A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: soul-s, zKamikazeBR, duduz, NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 2

Capítulo 2: A Tempestade

— Aqui, é o pão de melão de luxo da Padaria Hashimoto.

Quando Mashiro terminou suas provas de recuperação no segundo dia, sem nem se trocar antes, Sorata levou ela até a mesa da cozinha. Diante dos olhos de Mashiro, ele colocou a sacola da padaria na mesa.

Sorata tinha que levar Mashiro para a escola e trazê-la de volta. Então, enquanto Mashiro estava fazendo as provas, ele correu para a padaria e entrou na fila para comprar o pão de melão.

Ele não comprou poque ele perdeu alguma aposta nem nada do tipo. Ele ficou longas horas pensando nisso, até que teve essa ideia. Ele queria usar o pão como uma isca para fazer Mashiro lhe prometer algo.

Mashiro olhou para o saco que continha o pão de melão com grande interesse e, silenciosamente, estendeu a mão para pegá-lo. Antes que a mão dela pudesse encostar no saco, Sorata puxou ele.

A única coisa que ela segurou foi o vento. Ela olhou para Sorata com uma cara de quem não entendeu, e voltou a olhar para o pão.

— Você não vai me dar?

— Pare de falar com o saco.

Com o rosto um pouco franzido, Mashiro finalmente olhou para Sorata.

— Tendi, você tá tentando atrair ela com o pão.

Jin, que já estava na cozinha tomando um udon frio, pois chegou tarde e não conseguiu almoçar, sorriu. Ele estava vestindo uma camiseta polo com uma calça cinza. Ele parecia estar muito bem arrumado, mesmo estando no dormitório.

Sorata não queria que outras pessoas ouvissem essa conversa. Ele queria reclamar com Jin, mas tentar mudar o rumo da conversa agora seria ainda mais difícil. Então, ele decidiu apenas ignorá-lo.

— Em troca deste pão de melão, eu quero que você me prometa algo.

— Eu prometo.

— Eu ainda nem falei o que era!

— ...

— Escuta bem, dentro de uma semana, a Aoyama vai se mudar para cá. Para o quarto ao lado do seu. Você já sabe disso, não é?

Mashiro acenou com a cabeça para mostrar que sim.

— Agora, olha só. Quem te acorda de manhã sou eu. Quem separa suas roupas sujas também sou eu. Eu coloco elas na lavadora também. Eu cozinho pra você... Não só isso, quem lava, dobra e escolhe as suas calcinhas também sou eu!

— E quem usa elas sou eu.

— Não precisa dessa parte aí! Não importa como você olhe para isso, é estranho, não é? O que a Aoyama vai pensar quando descobrir isso?

Sorata seria taxado de pervertido, e seria tratado como lixo. Os rumores se espalhariam não apenas pela escola, mas também pela área comercial, impossibilitando ele de sair de casa em plena luz do dia.

Sorata ficou deprimido só de pensar nisso.

Já Mashiro... Bem, Mashiro não tinha nem um pouquinho da preocupação de Sorata.

— Eu só quero comer o pão.

— Eu sei o que você quer!

— Não sabe, não.

— Ah, então, o que você quer?

— Quero muito comer ele.

— ...Senpai, o que eu faço??

Sorata aceitou a derrota e decidiu pedir ajuda para a pessoa que estava observando.

— Ué, você não ia me ignorar?

Jin sugou seu udon e apontou para Sorata com seus pauzinhos que tinham um pedaço de alho-poró preso neles.

— Eu estava enganado. Peço perdão, eu fui um idiota.

— Se ela suspeitar de algo, é só dizer que você e a Mashiro estão namorando.

— Idiota mesmo foi perguntar pra você...

— Me escuta.

Jin se afastou da mesa e foi para a pia lavar o prato dele.

Ele começou a lavar o prato enquanto falava:

— Pensa bem nisso, você realmente acha que a Mashiro consegue lavar, limpar e escolher suas próprias roupas?

— É quase impossível, mas ela tem que pelo menos tentar!

— Se é impossível, você deve apenas aceitar que é. Sendo bem realista, a minha sugestão é a única coisa que você pode fazer. Você acordar ela todas as manhãs, tirar e vestir a roupa dela, até mesmo lavar elas, seria normal se vocês fossem um casal. Até a Aoyama deve ser capaz de aceitar isso.

Jin terminou de lavar o prato e se sentou na mesa novamente.

— “Ah, tendi! Você é um gênio, Senpai!”... Até parece que eu iria fazer uma coisa dessas!

— Oh, você não costuma ser sarcástico assim. Gostei.

— Senpai, você já usou uma roupa íntima que alguma das suas namoradas escolheu pra você?

— Elas não são tão pervertidas assim.

— Não me chama de pervertido!

Se até Jin pensava assim, nem Aoyama seria capaz de entender eles.

— Eu não me importo muito com a roupa íntima. Eu só quero o que tem depois dela.

— Não perguntei nada disso!

Sorata se arrependeu de ter pedido conselhos para Jin, então, olhou para Mashiro novamente.

— Bom, como eu estava dizendo...

Ninguém sabe como, mas, Mashiro pegou um lápis de algum lugar. O mais surpreendente era que ela estava desenhando no saco do pão. Ela estava com muita vontade de comer o pão, e a vontade parece ter passado para suas mãos. Aliás, o desenho que ela estava fazendo era muito bonito.

— Shiina, eu tô te implorando. A Aoyama não é o tipo de pessoa que aguenta ficar no Sakurasou por muito tempo. Se a gente continuar fazendo essas coisas, ela vai querer ir embora.

— Isso é um grande problema.

— Então trate como um grande problema!

— Realmente é um grande problema.

— Não mudou nada! A partir de hoje, teremos treinos todos os dias! Vou te ensinar a lavar suas roupas.

Ele estava sem esperanças. Era realmente impossível pedir para que Mashiro sentisse a mesma preocupação que ele.

— ...

— Ei, eu falei com você! Você entendeu o que eu quis dizer?

— Se eu comer o de luxo, acho que irei entender.

— Se você quer encurtar a palavra, pelo menos fale o “pão”, também!

Como ele trouxe o pão exatamente para isso, Sorata entregou ele para Mashiro. Então Mashiro rapidamente tirou o pão de melão que estava em um saco de papel, e começou a mordiscá-lo.

— Eaí, você entendeu agora?

— Sim, é realmente de luxo.

— ...Sim, sim.

Sorata pensou que seria melhor esperar ela terminar de comer, então, ele foi até a geladeira pegar algo para beber.

Sorata colocou um pouco de chá em uma xícara, e levou um pouco para Mashiro também.

Quando ele voltou para a mesa, ele viu o pão todo mordiscado. Ela comeu só as partes que tinham recheio.

— Quem que te ensinou a comer assim?!

— Pode ficar com o resto do pão.

— Tenho certeza que um deus da comida vai te amaldiçoar!

Enquanto dizia isso, Sorata pegou o pão de melão mordiscado e o enfiou na boca. O pão de melão de luxo era apenas um pão normal agora. Bem, ele ainda estava delicioso, mas...

— Eu entendi o que você quer me dizer, Sorata.

— Então, por favor, me diga o que você entendeu.

— Certo.

— Sim?

— Para proteger o nosso segredo...

— Não precisa falar isso de forma tão suspeita.

— ...nós temos que...

— Sim.

— ...obliterar a Nanami.

— Você estava mesmo me ouvindo?!

Jin riu muito alto.

— Quando foi que eu disse algo sobre assassinar ela?!

— Você estava falando quase agora.

— Eu não! Eu não!

Mashiro inclinou a cabeça, como se ela não estivesse entendendo.

— Não entendo porque você faz essas coisas! Você tentou me fazer rir ou algo assim?!

— Eu estava falando sério.

— Pior ainda! Antes de se preocupar com as outras pessoas, faça algo por você mesma primeiro!

— O que você está dizendo, Sorata?

— Eu quem deveria perguntar isso pra você! Está querendo assassinar alguém sem nem mesmo saber cuidar de si mesma? Esses jovens de hoje! Tente pensar mais nessas coisas!

Ignorando completamente Sorata, Mashiro se moveu lentamente em seu próprio ritmo, e bebeu lentamente o chá que estava na xícara. Ela parecia não se importar nem um pouco com Sorata, agora que ela já tinha comido o pão de melão.

— Tô dizendo, é só falar que vocês estão namorando.

Depois de ouvir Jin falar isso novamente, até que a ideia não parecia tão ruim.

Antes que Jin pudesse influenciar Sorata, Sorata tentou controlar a situação do seu próprio jeito.

— Escuta, Shiina. Durante uma semana, vou te ensinar a fazer essas coisas sozinha. Esse vai ser o Plano A. Se não der certo, faremos o Plano B do Senpai.

Pareceu que ela ainda não entendeu o que ele disse, porque Mashiro olhou silenciosamente para Sorata.

— Então, obliterá-la é o Plano C.

— Isso aí já foi rejeitado!

Nesse momento, a campainha tocou.

Jin olhou para a direção do som, e Sorata se levantou. Sorata queria parar de pensar nessas coisas por agora, então, um visitante seria perfeito para isso.

— Oooi, quem é?

Ele perguntou isso enquanto abria a porta, e, quando fez isso, ele viu Nanami Aoyama parada ali com uma cara de desconforto.

— Uau.

— Por que você está tão surpreso?

Ele estava surpreso porque ainda estava pensando no que deveria fazer sobre a mudança de Nanami, mas ele apenas disse para ela que não era nada. No entanto, ele ainda estava com um rosto suspeito...

— Por quê você está aqui?

— As minhas coisas já chegaram?

— Suas coisas?

— Eu fui na escola para falar sobre a mudança...

Então era por isso que ela estava vestindo o uniforme escolar.

— Mas quando voltei pro dormitório, minhas coisas tinham sumido.

— O que? Será que usaram uma magia de teletransporte?

— Não brinque desse jeito.

Nanami olhou para ele de uma forma séria.

— Me desculpa. Eu tô só brincando. É que eu lembrei de uma certa pessoa, então eu só falei sem pensar.

A pessoa que ele estava falando não podia ser outra além da alienígina que se instalou no Sakurasou.

Se Nanami estava aqui, isso significa que ela também pensou a mesma coisa.

— Posso entrar?

— É claro.

Sorata levou Nanami ao primeiro andar. Sem hesitar, ele foi até o final do corredor onde ficava o quarto 203.

Na porta, havia uma placa com “Quarto da Nanamin” escrito. Olhando para a placa, já dava para saber onde estavam os pertences dela.

Nanami suspirou.

— ...Aoyama, você está bem?

— Sim.

Nanami respondeu calmamente.

— Parece que tem algo de errado com você.

— É que fiquei bastante surpresa quando minhas coisas desapareceram. Além disso, no caminho para cá, pensei sobre muitas coisas, e decidi que me mudar para cá realmente era a melhor escolha. Não se preocupe, eu só estava preparando o meu coração.

— ...Entendo. Então, o que você vai fazer?

Quando ele perguntou, os olhos de Nanami estavam virados para a maçaneta, dizendo à Sorata para abrir a porta.

Sorata se preparou, e então, abriu a porta do quarto 203.

A primeira coisa que ele viu foi uma grande janela. Uma brisa entrou e a cortina azul-celeste balançou.

O quarto tinha a mesma estrutura do quarto de Sorata, mas devido à falta de móveis eletrônicos, o quarto parecia maior que o dele. Havia apenas uma cama, um armário, uma mesa e uma cadeira.

Ela provavelmente gostava de objetos feitos de vidro, porque havia algumas decorações em forma de animais na mesa. Olhando para eles com cuidado, todos tinham a forma de tigres.

Nanami silenciosamente entrou e verificou cada uma de suas coisas, e quando ela terminou, ela acenou para Sorata que estava parado na porta, pedindo para ele entrar.

Sorata pediu licença enquanto entrava no quarto e ia até a cama.

Sentar na cama não foi uma das melhores ideias que ele já teve. Na cama, Misaki estava deitada com um rosto pacífico, abraçando uma almofada em forma de tigre. Os sete gatos de Sorata também estava lá.

Percebendo algo, Hikari, a gata branca, olhou para cima.

Ela miou olhando para Sorata e Nanami.

Ela saltou da cama e se alisou nas pernas de Nanami. Provavelmente ela se lembrava claramente de Nanami.

Nanami estava com Sorata quando ele pegou Hikari pela primeira vez. Antes de Sorata se mudar para o Sakurasou, ele e Nanami alimentavam a Hikari juntos.

Foi graças à isso que Sorata conseguiu fazer amizade com Nanami.

Nanami alisou a cabeça de Hikari.

— Você cresceu, hein.

Hikari deu um miado feliz.

Ouvindo o miado, as orelhas de Misaki se mexeram um pouco e, a Rainha dos Gatos, que estava dormindo na cama, soltou um grito alto ao acordar.

— Hmm yaa~!

Ela bocejou e esticou os braços.

Os gatos, que se assustaram com o grito, se levantaram ao mesmo tempo. Todos os sete gatos, incluindo Hikari, devem ter sentido o mau humor de Nanami, pois todos eles fugiram rapidamente, abandonando o dono deles, Sorata.

