiro.

Dava para ouvir o som das roupas.

Seu coração parecia prestes a explodir.

— Pronto?

Sorata perguntou isso no tempo que ele imaginou que levaria para ela vestir todo o uniforme.

— Pronto.

— Escuta aqui, você deveria, pelo menos...

Sorata virou a cabeça enquanto falava, mas sua boca congelou.

Mashiro apenas cobriu seu corpo com o uniforme. Os botões estavam todos desabotoados e, portanto, muitas coisas estavam visíveis.

— O que você acha que tá pronto?!

— Hein?

— Você deveria saber!

— Tem algum problema?

— O único problema aqui é você!

— Sim.

— O que você quer dizer com “sim”? Vista suas roupas já!

Então, mais uma vez, dava pra escutar o som das roupas.

Sorata decidiu esperar um pouco mais desta vez, por causa do incidente anterior.

— V-Você já colocou suas roupas?

— E a calcinha?

— Coloque!

— Qual devo usar?

— Não me faça escolher por você!

— Então não preciso.

— Como assim não precisa?! Seria um desastre se começasse a ventar! Aqui, coloque! Por favor, coloca agora!

Sorata pegou uma calcinha verde clara do chão e jogou para Shiina. Ele estava gritando enquanto fazia isso.

— Essa calcinha não é fofa.

— E você pretende mostrar ela pra alguém?!

— Acho que não.

— Então use!

Gritar tanto logo de manhã quase fez seus vasos cerebrais explodirem.

Ele olhou para seu telefone e já eram oito e quinze.

— Merda. Ei, Shiina. Se apresse!

— Ok.

Depois de colocar a calcinha, Mashiro ainda estava com o cabelo bagunçado. Seu cabelo parecia um ninho para pequenos pássaros, tendo uma enorme diferença com seu rosto bonito. Foi certamente uma visão trágica.

— Sua cabeça! Ou melhor, seu cabelo! Arrume no banheiro! E lave o rosto enquanto faz isso!

— Onde?

— Eu não te mostrei ontem?! Venha comigo!

Confuso, Sorata caminhou até o térreo, mas Shiina não estava com ele. Ela estava indo atrás, com passos lentos.

— Ah. Espere. Tire a jaqueta antes de lavar o rosto!

Sorata segurou a jaqueta de Mashiro e a empurrou para o banheiro.

Ele aproveitou esse tempo para voltar ao seu quarto e trocar de roupa.

Sorata fez isso em menos de um minuto, e sua bolsa logo estava em seus ombros.

Ele rapidamente voltou ao banheiro, e, ao mesmo tempo, Mashiro estava saindo.

E então, Sorata soltou um grito triste mais uma vez.

Provavelmente por tentar lavar o rosto, o uniforme ficou todo molhado, transparente e grudado na pele e, por não ter colocado sutiã, os seios, não tão amplos, e suas pontas, ficaram completamente expostos.

— Espere! Você! Ouviu o que eu disse?! Você precisa vestir algo por baixo!

— Mas você não escolheu pra mim.

— Agora a culpa é minha?

Mashiro inclinou a cabeça e olhou para ele sem expressão. O bom senso de Sorata não teve efeito sobre ela.

Em uma tentativa de manter a calma, Sorata foi ao banheiro pegar uma toalha, mas o banheiro também tinha se tornado uma coisa terrível. A torneira jorrava água como uma fonte, e tudo estava inundado.

— Você não tem o hábito de tomar banho de manhã?!

— Eu não tomo banho.

— Não responda uma pergunta séria com algo tão bobo!

— Você é estranho.

Eu sou? Eu que sou o problema aqui?

Enquanto Sorata limpava o banheiro, Mashiro perguntou:

— Você disse que queria ser iridescente. Isso é uma cor?

— Ah, são como as cores de um arco-íris. Significa que ainda não encontrei minha cor.

— ...

Sorata fechou a torneira, pegou todas as toalhas que encontrou e as colocou no chão do banheiro.

Neste momento, aquilo que Chihiro disse na noite passada veio à sua mente.:

"— Isso é porque este é o lugar mais adequado para a Mashiro."

Ele entendeu isso, agora.

"— Você vai entender depois de um tempo. Sim, especialmente você."

