A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: soul-s, zKamikazeBR, NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 3

Capítulo 1: A tempestado do outono chegou

— Eu realmente não consigo entender o que são sentimentos.

Era manhã do dia 1 de setembro. Mesmo que nenhum gato o tivesse acordado, Sorata acordou naturalmente e falou isso olhando para o teto sem expressão.

Ele estava no Quarto 101 do Sakurasou. Quantas manhãs haviam passado desde que ele se mudou para cá? Sorata já estava morando no Sakurasou — o refúgio dos alunos problemáticos de sua escola — há mais de um ano. Seu corpo e mente se acostumaram a viver aqui, então ele se sentiu à vontade acordando de manhã, como se fosse sua verdadeira casa.

No entanto, hoje era diferente. Mesmo que ele mal conseguisse manter os olhos abertos, sua mente estava extremamente clara e seu corpo estava cheio de uma tensão inexplicável.

— Isso me incomoda muito...

Teria sido melhor se ele tivesse apenas uma forte dor de cabeça ou alguma dor no peito.

— Ooopa.

Para mudar o ritmo, Sorata soltou um grito curto e se sentou em sua cama.

A razão para aquele sentimento desagradável era óbvia: Era porque ele ainda estava preocupado com o concurso de design de jogos.

Ele pensou que seria capaz de esquecer isso rindo junto com os outros membros do Sakurasou, mas não foi tão fácil assim.

Sorata queria substituir as memórias do fracasso dele por uma de vitória. O sentimento de que precisava seguir em frente para a próxima etapa o pressionava muito.

Mesmo sabendo que pensar sobre isso não ajudaria em nada...

— Isso não é bom, as aulas voltam hoje... De qualquer forma, que horas são agora?

Suprimindo um bocejo, ele olhou para o relógio próximo à cama.

Os ponteiros do relógio apontavam para as quatro e meia.

— Então ainda é de madrugada.

Ele esfregou seus olhos sonolentos. Ele queria voltar para sua cama, mas não achava que conseguiria voltar a dormir em seu estado de ansiedade.

— Ah...

Sorata inspirou de volta uma grande quantidade de ar depois desse suspiro. Quando o fez, percebeu que havia um cheiro estranho em seu quarto. Não era a primeira vez que ele sentia aquele cheiro, mas não era algo que Sorata sentia no dia a dia

— Esse cheiro é de...

Provavelmente era algum odor dos produtos químicos usados para tintas e pinturas.

Mas por que aquele cheiro estava no quarto?

Confuso, Sorata olhou ao redor de seu quarto e sentiu algo estranho em suas paredes. Até ontem, o papel de parede de seu quarto era liso, mas agora havia desenhos em um canto da parede.

O desenho que ele notou era de um robô em forma de gato gigante que estava de pé com as duas patas traseiras.

E ao redor daquele robô, havia vários de outros gato-robô gigantes que pareciam ser seus inimigos. O jeito de como foi desenhado, junto da coloração, davam uma sensação fofa e de conto de fadas, mas também davam a sensação de sede de sangue, que prendia o interesse de quem olhasse.

Provavelmente era algo de um anime de Misaki, que começaria no outono.

— O que é isso aqui?!

Sorata desejou que fosse apenas um sonho. No entanto, aqui no Sakurasou, Sorata sabia que havia uma alienígena que fazia esse tipo de brincadeira como se fosse algo normal.

Se alguém o perguntasse se isso era real ou apenas um sonho, ele com certeza falaria que é real.

Enquanto ele se perguntava como faria para apagar o desenho em sua parede, a porta, que ele deixou ligeiramente aberta para os sete gatos que ele adotou, foi aberta com grande força do lado de fora.

— Bom dia, Kouhai-kun!

Como sempre, a intrusa era a moradora do quarto 201, Misaki Kamiigusa, a alienígena. Seu sorriso, que não continha nem um pouco de culpa, estava brilhando como o sol.

Ela já estava com seu uniforme escolar e a bolsa nos ombros como se estivesse indo para a escola agora mesmo.

Não era saudável para ninguém lidar com Misaki logo ao acordar.

— Eu odeio ser acordado assim, então volte depois que eu já estiver dormindo de novo.

Sorata caiu na cama e cobriu a cabeça com o travesseiro.

— Já é de manhã, Kouhai-kun! Precisamos ir para a escola!

— Quatro e meia ainda é de madrugada.

— Se já passou das três, então já é considerado de manhã!

Misaki puxou o travesseiro.

— Isso não muda o fato de que ainda são quatro e meia.

— O segundo semestre começa hoje, mas por que você está agindo igual um fracote, Kouhai-kun? Tá tentando namorar com esse travesseiro aí, é? Devolve meu Kouhai-kun~!

Falando egoisticamente, Misaki tirou o travesseiro de Sorata. Graças a isso, sua defesa foi reduzida instantaneamente.

— Vamos, Kouhai-kun! Se anima um pouco! Vamos logo para a escola!

— Os portões da escola ainda nem estão abertos.

Mesmo dizendo isso, Sorata levantou seu corpo. Ele não estava mais sonolento porque estava ocupado demais respondendo Misaki.

Quando ele encarou Misaki, que colocou as mãos nos quadris, Sorata viu os rabiscos por toda a parede atrás dela.

Ele suspirou profundamente em seu coração. Ele realmente desejava que tudo isso fosse apenas um sonho.

— Você vai apagar isso aí.

— Esse é o “Gato Galáctico Nyaboron”!

— Você tá me ouvindo?!

— É um personagem de anime que tenho criado desde que estava no jardim de infância. O robô no meio é o protagonista “Nyaboron”! É a última linha de defesa da Terra contra os invasores espaciais conhecidos como “Nyangoronianos”. Depois de repelir o primeiro Nyangoroniano há 20 anos, eles pesquisaram as células alienígenas, as cultivaram e, após sobrevoar o espaço-tempo, tornou-se o robô híbrido que combinava a ciência da Terra e a dos invasores alienígenas! Além disso, tem 333 metros de altura! É da mesma altura que a Torre de Tóquio. E aí? É simples, não é?

Obviamente, havia uma ilustração da Torre de Tóquio no fundo para comparação de tamanho. Não que isso fosse muito importante...

— Eu estava planejando passar um dia sério e tranquilo! Por favor, devolva a minha juventude!

Para onde foi a tranquilidade dele? Parece que voou para algum lugar muito distante após Misaki acordá-lo. Aparentemente, estar absorto em pensamentos não era permitido no Sakurasou.

— Se você tá tão curioso, eu vou te contar! Há um drama sobre muitos homens que dedicaram sua paixão, vida e até mesmo alma para a criação do Nyaboron!

— Sim, sim. Eu já sei que não posso impedir alguém como você, Misaki-senpai...

Ela realmente não estava ouvindo o que Sorata estava dizendo.

— O desenvolvimento do Nyaboron foi um desafio! Durante a fase de desenvolvimento, muitos dos homens perderam a vontade por causa da morte de seus colegas de trabalho, e mesmo depois de completar o robô, o rabo dele não estava se movendo e o caos se espalhou por todo o local de trabalho! No final, alguns dos criadores queriam desistir de fazê-lo e tentaram sair da fábrica. Mas naquele instante, Nekomata, o coordenador do local, disse a eles: “Homens, o que vocês planejam fazer depois de sair deste lugar? Ah, não se preocupem, não estou tentando impedi-los. Mas se vocês vão fazer algo, por que não fazem algo que deixará seus nomes marcados na história? Isso será pelo bem de nossos trabalhadores mortos, também.” Com as palavras de Nekomata, o local ficou ainda mais apaixonado pelo trabalho!

— É um drama realmente ótimo para os homens! Isso me lembra dos clássicos!

— Se for para explicar tudo, levaria pelo menos umas cinco horas. Quer ouvir?

— Eu fiquei um pouco interessado, mas por favor, eu não quero ouvir!

— Então eu vou te contar sobre o Nyaboron. O conceito do Gato Galáctico Nyaboron é ser rígido e bem trabalhado.

— Eu já disse que não quero ouvir! Muito menos sobre qual é o conceito! Droga! O que está acontecendo comigo? Por que estou nessa situação... Alguém me ajuda! Alguém me salve!

Os sentimentos desesperados de Sorata não alcançaram ninguém.

— Para pilotar o Nyaboron, você precisa de um requisito especial: ter experimentado o abismo mais profundo da tristeza e dor!

— Que tipo de requisito é esse?!

— Para colocar o reator negativo até a quantidade definida, uma experiência profunda de vida é necessária! Com esse requisito, o personagem principal, Nekosuke, se casa com a heroína, Nekoko, no episódio 1, após dez anos de namoro. Mas no dia do casamento, a segunda invasão dos Nyangoronianos começa após 20 anos de silêncio, e boom! Um Nyangoroniano mata o irmão mais velho de Nekosuke, Nekochiki, diante de seus olhos, e Nekosuke cai no abismo do desespero, e então se levanta apenas com vingança em mente, gritando: “Nyangoronianos!!”

— Hmm, só por curiosidade, quanto tempo vai demorar para contar essa história toda?

— Uns três dias talvez?

O rosto sorridente de Misaki, agora, parecia aterrorizante para Sorata.

— Para, já tá bom até aqui! Eu não quero chegar atrasado na escola mesmo depois de acordar às quatro e meia da manhã.

— Porém...! Os Nyangoronianos têm um banquinho mais poderoso que toda a humanidade, então era impossível derrotá-lo com armas militares ou até mesmo caças a jato.

— O que você quer dizer com um “banquinho mais poderoso que toda a humanidade”? Isso realmente existe?