Sorata também queria fugir.

Ele ainda não podia fugir, não até controlar a situação.

Nanami estava tremendo de raiva enquanto olhava para Misaki.

— Eu preciso me trocar para ir ao meu trabalho, dá pra vocês saírem, por favor?

Inesperadamente, a voz de Nanami estava calma.

— Ouviu? Sai, Kouhai-kun.

— Kamiigusa-senpai, você também.

— Ehh~ Mas qual o problema? Nós duas somos garotas, então não tem problema.

— Eu não quero. Existe um limite para essas anormalidades. Você acha normal pegar as coisas pessoais de alguém?

Nanami falou com sinceridade.

— Isso mesmo, Aoyama. Você tem razão.

A vítima da situação era Nanami, mas Sorata também foi atingido. Ele agora estava incapaz de realizar o Plano A, porque não tinha mais tempo para treinar Mashiro. Ele tinha que pensar em um método diferente o mais rápido possível.

— Você sempre precisa de umas doses de surpresa na sua vida! Se não tiver surpresas, seu corpo vai murchar! Sem surpresas, sem vida!

— Existe um limite para tudo. Isto é inacreditável.

— Né, né? É muito engraçado, né? Eu pensei em fazer isso depois que fiquei sabendo que cê ia se mudar pra cá! Foi muito difícil chamar o Serviço de Mudanças. Foi bem difícil~. Eles falaram algo sobre “não podemos levar as coisas de outra pessoa”, mas eu não entendi muito bem o que significava. Então, eu disse a eles que era para salvar a vida de alguém. Levei mais de 3 horas explicando pelo telefone. Mas já me sinto recompensada vendo a Nanamin assim tão feliz.

Misaki, que estava com os olhos brilhando, parecia muito orgulhosa.

A razão para Sorata não saber sobre as coisas dela, era porque ele tinha levado Mashiro para a escola. Ele pensou que se ele não fosse com ela, ela iria acabar se perdendo por aí.

Bom, mesmo se ele não tivesse ido, ele não achou que seria capaz de impedir os planos de Misaki.

— Que triste. Acho que tá na hora do Plano B, né?

Ele olhou para o lado e viu Jin com a cabeça na porta. Jin olhou para Sorata e sorriu gentilmente. Ao olhar para ele, ele percebeu que Jin já sabia sobre as coisas de Nanami serem movidas para o Sakurasou.

Atrás de Jin, ele viu Mashiro também.

— Mitaka-senpai... A Shiina também...

Nanami olhou para todos e abaixou a cabeça.

— Me chamo Nanami Aoyama, estou no segundo ano do curso geral. Bom, eu estava planejando me mudar para cá no dia 1 de agosto, mas parece que adiantaram um pouco as coisas. Por favor, cuidem de mim.

— Eu queria morar com você o mais rápido possível, Nanamin!

Misaki respondeu primeiro.

— Bom, vamos nos dar bem.

Jin também respondeu.

Mashiro apenas acenou com a cabeça.

— Vamos ser bons amigos.

Sorata foi o último.

— Mas então, o que era esse “Plano B”?

Nanami tinha uma boa audição, então ela ouviu claramente. Quando ela perguntou para Jin, Sorata fez um sinal com os olhos para pedir a Jin que não dissesse nada.

— Se quiser saber mais, pergunte ao Sorata.

Ele deu a pior resposta possível.

Jin parecia gostar de ver as pessoas ficando encrencadas.

Sorata fingiu que não ouviu Nanami perguntando e apenas a ignorou.

— Hmm, isso não importa... De qualquer forma, eu preciso ir para o meu trabalho de meio-período, será que dá pra vocês saírem? Além disso, o segundo andar é proibido para os meninos. — Nanami respondeu de uma forma fria — Eu não sei como eram as coisas por aqui, mas agora que eu me mudei, vocês vão seguir as regras.

Quando Nanami olhou com um jeito sério para todos, Jin levantou as mãos como se estivesse se rendendo.

Agora era quase impossível cuidar de Mashiro. O que ele deveria fazer?

Enquanto todos não estavam prestando atenção, Misaki, que estava mexendo no armário, de repente soltou uma risada alta. Ela estava segurando algum tipo de pano branco.

— Olha só, Kouhai-kun! A Nanamin usa essas mais sensuais!

O pano branco que Misaki empurrou no rosto dele era uma calcinha branca com laços. Era tão fina, que o outro lado era quase visível. Não, era visível, porque ele podia ver o rosto de Misaki através dela.

— Misaki-senpai, você é bem corajosa.

Foi chocante ver como ela consegue mexer no armário e nas roupas de outras pessoas tão naturalmente.

— Ah? Isso não é... Como posso explicar...

Nanami não conseguiu entender o que estava acontecendo, ela apenas piscou surpresa.

— As mais sérias e santinhas são aquelas que mais escondem surpresas.

Jin fez uma análise séria.

— P... Por favor, me devolva!

Nanami, que se recuperou do choque, rapidamente estendeu a mão e pegou a calcinha que estava com Misaki. Ela colocou de volta no armário e olhou para Sorata imediatamente.

— Ah... Minha amiga me deu isso no meu aniversário só para brincar com a minha cara. Não fui eu quem comprei. E... eu nunca usei ela antes.

— Por favor, me mostre quando usá-la pela primeira vez.

Jin falou com um tom de brincadeira.

O rosto de Nanami ficou vermelho.

— Eu nunca vou usar! Você... você sabe disso, né, Kanda?

— Mas eu nem falei nada...

— Ah, sim. O Sorata já tá acostumado a ver calcinhas todos os dias.

— O que?

— Senpai, para com essas brincadeiras aí!

— Bem, você vai ser pego em breve, de qualquer jeito.

Jin olhou para Mashiro. Nanami não era o tipo de pessoa que notaria algo assim de primeira. E, claro, Sorata percebeu que Nanami mudou um pouco de expressão. Ele se preparou para o que estava por vir.

Mas Misaki falou antes de Nanami.

— Ei, pessoal~ Ei, pessoal~ Tem mais aqui!

Era outra calcinha branca. Essa era do tipo que você precisa amarrar dos dois lados.

— Ah, eu gosto dessas. São fáceis de tirar.

Jin falou isso com um rosto sério.

— Senpai, se você estivesse em um jogo de RPG, você já teria sido morto à tiros.

Ele sentiu pena de Nanami.

— Por favor, não mexa nas minhas coisas! Essa... Essa também foi minha amiga quem deu! Não é como se eu mesma tivesse comprado!

Como se estivesse capturando uma presa, Nanami pulou e pegou a calcinha da mão de Misaki.

— Sério, por que vocês são assim?!

— Tá, tá. Misaki-senpai, Jin-senpai, será que dá para vocês dois saírem? Se continuar assim, a mente da Aoyama vai explodir.

Jin falou “Certo, certo” baixinho, enquanto saía da sala.

Mashiro saiu junto com ele silenciosamente.

— Você também tem que sair, Kanda!

— Huh? Está me tratando do mesmo jeito que eles?

— Você também é um predador...

Nanami falou para si mesma, baixinho

— Ei, não fique falando sozinha!

Então, Nanami respirou fundo.

— Você é um predador!

— Eu não pedi para você falar isso em voz alta também!

— Ah~ fala sério~ O que você quer que eu faça?! De qualquer forma, eu quero ficar sozinha!

Jin voltou e levou Misaki para fora do quarto.

— Você também, Kanda. Saia!

— Aoyama.

— Oi?

— Você já se arrependeu?

— Sim. Mas não adianta pensar nisso agora. Eu não conseguiria pagar o aluguel do dormitório, de qualquer forma. Não é hora de ser exigente.

Isso realmente é algo que Nanami diria.

— E também, essa pode ser uma boa oportunidade para mim.

Nanami falou isso com uma voz baixa e olhou para Sorata

— Sim... sim. Não faço ideia de que oportunidade é essa, mas de qualquer forma, se esforce.

— Eu não quero ouvir isso de você, mas sim, eu vou me esforçar.

Nanami relaxou os ombros. Ela parecia cansada. Ela estava olhando para a porta pela qual Mashiro já havia saído.

— Aoyama, eu quero te dizer uma coisa, e será melhor se eu disser agora.

— O que?

— A Misaki-senpai não é uma má pessoa. Ela só ficou animada ao saber que você viria para cá, e queria te dar as boas-vindas. Não entenda ela mal, por favor.

— E você, também ficou animado ao saber que eu viria?

— É claro.

Seria melhor se ela viesse depois que Sorata treinasse Mashiro, mas como ela já estava aqui, ele teria que apoiar sua amiga.

— Estive esperando há muito tempo por esse momento. Dá até pra dizer que eu estava esperando durante toda a minha vida.

— Eu? Como assim...? O que isso significa?

— Você já deveria saber o que é.

Nanami olhou para Sorata de uma forma esperançosa. Ela esperou até que ele falasse algo. Por causa disso, Sorata não tinha como fugir. Ele decidiu falar honestamente.

— Sempre pensei em você como uma pessoa perfeita.

— É... sério?

— Sim. Eu realmente queria que você se mudasse para cá. Você é a pessoa perfeita para dar ordens e educar os moradores do Sakurasou.

Nanami congelou e abaixou a cabeça. Ela estava tremendo de raiva. Sorata não percebeu isso.

— Espero que um meteoro caia em você e te mate.

Nanami disse baixinho

— O que?

— Não importa, só vá embora!

Sendo atingido pela almofada em formato de tigre que Nanami jogou nele, Sorata correu para fora da sala.

Mashiro, Jin e Misaki ainda estavam no corredor.

— Acho que ela já passou a nos odiar logo no primeiro dia. Aliás, já que ela tá indo pro trabalho agora, devemos fazer a festa de boas-vindas em uma outra hora?

— Eh~ Eu queria me dar bem com a Nanamin~.

— E de quem cê acha que é a culpa?!

— É sua, Kouhai-kun!

— Eu concordo.

— Eu também.

Mashiro concordou com eles.

— Até você, Shiina?!

— Kanda, pare de fazer barulho na frente do meu quarto!

Quando eles ouviram a voz de Nanami, Jin e Misaki pareciam felizes.

Mashiro olhou para ele com um olhar que fazia parecer que ela estava sentindo pena de Sorata.

— Eu fiz algo errado?

— Eu acho que você ainda não consegue entender essas coisas.

Infelizmente, Sorata também não entendeu o que Jin havia dito.

— Sorata, ainda temos o Plano C.

— Esse aí já foi descartado!

 

Parte 2

 

De qualquer forma, o dia foi bastante complicado.

— Como eu vou explicar sobre a Shiina para a Aoyama?

Essa era a única coisa na mente de Sorata desde que ele acordou essa manhã. Mesmo agora, enquanto limpava o banheiro, sua mente estava toda focada em tentar achar uma solução para isso.

Aliás, quem deveria limpar o banheiro essa semana era Mashiro, mas ele sabia que se ela fosse fazer isso, ela iria fazer uma bagunça ainda maior e, no final, Sorata ainda teria que limpar.

Ele usou o chuveiro para tirar a espuma.

Nanami chegou de repente ontem, mas ela só voltou de seu trabalho de meio-período bem depois das 22hr, então, ela pode não ter notado as coisas incomuns que existem aqui no Sakurasou.

No entanto, ela vai acabar descobrindo isso uma hora ou outra, então ele tinha que fazer algo sobre isso.

A sugestão de Jin foi: Dizer que estava namorando com Mashiro e pedir para Aoyama que apenas ignorasse eles.

Mas se Sorata, que tem 16 anos de experiência como solteiro, tentasse fazer isso, ela iria descobrir rapidamente.

O que ele deveria fazer, então?

“ — Estou namorando com a Mashiro, então não nos incomode.”

Calma aí, por que ele tá falando desse jeito?

“ — Estou namorando com a Mashiro, então, por favor, nos trate bem.”

O que é isso? Parece até que ele tá falando com um veterano da escola.

“ — O motivo da minha visita é para pedir permissão para namorar com a Mashiro.”

E agora tá falando com o pai dela, é?!

Claramente, todos essas opções eram impossíveis. Mesmo se ela acreditasse em alguma, eles teriam que ficar assim todos os dias apenas para enganar Nanami. Pra ele, até o inferno seria melhor do que fazer isso.

Se ela pedisse para eles se beijaram como prova, estaria tudo arruinado.

Depois de lavar toda a espuma, Sorata desligou o chuveiro.

Ele levantou Kodama, o gato malhado, que estava perto de seus pés e colocou perto de seu rosto.

Kodama miou baixinho de um jeito que mostrava que ele não gostou de ser pêgo tão de repente.

— O que eu deveria fazer?

— Provavelmente você não sabe a resposta.

Quando ele olhou para a direção da voz, ele viu Nanami olhando para ele de uma forma lamentável. Ela estava bem vestida com uma blusa branca e uma calça jeans. Mesmo sendo todas garotas, Misaki ficava vestida de qualquer jeito no dormitório, e Mashiro geralmente estava de pijama.