— Droga! Aquela professora irresponsável! Como ela ousa empurrar tudo pra mim?

Ele sabia que descobrir isso agora era tarde demais, mas ainda queria reclamar.

— Nós vamos chegar atrasados na escola.

— Ah! Olha quem fala!

O grito de Sorata veio do fundo de sua alma, e perfurou o céu da primavera.
 

Parte 5

Naquela noite, Sorata aproveitou a hora do jantar para ter uma reunião do Sakurasou, para discutir sobre como iriam resolver um grande problema chamado: Mashiro Shiina.

As reuniões do Sakurasou também eram ocasiões para que todos pudessem decidir as regras da casa.

Tudo, desde refeições, compras do mês, limpeza do banheiro, arrumar vazamentos e até mesmo tirar colméias de abelha. Essas “missões” peculiares eram decididas em reuniões, desde o primeiro dia.

O objetivo dessa reunião de hoje era para resolver a tarefa que eles nomearam de "Encarregado pela Mashiro”, e também encontrar uma pessoa apropriada para ficar no comando dessa tarefa.

Depois de cerca de um mês desde a última reunião, eles agora se reuniram em torno da mesa redonda mais uma vez. No sentido horário estavam: Chihiro, Misaki, Jin, Sorata e Mashiro.

Ryuunosuke Akasaka, que se recusou a sair de seu quarto, participou por uma sala de bate-papo.

Com um camarão frito na boca, Misaki digitou no teclado com sons de batidas.

— Sim. Eu não gosto nem um pouco de reunir todos vocês aqui. Mas é necessário deixar todos resolverem um sério problema que recaiu sobre nós do Sakurasou.

Sorata estava falando com uma voz alta, mas todos estavam focando apenas no jantar, sem nem prestar atenção ao que ele estava dizendo.

Para chamar a atenção dos participantes, Sorata bateu as mãos na mesa redonda,

BAM!

 Como esperado, eles tinham se atrasado no outro dia.

 


Depois de lavar o rosto, vestir outra roupa, secar o uniforme enxarcado, ajudá-la a colocar as meias e os sapatos, e ainda arrumar o cabelo bagunçado, eles saíram.

Então eles decidiram tomar café da manhã em algum lugar, já que eles iriam se atrasar de qualquer jeito.

Eles perderam a tediosa cerimônia anual, mas pelo menos chegaram a tempo de aparecer na sala dos professores.

Quando Sorata levou Mashiro para a sala dos professores, Sorata ficou chocado com o fato de que Chihiro não reclamou por estar atrasado, talvez porque eles chegaram mais cedo do que ela imaginava.

Se Chihiro já sabia que algo assim iria acontecer, não seria melhor se ela só tivesse acertado as coisas com Mashiro desde o início?

Devido ao estresse pela manhã, Sorata estava com muito sono para as aulas do primeiro período escolar do segundo ano.

Depois das aulas, Chihiro obrigou que Sorata mostrasse a escola para Shiina.

Onde quer que Sorata levasse Mashiro, ela parecia totalmente desinteressada. Como resultado, ele se sentiu cansado e inútil durante o passeio.

Levar Mashiro de volta para a entrada da escola também era trabalho de Sorata, já que ela não conseguia nem sequer se lembrar de um caminho do qual ela já passou antes.

Depois do passeio, Sorata voltou ao dormitório. No entanto, Mashiro não voltou depois de uma ou duas horas.

Preocupado, Sorata saiu para procurá-la. Ela se tornou como uma ovelha perdida, e não conseguia se lembrar do caminho de volta para o dormitório.

Ela estava completamente perdida, mas Sorata a encontrou e levou ela de volta.

No caminho de volta para o Sakurasou, Sorata, que estava fazendo compras esta semana, passou em uma loja de conveniências para comprar leite para Misaki, conforme ela tinha pedido.

Mashiro começou a dar grandes mordidas em um Baumkuchen que estava na loja, antes mesmo de pagar por eles.

Como ela pegou o Baumkuchen da prateleira tão diretamente e comeu com tanto gosto, Sorata ficou um tempo sem conseguir entender o que estava acontecendo.

— Hmm... Shiina? O que você tá fazendo?

— Comendo Baumkuchen.

— Por que?

— Porque eu gosto.