— Após sua experiência, Nekosuke toma uma decisão. Esta é a cena mais importante do episódio 1! Ah, meu Deus, Nekosuke finalmente se casou com Nekoko após 10 anos de namoro, mas ele se divorciou logo em seguida! Apenas para resolver seus sentimentos amargos! Ele deixou uma carta dizendo “Eu não posso perdoar aquele banquinho. Não tenho desculpas. Não vou pedir para que você me entenda. Não foi culpa sua. Adiós.” para Nekoko, e escondeu todos os seus rastros. Depois, ele estava chorando compulsivamente em uma rua escura no meio da chuva sem um guarda-chuva!

— Por quê o Nekosuke é assim?! “Adiós”? Quem fala isso hoje em dia?!

— Tem também a parte que o Nekosuke pilota o Nyaboron!

— Legal! Belê, fim da história!

— Kouhai-kun, me apoia um pouco. Você realmente se sente bem quando me corta assim?

— Eu não acho que você esteja triste com isso. Por que você não vai contar essas coisas para o Jin? Ele pode reescrever o roteiro e você pode transformar isso em um anime.

— ... Isso é verdade, mas...

— Hã? O que?

Desta vez, Misaki parecia realmente deprimida. Com uma expressão abatida, ela se sentou ao lado de Sorata.

— ... Jin não está mais voltando pela manhã.

Sorata parecia ter pisado em uma mina terrestre.

— Ele está dormindo fora todas as noites...

Misaki se encolheu, abraçando os joelhos.

— Ah, isso, hm... Desculpa.

— Ele está com outra mulher agora...

Misaki estava apaixonada por seu amigo de infância Jin Mitaka. Ela estava loucamente apaixonada por ele, com aquela personalidade selvagem dela.

Sorata não suportava olhar para Misaki daquele jeito, então ele virou seu olhar para os desenhos na parede. Ele teve que mudar de assunto rapidamente. Do jeito que as coisas estavam, Misaki poderia ficar ainda mais deprimida.

— Senpai, ali! O que é aquilo?

Ele apontou para um ponto na parede. Era um Nyangoroniano corcunda com vapor saindo da boca. Seu cabelo bagunçado era como o de uma toupeira.

— Oh, como esperado de Kouhai-kun! Você realmente tem um talento para olhar essas coisas! Esse é um dos generais do exército invasor: Ein, o Gato Corcunda!

Então, Misaki acelerou o passo.

— Além dele, tem os outros generais: Tubai, o Gato do Tapa-olho, o Gato-da-boca-seca, Pia, o Gato Linguarudo, Poomp, o Gato Comilão e Nekochiki, o Gato da Luta.

— Um deles é familiar. Esse não era o nome do irmão morto de Nekosuke?

Sorata se sentiu bobo por lembrar dos nomes. Mas se Misaki conseguisse se animar com a conversa, não teria problemas com isso.

— É exatamente isso! Nekochiki estava vivo traiu todos eles.

— Ehh? Mas por quê?

— Porque Nekochiki sempre amou Nekoko! Mas quando Nekosuke fez Nekoko chorar, se divorciando dela, Nekochiki ficou furioso.

Não importava como se olhasse para isso, os personagens eram confusos. Nekosuke decidiu lutar para se vingar de Nekochiki, mas isso fez Nekochiki traí-los. E pensar que a causa desses problemas era uma garota... Não era algo que pudesse ser levado a sério logo pela madrugada.

— Voltando à história: Ein, o Gato Corcunda, que aparece no episódio 3, era tão forte que destruiu 60% da humanidade!

— Então a Terra não foi protegida.

— Para piorar, Nekosuke morre antes mesmo de pilotar o Nyaboron.

— O personagem principal morreu?! O que acontecerá com a Terra?! Seria melhor se ela apenas explodisse.

— Mas ainda tinha uma esperança. Não havia apenas uma pessoa que experienciou o abismo do desespero! Nekoko, que recebeu os papéis de divórcio logo após seu casamento feliz, teve a determinação de pilotar o Nyaboron!

— Isso vai além de estar em desespero, a Nekoko... se divorciou logo após se casar, seu marido morreu, e agora ela vai pilotar o robô? Ela seria capaz? Ela não deveria conseguir nem olhar para ele.

— Kouhai-kun, as mulheres são fortes! Além disso, Nekoko era, originalmente, piloto de caças a jato, então seu senso de pilotagem era excelente! Nekosuke era ruim se comparado à ela.

— Então a Nekoko que deveria ter ido pilotar desde o começo! Devolva o Nekosuke!

— Você é muito ingênuo, Kouhai-kun.. Foi a morte de Nekosuke que levou Nekoko ao abismo do desespero e lhe deu a ardente determinação pela vingança! Ela é resistente! E persistente! E exigente! Nekoko teve um passado ruim quando Nekosuke a traiu com outra mulher durante o primeiro ano de namoro, mas ela não desistiu!

— Uau! Nekoko é uma mulher realmente aterrorizante! Mas está tudo bem se alguém como ela for a heroína? As pessoas vão assistir? Não vai traumatizar as crianças?

— Nekoko atirou e matou vários Nyangoronianos enquanto pilotava a nave e desviava de tiros.

— Nekoko é realmente forte, ela é incrível.

Sorata estava chegando ao limite da brincadeira de Misaki. Nesse ritmo, seu cérebro iria explodir.

— Agora, mudando de assunto para algo sem tanta importância!

Misaki de repente apontou para Sorata.

— Há algo que eu quero te dizer!

— Isso já era um assunto sem tanta importância!

Misaki moveu o dedo que estava apontando para Sorata para outro lugar. Ela parou e apontou para o relógio.

— Esse relógio aí tá quebrado.

— Quê?

Ao ouvir suas palavras, ele conferiu o relógio. O ponteiro dos segundos realmente não havia se movido desde que ele acordou.

— Eita! Então que horas são?

Sorata rapidamente olhou para a tela do seu telefone. O relógio digital indicava que eram oito horas. Ele já deveria estar se preparando para ir para a escola. Então era por isso que já estava tão claro, mesmo com a luz apagada.

— Droga, a bateria deve ter acabado...

— Não é isso, Kouhai-kun.

— O que é, então?

— Eu tô com a bateria!

Misaki segurou a bateria bem alto.

— Não faça uma coisa dessas comigo!

Sorata gritou isso para Misaki enquanto saía correndo do quarto. Não era hora de ficar lá. Do Sakurasou para a escola era uma caminhada de 10 minutos. Normalmente, ele saía do dormitório às 8h20 da manhã. Se ele se apressasse, seria capaz de chegar na hora certa, mas isso só se aplicava se Sorata estivesse sozinho. Sorata tinha alguém para cuidar: a residente do Quarto 202, Mashiro Shiina. Levava 5 minutos para acordá-la, 5 minutos para pentear o cabelo, 5 minutos para trocar de roupa e mais 5 minutos para as outras coisas. Além disso, Mashiro levaria ainda mais tempo do que o necessário, e Sorata sabia disso.

Enquanto corria pelo corredor tentando pensar em uma maneira de evitar o atraso, Misaki passou correndo por ele.

— Tô indo!

Misaki correu para fora da porta da frente com entusiasmo. Sem prestar atenção nela, Sorata correu para o banheiro para lavar o rosto. Naquele momento, ele sentiu algo macio sob seu pé. Surpreso, Sorata parou.

Desajeitadamente, olhou para baixo no chão do banheiro.

Algo havia caído ali. Era um par de pijamas feminino. Era uma camisola com rendas. Junto disso, havia uma alcinha que parecia ser um conjunto com a camisola que etava jogada pelo chão.

Sem ficar envergonhado ou chocado, Sorata olhou casualmente para cima. Ele já sabia quem era a dona das roupas.

Afinal, eram as roupas que Sorata colocou para Mashiro na noite anterior... Era óbvio que ele sabia de quem eram.

— Ela deixou para trás igual uma cobra trocando de pele...

Como Sorata não queria deixá-las jogados por aí, ele as pegou e guardou no cesto.

— Será que eu sou a mãe dela ou algo assim?

Ele pegou as calcinhas por último.

Naquele instante, seu coração começou a bater mais rápido.

O tecido em sua mão estava quente. Ainda havia o calor do corpo de alguém nele.

— Não me diga que isso é...?!

Era uma calcinha que foi usada recentemente. Sua mão começou a suar.

— Por que ela deixou isso por aí?!

Seria problemático se ele não cuidasse disso agora.

— Se alguém me ver com isso...

Sua vida acabaria se alguém o visse assim.

Atrás de Sorata, o som de passos desesperados se aproximava.

— Se alguém ver, o que aconteceria?

Todo o seu corpo congelou e Sorata virou lentamente o pescoço. A pessoa parada na porta do banheiro era sua colega de classe e residente do Quarto 203, Nanami Aoyama, que se mudou para o dormitório neste verão.

Ela já estava pronta para sair e estava vestida. Como era de se esperar de uma estudante modelo, ela não precisava se preocupar em chegar atrasada. O olhar de Nanami foi, imediatamente, para a mão de Sorata. Em sua mão, ele segurava um pijama, uma camisola e uma calcinha enrolada.

— Antes de qualquer coisa, eu quero dizer algo primeiro, então você vai me ouvir, certo?

— Tem certeza de que não quer dizer “pela última vez”?

Nanami estava sorrindo brilhantemente como se algo bom tivesse acontecido.

— Não é isso! Eu só tô fazendo o meu dever!

— Parece mesmo... Em todos os sentidos.