Quando ele soltou Kodama, o gato saiu correndo do banheiro.

— O que você tá fazendo, Kanda?

— O que parece que eu estou fazendo?

— Está se preocupando com sua vida enquanto lava o banheiro?

— Exato!

— Mas pela lista de tarefas na geladeira, essa semana deveria ser a vez da Shiina.

— Ah~, isso...

— Onde ela está?

Vendo Sorata hesitar, Nanami continuou falando friamente.

— Ela provavelmente está dormindo.

— Isso não é bom.

Nanami virou para a direita e, sem nem pensar antes, caminhou até o primeiro andar.

— Ei, espera, Aoyama!

Sorata rapidamente a seguiu.

Quando você sobe, o primeiro quarto que dá pra ver é o 201, o quarto de Misaki. O quarto de Mashiro, que era o 202, ficava no meio.

Nanami bateu na porta.

— Shiina?

— Aoyama, não se preocupa com isso.

— Todos temos que seguir as regras corretamente.

Ao ouvir algo tão óbvio assim, ele se sentiu um pouco burro.

— Não, tá tudo bem!

— Hmm, então você está tentando acobertar a Shiina?

— Eu não tô acobertando ela! Mas é melhor não olhar aí dentro, tô te dizendo isso para o seu bem. Esse quarto é um mundo totalmente diferente, então, siga meu conselho.

— Viu? Você está acobertando ela, sim.

— Eu já disse que não estou! E chamá-la pela porta não vai adiantar.

— Então, como você acorda ela?

Por reflexo, Sorata olhou para a maçaneta. Nanami já sabia o que ele queria dizer com isso, mas não conseguiu esconder a surpresa.

— Mas a chave…

Quando Nanami disse isso, ela girou a maçaneta.

Quando a porta abriu, ela parecia incrédula com aquilo.

— Eu não acredito que ela não tranca a porta, mesmo sabendo que tem machos aqui...

O que estava atrás da porta era ainda mais inacreditável que isso.

Nanami, que acabou de entrar nesse novo mundo estranho ao abrir a porta do quarto, congelou com a boca aberta.

Como de costume, o quarto de Mashiro estava cheio de roupas, calcinhas, livros, mangás, rascunhos e manuscritos, fazendo ser difícil de entrar no quarto sem pisar em nada.

— O que é tudo isso...?

— Eu disse a mesma coisa em abril...

Nanami caminhou cuidadosamente até a cama. Quando ela percebeu que Mashiro não estava lá, ela olhou para Sorata com um rosto assustado.

— Embaixo da mesa.

Com uma cara desconfiada, Nanami olhou para baixo da mesa.

— Ai, meu Deus…

— Acho que você ainda não percebeu, mas a Shiina não é deste mundo.

— É por isso que ela veio para o Sakurasou?

Sorata concordou com a cabeça.

— Shiina, acorde.

Nanami se agachou e sacudiu os ombros de Mashiro.

Mashiro despertou.

Sorata desviou o olhar só pra previnir, mas dessa vez estava tudo bem. Ela estava vestindo o pijama na parte de cima e na parte de baixo.

— É manhã, Shiina.

— ...

Com um rosto ainda sonolento, Mashiro estendeu a mão para o corpo de Nanami e começou a apalpá-la.

— Kyaahh!! O que... o quê?!

— Sorata... seu corpo está mais macio.

— O Sorata está ali!

Ela caminhou na direção que Nanami apontou e foi até Sorata.

Desta vez, ela estendeu a mão para Sorata e igual fez antes, verificou apalpando.

— O que cê tá fazendo?

— Tem razão. Este é o Sorata.

— Seus olhos são para isso, sabia?!

— Estou com sono. Não quero abrir mais os olhos.

Olhando para o estado dela, parece que ela passou a madrugada acordada de novo.

— Você estava trabalhando no seu mangá?

— Era o manuscrito de estreia, e eu também tinha que editar algumas coisas antes de enviar.

Respondendo rapidamente, Mashiro rastejou de volta para seu ninho que ficava embaixo da mesa. Pouco tempo depois, já dava para ouvir o som de sua respiração.

Nanami, que estava ali desde o começo, colocou as mãos na cabeça para tentar processar isso que acabou de ver.

— Desculpa, me dá um tempo para tentar entender isso.

— Eu já tenho experiência nisso, então vou te dizer logo agora. Quanto mais você tentar entendê-la, mais maluca você irá ficar.

Mashiro conseguia causar dano psicológico em uma pessoa comum. Agora, ela parecia ter causado mais dano em Nanami do que em Sorata.

— ...Eu acho que sim. É, eu acho que é melhor desistir. Além disso, Shiina, acorde!

A corajosa Nanami atacou Mashiro mais uma vez. Seria melhor se ela desistisse. Mas mesmo que ele dissesse isso para ela, Nanami não iria parar.

Mais uma vez, Mashiro rastejou para fora da mesa.

Coberta de roupas sujas e calcinhas, ela se sentou no chão e olhou para Nanami.

— Shiina, se troque. Você está indefesa na frente de um homem. Este quarto está uma bagunça também. Você tem que limpá-lo. Kanda, não fique aí parado e saia daqui! O primeiro andar é proibido para os homens!

Nanami rapidamente deu as ordens. Quando ela fez isso, tanto Sorata quanto Mashiro não sabiam como reagir.

— Ah~, francamente. Olhe só para isso, suas roupas íntimas estão por todo canto. Você deve guardar elas em um lugar onde as outras pessoas não vão vê-las.

— Por que?

— O que você quer dizer com isso? É embaraçoso quando as pessoas vêem elas.

— Quando não estão em mim, não é embaraçoso.

Ao dizer isso, Mashiro pegou uma calcinha.

— É apenas um pedaço de pano.

— Me-... Mesmo assim!

Não sendo capaz de seguir a linha de pensamentos de Mashiro, Nanami gritou confusa.

— Se os caras verem suas calcinhas, eles vão pensar em coisas estranhas como “isso” e “aquilo”, e várias outras dessas coisas...

Nanami falou baixinho.

— Nanami, você está envergonhada?

— Claro que estou!

— Por quê?

— O que você quer dizer com isso? É porque...

O rosto de Nanami ficou completamente vermelho. Não sendo capaz de responder à pergunta, Nanami descontou sua raiva em Sorata.

— Por que você ainda está aqui?!

— Acho que é injusto você ficar com raiva de mim.

— Sorata, você concorda comigo?

— Não me envolva nisso!

Nanami olhou para ele esperando uma resposta para a pergunta que Mashiro fez. Se ele respondesse da maneira errada, seria o fim da linha para ele.

— Eu concordo com a Aoyama. Seria bom se você limpasse seu quarto. E você também não deve deixar suas calcinhas jogadas por aí.

— Mentiroso. — Mashiro resmungou baixinho — Você está sempre mexendo nas minhas calcinhas.

— Você o quê?!

Nanami olhou para ele igual a um robô travando. Ele sentiu que estava no inferno depois do olhar dela.

— Kanda, o que significa isso que ela está dizendo? Se importa de me explicar melhor?

Nanami caminhou até ele e o segurou pela gola da camisa.

— Espere, não é estranho? A gente tá falando sobre a Shiina, então eu não...

— Anda logo e me fala!

— Tá...

Com medo de Nanami, Sorata teve que explicar tudo que aconteceu desde abril.

Quando Sorata terminou de explicar, Nanami suspirou cansada.

— ...É difícil acreditar numa coisa dessas assim tão de repente.

Ela olhou para Mashiro, que estava tirando uma soneca debaixo da mesa, como se estivesse olhando para uma criatura estranha.

Era rude tratar Mashiro dessa maneira, mas Sorata não tinha o direito de reclamar.

Ele já fez exatamente a mesma coisa algumas vezes também. Na verdade, não foram só algumas vezes, foram tantas que ele até perdeu a conta.

Enquanto ela era famosa na escola por ser uma pintora gênio talentosa, ninguém realmente sabia nada sobre Mashiro. Todos apenas a observavam de longe, e ninguém tentava falar nem fazer amizade com ela. Morar no Sakurasou também era um dos motivos para as pessoas não se aproximarem dela.

Como eles não sabiam nada sobre ela, tudo o que era dito sobre ela eram coisas positivas, sobre como ela era fofa e muito talentosa.

Toda vez que ela faz uma pintura em uma aula de artes, as pessoas se reúnem diante da pintura e dizem:

— Shiina, você tem tanta sorte, você nasceu com um talento único.

— Olha aí, mano, a Shiina não é daora?

— Sério? Cuidado pra não se apaixonar, hein, hahaha.

— Os meninos são tão idiotas…

— Eu não acho que seja bom que ela fique exibindo seus dons por aí.

— Tendi. É como você disse, ela é introvertida e elegante.

Isso resumia muito bem a maneira como as pessoas viam a Mashiro. Ele não sabia por que, mas o que quer que Mashiro fizesse, as pessoas achavam que era “artístico”.

Se ela apenas ficasse encarando o céu, eles iriam ver isso como algo simplesmente lindo ou profundo. [Ela provavelmente estaria apenas pensando em comer um delicioso baumkuchen enquanto olha para as nuvens].

Durante o primeiro semestre, toda vez que alguém dizia um boato sobre Mashiro, Sorata se desesperava. Ele temia que as pessoas tivessem descoberto a “verdadeira Mashiro”.

Sendo treinada desde muito jovem na Inglaterra, Mashiro não teve a chance de viver uma vida comum, então ela não tinha nenhum tipo de bom-senso.

Ela ainda não memorizou o caminho do Sakurasou até a escola, e Sorata não se sentia seguro em deixá-la fazer algo sozinha. Ela era muito exigente com a comida. Se ela não gostasse da comida, ela nem colocava perto da boca, ela apenas tirava do prato dela e colocava no de outra pessoa com uma cara séria.

Além de não saber cozinhar nem um arroz, ou não saber lavar a roupa, ela não era capaz nem de se trocar ou de escolher sua própria calcinha. Era necessário ter alguém encarregado de escolher as roupas dela.  Era necessário também ter alguém para fazer todas as tarefas para ela.

Esse era o modo de vida de Mashiro.

Ela também não estuda nenhuma outra matéria sem ser a de artes, então, no final do semestre, ela recebeu um grande e redondo zero em todas as matérias.

Sem esconder nada, Sorata contou tudo para Nanami.

— A Shiina e a Misaki-senpai são os dois pilares da esquisitice do Sakurasou.

Além disso, mesmo ela sendo uma artista de grande sucesso na Inglaterra, ela desistiu disso e veio para o Japão para se tornar uma mangaká, e ela até já estreou.

Com um rosto supreso, Nanami se abaixou para pegar os desenhos espalhados no chão.

— Ela é muito boa desenhando.

Nanami olhou para o quarto bagunçado.

— Realmente, toda essa bagunça comprova isso.

— Né?

— Aliás, agora eu desvendei aquele mistério.

— Que mistério?

— Aquele na agenda na porta da geladeira.

— Ah, aquilo...

Aquilo era algo que qualquer um acharia estranho.

— Então, “Encarregado pela Mashiro” significa ter que cuidar dela.

— Sim, e eu já estou fazendo isso. A Shiina é uma pintora gênio sem nenhum tipo de senso comum.

— Agora eu entendi.

Sorata suspirou de alívio. Com isso, ele não precisava se preocupar com o Plano B ou o Plano C. Não que ele estivesse considerando o plano C.

— Mas eu não posso aceitar isso.

— O que?

— É só pensar bem. Você não pode subir no primeiro andar, aqui é proibido para os garotos, e a Shiina deveria tentar fazer as coisas sozinha. E mesmo que outras pessoas tenham que fazer as coisas por ela, tem que ser outra garota. Ela não pode pedir para um garoto limpar o quarto dela ou lavar as roupas dela.

— Mas não tem mais ninguém que possa fazer isso. As únicas mulheres aqui são a professora preguiçosa e a Alienígena.

— Você não está esquecendo de ninguém?

— O quê? Não acredito...

— A partir de hoje, eu serei a Encarregada pela Mashiro.

— Eu não vou fazer nada de errado com ela, então por favor, só ignora isso! Você já é muito ocupada tendo que ir pro trabalho de meio-período! E ainda tem o curso de dublagem, né?! Cuidar da Shiina não é algo que uma pessoa normal consiga fazer. É trezentas vezes mais difícil do que você pensa!

Ele apontou para Mashiro debaixo da mesa.

— Eu sei exatamente o que vou fazer, então está tudo bem.

— É inútil!

— Eu quem deveria cuidar dela, já que nós duas somos garotas.

— Para pra pensar um pouco!

— Eu quem deveria te dizer isso. O que foi? Tem algum motivo específico para você querer cuidar dela?

— N... Não, não tem... mas...

Na verdade, tinha um motivo. Tinha um, mas ele não sabia como se expressar da forma correta. Isso era porque o próprio Sorata não sabia como se sentia. Tudo o que ele sabia era que não queria desistir de seu dever.

— Se você não tem um motivo, então está decidido.

— Vai ser muito difícil, você sabe disso.