— Se tudo fosse assim, a gente não precisaria da polícia!

— Mas tem tantos.

— Porque é um produto! Está aqui para ser vendido!

Mashiro inclinou a cabeça, parecendo que o que ele disse era totalmente incompreensível para ela.

— Shiina, que tipo vida você tinha todo esse tempo?

— Eu pintava quadros.

— E?

— Eu pintava quadros.

— ...

— Eu pintava qua—

— Eu ouvi! Estava esperando você dizer mais alguma coisa!

Quando a atendente da loja veio em direção ao barulho, Sorata ficou completamente constrangido, abaixando a cabeça e se desculpando várias vezes.

— Shiina! O que você quer que eu faça?! Isso é tudo culpa sua, sabia?!

— Você quer um pedaço?

Com um rosto adorável, ela abriu outro, e tirou um pedaço, esperando que Sorata fosse abrir a boca e comer com um som de “ah~”.

— Não!

— Mas é tão bom.

Por causa disso, Sorata só pôde pagar os dois baumkuchen que ela tinha comido.

A atendente, que sorriu da garota estranha, conhecia Sorata. Essa foi a salvação dele.

 

 —

 

— E isso foi tudo de ruim que me aconteceu em um só dia.

— Sim. Não dá para evitar isso.

Chihiro, que deu um gole em sua cerveja, disse:

— Bom, a Mashiro viveu todos os dias da vida dela apenas pintando quadros, então ela é um pouco diferente das outras pessoas.

— Não, não. Não é só um pouco!

Mesmo que o assunto ali fosse a Mashiro ser estranha, ela não estava dando a mínima atenção ao que eles estavam falando.

Ela habilidosamente tirou a pele do camarão que estava comendo e, em seguida, colocou a pele no prato de Sorata, com uma elegância surpreendente.

— O que você está fazendo?

— A pele caiu.

— Essa não é hora para piadas!

— Não foi uma piada.

— Você não precisa explicar isso!

Ela inclinou a cabeça ligeiramente, e depois voltou seu interesse para descascar os camarões, transformando outro camarão frito em um camarão comum.

A pele descascada foi colocada no prato de Sorata.

Finalmente, ela colocou todo o camarão descascado na boca.

— Ela também é muito exigente com comida.

— Sensei, você podia ter me explicado tudo isso antes.

Por estar distraído novamente com outro problema, Misaki aproveitou para roubar dois camarões fritos do prato de Sorata.

Quando ele estava prestes a pegar de volta, ela engoliu os camarões de uma só vez.

— Senpai, você também... O que está fazendo?!

— ~Kouhai­-kun, só você pode tomar conta da Mashiro­n.~

— Se for fazer algo assim, por favor, coma também a casca do camarão que está no meu prato!

— ~Isso é porque eu estou na puberdade agora~!

Misaki disse isso confiante com a cabeça erguida e o peito estufado.

— Eu também estou!

— ~Pessoalmente, eu acho que “na pracinha” e “sem calcinha” são duas palavras muito parecidas.

— Que história é essa agora?!

— Ok, ok. Pare de bancar o mimado e teimoso. Kanda, por favor, me traga outra cerveja.

Bêbada, Chihiro balançou a lata de cerveja vazia para Sorata.

— Pegue você mesma!

— Mas você tá mais perto.

Silenciosamente, Jin sorriu ironicamente, pegou a cerveja no refrigerador e entregou para Chihiro.

— Mitaka, você é um garoto tão bom... Diferente do Kanda.

— Sensei, tudo o que você quer é cerveja, não importa quem pegue! Além disso, deveríamos estar falando sobre a Shiina!

— Eu só ouvi de seus pais que ela precisa de alguém para cuidar dela, então eu decidi deixá-la vir para o Sakurasou.

“Para cuidar dela”. O quão terrível isso soou.

— Então, assuma a responsabilidade de cuidar dela, Sensei!

— Ei. Ei. Não diga essas coisas impossíveis, Sorata.

Quem interrompeu foi Jin, que já havia terminado seu jantar e agora estava ocupado mandando mensagens em seu telefone.

— Essa reunião é inútil.

— Eu não gosto de ouvir isso!