O rosto sorridente de Nanami era arrepiante. Seus olhos não pareciam estar combinando com o sorriso.

— E então, o que você acha que isso parece?

— Parece com um tarado mexendo na roupa íntima de alguém.

Ela não hesitou em sua resposta.

— Você tá julgando as coisas de forma precipitada.

— Não, eu já entendi tudo, lixo humano.

Nanami estava fazendo um olhar de desprezo para Sorata.

— Eu tô te falando, não é isso! Foi a Shiina que jogou tudo isso no chão.

— Oh. Então agora você vai culpar a Shiina depois de você tocar e até mesmo sentir o calor.

Sorata empurrou apressadamente as roupas de dormir e as roupas íntimas na máquina de lavar. Agora não era hora de ser repreendido por Nanami. Sorata lembrou que tinha que se preparar para ir à escola.

— De qualquer forma, cadê a Shiina?

Na pergunta de Sorata, a porta do chuveiro abriu.

— Você me chamou?

O vapor do chuveiro fluiu para fora do banheiro e embaçou o espelho. Por reflexo, Sorata olhou para onde veio a voz. No vapor, estava Mashiro, nua. Sua figura esbelta e perfeita, bem como sua pele branca, estavam cegando a visão de Sorata. Mashiro olhava para Sorata. Sorata também olhava para Mashiro. Os dois apenas piscaram em sincronia. Sem gritar ou entrar em pânico, Sorata bateu a porta do chuveiro com um estrondo.

— Problema resolvido.

— Explique como isso foi um “problema resolvido”.

Nanami olhou ferozmente para Sorata com as mãos nos quadris.

— Você tá muito enganada se pensa que eu entraria em pânico com uma situação como essa que só acontece nas novels ou animes.

— Acho que você não deveria estar dizendo isso enquanto está com o nariz sangrando.

— Eh, sério?

Depois de limpar o vapor do espelho, Sorata checou seu reflexo. Por algum motivo, ele realmente estava com o nariz sangrando, então ele rapidamente estancou o sangramento com alguns lenços de papel.

Atrás dele, a porta do chuveiro se abriu ligeiramente. Vendo através do reflexo no espelho, ele avistou Mashiro colocando a cabeça para fora pela pequena abertura, igual a um pequeno animal.

— O Sorata é um ladrão de calcinhas?

— Não sou!

— Então, você apenas espiou?

— Foi apenas um acidente!

— Você quer ver?

— Se você me mostrar.

Sorata desistiu e respondeu Mashiro sinceramente.

— Não leve isso a sério, Mashiro!

Foi Nanami quem disse isso.

— Se o Sorata realmente quiser ver...

— Ah, certo! Então vamos apenas fingir que eu quero!

— Não brinque com ela! Vá se trocar agora, Mashiro!

Nanami agarrou a roupa de Sorata e o arrastou para fora do banheiro.

— Shiina, se apresse.

Enquanto dizia isso, Sorata fechou a porta e preparou seu coração para a conversa fiada de Nanami. No entanto, Nanami só suspirou baixinho. Ela deve ter ficado cansada disso. Parecia que ela já havia desistido. Teria sido melhor se ela o insultasse.

— Vou sair primeiro.

— Eu te imploro, apenas me insulte!

— Sorata, apenas pense no que você acabou de dizer. Porém, talvez seja tarde demais agora.

Ela deve ter ficado realmente cansada disso tudo.

— Não! Eu só quis dizer para ficar aqui e não me abandonar!

— Seja o que for que você quis dizer, eu não tenho tempo, então vamos parar por aqui. A partir de hoje, tenho reuniões do comitê pela manhã.

— O que? Que comitê?

— Comitê de Planejamento do Festival Cultural.

— Ehh, você tem uma tarefa bem problemática.

No ensino médio de Sorata, o festival cultural era famoso por não ser como os festivais das escolas comuns, devido à sua associação com a Universidade de Artes da Suimei. Todos os anos, a partir de 3 de novembro, eles realizavam o festival cultural durante uma semana, que também juntava os mercados e lojas próximas — o suficiente para dizer que era mais um festival comunitário do que escolar. Não precisava dizer que o festival era o maior e mais extravagante do bairro.

Assim, estar no Comitê de Planejamento do Festival Cultural era muito gratificante, mas era infame por ser muito complicado e estressante.

— Aoyama, você vai ficar bem?

Seria tranquilo se Nanami fosse apenas uma estudante comum enquanto ajudava no comitê, mas no caso dela, ela estava trabalhando para pagar suas próprias taxas de matrícula, além de fazer curso para alcançar seu sonho de se tornar uma dubladora. Lidar com tudo isso sobrecarregaria o seu corpo e mente... Nanami já ficou doente uma vez por causa disso, então Sorata estava bastante preocupado com ela.

— Eu vou ficar bem.

Você dizendo que vai ficar bem não é muito convincente.

— Eu não sei o que fazer depois de ouvir isso de você... Quando eu estiver muito, muito ocupada... vou depender da sua ajuda, Sorata, então...

Enquanto ela falava, sua voz ia baixando mais e mais. Ela olhou levemente para cima para Sorata com olhos trêmulos.

— Tudo bem por você?

— Sim, bem, pra mim tanto faz.

Sorata sentiu algo estranho ao ver Nanami assim. Deve ser porque ele se sentiu feliz por poder ajudar alguém forte como Nanami.

— Se você diz. Eu posso realmente pedir ajuda à você no futuro, sabe?

— Bom, pode contar comigo.

— Não esqueça o que você disse hoje.

— Tudo bem. Aliás, eu não vou agora, então você deveria ir para a escola antes que se atrase.

— Isso é o que eu deveria estar dizendo à você. Então, te vejo na escola.

Acenando com a mão, Nanami foi em direção à porta enquanto corria dando pulinhos. Alguma coisa boa aconteceu com ela?

— Ver vocês dois logo de manhã me deixa enojada.

Quem disse isso enquanto se aproximava da porta foi a supervisora do Sakurasou, Chihiro Sengoku. Ela estava usando maquiagem pesada e um terno chique. Parecia que ela havia se preparado muito para isso. Talvez porque hoje era o primeiro dia do semestre? Ou ela marcou uma reunião à tarde? Bem, o motivo não importa muito agora...

— Você não sente nada ao dizer que fica enojada vendo seus próprios alunos?

— Kanda, se você chegar atrasado logo no primeiro dia do semestre, vou fazer você se arrepender disso para sempre.

— Não sei bem como dizer isso, mas você é mesmo incrível. Eu te admiro muito.

— Eu já sou uma adulta, vou ter problemas se você ficar falando essas coisas.

Sorata não conseguia acreditar que essa fosse uma das professoras mais respeitadas na escola. O mundo realmente é um lugar confuso.

— Leva a Mashiro e o Akasaka, também.

— Para de jogar essas coisas pra cima de mim! A Shiina tudo bem, mas você sabe que é impossível levar o Akasaka!

A pessoa que ficava ao lado do quarto de Sorata: Ryuunosuke Akasaka, do quarto 102, era um recluso que não vai à escola há mais de 5 anos. Era bem difícil ver o Ryuunosuke pelo Sakurasou, então, às vezes, eles esqueciam que Ryuunosuke Akasaka ainda morava lá.

— Nossa, você é tão malvado. As pessoas devem valorizar os amigos.

— E as professoras devem valorizar os alunos!

— Por que eu faria isso~? Não vão me dar nada em troca por isso.

Depois de dizer essas palavras frias, Chihiro saiu do quarto.

Sendo deixado para trás, Sorata foi até a porta do quarto 102 no corredor.

— Ei, Akasaka! Hoje é o primeiro dia do segundo semestre.

Como já era esperado, ninguém respondeu.

Ele pensou que deveria enviar uma mensagem em vez disso, então Sorata voltou para seu quarto e pegou o telefone.

— Hoje é o início do segundo semestre.

Quando enviou a mensagem, a resposta veio quase que instantaneamente.

Provavelmente quem a enviou foi Maid-chan, a IA feita para responder mensagens automaticamente.

— ^ Ryuunosuke-sama está pensando sobre a importância das crianças fazerem exercícios na escola e ganhar recompensas por isso. — De Maid-chan, que quer dar uma recompensa para o mestre. ^

A resposta não veio de Ryuunosuke, como já era esperado. Aliás, o que era isso que Ryuunosuke estava fazendo?

Será que foi apenas mais uma piada sem sentido da Maid-chan? Provavelmente foi apenas uma piada. Vamos deixar assim.

Sorata desistiu de Ryuunosuke sem nem pensar muito e voltou ao banheiro para falar com Mashiro. Já que ele a deixou sozinha por um bom tempo, ela já deveria estar vestida, pelo menos.

— Shiina, você tá pronta?

— Sorata.

— Se não tiver terminado ainda, se apressa. Vamos nos atrasar.

— Você não trouxe a minha roupa.

— E por que você só diz agora?! O que você ficou fazendo aqui durante esse tempo todo?

— Fiquei aqui pelada.

Sorata ouviu essas palavras enquanto subia as escadas e quase caiu para trás.

Ele entrou no quarto de Mashiro, pegou o uniforme e uma calcinha rosa que estava jogada no chão, voltou para o banheiro com uma toalha de banho extra, só para garantir.

Ele passou o uniforme para Mashiro pela abertura na porta.

— O uniforme?

Ela fez uma pergunta inesperada.

— O segundo semestre começa hoje.

— ... “Segundo semestre”?

Ela repetiu a palavra como se não soubesse o que significava.

— Você sabe o que é o segundo semestre?

— Já ouvi falar.

— Hm.

— Mas eu nunca comi isso antes.