— Não precisa repetir. Eu vou me sair bem.

Nanami não hesitou nem um pouco, e ele sabia, só de olhar para o rosto dela, que ela não mudaria de ideia.

Mas Sorata tentou resistir um pouco mais.

— Não podemos mudar agora. Para mudarmos a agenda, precisamos fazer uma Reunião do Sakurasou. Essa é a regra daqui.

— Se é uma regra, então não posso ignorá-la.

— Sim, tem razão...

Sorata nem teve tempo para suspirar de alívio, já que Nanami falou:

— Então, teremos uma reunião hoje à noite. Eu devo chegar do curso e do meu trabalho de meio-perído lá pelas vinte e duas horas, então, começaremos a reunião às vinte e três, mesmo que seja um pouco tarde.

— ...Sim, entendi.

Sorata só conseguia dizer isso em resposta.

— Se você entendeu, então saia. Este é o quarto de uma menina.

Ele não conseguiu responder, e apenas saiu da sala. Nanami saiu também e foi para o seu quarto se arrumar, pois já era a hora de ir para o curso de dublagem.

Quando ela terminou de se arrumar, ela correu para fora do quarto.

Quando ele acenou dando tchau para Nanami da porta, Chihiro apareceu atrás dele e disse:

— Você é realmente um idiota que não planeja as coisas direito.

Ela estava encostada na parede com uma expressão irritada e com os braços cruzados.

— Posso saber o porquê?

— Se você falar que tal coisa é problemática e difícil, uma garota como a Aoyama, que é madura, obviamente ficaria animada para fazer aquilo. Vê se aprende mais sobre como lidar com as mulheres.

O jeito que ela falava era meio problemático para uma professora, mas Chihiro realmente tinha razão.

— Você tava ouvindo tudo?

— Eu “ouvi sem querer”.

Ele não sabia o que iria acontecer na Reunião do Sakurasou, mas ele não estava preparado para isso. Uma prova de que ele não estava pronto, foi porque ele suspirou.

Naquela noite, Nanami convocou uma Reunião do Sakurasou para falar sobre a tarefa “Encarregado pela Mashiro”.

Com um sorriso malicioso no rosto, Jin votou à favor de Nanami, e Misaki também votou nela. Chihiro e Ryuunosuke, que queriam que a reunião terminasse mais cedo, também deram seus votos a favor de Nanami, e, assim, Sorata perdeu seu papel como “Encarregado pela Mashiro”. Esse papel agora era de Nanami. Ao mesmo tempo, a agenda que também ficava no notebook foi atualizada, colocando o nome de Nanami nela, junto com a tarefa de cuidar de Mashiro.
 

24 de julho.

Isso foi escrito no resumo da reunião da noite passada:

— A pessoa que agora ficará “Encarregada pela Mashiro” mudou. Com a maioria dos votos, foi decidido que esse papel, que antes era feito por Sorata Kanda, agora ficará à cargo de Nanami Aoyama. É assim que um resumo deve ser escrito? — Secretária: Nanami Aoyama.

— Força, Nanamin! Tô torcendo por você! — Adicionado por: Misaki Kamiigusa.

 

Parte 3

 

Começando por hoje, Nanami estaria como “Encarregada da Mashiro”, e o dia começou com seu restrito regime.

Nanami enfatizava a importância de um estilo de vida regulado, então ela acordou Mashiro exatamente às 7 horas da manhã e rapidamente começou a ensiná-la a como lavar a roupa.

Mas Mashiro não é o tipo de pessoa que aprende rapidamente. Mesmo que Nanami tenha explicado o mesmo processo inúmeras vezes e mostrado a ela como fazer, ela só não tinha a motivação para aprender.

Quando perguntado se ela tinha entendido, ela respondia que sim, mas quando você pedia para ela tentar, ela colocava todas as suas roupas coloridas e íntimas na máquina de lavar sem separá-las, e depois apertarva o botão.

— Como você ainda não aprendeu a usar a máquina de lavar?

— É difícil.

— Você consegue usar o computador, então deveria ser capaz de conseguir lembrar disso.

— Eu preciso dele para desenhar mangá. A Rita quem me ensinou.

Sorata, que veio ver como as coisas estavam indo, explicou para Nanami que Rita era a colega de quarto de Mashiro de quando ela estava na Inglaterra.

— Memorize como usar uma máquina de lavar.

—…

Mashiro parecia distante e olhando para algum lugar bem longe.

— Pelo menos responda, por favor.

Eventualmente naquele dia, Nanami teve que lavar suas roupas juntas com as de Mashiro.

Feito isso, as duas começaram a limpar o banheiro. Sorata estava na cozinha tomando seu café da manhã e rezou para que nada desse errado, até que ele ouviu Nanami gritar.

Quando Sorata correu em direção ao banheiro e chegou lá, a mangueira estava jogando água para todos os lugares e Nanami estava completamente encharcada. A pessoa que deixou a torneira aberta já havia fugido para o vestiário e só Nanami que foi vista em uma situação embaraçosa.

— Se você abrir a torneira, deve fechar depois!

— Nanami, você vai ficar resfriada.

— Foi você quem ligou a torneira...

— ...

— Não perca o interesse durante a conversa...

A voz de Nanami ficou ameaçadora. Antes que ela acabasse, Sorata enrolou uma toalha nos ombros de Nanami.

Por causa da água, a blusa ficou agarrada a ela e seu corpo estava claramente visível, então ele não tinha ideia da onde olhar.

Quando Nanami, que tinha se enrolado, olhou para Sorata de uma forma que dizia “você viu, não viu?” com um olhar envergonhado e irritado, ele desviou o olhar fingindo não saber do que ela estava falando.

 —

Assim se foi o primeiro dia, com Sorata ansiosamente observando a situação, mas depois do segundo e terceiro dia, ele pensou consigo mesmo que a situação era a mesma que ele passou nos últimos meses e que estava tudo bem deixar isso para Nanami.

Era refrescante ver Mashiro conversar com alguém da mesma idade, e a visão dela sendo repreendida por Nanami enquanto lavava a roupa quase que aquecia seu coração.

— Kouhai-kun, por que você está sorrindo assim?

— Ele parece um velho olhando seus netos brincarem no quintal. Não é muito cedo para começar a envelhecer tanto?

Mesmo que Misaki e Jin, que estavam ali com ele, tenham falado isso...

De qualquer mentira, houve incidentes em que Mashiro se perdeu enquanto elas faziam compras, ou ela corajosamente pendurou a calcinha de Nanami no quintal. Também houveram momentos em que os gritos de Nanami abalaram o dormitório.

Após cerca de um semana, Sorata se acostumou a não estar de plantão, mas ele estava um pouco fora disso.

No entanto, mesmo que Sorata tenha parado de ajudar Mashiro, ela vem 2 ou 3 vezes por dia para pedir sua ajuda.

— Sorata, dobre as minhas roupas pra mim.

E Nanami rapidamente a seguiu.

— Shiina, você tem que fazer isso sozinha!

— Sorata disse que queria fazer isso.

— Eu nunca disse isso!

— Não mime a Shiina, Kanda.

— Por que eu que estou sendo repreendido?

Sorata se abaixou e gentilmente pegou as roupas que caíram das mãos de Mashiro. Infelizmente para ele, eram calcinhas.

Soltando um alto grito, Nanami arrancou a calcinha da mão de Sorata. Parecia que algumas roupas de Nanami também estavam na pilha.

Corando de um vermelho brilhante, Nanami chamou Sorata de idiota, pervertido e todo tipo de insulto que ela poderia pensar enquanto fugia da sala. Ela rapidamente voltou e arrastou Mashiro com ela.

Ontem à noite já passava das 10 horas quando Mashiro entrou no quarto de Sorata depois de um banho enquanto ele estava trabalhando em seu projeto.

— Sorata, seque meu cabelo.

Naquele momento, eles foram pegos por Nanami, que tinha acabado de voltar do trabalho.

— Isso não é algo que você deve pedir pra um garoto fazer! E Kanda, não faça tudo o que uma garota diz pra você fazer!

— Mas eu nem fiz nada!

— Então você faz isso pra mim, Nanami?

Nanami pegou o secador de cabelo em forma de ônibus espacial.

— Tá...

Com um rosto cansado, Nanami e Mashiro foram juntas ao banheiro.

Hoje, Mashiro entrou no quarto dele ao meio-dia, enquanto segurava um caderno.

— Sorata, faça minha lição de casa.

— Faça você mesma!

— Poxa...

Ao ouvir o barulho, Nanami veio correndo.

Julgando brevemente a situação, Nanami suspirou como se tivesse desistido.

— Tudo bem. Vou tirar algum tempo todos os dias para te ajudar com os estudos.

— Reconsidere isso, Aoyama. A Shiina é uma completa idiota.

— Poxa...

— Fica quieta!

— Shiina, vamos estudar juntas a partir de hoje, começando agora. Quer se juntar a nós, Kanda?

— Huh? Vamos, por favor.

— O que?!

— Foi você quem sugeriu isso, então por que você tá tão surpresa...?

— Eu só estou brincando.

Na verdade, fazia sentido. Se fosse o Sorata de sempre, ele teria recusado imediatamente. Mas agora, ele queria aumentar suas notas na escola, e como ele era a pessoa que já tinha experiência ajudando Mashiro a estudar, não parecia certo colocar toda a responsabilidade em Nanami.

— Sorata, se esforce.

— Quem precisa se esforçar é você, Shiina!

Então, Mashiro frequentemente o visitava para pedir ajuda, mas Nanami usava sua energia explosiva para evitar isso todas as vezes, então Sorata não teve a chance de ajudá-la.

Então, tirando a parte da sessão de estudo todas as manhãs, Sorata e Mashiro lentamente se separaram e, como resultado, ele estava livre para fazer o que quisesse.

Graças a isso ele ganhou uma quantidade surpreendente de tempo livre, então seu plano de estudar programação e seu trabalho na inscrição estavam indo bem.

Com a programação, ele fez o que Ryuunosuke lhe disse para fazer lendo o livro com exemplos e perguntas. Com isso, conseguiu fazer um tipo de programa de calculadora. Quando ele realmente viu o programa rodando em seu computador depois de escrever o script e compilá-lo, ele sentiu que entendia pelo menos um pouco mais sobre o que era programação.

"— No início, até um cachorro ou uma vaca são capazes de entender. O verdadeiro desafio é o que vem depois."

Isso foi algo que Ryuunosuke disse para Sorata e, mesmo que ele não tenha entendido, graças à sensação de realização, ele não sentiu como se isso fosse um verdadeiro desafio.

Para a apresentação de seu jogo, ele escolheu uma ideia que achava ser a mais adequado de uma lista que ele tinha anotado durante as férias de verão, e começou a organizar a papelada.

Uma vez que a apresentação para a audição “Vamos fazer um jogo!” não exigia um formato específico, ele apenas decidiu trabalhar no conteúdo primeiro.

Mesmo hoje, no primeiro dia de agosto, Sorata estava trabalhando em sua proposta. A luz do sol entrava em seu quarto pela janela. Já era de manhã.

Piscando os olhos para o sol brilhante da manhã, Sorata verificou a proposta pela última vez. Ele pensou que já tinha escrito tudo o que precisava escrever. Ele podia sentir isso a partir do conteúdo da proposta.

Sorata colocou os braços pra cima em comemoração assim que terminou.

Por ele estar sentado na mesma pose por um longo período de tempo, estralos vinham de seus ombros e pescoço.

Na posição em que estava, ele simplesmente deitou na sua cama em transe. Parecia que ele adormeceria se fechasse os olhos, mas por causa de sua animação, ele estava bem acordado. Seu cérebro se sentia vazio por causa da falta de energia. Ele planejava dormir depois que terminasse de trabalhar, mas isso parecia impossível no momento.

Sentado em frente ao computador, Sorata olhou para a sala de bate-papo. A pessoa com quem ele queria falar estava online.

— Akasaka, você está acordado?

— Estarei ativo pelas próximas duas horas e meia.

— Se você tiver tempo, você pode dar uma olhada na minha proposta e comentar sobre?

— Claro.

Controlando com o mouse e o teclado, ele enviou um e-mail para Ryuunosuke.

— Entendi. Apenas espere um momento.

— Claro.

Usando esse curto período de tempo, Sorata também leu sua proposta novamente. Era um jogo de puzzle que usava o sistema de trem do Japão. O objetivo do jogo era pegar um trem em um horário definido pagando as taxas definidas e chegar em uma estação específica. Como passava uma estação a cada 2 ou 3 segundos, era necessário um bom controle e noção do ritmo do jogo. O ponto de venda do jogo era terminar cada nível alternando entre as linhas de trem, tentando perder o mínimo de passagens possível.

Ele não estava muito confiante sobre a proposta, já que esta era a primeira proposta de jogo que ele criou. Mas ele estava confiante porque a ideia do jogo era interessante.

— Terminei de ler.

— É bom o suficiente?

— Não dá para saber o gosto de todas as pessoas, então tudo o que posso dizer é que é “interessante”. Sendo Sincero, esse não é o tipo de material que seria escolhido para ser trabalhado. Se você enviar isso para o comitê do “Vamos fazer um jogo!”, seria rejeitado na hora, 100%.