— Você ainda não entendeu? Eu só venho pra cá de vez em quando. Deixar a Misaki cuidar de alguém seria impossível, eu posso ter certeza disso, pois sou amigo de infância dela. E pra completar, Chihiro está sempre ocupada com encontros. Levar ela junto não daria certo.

Jin não mencionou o que ele fazia para estar fora o tempo inteiro, e achou que nem precisava.

— Então, estamos contando com você, Jin-senpai!

— O quê? Isso é ainda mais impossível. Na segunda­-feira, é a Ami, do clube de teatro. Na terça-­feira, é a Kiko, a enfermeira. Na quarta­-feira é a Kana, a atendente da floricultura. Na quinta­-feira é a Maiko, a recém­-casada, né? Na sexta­-feira é Shuzune, a cantora. E também tem a Tomi, a senhora do escritório, ela não vai me deixar voltar para casa nos fins de semana. Minha agenda está totalmente lotada. Não há nenhuma maneira de eu ter tempo para isso.

— Seu playboy maldito! Você é um mulherengo! Você planeja pegar todas elas, é? Seu desgraçado!

— Não fique assim... Eu ainda nem fiz nada.

— Tenha um pouco de bom senso! Sair com mulheres casadas é éticamente errado!

— Ah. Você tem razão. Um tempo atrás eu quase fui pego pelo marido dela. Isso foi muito perigoso.

Tendo terminado de digitar a mensagem, Jin finalmente desligou o telefone.

Enquanto isso, Chihiro estava em seu sexto copo de cerveja.

— Sinceramente, eu não aguentaria ver minha adorável prima caindo nas mãos perigosas do Mitaka, então ele não pode cuidar dela. Em outras palavras, Kanda, mesmo que você seja contra, é inútil resistir.

Jin se orgulhou de si mesmo por isso. Ele parecia ter gostado de ouvir isso sobre ele.

— Hum... Posso perguntar se tem mais pessoas para cuidar dela, Sensei?

— Sim. Tem quatro pessoas. Mas todas as quatro são você.

Sorata não respondeu à essa coisa idiota.

— Em breve, eu vou sair do Sakurasou, então não tenho como cuidar dela.

— Você encontrou alguém para adotar os gatos?

Jin se virou para Sorata, com um leve sorriso no rosto.

— ~Hum...~

Com a boca cheia de camarão, Misaki falou enquanto olhava para o computador.

— O que?

— ~O Ryuunosuke disse: “Eu não tenho tempo para perder com essa reunião sem sentido. Vou sair...” Ah, saiu. Volte! Ele não pode voltar... É isso. Estou cheia. Minha barriga está doendo~

— Ok. Então, o Sorata agora vai ficar encarregado pela Mashiro. Dispensados!

Jin pegou seu telefone e se levantou. Ele não foi para seu quarto, mas sim para o portão. Hoje era terça-feira, então deveria ser o dia para ele se encontrar com Kiko, a enfermeira.

Misaki ficou olhando ele sair.

— ~Obrigada pelo trabalho duro de todos. Então, eu tenho que continuar trabalhando em minhas animações agora, até mais~!

Ao dizer isso, Misaki pegou o computador e subiu para o primeiro andar dando pequenos saltos

Chihiro, por outro lado, estava pegando mais uma lata de cerveja no refrigerador.

Apenas Sorata e Mashiro ficaram na mesa. E um clima ruim ficou pela sala. Era a primeira vez que ele tinha um relacionamento assim: Um que cuidará, e o outro que será cuidado.

Um furacão estava se formando em sua mente.

— Sorata.

— O-O quê?

— Por favor, vamos nos dar bem.

Shiina curvou-se para cumprimentá-lo.

— Oh, ok. Sou eu quem devia... Espera! Por que você está agindo como se já estivesse decidido?

— Às vezes você diz coisas confusas.

— Se sou eu quem está errado, então o mundo pode ser destruído agora...

— Eu não gostaria que isso acontecesse.

— Ah, merda! Minha mente está ficando estranha! Eu tenho que ir embora. Eu tenho que sair do Sakurasou!
 

6 de abril:
 O texto abaixo foi escrito no quadro de avisos do Sakurasou:

— Sorata Kanda agora é o encarregado pela Mashiro. Boa sorte, Kouhai-kun! Estou torcendo por você! — Salvo por: Misaki Kamiigusa.

 

 

 



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