— Você vai ter indigestão se comer uma coisa dessas!

— Sério?

— Não importa, apenas se vista rápido! Se nos atrasarmos, vou me arrepender disso pelo resto da minha vida!

Sorata voltou ao seu quarto para se trocar após dizer isso para Mashiro. Ele pegou sua bolsa e subiu novamente.

Ele arrumou a mochila de Mashiro e correu escada abaixo mais uma vez. Por que ele tinha que correr para todo lado como se estivesse em uma maratona? Ele não esperava que isso fosse acontecer logo pela manhã... Pelo visto, nada mudou por aqui.

Quando ele voltou, Mashiro já havia se trocado e estava na frente do banheiro. No entanto, seu cabelo ainda estava úmido, ela só estava calçando uma única meia, e a blusa dela estava amassada.

— Ei~, fala sério! Você não consegue nem se vestir sozinha?

— Foi você quem me disse para fazer isso rápido.

— Mas faça certo, pelo menos!

Ele secou Mashiro com a toalha de banho. Como não tinha mais tempo, desistiu de usar a secadora para o uniforme. Ele pegou a outra meia na cesta e se agachou aos pés de Mashiro.

— Ei, levante o pé.

Mashiro levantou a perna direita. Era o lado que já estava com a meia.

— Você tá tentando ser engraçada?

— Não.

— E porquê fez isso?!

— Não sei.

— Levanta logo o pé!

Desta vez, Mashiro levantou o pé esquerdo. Ele colocou a meia no pé liso e branco de Mashiro. Ele a fez arrumar a saia sozinha e, agora, eles estavam prontos...

Foi o que ele pensou, mas notou outro pedaço de pano na cesta.

Era uma calcinha rosa.

— Ei...

Mashiro estava saindo do banheiro.

— Sorata, nós vamos nos atrasar.

— Vista a calcinha primeiro!

— Mas e se nós nos atrasarmos?

— E o problema é só esse?!

Sorata se lembrou de uma coisa que aconteceu uma vez.

Foi por volta de abril. Teve um dia em que Mashiro foi para a escola sem a calcinha.

Naquele dia, a mente de Sorata estava lotada de... calcinhas? Isso fez ele enlouquecer.

Ele não queria passar por aquela experiência traumática novamente.

Sorata entregou a calcinha para Mashiro.

— Mas você quem me disse para eu me apressar.

— Não se esqueça de algo que é mais importante que sua própria vida!

Mashiro parecia não se importar muito se Sorata estava ali, pois ela apenas passou a calcinha pelas pernas e a vestiu.

Como ela fez isso sem nem pensar, Sorata não conseguiu desviar o olhar.

Mashiro se inclinou enquanto vestia a calcinha. Com a bunda para fora, Mashiro levantou o pano rosa até suas partes íntimas. Parecendo orgulhosa de si mesma, ela arrumou a saia e passou a blusa por dentro.

— E-E-E-E-Ei!! Ei, você!

— Você está gaguejando.

— Não estou fazendo isso porque eu quero! Você me assustou, droga!

— Sorata, você está agindo estranho.

— E se eu tivesse visto aquilo?!

Mashiro verificou a saia.

— Você viu?

— Não, mas tenha mais cuidado da próxima vez!

O importante não era se ele viu ou não, mas sim que os atos de Mashiro faziam Sorata imaginar coisas erradas.

— Você realmente deveria se preocupar mais com essas coisas.

Hoje era o início do segundo semestre, mas Sorata estava nervoso com o que poderia acontecer na escola se as coisas continuassem assim.

— Não se preocupe.

— Eu não confio na sua palavra.

— Eu sei que você não vai fazer nada, Sorata.

— Não confie tanto em mim! Pelo menos suspeite que eu vá fazer algo!

Com a resposta desesperada de Sorata, Mashiro perdeu o interesse na conversa e estava olhando para outro lugar.

— Ei, Sorata.

— O que é agora?!

— Nós vamos nos atrasar.

— Me irrita ouvir isso vindo de você!

Percebendo que eles não tinham tempo suficiente, Sorata agarrou a mão de Mashiro e a puxou para fora.

O relógio marcava 8h30.

Se corressem, poderiam chegar a tempo. No entanto, durante as férias de verão, Sorata descobriu que Mashiro não é muito boa correndo. Além disso, para piorar as coisas, Mashiro não corria sozinha, ela tinha que ser puxada por outra pessoa. Se os dois chegassem à escola com Sorata segurando a mão de Mashiro, ele não sabia que tipo de rumores poderiam se espalhar pela escola.

— Não tenho outra escolha.

Sorata olhou para a bicicleta estacionada no quintal. Era uma bicicleta velha que algum supervisor antigo deixou lá há alguns anos.

Estava enferrujada e velha, mas daria para usar desde que ela andasse.

Ele colocou sua bolsa e a bolsa de Mashiro na cesta e se sentou no banco.

— Shiina, suba! Rápido, rápido!

Mashiro se sentou silenciosamente na parte de trás.

— Segure firme para não cair.

Mashiro colocou os braços ao redor de Sorata. Ele podia sentir o calor dela em suas costas.

Seu corpo era esbelto e macio. Dava para sentir um cheiro doce vindo dela, já que ela havia tomado banho mais cedo.

— Não aperta muito! Posso desequilibrar e cair!

— Sorata, você é sempre tão egoísta.

— Só aceito ser julgado em um tribunal!

Tentando não pensar muito na pessoa que estava atrás dele, Sorata pedalou com toda força.

Quando a bicicleta saiu do Sakurasou e começou a descer a ladeira, ela começou a acelerar.

A sensação do vento soprando enquanto eles desciam era refrescante. Ainda estava úmido, mas como hoje era primeiro de setembro, o ar tinha um cheiro de outono, e o céu azul tinha algumas nuvens que estavam quase sumindo.

Sorata sentiu como se o cenário estivesse lhe dizendo que as férias de verão haviam acabado. Ao mesmo tempo, suas preocupações desapareceram igual as nuvens no céu.

Ele estava se sentindo completamente diferente de como se sentia do ano passado, quando disse que sua vida era chata, sem graça ou que desejava uma máquina do tempo.

Ele se sentiu assim por causa da apresentação que ele foi chamado? Ou foi porque ele conheceu Mashiro? Ele não sabia a resposta. Embora ele não soubesse a resposta, ele sabia que estava ansioso para seguir em frente.

Era impossível de suportar essa sensação, ele sentia como se quisesse chegar ainda mais longe.

Então, ele estava muito feliz com o início do segundo semestre. Por algum motivo, Sorata realmente se sentiu feliz enquanto pedalava a bicicleta.

Os sentimentos nervosos que ele teve esta manhã agora se tornaram sua força para pedalar.

— Ei, Shiina.

— Você sempre quebra a nossa promessa, Sorata.

Sorata havia prometido chamar Mashiro pelo primeiro nome quando estivessem sozinhos.

— Ei, Mashiro.

Sorata ficou um pouco nervoso.

— Oi?

— Se esforce com a sua serialização.

— Sim.

Sorata sentiu que Mashiro o apertou um pouco mais forte. Mas poderia ter sido apenas imaginação.

— Se esforce também, Sorata.

— Huh?

— Vou torcer por você.

Com as palavras inesperadas de Mashiro, Sorata não conseguiu pensar em uma resposta.

Ele tentou conter esse sentimento inesperado, mas foi inútil, pois o seu rosto já estava vermelho. Ele nunca soube...

Ele nunca soube que era tão bom ter alguém torcendo por ele.

Ele começou a pedalar mais rápido. Ao fazer isso, ele sentiu Mashiro segurando nele ainda mais forte para que ela não caísse.

Mashiro sempre surpreendeu Sorata com algo. Na primeira vez, ele ficou supreso apenas por vê-la de longe. Depois, ele se surpreendeu com a incrível capacidade de Mashiro não conseguir cuidar de si mesma. Finalmente, ele percebeu que, provavelmente, estava se esforçando tanto graças a Mashiro.

E agora, ele estava acostumado a todas as coisas animadas que aconteciam diariamente. Até algum tempo atrás, ele achava que todas essas coisas eram inúteis. Mas, agora, ele não se sentia mais assim. Ele estava gostando dessas coisas.

— Por enquanto, vou estudar bastante programação. Devo continuar a enviar propostas de jogos, mas quero criar um jogo que eu mesmo possa testar.

Sorata começou a pensar isso, porque ele não queria estudar apenas para apresentar bem suas ideias, mas também para criar seu próprio jogo.

Quando eles estavam passando perto do playground, Mashiro apoiou a cabeça nas costas dele. Tendo um mau pressentimento sobre isso, Sorata olhou para trás apenas para encontrar Mashiro com os olhos fechados. Ela estava dormindo. Enquanto ela respirava, seus ombros iam mexendo para cima e para baixo.

— Não dorme!

— Estou acordada.

— Ah, então tá bom. Mas tente não pegar no sono.

Eles estavam tão rápido na bicicleta, que o cenário ao redor era apenas um borrão passando.

— O que você estava falando com a Nanami?

Mashiro perguntou isso ainda com os olhos fechados.

— Vocês estavam conversando na frente do banheiro.

— O que? Ah, era sobre... o Comitê de Planejamento do Festival Cultural.

— Só isso?

— Sim, o que foi?

— Que bom.

— O que? O que você tá dizendo?

— Você e a Nanami são tão próximos.

— Nós não somos tanto assim.

— Não invente desculpas.

— Eu não tô inventando nada! O que eu quero saber é por que você tomou banho de manhã.