— Você diz essas coisas duras de uma forma fácil, não é?

— Se você queria ouvir algumas coisas legais, então você não deveria ter perguntado para mim.

Ouvir comentários negativos sobre sua proposta de jogo abalou seu coração. Ignorar o comentário não seria o ideal, então a única maneira de lidar com a dor era simplesmente encará-la de frente. Ele aprendeu isso enquanto observava Mashiro fazer seu mangá. Ele não podia tomar as decisões erradas quando já sabia o resultado.

— Então, quais são as partes ruins?

Suando por algum motivo, ele digitou no teclado.

— Você precisa condensar suas propostas em três áreas: “Concept”, “Target” e “Benefit” enquanto também tem algo que fala brevemente sobre cada um deles. Entendeu?

Ele sabia o que os dois primeiros queriam dizer com suas nuances. Ele viu essas palavras muitas vezes enquanto folheava revistas de jogos, mas nunca tinha ouvido falar da terceira.

— Por favor, explique com mais detalhes, sensei.

— Então, começarei com “Concept”.

O modo de falar mudou para a Maid-chan. Ryuunosuke deve ter implementado a IA, que antes só fica no email, na sala de bate-papo também.

— Então, por favor, explique.

— “Concept” não é primo dos confetes! (Risos)

— Eu sei.

— Foi só uma piadadinha. Voltando ao assunto, “Concept” é algo que aborda “como o jogo é interessante”. Para um jogo que é sobre um senhor da guerra peludo dos Três Reinos cortando inúmeros inimigos, então o conceito poderia ser expresso como “um soldado com a força de 100”. Portanto, significa que a diversão do jogo é cortar quantidades absurdas de inimigos. Não é sobre o senhor da guerra ser peludo. Esse foi apenas um exemplo, e isso pode ser por causa da interatividade, mas dois conceitos também podem funcionar bem às vezes. No passado, houveram trabalhos que fizeram grande sucesso que tinham os conceitos de “esconder” e “caçar”.

— Entendi, tô aprendendo isso agora.

— O próximo ponto é o “Target”. Este é bem básico. Ele indica a faixa etária ou sexo dos consumidores. Neste caso, dizer “Estudantes masculinos do ensino fundamental e médio” seria suficiente. Mas, em casos mais específicos, “uma certa geração” ou “leitores de light novels” e “fãs de anime” se encaixariam melhor nos jogos, então use os termos adequadamente.

— Então você está basicamente dizendo para decidir quem são os clientes de antemão?

— Sim. O último é o “Benefit”, e isso parece ser uma das coisas que o comitê procura nas aplicações hoje em dia. Se você pensar nisso literalmente, também pode significar “conveniência” para os desenvolvedores, mas não se deve pensar na proposta assim. É sobre o jogo fazer a diferença para os jogadores, seja deixando-os emocionados ou ganhando conhecimento, satisfazendo seus desejos de “criar um animal de estimação”, “ter uma namorada” ou “acelerando seu metabolismo”. Então, como você pode ver, existem muitas áreas diferentes que um jogo é capaz de satisfazer. Se você conhece as áreas que os jogadores querem, então tudo o que você precisa fazer é atender às necessidades deles fazendo o jogo e vendendo elas. Em outras palavras, trata-se de entender as coisas que o consumidor deseja. Você conseguiu entender tudo isso? Se você não entendeu, isso significa que Sorata-sama é pior que lixo. Se você disser que não entendeu, eu vou te tratar como lixo! Esta foi a palestra mais fácil de entender da Maid-chan.

Ele fingiu não ver o que Maid-chan chamou ele.

Às vezes, Maid-chan exala uma aura sombria... Deve ser por causa da personalidade de seu mestre.

— Você entendeu tudo?

— Eu aprendi agora graças à você.

— Ter um “Concept”, “Target” e “Benefit” basicamente mostra que você sabe que tipo de jogo você quer produzir para um grupo enquanto beneficia ambas as partes. Se você não entender completamente sua proposta de jogo, então você não será capaz de produzir um bom jogo. Então, ao contrário, entender as três áreas significa que você analisou sua proposta objetivamente e você a tornou totalmente sua. Tenho ouvido que o padrão no “Vamos fazer um jogo!” vem crescendo. Você só pode começar tranquilo quando você tem tudo isso sob seu controle. Afinal, você precisa delas se acontecer de você ser aceito para uma apresentação depois de seu trabalho ter passado.

Como esperado de Ryuunosuke, que trabalha na indústria de jogos, sua palavras eram convincentes e tinham peso.

— Acho que subestimei tudo isso.

— Você subestimou e muito. Você pode fazer apenas como hobby, mas se você planeja seguir essa carreira, não pense em si mesmo como um estudante do ensino médio. Os que verificam suas propostas são adultos que gastam centenas de milhares de dólares. É um negócio. Não é brincadeira de criança.

— Quanto sal você vai tacar nas minhas feridas até que esteja satisfeito?

— Tem mais uma coisa.

— Outra crítica!

— Você precisa colocar imagens também, não apenas textos. Tem muitos pontos em uma proposta de jogo que são difíceis de explicar usando apenas palavras. Se você puder mostrar sua proposta com elementos animados, não vai ter erro. Estou sugerindo imagens, caso você não consiga fazer nada animado.

— Você sabe as minhas notas em artes?

Foi a pior nota de Sorata em todas as matérias.

— Não nessariamente precisa ser você desenhando. Por sorte, aqui no Sakurasou, há duas profissionais que sabem desenhar muito bem.

— Ah, então pode ser assim.

Se fosse um desenho de Mashiro ou de Misaki, eles certamente ficariam ótimos. Apesar disso, não tinha como elas ajudarem ele de uma forma normal...

— E tem mais uma coisa.

— Quanto mais você vai acabar comigo? Você é sádico, sabia?

— Você não precisa de explicações detalhadas sobre o lado técnico de seu jogo. O ponto principal é expressar sua ideia, e isso é tudo o que é necessário. Tudo o que você precisa mostrar em sua proposta é a ideia principal e que você está confiante sobre ela. O comitê julgará por si mesmo. E também, eles quem preenchem os elementos suplementares.

Na proposta de Sorata, isso foi preenchido não apenas com especificações de hardware, mas também por elementos suplementares. Mesmo que fosse bem legal, ele suava muito enquanto fazia..

— Vou ser mais cuidadoso a partir de agora.

— É bom verificar sua proposta para ter uma melhora na qualidade. Será útil pra você no futuro. Falando na indústria atual, 90% dos criadores de jogos lidam com diversos trabalhos. Eles trabalham na lista de introdução e pedidos, verificação e gerenciamento do conteúdo, no setor de gráficos, escrevendo as especificações do programa, sendo responsável pelas conferências, reduzindo as especificações necessárias, gerenciando os subcontratos, testando o jogo, fazendo a depuração, gerenciando a depuração, organizando os anúncios e artigos, verificando a estratégia de jogo... A lista pode ser ainda maior se eu for falar tudo. Provavelmente isso é muito diferente do que você pensava ser um criador de jogos, mas há muitos deles que trabalham assim. Sendo honesto, acho isso um exagero para dizer que eles realmente podem ser chamados de criadores de jogos.

— Isso realmente parece ruim.

— Apenas cerca de 10% dos criadores têm o direito de serem chamados de tal. A maioria deles apenas planejam jogos porque são incapazes de desenhar, fazer cenários ou programar. Para ser chamado de criador de jogos, você precisa ser profissional em empreender. Sugerir uma ideia para um jogo ou escrever uma proposta é algo que até um programador como eu pode fazer. Se você olhar para alguns diretores, a maioria deles eram anteriormente designers gráficos ou programadores. Algumas grandes empresas nem contratam criadores de jogos sem experiência. Elas não precisam de um amador sem ideias. Então eu espero que você trabalhe mais para produzir algumas propostas de jogos sólidas e dignas de serem chamado de um trabalho de um criador de jogos real.

— Sim, sim. Vou me esforçar mais a partir de agora.

— Tudo de bom pra você, então. Desculpe, mas há um pedido para fazer um controle de movimento middleware e um código de desenvolvimento. Eu quero começar a trabalhar. Estou desconectando.

— Ok, obrigado pelos conselhos.

— Sem problemas. Eu tinha tempo, de qualquer forma.

Com isso, Ryuunosuke se desconectou.

— De qualquer forma, o Akasaka é realmente incrível...

Isso deve ser o que chamam de “trabalhar”. Tudo, desde o uso de palavras, maneira de pensar e a determinação de ter sucesso estavam em outro nível. Embora os nomes fossem bastante estranhos...

Pensando nas coisas que Ryuunosuke falou, ele olhou para sua proposta mais uma vez. Quase tudo que Ryuunosuke... não, que Maid-chan havia explicado durante o bate-papo, estava faltando ali.

Parecia pior cada vez que ele olhava para lá. Mesmo assim, Sorata imprimiu a proposta e, com uma caneta vermelha, ele começou a consertar a proposta antes que ele esquecesse tudo.

Ele não conseguiria dormir se sentindo assim.

O único alívio que ele teve foi que Ryuunosuke não disse nada sobre a ideia do jogo em si. “É interessante”. Provavelmente foi um elogio.

Fosse um elogio ou não, Sorata estava confiante na sua ideia. Ele só podia acreditar em si mesmo.

Passando pela revisão uma vez, ele pensou que deveria dormir agora, então ele deitou em sua cama. Os gatos deviam estar nos quartos de outras pessoas, pois nenhum estava no dele.

Ele fechou os olhos pensando nas coisas que deveria estudar hoje. A sonolência o atingiu imediatamente e sua consciência foi para a terra dos sonhos.

Por quanto tempo ele tinha dormido?

Ouvindo passos em seu quarto, a consciência de Sorata veio parcialmente de volta da terra dos sonhos para a realidade. Ele deixou a porta aberta para os gatos.

Era Hikari, Nozomi ou Kodama. Foi difícil dizer pelos ruídos.

Não importava muito qual gato era.

Se fosse Nanami vindo acordá-lo para a sessão de estudo, então ele teria que levantar. Mas se realmente fosse Nanami, ela chamaria na porta.

Ele tentou dormir novamente, quando os passos se aproximaram e subiram em sua cama. Os gatos tentariam subir mesmo com aquele calor.

Sorata estendeu a mão para afastar os gatos.

Se ele alisar o gato, daria para saber qual é.

Mas o que seus dedos sentiram era completamente diferente do que ele esperava.

Era mais macio e bem maior que um gato. Aquilo não se mexeu com apenas um empurrão. A pelugem, que deveria estar lá, não estava presente. Dava para sentir a maciez da pele. Em vez do corpo de um gato, parecia um pano feito de seda.

Sentindo que algo não estava certo, Sorata abriu os olhos.

Diante de seus olhos, ele viu o rosto adormecido de Mashiro.

A mão dele estava alisando os seios de Mashiro. Igual um camarão, Sorata pulou para trás com tudo. Ele ficou olhando para a própria mão.

Como Jin havia dito antes, realmente era uma sensação inimaginável. Agora que ele descobriu sobre esse segredo proibido, Sorata caiu em ansiedade e remorso.

Ele não resistiu e se levantou rapidamente.

— Ei, Shiina.

— ...Oi?

Mashiro olhou para Sorata com os olhos meio abertos.

— O que você quer dizer com “Oi”...? Aliás, o que você tá fazendo aqui!?

— Dormindo.

— Durma no seu quarto.

— ...A Nanami vem me acordar de manhã.

— Mas não venha para o meu quarto!

De acordo com a programação de férias de Nanami, Mashiro teria que acordar às 7 horas todas as manhãs.

Como ela queria dormir mais, ela foi ao quarto dele.

Ele estava feliz que ela confiava nele, mas ela entrou no quarto dele de forma tão simples, parecia que ela não via Sorata como um homem, e ele não tinha certeza de como deveria se sentir sobre isso.

— Eu estava fazendo meus rascunhos...

Mashiro fechou os olhos novamente.

— Se você dormir aqui, eu vou ser morto!

— ...Sorata.

— O que foi agora?

— Me chame de Mashiro quando estivermos sozinhos.

— Eu sei.

— Ok... Então, tudo bem.

Ela tentou voltar a dormir com uma expressão satisfeita.

— Uau~, espere, não durma! Eh~, ah~, certo! Você disse que seu mangá vai ser serializado, certo? Então deve começar a parecer uma mangaká de verdade agora.

— Eu posso fazer isso...

Ela respondeu, mas parecia que Mashiro estava prestes a dormir.

Ela parecia cansada, então ele queria deixá-la dormir, mas ele tinha medo do que poderia acontecer caso ela dormisse ali. Ele não sabia o que ia ouvir de Nanami.

— Seu mangá está indo bem?

Ela balançou a cabeça.

— Não está...?

— Tá, sim.