Essa foi a primeira vez que eu vi a Mashiro tomar banho de manhã desde que ela veio para o Sakurasou, em abril.

— Porque meu cabelo estava com cheiro de tinta.

— Você parece ter bastante tempo livre pra estar pintando logo de manhã.

— Sempre quis fazer um mural pelo menos uma vez.

O que Mashiro acabou de dizer? “Um mural”. Foi o que ela disse.

— Calma aí um pouco!

O sinal fechou, então Sorata freou de vez. Devido às leis da física, Mashiro foi empurrada pra frente e bateu nas costas de Sorata.

— Meu nariz está doendo agora.

— Esse não é o problema! Quando você diz “mural”, você quer dizer a pintura no meu quarto?

— Sim.

— Então você também estava envolvida.

— Você não disse que não podia.

— Como vou dizer alguma coisa se eu estava dormindo?!

—Normalmente, as pessoas acordam quando falam com elas.

— Eu não quero ouvir isso de você!

Se Sorata estivesse fazendo as mesmas coisas de sempre, ele provavelmente teria acordado. No entanto, ele estava muito cansado devido a apresentação do jogo que ele deu pela primeira vez em sua vida. Levando em consideração o tempo que ele levou para se preparar, foi uma semana inteira. Então, quando ele terminou, era normal que ele ficasse muito cansado para dormir tanto assim.

— Ein, o Corcunda, é assustador.

— Então você ajudou nisso tudo?!

— Ele é muito forte.

— Quanto?

Ele desistiu de tentar falar normalmente com ela.

— Uma coisa sai dele.

— De onde? O que sai?

— Dor.

— Agora eu quero muito saber como ficou!

— Ele veio para destruir o Nyaboron.

— É realmente tão interessante assim? Você é fã das coisas da Misaki-senpai?

— Eu gosto da Misaki. Ela é fofa e engraçada.

— Eu também não vejo ela como uma pessoa ruim. É só que ela é muito enérgica às vezes!

Como Sorata estava parado no semáforo conversando com Mashiro, um policial, que parecia estar na casa dos 30 anos, parou sua bicicleta ao lado da deles.

Quando seus olhos se encontraram, Sorata o cumprimentou levemente.

— O-Olá.

— Olá.

O policial o respondeu alegremente. Era importante manter um relacionamento amigável com os membros da cidade.

O sinal ainda estava fechado.

O policial viu Mashiro na garupa da bicicleta. Ele abriu a boca para dizer algo, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Sorata interrompeu.

— Ainda tá calor, mesmo sendo setembro, né?

— Hum? Ah, sim.

O sinal finalmente abriu.

— Então, tô indo para a escola.

Sorata falou educadamente e começou a pedalar com força total.

— Claro, tomem cuidado... Não é isso, ô garoto! Eu sabia! Pare aí mesmo! É perigoso duas pessoas andarem juntas!

— Caramba! Achei que tinha enganado ele.

O policial estava logo atrás deles.

— Por favor, deixa a gente passar só dessa vez!

— As leis são aplicadas a todos igualmente!

— Não é algo tão sério assim!

Sorata acelerou ainda mais. Ele estava colocando toda a sua força para pedalar.

— Ei! Para aí, garoto!

— Você vai assumir a responsabilidade se eu me atrasar?

— Isso não é responsabilidade da polícia!

— Então, eu lamento, mas parece que é impossível chegarmos a um acordo!

Ele pedalou ainda mais rápido.

— Sorata.

Mesmo em uma situação como essa, a voz de Mashiro estava calma.

— Agora não!

— É algo importante.

— Então diz logo!

— Tem uma pessoa estranha nos seguindo.

— Isso eu sei!

— Devo denunciar para a polícia?

— Essa “pessoa estranha” é a polícia!

O policial continuou a seguir Sorata.

— Pare! Eu te disse para parar! Você ainda tá na escola, mas já quer sair por aí pra se divertir com a namorada, né, garoto!

— Ela não é minha namorada.

— O que é, então?!

— O Sorata é o meu mestre.

Mashiro falou coisas desnecessárias novamente.

— Você realmente precisa parar de dizer isso!

— Que tipo de relacionamento é esse?! Eu, que me formei em uma escola apenas para meninos, estou com muita inveja! Eu não vou deixar você fugir, garoto!

O policial começou a gritar bobagens que Sorata não conseguia entender.

— Por que você guarda rancor das pessoas por coisas do passado?! Para com isso!

— Você não vai escapar de mim! Pode até não parecer, mas eu era o membro mais ativo do clube dos escoteiros da minha escola!

— E eu deveria ficar com medo disso?!

Por outro lado, Sorata tinha um bom físico, pois era do clube de futebol até o início do ensino médio. Ele tinha a desvantagem de estar levando Mashiro na garupa, mas ele não estava perdendo força. Bem, ele não pode se dar ao luxo de ser pego pela polícia agora.

O policial já estava com falta de ar.

— Pare aí mesmo! Eu sei que vocês moram no Sakurasou! Não pensem que podem escapar!

— Quer dizer que até a polícia tá de olho no Sakurasou?! Nós não somos criminosos!

— São criminosos em potencial!

— Não fala essas coisas sem pensar!

Gradualmente, a voz do policial foi abaixando.

— P-Pare.... Por favor... estou te pedindo...

O policial estava, definitivamente, ficando mais lento.

Sorata percebeu que essa era a chance, então ele usou toda força que restava e acelerou. Os músculos de sua coxa estavam gritando de dor. A perna dele já estava ficando dormente. No entanto, ele não cedeu e continuou a pedalar.

— Eu... não vou... ficar bravo... então... pare...

Deixando o pobre policial para trás, Sorata desacelerou um pouco.

Quando Sorata finalmente chegou à escola, ele ignorou os olhares dos outros alunos e deixou a bicicleta junta das outras. Havia muitas pessoas que estavam chegando na mesma hora que Sorata e Mashiro.

Nesse ritmo, o boato de ele vir para a escola junto de Mashiro vai se espalhar como um incêndio pela escola e, óbviamente, vão aumentar a história transformando em um romance de verão, mas ele não tinha tempo para pensar nessas coisas.

Graças à correria com o policial, Sorata estava exausto.

Ele saiu do assento da bicicleta e deitou em um banco próximo. Suas pernas esticadas estavam tão dormentes que ele sabia que não iria conseguir andar agora.

Ele respirou profundamente.

— Vá... para... a aula... primeiro.

— Certo.

Mesmo que Mashiro tenha concordado, ela nem saiu do canto.

— Eu tô bem.

— Certo.

Mas Mashiro ainda não saiu.

— Você vai esperar por mim?

Mashiro balançou a cabeça para negar.

— Onde ficam os armários de sapatos?

— Eu deveria saber.... Você é sempre assim. Apenas espere um pouco. Vou me recuperar logo.

Ainda respirando com dificuldade, ele lutou para se levantar.

Enquanto tentava andar para dentro da escola, ele viu um carro do lado de fora dos portões. Alguém que Sorata conhecia bem saiu do banco do passageiro do carro. Era o morador do quarto 103, Jin Mitaka, do 3º ano.

Jin acenou para a pessoa que estava dentro do carro e, depois, pulou os portões, que já estavam fechados, e caiu dentro da escola.

Quando Jin levantou a cabeça, ele viu Sorata e Mashiro 3 metros à sua frente e se aproximou deles enquanto bocejava.

— Então vocês estão vindo para a escola em um adorável passeio de bicicleta? Que inveja.

— Achei que a gente ia morrer, um policial nos perseguiu.

Quando Jin parou para falar bem na frente deles, Sorata notou um arranhão na bochecha de Jin.

— E essa ferida? Aconteceu algo?

— Huh? Ah... A Noriko me arranhou.

Jin imitou com a mão como ela fez. Vendo a ação, Sorata franziu a testa. Mashiro olhou, fascinada, para a ferida de Jin.

— O que você fez para se arranhar assim?

— Eu não sabia que as garotas ficavam chateadas quando eu falo o nome de outra enquanto tô dormindo.

Ao dizer isso, Jin começou a andar para as salas de aula.

Sorata seguiu o exemplo e levou Mashiro junto.

— Não dói?

— Dói e muito.

Mas Jin ainda estava sorrindo.

— Mesmo depois que eu perguntei a ela que nome eu disse em voz alta enquanto dormia, a Noriko não me contou. Ela nem falou comigo no carro, então fiquei com um pouco de medo. Foi a Asami? A Kana? Ou deve ter sido a Meiko, a Suzune ou a Rumi... Eu realmente não consigo me lembrar. Mas bem, foi isso que aconteceu comigo quando eu estava dormindo tão pacificamente.

— Você deve ter dito o nome da Misaki-senpai, sem dúvida.

— ...

De repente, Jin parou de falar. Mas ele rapidamente voltou ao normal e levantou os ombros como brincadeira.

— Nossa, você ficou bastante espertinho, hein, Sorata.

— Acho que não conseguiria dizer para as pessoas que eu dormi na casa de alguém que me arranha enquanto durmo.

Se mais alguém perguntasse sobre isso a Jin, ele não teria como fugir.

— Ainda tô tentando pensar em alguma desculpa boa para dar. Tem alguma sugestão?

— Acho que, no Sakurasou, basta você não tocar no assunto.

— Bem, até que faz sentido.

Sorata esperava que Jin zombasse dessa ideia, mas ele aceitou.

— Eu não vou conseguir dormir por um tempo.

— Aconteceu algo?

— Huh? Ah... A Misaki não te contou?

Se era algo relacionado a Misaki, então deve ser sério.

— Espera, o que foi? O que houve?

— Não foi nada.

— Até parece! Me conta.

Enquanto conversavam, eles chegaram aos armários de sapatos. O sinal tocou, marcando o início do segundo semestre. Os alunos ao redor dos três estavam correndo para suas salas de aula. Jin saiu dizendo “Você deveria se apressar também”.

Mashiro estava fazendo tudo no seu próprio tempo, como de costume, enquanto calçava seus sapatos.

— Se apresse! Eu vou te deixar para trás, viu?!

Se eles chegassem atrasados, Sorata ficaria com medo de Chihiro pelo resto da vida.

Como os alunos do curso geral tinham que ir para a direita, e os alunos de artes para a esquerda, Sorata teve que ir para uma direção diferente de Mashiro.

— Ei, Sorata.

Mashiro segurou a manga do uniforme de Sorata quando ele estava prestes a sair correndo.

— O que foi?

— Onde fica a minha sala de aula?

— O quê?

O que essa pessoa estava dizendo?

— Onde fica a minha sala de aula?

Mashiro repetiu a pergunta.

— Como você pode esquecer onde fica sua sala de aula durante as férias?!

Ao grito de Sorata, Mashiro inclinou a cabeça para o lado.

— Não me diga que... Eu preciso te mostrar a escola toda, tudo de novo...

— Certo.

— E que você quer dizer com “certo”?!

E assim, o segundo semestre começou, com os suspiros profundos de Sorata.
 

Parte 2


Ele entrou na sala, que estava barulhenta como sempre, depois de 40 dias de férias de verão.

A sala de aula estava cheia de alunos que falavam sobre suas férias de verão como se estivessem competindo entre si. A maioria deles estava reclamando sobre o segundo semestre estar começando, mas ao mesmo tempo, eles pareciam um pouco animados e ninguém parecia estar, realmente, reclamando. Eles estavam apenas dizendo que ia ser chato um semestre novo, e alguns só estavam falando sobre para seguir o assunto.

Eles estavam apenas tentando aceitar o que acabou de acontecer. Afinal, eles estavam no segundo ano do ensino médio, então era normal sentir saudades das férias de verão.

Outra parte dos alunos da sala de Sorata estavam falando sobre namoro e essas coisas, devia ser porquê eles estavam passando por essa fase da adolescência.

Eles falavam alto de quando eles conseguiram pegar o número da pessoa que gostam. Ou, de quando estavam indo pra casa, e ficaram tão felizes por namorar alguém, que acabaram chutando um poste, apenas para comemorar, e acabaram quebrando o pé no processo. Ou, sobre quando eles mandaram mensagem para a garota que gostam, mas ela acabou não respondendo.

Além desses assuntos, também havia uns rumores sobre “alguém estar saindo com fulano”, ou sobre “alguém” que virou adulto durante as férias. De onde eles tiravam tantas informações?

E um ótimo lugar para inventar rumores era, justamente, o Sakurasou.

— Ei, pessoal, cês tão sabendo? Ouvi dizer que a Aoyama se mudou pro Sakurasou só pra ficar com o Kanda.

Ela não tinha se mudado por causa de Sorata.

— Não, não foi bem assim. Ouvi de uma fonte confiável que, aparentemente, o Kanda disse para ela “Apenas me siga.”, e forçou ela a entrar no quarto dele.

Quem forçou ela a se mudar para lá foi Misaki, se parar pra pensar... Aliás, quem era essa tal de “fonte confiável”?

— Olha...~ Ouvi dizer que eles até dividem o mesmo quarto~ Kyaah~ A Nanami é tão ousada assim?

Como a conversa chegou nesse ponto?

— É segredo, mas fiquei sabendo que ela tá grávida.

Se é segredo, por que você fala para a sala inteira...? Não, isso nem era verdade.

— Eu não estou grávida!

Nanami, que ouviu tudo, gritou.

— Pera, então o resto é verdade?

O garoto rebateu.

— N-não! Nós ficamos em quartos separados! Então, por favor, não fiquem inventando essas coisas! Olha lá, hein!

Embora Nanami estivesse falando isso com seriedade, o rosto dela estava super vermelho, então as palavras dela não adiantaram muito...

— Kanda, não fica aí calado e me ajuda!

— Ehh~, não tenta me meter nisso também...

Mesmo que ele tentasse dizer algo, não adiantaria nada.

Depois, duas garotas que eram amigas de Nanami foram até ela... Uma garota alta e de cabelos curtos, chamada Yayoi Honjo, membro do clube de softball, e a outra garota do cabelo curto era Mayu Takasaki. Nanami ficou presa enquanto as duas faziam perguntas. Elas pensaram que podiam fazer várias perguntas assim para Nanami, já que ela estava corada.

Além dos rumores sobre Nanami, tinham alguns sobre o Sakurasou em específico, de quando eles invadiram a escola à noite para nadar pelados na piscina, ou sobre quando eles estavam testando fogos de artifícios para explodir a escolha.

Graças a tudo isso, Sorata e Nanami não conseguiram descansar o dia inteiro.

 

 

— O primeiro dia foi muito cansativo, por vários motivos.

Enquanto os membros do Sakurasou se sentavam ao redor da mesa para jantar, Nanami reclamava com eles sobre o que aconteceu no primeiro dia.

— Então, a partir de agora, por favor, tentem se comportar como estudantes normais do ensino médio. Entenderam?

Aliás, eram sete horas da noite.

A mesa estava cheia, com seis pessoas sentadas. Em sentido horário, estavam: Chihiro, Misaki, Jin, Sorata, Mashiro e Nanami.

Sobre a mesa havia peixe grelhado acompanhado de berinjela, ovos feitos no vapor, arroz e sopa de missô. Todos os pratos foram preparados por Jin.

— Estão me ouvindo?

Nanami perguntou com uma voz ameaçadora.

— Sim, sim.

Jin respondeu desanimado.

— Não diga duas vezes!

— Siiiiimmmm~.

Desta vez, foi Misaki quem respondeu.

— Não estique a resposta!

Enquanto comia o peixe grelhado, Sorata olhava para Nanami, que estava se esforçando ali.

Ao lado dele, Mashiro estava sentada, com uma expressão que fazia parecer que ela não era parte do problema, enquanto tentava tirar todos os vegetais do prato dela.

Ela tirou todos os vegetais do prato e, com eles na colher, levou eles até a boca de Sorata, para que ele comesse.

Já que ele não disse a ela para não fazer isso antes, Sorata teve que comer. Ele mastigou todos os vegetais.

Sem se importar muito com a colher que Sorata havia colocado na boca, Mashiro comeu alguns ovos cozidos no vapor usando ela.

— Shiina, escuta o que a Nanami tá dizendo!

— Por que?

— Ela disse que devemos nos comportar, não é? Isso inclui você também.

— E você também, Kanda.

Nanami usou um ataque surpresa em Sorata.

— O que? Eu também?

Ele não esperava por isso.

— Agora você também tem que ouvir ela, Sorata.

Por algum motivo, Mashiro parecia muito orgulhosa de si mesma, enquanto Nanami parecia estar cada vez mais desconfortável.

Sabendo que não levaria a lugar nenhum discutir com ela, Sorata respondeu desanimado:

— Belê.

— Responda com um “sim”! “Belê” não é resposta!

Observando Nanami criticando até os pequenos detalhes, Chihiro bebeu um pouco de cerveja e observou tudo com um pequeno sorriso. Não importava como você olhasse, Nanami estava, realmente, fazendo o trabalho de Chihiro. Afinal, Chihiro deveria ser a professora responsável por cuidar do Sakurasou.

— Tô tããão feliz que a Aoyama tá aqui~.

Chihiro falou isso do fundo de seu coração e suspirou profundamente.

— Será que algum dia eu poderei ter paz...?

De repente, Nanami falou para si mesma.

— Se eu encontrar isso por aí, te empresto um pouco.

— Obrigada... Vou esperar pacientemente.

Parece que o primeiro dia de volta às aulas deixou algumas cicatrizes profundas em Nanami.

Bem, Sorata também passou pela mesma coisa no ano passado. No final do primeiro semestre, ele se mudou para o Sakurasou e, no final das férias de verão, seu mundo se tornou completamente diferente na escola... Ele percebeu que havia cruzado uma linha invisível.

— Algo bom vai acontecer em breve.

— Eu também espero.

Nanami olhou para Sorata com um sorriso, e Sorata, que não queria continuar aquele assunto, ofereceu um pouco da berinjela no prato para ela.

— Quer um pouco? Está muito bom.

— ...

Ela, sem palavras, estendeu a mão para o prato enquanto segurava seus pauzinhos, e começou a mastigar um pedaço fazendo uma cara ruim.

Parece que ele fez a escolha errada. Ele deveria ter oferecido alguns ovos cozidos no lugar.

Aproveitando que Sorata estava desatento, Misaki roubou o último pedaço que estava no prato dele.

— Ah~ o que cê tá fazendo, Senpai?!

Misaki comeu enquanto parecia orgulhosa de si mesma.

— É errado oferecer apenas para a Nanamin, queremos igualdade!

— Se você vai falar sobre igualdade, me inclui também! Aliás, alienígena não conta, viu!

— Ah, mas eu acho que você não tá precisando de ajuda por agora, Kouhai-kun.

— Eu vou deixar de ser bonzinho assim!

— Não fica tão sentido só por causa de uma berinjela, Kanda.

— O que você quer dizer com isso, Sensei?!

— Kanda, escuta. Já que não tem mais nenhum acompanhamento no prato, você pode comer só o arroz?

— Por que você faz essas coisas comigo?!