Ele se lembrou de Mashiro trabalhando a noite toda em seu mangá na sua mesa. Seria bom se ela for capaz de produzir boas ilustrações. Mas ela estava se preocupando muito com os desenhos, porque parecia que ela estava se esforçando demais, então ele sentiu pena dela por ficar acordada até agora trabalhando. Ela tinha uma vontade imensa de terminar tudo que começa, e foi isso que fez ela cansar.

Este era o jeito que Mashiro desenhava.

— Sorata, você poderia me fazer um favor?

— Claro, qual?

O rosto de Mashiro tinha uma expressão de dúvida quando ela olhou para ele.

— Quando a revista for publicada, quero que a gente vá à livraria juntos.

— Quando vai ser publicada, Shiina...? Não... Mashiro.

— Dia 12

— Ok. Entendido.

— Você vai mesmo?

— Se quiser, a gente pode fazer uma promessa.

Sorata virou a cabeça com timidez.

Então, Mashiro estendeu seu dedo mindinho para ele.

— Prometa.

Sem palavras, Sorata estendeu o mindinho também. Eles juntaram os dedos e fizeram a promessa.

— Agora vai dormir.

— Sorata.

— O que?

— ...Estou feliz por termos conversado.

Mashiro adormeceu quando ela soltou os dedos. Ela estava com um rosto feliz.

— Sério, o que ela quis dizer?

Sorata cuidadosamente saiu da cama para não fazer barulho e olhou para o rosto adormecido de Mashiro.

Fazia apenas uma semana desde que ele foi liberto de seus deveres com Mashiro, mas ele realmente sentia saudades.

Ele queria ficar ali olhando para ela um pouco mais, mas ele não podia apenas olhar para ela assim, era perigoso. A hora já passava das 7. Já estava na hora de Nanami vir e acordar Mashiro. Se ela perceber que Mashiro não está no próprio quarto, ela viria no dele primeiro.

Ele achou que deveria esperar, então saiu de seu quarto.

Ele foi até as escadas para ver o que estava acontecendo lá em cima. No entanto, ele não viu nenhum sinal de Nanami e tudo estava bem quieto.

Pensando consigo mesmo que isso era bastante estranho, ele notou algo na cozinha.

Sorata olhou cuidadosamente para lá.

Uma pessoa estava descansando na mesa redonda sem se mexer.

Olhando para a pessoa com cuidado, ele ficou surpreso ao ver que realmente era Nanami. Ela estava vestindo a mesma roupa que estava usando quando saiu ontem. Ela deve ter ido para o curso de dublagem e depois para seu trabalho de meio-período, então ele não sabia qual hora ela tinha voltado.

Embaixo de seus braços havia algumas folhas empilhadas. Tinham falas nesse papel e algumas marcações de caneta vermelha nele. Provavelmente era algum roteiro.

Mesmo sendo verão, parecia que ela poderia pegar um resfriado se ficasse ali. Então Sorata voltou para seu quarto, trouxe um cobertor e tentou cobrir os ombros de Nanami com ele.

Nesse instante, Nanami abriu os olhos. Por acidente, seus olhos se encontraram com os de Sorata que estava prestes a colocar o cobertor em volta dela. Se estivessem alguns centímetros mais perto, eles poderiam ter se beijado.

Nanami piscou duas ou três vezes e silenciosamente olhou para Sorata. Sua sonolência lentamente desapareceu de seus olhos e se transformaram em medo.

— Kanda...

Ela estava falando em seu dialeto.

— Aoyama, eu não...!

— Então você só queria o meu corpo desde o começo!

Nanami bateu com força no nariz dele.

Atingido pelo impacto, Sorata deu um pulo e andou um pouco pra trás. Ele sentiu uma dor no nariz. Lágrimas escorriam e caíam no chão. Para piorar, o nariz dele estava sagrando tanto que já estava manchando o chão com sangue. A mão que ele colocou no nariz já estava tingida de vermelho.

Durante esse tempo, Nanami fugiu para um canto da cozinha e, como um herbívoro tentando se proteger, ela se agachou igual a um coelhinho assustado.

— E-Eu fui uma idiota por confiar em você.

— Por favor, me escute, Aoyama.

Ele foi incapaz de se conter olhando para seu lamentável eu coberto de lágrimas e sangue.

— Eu- Eu vou contar aos professores sobre você! Você deveria beber veneno!

— Se acalme! Veja a situação!

— Eu sei o que está acontecendo! Você entra no quarto de outra pessoa e... Espera, o que?

Percebendo algo, Nanami levantou-se lentamente.

— Este não é o meu quarto...

Ela olhou ao redor mais uma vez. Eles estavam na cozinha. Ela estava com um cobertor nela. Ela olhou para cima tentando se lembrar do que tinha acontecido.

— Entendeu agora?

— Não pode ser...

— Pode, sim.

— Você me viu dormindo?

— E é com isso que você tava se preocupando?!

Nanami rapidamente cobriu o rosto e saiu correndo da cozinha. Ela deve ter ido para alguma pia. Ele podia ouvir o som de água escorrendo.

Sorata suspirou e prendeu alguns lenços enrolados em seu nariz. O sangue continuava pingando no chão. Foi uma hemorragia nasal dupla. Essa era a primeira vez na sua vida em 16 anos que ele experimentou isso.

Quando ele terminou de lidar com o sangramento no nariz, Nanami voltou depois ter lavado o rosto e arrumado a franja e as roupas. Ela deve ter pelo menos sentindo pena, porque ela não riu ao ver Sorata com suas narinas tampadas com lenços. Ela rapidamente desviou o olhar para disfarçar. Mas seus ombros ainda estavam tremendo um pouco.

— Sinto muito.

— Bom, tudo bem, mas não é muito convincente quando você fala isso olhando pra parede...

— Eu vou rir se olhar pra você.

— E de quem você acha que é a culpa?!

— Eu já falei que sinto muito.

— Deixa pra lá. Fora isso, hmm... Sim...

Sorata parou de perguntar se ela estava bem. Ele já sabia que Nanami responderia que estava bem, independente do que acontecesse, porque ele tinha ouvido isso de Chihiro.

Mas quando ele se conteve, ele não sabia o que dizer em seguida.

Ele virou rigidamente para olhar em outro lugar e seus olhos encontraram um bom assunto em cima da mesa. Ele estava olhando para o papel de falas.

— Ah, isso? Vai ter uma apresentação no curso no dia 21. São as falas.

— Um anime?

— Não, apenas uma peça... normal.

— Hm.

— Você pelo menos já ouviu falar de Shakespeare, certo?

Ele só conhecia Romeu e Julieta, mas concordou com a cabeça de forma bem confiante.

— Então você também faz isso além de dublar.

— Não sei se pode ser classificado como a mesma coisa, mas estou aprendendo sobre atuação no geral.

— Que? Você não está só dublando?

— A gente só dublou algo uma vez em uma aula especial. No nosso curso, focamos no básico da atuação primeiro, e eles visam moldar artistas. Também temos aulas de canto ou dança.

— Heh~, então é isso que fazem em um curso. Mas então, você praticou bastante?

Ele olhou de volta para o papel de falas.

— Só peguei isso ontem. Eu pensei que eu deveria ler e memorizar algumas linhas, mas...

— Você dormiu no meio?

— Talvez.

Nanami se encolheu para mostrar que estava refletindo sobre isso.

— Essa apresentação é importante?

— Quem sabe? Não tenho certeza do quão importante é. As audições para a agência são em fevereiro e as pessoas para quem nos apresentamos são diferentes também... Mas pessoas tipo gerentes vão vir e observar o nosso desempenho, então não dá pra dizer que não é importante.

Então ele não podia dizer para ela não se esforçar muito. E mesmo se ele dissesse, ela não o ouviria.

Incapaz de lidar com o silêncio, Sorata abriu a geladeira.

Ele tirou uma caixa de leite, mas estava quase vazia.

— Ah, A Kamiigusa-senpai me pediu para comprar... Desculpe.

Verificando a lista na geladeira, quem estava na lista dessa semana era Nanami.

— Deixa pra lá. Vou comprar mais quando sair. Você devia ir para o seu quarto e dormir um pouco mais.

Ela teria que ir trabalhar depois que o curso terminasse hoje também. Para pagar as mensalidades atrasadas do dormitório, Nanami estava trabalhando não apenas na sorveteria, mas também em restaurantes e lojas de donuts desde que as férias de verão começaram. Ela não tinha nem uma hora sobrando na sua agenda apertada.

— Não, eu estou bem. É a minha vez essa semana, então vou comprar agora...

Nanami tirou o recipiciente do armário que continha o dinheiro compartilhado do Sakurasou e disse que iria rapidamente para a loja de conveniência.

Incapaz de ver Nanami se esforçando demais, Sorata a agarrou pelo braço quando ela estava prestes a ir.

— Você vai precisar de mais alguma coisa?

— Aoyama, você realmente deveria ir dormir. Eu vou fazer as compras mais tarde.

Ele repetiu mais uma vez.

— Eu volto logo. A loja de conveniência fica aqui perto, não é?

— Você deveria aceitar mais a ajuda dos outros. Por que você está sendo tão teimosa sobre isso?

Então, Nanami soltou a mão de Sorata.

— O que você está dizendo? Você está apenas me obrigando.

Nanami o repreendeu. Ela estava com uma expressão fria. A atmosfera do lugar congelou instantaneamente também.

Ao contrário de Nanami, que estava agindo com frieza, as emoções de Sorata rapidamente se acenderam e ele sentiu como se estivesse vendo tudo em vermelho.

— Por que você está dizendo isso?!

Ele não conseguia parar de elevar a voz. No entanto, Nanami nem sequer pareceu sentir a pressão dele e manteve sua frieza esmagadora. Ela nem tentou recuar um milímetro.

— Estou bem. Eu não preciso da sua ajuda. Eu posso cuidar disso sozinha, então não se preocupe com isso.

— Tem certeza que deveria dizer isso? Você estava dormindo na mesa!

— Eu já disse que estou bem.

Ambos sabiam que estavam apenas brigando um com o outro. Mas agora que começaram, eles só poderiam ir mais longe usando palavras abusivas apenas para proteger eles mesmos. Eles não sabiam como confortar ou aceitar um ao outro.

— Ah~ é sério? Bem, faça o que quiser!

Na verdade, não era isso que ele queria dizer. Mas agora que eles já começaram a brigar, ele não conseguia mais conter a raiva.

— Estou indo.

Nanami rapidamente se virou e tentou sair da cozinha.

Mas infelizmente, ela deu de cara com Jin, que estava chegando só agora. Ele colocou as mãos nos ombros dela.

— Estou feliz com o que você sente por mim, mas eu estava na casa da Rumi e já fiz isso três vezes, então eu não consigo agora. Você se importa de ser na próxima vez?

Nanami o empurrou para se afastar dele.

— Você realmente gosta de ignorar o toque de recolher e sai para “festas do pijama”, né, Mitaka-senpai! Meu Deus, segue as regras!

— Eu até posso fazer isso, mas sou o tipo de cara que não consegue dormir a menos que haja o calor de alguém ao meu lado. Se você dormir comigo, então eu posso voltar cedo todas as noites, Aoyama.

Nanami olhou para ele com um olhar penetrante.

Ela disse de uma forma seca que estava saindo e andou em direção à porta.

— Ah, bem, eu fui repreendido. Que assustador.

Jin estremeceu olhando para Sorata.

— Desculpa por te envolver nessa bagunça.

— Tudo bem. Eu não me importo com esse seu lado. E você não deveria ficar afrontando ela assim.

— ...Você ouviu tudo?!

Jin sorriu de uma forma sarcástica, levantando os cantos da boca.

— Claro que não~. Alías, você não deveria dizer algo como “Por que você está sendo tão teimosa” para uma pessoa... teimosa.

Isso também era algo que Sorata estava refletindo. Mas como ele deveria dizer isso? Trocar quem estava no dever de fazer as compras na lista não era algo significativo. Até agora, Jin ou Misaki costumavam trocar quando um não conseguia ir. Isso simplesmente não funcionou com Nanami.

— De qualquer forma, apenas certifique-se de que vocês farão as pazes.

Para ser honesto, ele não sentiu vontade de se desculpar. Ele pensou não ter feito nada de errado.

Jin voltou para seu quarto, deixando Sorata sozinho na cozinha.

Pensando em silêncio por um tempo, ele lembrou de sua proposta de jogo.

Ele queria dormir agora, mas sua cama estava ocupada por Mashiro

— Então... Onde que eu vou dormir? 

 

Parte 4

 

Quando a segunda semana de agosto chegou, o Sakurasou ficou mais quieto do que antes. Isso não era apenas algo que Sorata sentia, mas, havia duas razões para isso.

Uma delas era que Misaki, que sempre era tão animada que parecia um enorme carnaval, havia se trancado em seu quarto para trabalhar em uma nova animação. Jin havia escrito um roteiro para o novo projeto de Misaki. A animação teria um total de 45 minutos. É o trabalho mais longo feito por ela até hoje.

— Até mesmo a Misaki não conseguirá terminar isso até a formatura. Então, estou livre a partir de agora.

Jin disse isso assim que terminou de escrever o roteiro do projeto e isso incomodou Sorata. Mas Sorata nem teve a chance de questionar, já que Jin havia fugido para a casa de uma das suas namoradas.