Para fazer o que Chihiro havia dito, Sorata se levantou com sua tigela de arroz nas mãos, para enchê-la de arroz, pelo menos. Mas quando ele fez isso, a campainha da porta tocou para avisar que eles tinham convidados.

Todos da mesa olharam automaticamente para Sorata.

— Tá, tá. Eu vou.

Ele já sabia que não iria adiantar de nada reclamar ou mandar outra pessoa ir, então ele apenas saiu da mesa e foi para a porta.

Calçando os chinelos, Sorata abriu a porta da frente.

Naquele instante, a visão dele se iluminou e ele teve que apertar os olhos para tentar ver o que estava ali.

Era uma garota. Uma garota com cabelos dourados que brilhavam sob o luar.

Seus olhos eram azul-claro e lembravam as praias do sul.

Suas bochechas macias estavam levemente levantadas enquanto ela sorria amigavelmente.

— Olá. Me desculpe por chegar assim de repente.

Apenas olhando para ela e ouvindo sua voz, Sorata rapidamente corou. Seu coração começou a bater mais rápido.

A blusa que ela estava usando era justa ao corpo dela, marcando a cintura. Ela usava uma saia com bordado xadrez.

Era quase como um uniforme escolar. Ela exalava um sentimento de gentileza e pureza.

— Ah~...

Ela provavelmente era mais velha que ele. Se tivesse que descrever ela em uma única palavra, a palavras seria: Linda. E ela também não parecia ser das ilhas do sul.

Com o convidado inesperado, o cérebro de Sorata congelou.

— Por acaso a minha beleza te deixou sem palavras?

A garota deu uma risadinha, talvez para deixar Sorata mais à vontade.

Ela falava japonês fluentemente, mas mesmo assim, Sorata...

— Eu don’t sei falar engrish...

Depois de dizer isso puramente por reflexo, ele fechou a porta sem nem pensar antes.

— Haah~... O que foi isso...?

Ele enxugou o suor da testa. Nem tinha suor na testa dele, isso não fez sentido.

A porta se abriu novamente do lado de fora.

Olhando para Sorata, a bela garota loira ainda estava sorrindo.

— Olha, eu tenho certeza que falo japonês fluente... você consegue me entender, não é?

— Desculpa. Meu inglês não é dos melhores, então fiquei com medo.

— Você é uma pessoa bem engraçada.

Ela cobriu a boca e deu uma risadinha. O jeito dela era de uma pessoa muito educada.

— Obrigado pelo elogio.

— Não foi bem um elogio.

— Eu sabia que você só tava brincando comigo.

— ...

— ...

Um silêncio constrangedor caiu entre os dois.

— Bem, será que você pode chamar a Mashiro para mim?

— Claro, mas pode me dizer quem é você?

Ela não parecia ser uma pessoa ruim, mas ele tinha que verificar para ter certeza.

— Peço desculpas. Meu nome é Rita Ainsworth.

Espera, Sorata já ouviu esse nome antes...

— A colega de quarto da Shiina?

— Sim, eu sou aquela Rita.

Ela sorriu brilhantemente.

E se o sobrenome era Ainsworth, então ela era da família do professor de artes de Mashiro.

Ou poderia ser uma enorme coincidência.

Enquanto ele pensava sobre isso, Mashiro apareceu atrás dele.

— Sorata, o que está acontecendo?

Assim que Mashiro viu Rita, ela arregalou os olhos.

— É a Rita!

— Mashiro!

Assim que Mashiro a viu, ela deu um sorriso, diferente do rosto inexpressivo que ela sempre faz. Mesmo descalça, ela correu em direção aos braços de Rita. As duas se abraçaram com força para confirmar que era real.

Mashiro descansou a cabeça nos ombros de Rita e fechou os olhos pacificamente. Ela parecia um gato que não demonstrava nenhum sentimento pelos outros, exceto pelo seu dono. Era o que parecia para Sorata.

— Estou feliz que você esteja bem.

Rita olhou para ela.

— Você também, Rita.

Misaki, Jin e Nanami saíram da cozinha, se perguntando sobre o que estava acontecendo.

— Uau~ é uma boneca.

Quando Misaki falou sobre Rita, Jin seguiu o exemplo:

— Ela é bem bonita, mesmo. Quem é?

Nanami olhou, sem palavras, para Rita, olhou para Sorata e, logo em seguida, olhou diretamente para Mashiro. Pouco depois, Chihiro também foi até a porta da frente segurando uma lata de cerveja na mão.

— Então, quem é, hein, Kanda...? Hmm? Ah, é você, Rita?

— Há quanto tempo. Espero que esteja bem, Chihiro.

Sorata perguntou com os olhos para Chihiro se ela conhecia Rita, mas Chihiro não respondeu. Ela voltou para a cozinha dizendo que a cerveja tinha acabado.

Sorata pensou consigo mesmo: Já que Chihiro e Mashiro são primas, não seria estranho que ela conhecesse Rita.

— O que você veio fazer aqui, Rita?

Com a pergunta de Mashiro, os olhos de Rita mudaram.

Sorata não sabia o significado da mudança. Ele não sabia, mas podia sentir a atmosfera tensa que estava vindo de Rita.

Por algum motivo, ele se sentiu desconfortável. Se ela vinha da Inglaterra só para ver Mashiro, então ela deveria ter pelo menos avisado antes. Qual era o motivo da visita de Rita? Mashiro nem sabia que Rita estava vindo. Chihiro também não.

— Acabou a magia, Cinderela.

Mashiro inclinou a cabeça, intrigada.

— Se for para dizer no estilo japonês: eu vim levar a Princesa Kaguya de volta para a lua.

Isso foi o suficiente para Sorata chegar a uma rápida conclusão. Ele entendeu o motivo da visita de Rita. Ele ficou tenso, mesmo que inconscientemente. Ele podia sentir que Jin e Nanami, que estavam atrás dele, também ficaram assim.

A única pessoa que ainda não tinha entendido era, justamente, Mashiro.

— Como assim?

Rita suspirou e olhou para Mashiro.

— Você vai voltar para a Inglaterra comigo. Agora.

— Agora?!

A pesoa que disse isso foi Sorata, surpreso. Nanami murmurou “Assim, do nada?”, também.

Rita olhou para Sorata por um momento e voltou a falar com Mashiro.

— Seu mangá foi destaque na revista, então seus pais perceberam que você veio ao Japão para se tornar uma mangaká.

Desta vez, Sorata não conseguiu falar nada. Não era algo inesperado, mas quando se tornou real, ele não soube como lidar com isso. Ele estava nervoso. Ele podia ouvir até mesmo os batimentos do seu coração.

— Então seus pais não apoiam que você faça isso, Mashiro?

Nanami sussurrou no ouvido dela. Tudo o que ela fez foi concordar com a cabeça.

— Eu não vou.

— Eu sabia que diria isso.

— ...

— Para pra pensar nisso um pouco. Sobre o seu potencial. Você é alguém que ficará marcada na história da humanidade com suas pinturas. Suas mãos são preciosas, capazes de criar obras de artes inigualáveis.

Sorata iria dizer algo como “Para chegar a dizer que ela ficaria na história da humanidade, então não deve estar exagerando”, mas o que saiu de sua boca foi apenas um barulho que ninguém pôde ouvir.

Não era uma brincadeira. Rita falou sobre “deixar uma marca na história” sem nem hesitar. E Mashiro também não havia negado isso. Ela apenas ouviu e ficou calada, como se fosse algo óbvio.

Sorata sentiu que ele estava tão distante de Mashiro, que ficou apenas encarando Rita, sem expressão nenhuma. Todos lá devem ter se sentido da mesma forma que ele.

Ninguém se atreveu a interromper as duas.

Mashiro não disse nada, e era impossível adivinhar o que ela estava pensando. Ela não parava de olhar para Rita.

— Pense um pouco. Pense em todas aquelas pessoas que derramaram lágrimas enquanto se emocionavam vendo suas pinturas. Eles estão esperando você voltar. Eles estão esperando pela sua próxima obra. Por favor, responda aos seus sentimentos dessas pessoas.

— Por que você está dizendo essas coisas?

— Não estou brincando. Isso é algo muito sério.

— Mas, Rita, você quem me incentivou a virar uma mangaká.

Ao dizer isso, Mashiro desviou o olhar pela primeira vez. Ela fez isso de uma forma derrotada...

— Isso é...

Rita também olhou para baixo. Suas pupilas estavam fora de foco quando ela disse alguma coisa para si mesma.

— Isso é... o que você pensa. Eu nunca te apoiei nisso antes.

— Rita...

— Eu não quero ver você desperdiçando seu talento em algo besta como mangá. Por favor, volte para a Inglaterra comigo.

Rita agarrou a mão de Mashiro, pedindo para que ela fosse junto.

— Eu não vou.

Mashiro soltou a mão da de Rita.

— Seus pais devem vir ao Japão em breve. Se vierem, eles cuidarão de toda a papelada da sua escola atual e vão te matricular em uma escola de inglês, mesmo que você não queira. Então, por favor, pense nisso com cuidado. Pense nisso e volte comigo.

— Vá embora, Rita.

— Eu não vou voltar até que você diga que vai comigo, Mashiro!

— Vá.

Enquanto cerrava os dentes, Mashiro estendeu as mãos e empurrou Rita para fora de casa. Rita estava olhando para ela enquanto era empurrada. Todos ali viram algo inesperado.

— Mashiro!

Ignorando os gritos de Rita, Mashiro fechou a porta. Ela trancou a porta, também. Mas ela ainda estava olhando para baixo.