Ele provavelmente estava planejando se divertir o máximo que conseguisse.

A outra razão foi que o número de vezes que Nanami gritava diminuiu à medida que ela se acostumava a lidar com Mashiro.

Depois de ter uma pequena briga com Sorata, a maneira que Nanami lidava com Mashiro mudou, e Mashiro conseguiu lavar algumas de suas próprias roupas sozinha. Claro, ela ainda causava catástrofes se ela fizesse tudo sozinha...

Mas parecia que Mashiro estava indo bem.

Fora isso, a partir daquele momento, Nanami não deixou de cumprir suas obrigações da lista que ficava na porta da geladeira. Ela enfatizou que conseguia fazer tudo sozinha, sem a ajuda de mais ninguém. Ela continuou tratando Sorata da mesma forma de sempre, fingindo que nenhuma briga aconteceu entre eles. Ela manteve sua expressão calma habitual durante os estudos matinais, e nem sequer mencionou nada sobre a briga. Mesmo quando eles dois se olhavam.

— Há alguma coisa que você não entendeu, Kanda?

— Não, não é isso.

— Se você não quer estudar, então não precisa se juntar a nós. Além disso, essa resposta está errada.

— Huh? Sério? Ah, você está certa.

— Estude com a gente.

Assim, até parecia que ela estava realmente preocupada com Sorata.

Sorata percebeu que a atitude meticulosa de Nanami era apenas uma declaração de guerra.

No entanto, contra alguém como Nanami, que faz tudo perfeitamente, Sorata não seria capaz de fazer nada contra e, por isso, ele só poderia viver seu dia sendo cauteloso ao falar com ela.

No meio da semana, quando o dia 10 chegou, Sorata não foi capaz de aguentar por mais tempo, então ele foi até Jin para pedir algum conselho para ele.

Ele bateu na porta de Jin.

— Tá aberta.

Ele enfiou a cabeça na porta e olhou para Jin.

— Tá com tempo?

Sentado em sua mesa, ele estava olhando para a tela do computador quando olhou para Sorata.

— Se você me perguntar isso com uma expressão tão sombria, não tem como eu recusar, não é?

Quando ele entrou no quarto, ele se sentou na cama. Como ele estava na cama, haveria uma distância razoável entre eles se Jin virasse a cadeira.

Sorata esperou até que os dedos de Jin parassem de se mover.

Ele provavelmente estava consertando algumas coisas no roteiro do novo anime de Misaki. Ele estava com a sua rara expressão séria. Seu rosto, que já era maduro, parecia ainda mais maduro.

Após cerca de 5 minutos, Jin bocejou alto olhando para o teto.

Quando ele terminou, ele encarou Sorata e esfregou os olhos depois de tirar seus óculos.

— Por que tá com essa cara? Você está preocupado porque ainda não atingiu sua fase popular com as garotas?

— Não.

— Que bom, porque isso é só uma lenda urbana...

— Eu queria falar sobre... O quê?! Sério?! Eu realmente acreditava nisso...

— No seu caso, seria difícil você perceber se está ou não nessa fase.

Ele não entendeu e queria perguntar mais sobre isso, mas Jin simplesmente colocou os óculos de volta.

— Então? O que você queria?

— É sobre a Aoyama.

— Você se confessou pra ela?

— Não! É realmente tão divertido tirar sarro de mim?

— Sim.

Jin respondeu brincando. Era desconcertante ver alguém como ele fazer uma cara infantil.

— Você tá preocupado com a Aoyama?

— Bem... Ao invés de ficar preocupado, devo dizer que é estressante... Para mim também, mas...

Foi difícil encontrar as palavras para se explicar. Mas ele sentiu que as coisas não deveriam ficar assim.

— O que você pensa sobre a Mashiro?

— Por que você está perguntando sobre a Shiina?

— Bem, você parece sentir algo.

Com a pergunta inesperada, o rosto de Sorata ficou amargo.

— O que você pensa sobre a Aoyama?

— Se você perguntar assim... Eu não acho que ela precisa fazer tudo sozinha só porque “é o jeito dela”. Já que estamos todos morando juntos no Sakurasou, acho que devemos nos ajudar... Algo assim, eu acho.

Escolhendo suas palavras com cuidado, Sorata tentou explicar seus pensamentos. Não parecia que ele era capaz de dizer totalmente o que queria. No entanto, ele não estava muito longe do seu objetivo.

— Isso é muito diferente do que eu pensava.

— Você está falando da Aoyama? Como é diferente?

— Deixa para lá. Esqueça o que acabei de dizer. De qualquer forma, as coisas estão indo do jeito que a Aoyama quer, então deixe ela continuar assim.

Ouvir isso realmente o incomodou.

— Mas o que é isso? você não está tentando ser um herói de novo, está?

— ...Eu não estou. Dessa vez, é diferente.

— Se você diz. Apenas se esforce sem parar em direção ao seu objetivo.

— Eu tô fazendo isso. Por favor, algum dia dê uma olhada na minha proposta de jogo, Senpai.

Ele veio para receber conselhos depois de terminar de editar sua proposta. Tudo o que ele precisava agora era uma ilustração para colocar na proposta. Ele estava pensando em perguntar para Misaki em vez de Mashiro, já que ela sabia muito mais sobre jogos, mas era difícil conseguir o momento certo para perguntar, já que ela estava muito ocupada trabalhando em seu novo anime.

— Uma proposta de jogo, hein. Estarei ansioso por isso.

Nesse momento, o telefone de Jin tocou. Deve ter sido uma de suas muitas namoradas. Mas ele não atendeu o telefone, apenas deixou tocando até desligar.

— Tudo bem se você não atender?

— Ainda não terminei de conversar com você.

— ...Isso que você disse agora... foi bem legal.

— Só não vai se apaixonar, hein.

Sorata achava que essa última parte quebrou o clima.

— Acho que você não entenderia mesmo se eu te dissesse, mas no caso da Aoyama, ela lutou contra a vontade de seus pais e veio de Osaka para cá sozinha. Ela esteve sozinha desde que saiu de casa. Então ela provavelmente acha que deve fazer tudo sozinha.

— Então você está me dizendo para deixar ela em paz?

— Se fosse eu, faria isso, mas não sei o que você vai fazer. Pense melhor sobre isso, Kouhai-kun.

Jin se levantou e colocou a mão na cabeça de Sorata.

— Por favor, não faça isso...

Sorata tirou a mão de Jin e se levantou também. Ao fazer isso, uma pilha de livros caiu no chão.

— Ah, desculpa.

Ele rapidamente se abaixou para arrumá-los e pegou um livro de perguntas. Ele só tinha feito isso por reflexo.

O que ele pegou era um livro usado por alunos que se preparavam para prestar os exames de admissão. Mas era estranho que houvesse materiais de estudo no quarto de Jin.

Olhando com atenção, havia outros livros também. Livros de referência. Livros de perguntas práticas do exame.

Tinha até um livro do exame anterior de uma universidade de artes em Osaka.

Então, de repente, ele se lembrou de algo que ele havia esquecido há muito tempo. Ele viu Jin falando algo com o professor Takatsu, que estava encarregado das escolhas de carreira. Esse foi o dia em que ele foi com Mashiro para ela fazer as provas de recuperação.

Juntando as evidências, tudo apareceu em sua mente.

Mas não podia ser. Ele torcia para que não fosse verdade.

Esperando que fosse mentira, Sorata olhou para Jin com olhos duvidosos, e Jin o encarou de frente. Sorata não estava mais conseguindo negar que aquilo não era verdade.

— Senpai, o que está acontecendo?!

Ele mostrou os livros para Jin.

— Não é algo que você precise se preocupar.

— É algo que eu preciso me preocupar, sim! Então... e a sua universidade?

— Eu não vou mais para a Suimei.

Sorata bateu de frente com a verdade chocante.

— Se você fizer isso, vai perder a recomendação da escola para a universidade.

— Eu já fiz.

— O que?!

— Não, eu ainda nem entreguei a papelada.

— ...O que você está dizendo?

Ele pensou que Jin iria para o Departamento de Literatura e Artes e Misaki iria para o Departamento de Mídia.

Não, ele ouviu isso de Misaki, então ele realmente não tinha ouvido o próprio Jin falar isso. Foi Sorata quem tinha acabado de pensar que eles permaneceriam na Suimei mesmo depois de se formarem na escola.

— Vou entrar na Universidade de Artes de Osaka. Isso é tudo.

— Espere um segundo! E quanto a Misaki-senpai? 

O que Misaki tem a ver com isso?

— Provavelmente é por causa dela que você não está tentando ir para Suimei, certo?

— ...Mesmo que seja esse o caso, não é algo com que você deva se preocupar.

A mudança de tom em sua voz claramente mostrava que ele estava irritado.

— Isso não... Mas...

— Não conte para a Misaki. Quando chegar a hora, eu mesmo irei contar para ela do jeito certo.

— ...Por que?

— Porque você tá com um rosto cansado.

Jin estava sorrindo desajeitadamente de um jeito que ele nunca tinha visto antes. Sorata não conseguia entender o que Jin havia dito, mas ele sabia o quão sério Jin estava falando sobre isso. Se ele desistisse da recomendação da escola, ele não poderia voltar atrás. Ele só podia deixar a Suimei.

— Que tipo de rosto vou fazer quando estiver brincando ou conversando com a Misaki-senpai de agora em diante...?

— Apenas aja do jeito que você sempre agiu. Não aconteceu nada aqui. Olha só! É simples, né?

— É impossível!

— Faça, mesmo que seja impossível.

Sendo incapaz de aturar o pedido egoísta de Jin, Sorata segurou as lágrimas e saiu correndo da sala.

Ele socou a parede do corredor duas vezes. Tudo o que veio em sua mente foi a imagem do rosto inocente de Misaki.

Não querendo ser visto por ninguém, ele rapidamente voltou para seu quarto. Quando ele abriu a porta, Sorata não conseguiu nem mesmo se mexer.

De todas as pessoas que ele não queria ver, essa pessoa estava sentada à mesa cantarolando uma música misteriosa enquanto desenhava suavemente com um longo lápis.

Ele respirou fundo algumas vezes.

— Aja como de costume.

Tudo o que ele tinha que fazer era agir naturalmente.

Enquanto ele estava pensando em como ele normalmente agia, Misaki se virou.

— Kouhai-kun! O que você acha disso?

O que Misaki mostrou foi um pedaço de papel A4. Era a impressão da proposta de jogo de Sorata. Ele deixou um espaço vazio no papel para ilustrações e, vendo os esboços de Misaki, sentiu que aquilo mostrava todas as ideias dele com uma única imagem.

— Uau, isso tá muito bom — Ele exclamou honestamente — Mas como você sabia?

Ele ainda não havia dito nada sobre o jogo para ela.

— Seu grito de súplica veio até mim com um som de bipe, Kouhai-kun.

— De jeito nenhum.

— Sim. Eu estava trabalhando duro para reduzir os quadros para que os 3D's fossem animados mais facilmente. E quando eu fiz isso, ficou muito bem feito e o movimento da animação 3D estava bem mais suave e lindo! Então, fiquei surpresa quando renderizei em HD.

— Ah, sim...

Que tipo de conversa é essa?

— Levaria mais tempo para renderizar numa qualidade tão alta! Tô com muito tempo para matar enquanto renderiza. Vou pedir para o Ryuunosuke fazer um servidor de renderização pra mim~!

Sorata não entendeu nem metade do que Misaki tinha acabado de dizer, mas achou que seria melhor se ele não perguntasse.

— A propósito, por que você não chama o Akasaka por um apelido?

— Tá bom então, vou chamar ele de Akutagawa.

— O nome dele nem é esse!

— Então, vou chamar ele de Dragon!

Então ele acabou de se tornar um não-humano. Ele tinha que desculpar profundamente com Ryuunosuke por ter feito Misaki criar um apelido assim. Foi mal, Dragon...

— De qualquer forma! Eu não tinha nada para fazer enquanto estava renderizando, então vim aqui para brincar com você, Kouhai-kun! Mas aí, eu vi isso! No local da ilustração, estava escrito: “Eu deveria pedir ajuda à adorável Misaki-senpai. É constrangedor, mas devo confessar esse sentimento! Te amo! Te amo!” nele. Então eu desenhei para você.

— Tudo o que escrevi foi “Ilustrações da Misaki-senpai”! Não invente mais coisas!

Sorata deixou pra lá por enquanto e pegou a proposta do jogo. Ele começou a verificar ela. Estava boa. Estava muito boa. Graças às ilustrações, a proposta finalmente parecia real.

— Se você estiver de acordo com isso, vou digitalizá-lo mais tarde e vou colorir.

— Obrigado.

— Mas tá realmente tudo bem se eu fizer isso? Você pediu pra Mashiron fazer isso também? Ela te rejeitou? Pobre Kouhai-kun! Eu deveria confortá-lo, então.

— Por que você tá falando da Shiina?

— Hmm~ bem...

Ele esperava que ela respondesse corretamente.

— Intuição feminina...?

Ela inclinou o corpo para mostrar que não tinha certeza.

Ele não tinha ideia do que ela queria dizer. Nessas situações, é melhor ignorá-la completamente. Especialmente se for a Misaki...

Mas quando parecia que ela estava prestes a dizer algo sério, Misaki estava apenas brincando com os gatos na cama.

Ela estava caprichosa como sempre.

Quando ele a deixou fazer o que quisesse, Misaki tentou falar com ele.
 — Ei, Kouhai-kun.

Misaki abraçou Hikari, a gata branca, que vinha engordando recentemente.

Hikari, sendo esmagada contra os seios grandes, parecia desconfortável.

— O que?

— Bem... você sabe.

Seu humor carnavalesco de momentos atrás desapareceu sem deixar vestígios.

E quando ele percebeu que seria esse tipo de conversa, já era tarde demais.

— ...O que eu faço para o Jin olhar para mim?

Se ele dissesse alguma coisa, sua agitação iria aparecer.

Então, ele só podia ficar em silêncio.

— Você está me ouvindo?

— ...Estou ouvindo.

Por que essa conversa logo agora? Ele acabou de voltar do quarto de Jin sabendo que ele vai deixar a Suimei. Portanto, isso significava que Jin queria colocar uma distância entre Misaki e ele...

— Bom... Senpai, o que você quer fazer com o Jin-senpai?

— O que você quer dizer...? Quero que sejamos um casal.

— Pode ser mais específica?

— Eu quero “chuu” ele...

— “Chuu”?

— Não. Beijar~.

Misaki murmurou com um som agradável saindo dos seus lábios. Ela ficou assim tão feminina porque a conversa era sobre o Jin? Sorata achou isso fascinante. Normalmente, ela era uma alienígena destemida.

Ela estava com medo de ser odiada por Jin. Ela estava com dor ao saber que seus sentimentos não estavam alcançando Jin.

— Eu quero andar de mãos dadas com ele...

Ele sentiu tanta pena dela que não podia mais ouvir.

— Quero abraçá-lo com força...

Seu nariz começou a ficar úmido. Não era bom. Se ele ouvisse por mais tempo, ele poderia chorar.

— Mas... eu simplesmente não sei o que fazer. Como as pessoas se tornam um casal? O que está faltando em mim? Eu vou viver assim pelo resto da minha vida...? Me ajude, Kouhai-kun.

Abraçando os joelhos na cama, Misaki olhou para ele com olhos quase lacrimejando.

Como Jin o avisou para não falar nada sobre os exames de admissão externos, ele não pôde dizer nada sobre isso.

Se alguém lhe perguntasse de que lado ele estava, obviamente ele estava do lado de Misaki. Ele podia entender um pouco o lado de Jin, mas ele não conseguia ver a razão pela qual Jin escolheu deixar Misaki sofrer assim.

Mas no final, ele foi incapaz de dizer qualquer coisa que pudesse ajudar.

— Senpai, você é fofa, então está tudo bem.

Ele só podia dizer isso e esperar que Misaki retomasse a conversa.

— Obrigada, Kouhai-kun. Acho que me sinto um pouco melhor agora.

Quando ele ouviu a resposta dela, uma parte dele se sentiu redimido. A outra parte sentiu vontade de chorar por causa de sua impotência.

— Você quer jogar alguns jogos até de manhã para mudar de humor?

— Oohh, está me desafiando?! Você cresceu, Kouhai-kun~.

Ele ligou o videogame e pegou os controles.

— Kouhai-kun.

— Sim?

— Vamos jogar bastante durante este verão.

— O que você está dizendo tão de repente?

— Bem, é porque esse é o último verão como estudantes do ensino médio meu e do Jin.

As palavras de Misaki penetraram profundamente no coração de Sorata.

Hoje foi muito perigoso. Sorata quase chorou várias vezes.

Sorata assoou o nariz. Quando Misaki começou a partida, ele simplesmente não conseguiu agir.

— Nossa~, sério, Kuhai-kun. O que você está fazendo?!

Agora não é hora de ficar parado em transe!

A vida cotidiana deles, que já era o normal, mudaria dentro de alguns meses. No verão do ano que vem, Misaki e Jin não estarão mais aqui no Sakurasou. Isso era algo inevitável, não importa o quanto ele implorasse por isso. Imaginando o Sakurasou sem os dois membros, seu nariz ficou úmido mais uma vez.

Para esconder o fato, ele soltou um grande grito de propósito.

— É-É porque você disse algo triste!

— Eu não disse nada triste!

Sorrindo inocentemente, Misaki olhou para Sorata.

— Está tudo bem! Eu ainda estou aqui.

— ...Essa é a primeira vez que você diz algo que te faz parecer uma verdadeira senpai.

— Isso significa que você amadureceu, Kouhai-kun! Então você finalmente percebeu a minha grandeza.

— O que você está dizendo?! Não vou perder da próxima vez.

— Bem, o perdedor terá que entrar no quarto da Nanamin e roubar uma calcinha do armário dela.

— Isso aí vai ficar ruim apenas pra mim!

Voltando com seu humor de sempre, Sorata e Misaki continuaram a jogar até que Nanami chegou em casa do trabalho e os repreendeu por fazerem muito barulho.

Vendo Misaki indo para seu quarto e depois de ser repreendido por Nanami, Sorata se deitou em um canto de sua cama para não incomodar os gatos que já estavam ali dormindo.

Ele fechou os olhos. Ser deixado na escuridão o fez se lembrar das coisas que aconteceram recentemente.

Na manhã em que ele brigou com Nanami.

A expressão fria de Jin quando ele disse que estaria saindo da Sumei.

Misaki, que estava feliz pois não sabia de nada.

Jin e Misaki desaparecerão do Sakurasou no ano que vem. A formatura é em março. Restavam apenas 7 meses.

Ainda estava longe, mas ficava mais perto a cada dia.

Ele se perguntou quantas coisas vão acontecer durante esse tempo. Ele será capaz de se dar bem com Nanami novamente? O que acontecerá com Jin e Misaki? Ele pensou se Mashiro teria sucesso como mangaka. Ryuunosuke provavelmente seria o mesmo de agora.

— Mas, e eu...?

Quando ele começou a procurar uma resposta, ele não conseguiu pensar em nada. Ele apenas perdeu seu tempo.

Sorata desistiu de dormir. Ele também não estava com vontade de ficar dentro do quarto, então foi para o corredor. Só tinha o silêncio e calor.

As tábuas velhas do assoalho rangeram quando ele pisou nela.

Vendo um raio de luz vindo da cozinha, Sorata colocou a cabeça na porta.

A pessoa que estava lá era Chihiro. Ele se sentiu melhor vendo ela dando uma festa sozinha apenas para beber.

Chihiro, que estava lendo um cartão postal, olhou para cima.

— Está na hora das crianças dormirem.

— Está na hora dos adultos dormirem, também.

O relógio apontava para as 2 horas da manhã.

— É uma carta?

Chihiro sem palavras rasgou o cartão-postal e o jogou na lixeira.

— Você deveria estar fazendo isso?

— Mesmo se eu for para uma festa, eu teria que ficar lá ouvindo as pessoas apenas ostentando o que têm, ou desabafando sobre a vida.

— Tenho certeza que você pode lidar com isso... Certo?

— Se você tivesse a minha idade, você entenderia.

O que ele estaria fazendo daqui a 10 anos? Ele não conseguia imaginar.

Antes disso, ele se perguntava quando se tornaria adulto.

— Tem também alguém que eu não quero encontrar.

Chihiro bebeu a cerveja.

— É o seu ex?

Ele só disse isso como uma brincadeira, mas Chihiro de repente parou de se mover.

Ela voltou a beber a cerveja, fingindo que nada aconteceu.

— Então, o que cê quer? Você tá esperando que eu te conforte? Quer uma massagem, é?

— ...Eu não quero que você me toque.

— Não pense na sua professora em situações pervertidas.

— Quero viver igual você, Sensei. Parece que você não tem nenhuma preocupação.

— Seus problemas provavelmente são sobre a Aoyama, o Mitaka ou a Kamiigusa, certo?

Ela tirou uma outra lata de cerveja da geladeira enquanto dizia isso.

O que Chihiro disse era tudo verdade, então Sorata ficou bastante surpreso.

— Você é o tipo de pessoa que está sempre perdida. Você é arrastado pelos problemas de outras pessoas, fica emocionalmente perturbado e não consegue dormir à noite. Você é realmente um idiota.

Chihiro sentou-se novamente e abriu a lata. Ela imediatamente colocou a boca na lata e sugou a espuma.

— Sensei, você tem algo contra mim? É realmente tão agradável me perturbar?

— Não.

Essa resposta também foi deprimente. Ela estava o tratando assim sem nenhum motivo.

— Ah, é mesmo... Dê isso para a Mashiro.

Ela empurrou um envelope que estava sobre a mesa. Era um mau hábito de Sorata aceitar tudo quando alguém lhe dizia para fazer alguma coisa.

Era um envelope com listras azuis e vermelhas na borda.

Foi entregue pelo correio aéreo. O endereço e o nome estavam escritos em inglês. Era a primeira vez que ele via algo do correio aéreo, então ele olhou a parte de trás da carta.

O nome do remetente estava escrito nele.

Estava ecrito: Adel Ainsworth.

— É o nome de um homem.

Sem motivo, ele olhou para Chihiro com uma expressão séria.

— Não faça essa cara assustadora. Dá pra ver no seu rosto que você tá com ciúmes.

— O quê? Quem mandou isso?

Ele se perguntou qual a relação do remetente da carta com Mashiro. A aparência dele... a idade... que tipo de cara ele era... e o que estava escrito na carta? Ele estava incomodado com isso.

— Ah, na hora certa.

Ele olhou pro lado e viu Mashiro. Ela devia estar trabalhando duro para sua serialização. Ele podia dizer isso pela expressão no rosto dela. Mesmo quando ela não estava perto da mesa, seu nível de concentração não caía. Ela parecia bem nervosa, e isso provavelmente era porque seu mangá não estava indo tão bem.

Mashiro olhou para Sorata e Chihiro, e foi até os armários e começou a procurar algo.

Ela pegou uma xícara de ramen, carregou com ambas as mãos como se fosse algo precioso e colocou na frente de Sorata.

— Faça pra mim.

Sorata cozinhou o ramen do copo para ela sem reclamar.

Enquanto esperavam por 3 minutos, ele deu a ela a carta que recebeu de Chihiro.

Sem hesitar, Mashiro abriu o envelope e tirou a carta.

Ele sabia que era falta de educação fazer isso, mas olhou para a carta. Porém, como a carta estava em inglês, ele não conseguia entendê-la.

Ele foi incapaz de dizer qualquer coisa do rosto inexpressivo de Mashiro.

O cômodo ficou em um silêncio sufocante até que ela terminou de ler a carta. Quando ela terminou, Sorata perguntou para ela.

— Quem é o remetente?

Sua voz tremeu um pouco.

— Uma pessoa especial.

Com essas palavras, o coração de Sorata bateu mais rápido. Isso logo se transformou em uma dor de aperto e assumiu o controle do coração de Sorata.

Todas as suas outras preocupações com Nanami, Jin e Misaki foram todas varridas por seu novo dilema que era... a Mashiro. Tudo o que tinha em seu coração agora era Mashiro. Ele tentou fazer uma pergunta diferente só para ter certeza de uma coisa.

— Quando você diz especial...

Seu coração começou a bater mais rápido

Mashiro olhou para cima. Ela olhou para Sorata.

— Uma pessoa que eu gosto.

O mundo dele desabou. Ele estava ouvindo o som de algo sendo dividido ao meio. Ele só conseguia ver um mundo totalmente branco que se formou em sua mente.

Ele não sabia nem para onde estava olhando.

Uma pessoa especial.

Uma pessoa que ela gostava.

Isso só apontava para uma coisa.

Algo que ele tinha foi quebrado e estava em pedaços. Sorata não conseguia entender ou pensar direito.

— Eu... Eu entendi…
 Ele se levantou sem firmeza. Ele teve que se apoiar na mesa para se sustentar. Uma força invisível estava agarrando seu coração. Ele se sentiu sufocado e não conseguia respirar direito.

Seu senso de direção desapareceu e ele ficou repetindo “Não, não, não...” em sua cabeça inúmeras vezes.

— Não, eu não me machuquei. Não, isso realmente não importa para mim. Não, eu não penso assim. Não, não é isso...

Mas não importa em quantas desculpas ele pensasse, ele não se sentia melhor.

Em vez de se sentir melhor, ele se sentiu ainda mais deprimido.

— Sorata?

Com a voz preocupada de Mashiro, Sorata voltou a si.

— Estou com muito sono, então vou dormir agora. Boa noite.

Ele rapidamente saiu da cozinha com essas palavras.

Ele correu apressadamente para seu quarto. Ele bateu a porta e se inclinou contra ela. Sorata foi atingido por uma sensação de vazio e só conseguiu se agachar no chão. Ele olhava para suas pernas esticadas enquanto sua mente estava em transe.



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