— Espera! Por favor, me escuta! Mashiro!

Rita bateu na porta umas duas ou três vezes. Tudo o que dava para ouvir era o barulho das batidas.

Sem falar nada, Mashiro subiu as escadas.

— Ei, Shiina.

Sorata a seguiu até as escadas, mas sua voz não a alcançou. Deu para ouvir o som de uma porta se fechando no andar de cima.

— O que deveríamos fazer?

— Devemos realmente fazer alguma coisa? Deixe essa tal de “Rita” em paz.

— Que frio, Aoyama.

— Então você tá do lado dela, Kanda?

— Agora não é hora de falar sobre isso.

Ele desceu as escadas e voltou para a porta da frente. Já não se ouvia mais batidas na porta.

— Eu sei o suficiente sobre como é ter pessoas que são contra meus sonhos e objetivos.

Quando Nanami disse isso, ela levantou a cabeça e sorriu.

Afinal, o pai de Nanami era contra ela se tornar uma dubladora. Normalmente, ela agia como se não ligasse para isso, mas por dentro, ela estava sempre preocupada. Mashiro deve ser igual. Hoje, ela mostrou um lado dela que ninguém conhecia. Sorata nunca viu ela se preocupar sobre o que alguém achava dela, nem mesmo tinha visto ela confrontando alguém.

Mashiro sempre viveu sua vida do seu próprio jeito. Era por isso que ele pensava que Mashiro era inabalável. Era por isso que ele pensava que Mashiro não ligava para o que falavam dela... porque Mashiro estava focada apenas em seu objetivo, sem ligar para outras pessoas. Mas, provavelmente, ele estava enganado. Ele não sabia como Mashiro se sentia de verdade.

Uma coisa era certa: Havia uma pessoa que poderia entender Mashiro. Essa pessoa era Rita Ainsworth, não era Sorata...

— Vou ver como a Mashiro está.

Nanami subiu as escadas. Enquanto Sorata tentava seguí-la, Jin o parou agarrando seu ombro.

— Se você ainda não tem certeza do que você acha sobre tudo isso, então não vá.

— ...

Ele não conseguia fala nada.

— Se você subir agora, provavelmente também vai ser contra a Mashiro fazer mangá. Você acha que a Mashiro iria querer ouvir isso agora?

Os pés de Sorata não se moviam. Isso significa que ele entendeu o que Jin havia dito. Então ele decidiu deixar Mashiro com Nanami.

— Por que você parece tão deprimido, Kouhai-kun?! A Mashiron já falou que não vai voltar.

Mesmo depois de ouvir as palavras de Misaki, seu coração ainda estava perturbado.

Ele estava realmente com medo depois de ouvir as palavras de Rita, e ele não conseguia reprimir esse sentimento. Ele sabia que Mashiro era um prodígio, mas não a via como uma pessoa capaz de ficar marcada na história.

Como seria ter pessoas admirando seu trabalho mesmo depois de centenas de anos depois de sua morte? Ele não podia imaginar. Ele não conseguia expressar isso em palavras. Ele nem conseguia sentir isso. Embora ele não conseguisse nem imaginar como seria, ele sabia que era algo incrível.

Então, ele estava indeciso quanto a isso.

— Eu não quero que você pense essas coisas e apenas piore a situação. Da Aoyama eu já sei, mas e você, Sorata? De que lado você está?

— Estou do lado da justiça!

Misaki falou isso e deu um soco para cima.

— Eu estou...

— Ela é uma bruxa má que veio aqui para roubar a princesa. Acertei?

A resposta era óbvia. Todos já sabiam.

Mas agora já era tarde demais. O coração de Sorata estava batendo forte. Mashiro parecia não querer nem um pouco voltar ao mundo artístico...

 

Parte 3

 

Sem apetite por causa de todas as preocupações que tinha, Sorata decidiu não comer mais e se trancou em seu quarto assim que terminou de lavar os pratos.

Para mudar de humor, Sorata começou a estudar programação. Depois de olhar algumas questões teóricas, ele se comprometeu com uma questão de prática. Cada vez que ele escrevia um código e o executava, uma mensagem de erro aparecia. Mesmo depois de muitas tentativas, ele não conseguiu resolver uma única questão.

Ele não conseguia se concentrar. Logo, ele começou a executar códigos mesmo sabendo que havia erros em algum lugar. Ele olhou para o relógio. Já era quase meia-noite. Se ele não dormisse logo, amanhã seria um dia difícil para ele.

Antes de dormir, ele foi para a cozinha beber água. Em seu caminho de volta para o quarto, seus passos naturalmente pararam na porta da frente. No final, Rita não voltou. Ela tinha um lugar para ficar? Ela já comeu algo? Ela tinha dinheiro? E se ela estivesse envolvida em algum problema em um país estrangeiro? Ela falava bem japonês, mas as coisas provavelmente eram diferentes aqui do que na Inglaterra. E... Com sua aparência, ela com certeza atrairia olhares sujos daqueles tipos de homens.

Quando Sorata começou a pensar em todas essas coisas, as ideias surgiram.

— Ahh, droga!

Sorata rapidamente colocou suas sandálias e saiu.

— Não consigo mais evitar, já estou preocupado com ela.

Ele tentou se dar essa desculpa, mas ele sabia que não era bem isso. Ele não estava fazendo isso porque estava preocupado com Rita, mas porque tinha coisas que precisava perguntar a ela. Ele não sabia para onde Rita iria. Então ele decidiu ir em direção à estação primeiro.

Enquanto pensava sobre o que deveria fazer, ele pisou na rua, mas sentiu que alguém estava por perto. Esse alguém era própria Rita, que estava agachada enquanto se apoiava na parede de tijolos.

Com a repentina aparição de Sorata, ela olhou surpresa, com os olhos lacrimejando.

— Você tá atrasado... Muito atrasado. Está atrasado demais. Fui picada por mosquitos até agora...

Ela estava coçando sua perna branca, e olhou para ele com uma expressão de desaprovação.

— O que você quer dizer com “atrasado”...? Fizemos uma promessa ou algo assim?

— É óbvio que um homem deve salvar uma donzela em apuros.

Talvez o que ela disse não fosse tão surpreendente para ele, pois era algo natural.

Depois de se desculpar, Sorata estendeu suas mãos para Rita. Ela agarrou as mãos de Sorata e ele a levantou.

— De qualquer forma, você tem algum lugar para ficar, Rita-san?

— Não, não tenho.

— E comida?

— Ainda não comi nada.

Para provar, a barriga de Rita roncou de uma forma fofa.

— Isso agora, foi... para dizer que minha barriga está vazia.

Ela olhou envergonhada para baixo.

— Nós também fazemos isso aqui, então você não precisa me explicar.

— Por que você não me diz o seu nome?

— Meu nome é Sorata Kanda.

— Quantos anos você tem?

— Eu tenho dezesseis anos. Tenho a mesma idade que a Shiina.

— Então somos da mesma idade. Eu pensei que você era mais novo porque parecia bonitinho.

— Eu pensei que você era mais velha porque você parecia madura.

Era difícil dizer a idade de um estrangeiro pela aparência.

— Por favor, me chame só de Rita, Sorata.

Ela provavelmente queria dizer que gostaria de falar de uma forma mais informal com ele.

— E por favor, não precisa falar tão formalmente comigo.

Rita continuou a sorrir naturalmente. Sorata pensou que ela ficava bonita sorrindo.

— D-De qualquer forma, entre.

Sorata chamou Rita para entrar.

Depois de convidar Rita para o dormitório, Sorata esquentou o que sobrou do jantar para ela na cozinha. Ela comeu rapidamente assim que Sorata terminou, provavelmente porque ela estava com fome ou porque a comida de Jin era deliciosa. Talvez fosse ambos. Ela terminou três tigelas de arroz e ainda queria mais. Ele ficou se perguntando para onde toda essa comida ia parar no corpo de Rita.

Depois que ela terminou de comer, Sorata a levou para o chuveiro e, enquanto ela estava lá, ele tentou encontrar um lugar onde Rita pudesse dormir. Se as circunstâncias permitissem, ela poderia ter dormido no quarto de Mashiro, mas por causa do que havia acontecido, seria estranho para elas compartilharem o quarto.

Nanami devia estar dormindo, já que ela não respondeu quando ele bateu em sua porta. Quando ele espiou dentro do quarto de Misaki, estava tão bagunçado com papéis e desenhos que era impossível para outra pessoa dormir lá.

Tinha risco do chão quebrar e cair tudo no quarto de Sorata logo abaixo. Mesmo assim, Misaki disse:

"— Claro que a Ritan é bem-vinda para dormir aqui!"

Ela começou a arrumar alguns panos da cama em cima de toda a bagunça, então, Sorata educadamente recusou. Seria ruim se Rita pensasse que o Japão é um país estranho. Afinal, Misaki era considerada uma pessoa estranha até mesmo em um nível galáctico.

Quando ele foi ao quarto da professora, como uma última aposta, Chihiro colocou a cabeça para fora e disse:

"— Se você pegou um animal de estimação, então cuide dele você mesmo. Eu não sou sua mãe.

— Sim, você tá certa."

Ele foi nocauteado com um golpe só.

Os únicos quartos restantes eram o de Jin, o rei das festas do pijama, e o de Ryuunosuke, que estava sempre trancado. Mas esses dois estavam fora de questão por razões óbvias.

Então Sorata voltou para o seu quarto e preparou um futon. Ele também pegou as revistas e as empilhou para ocupar o mínimo de espaço possível. Enquanto fazia isso, Rita entrou no quarto depois de ter tomado banho.

Por alguma razão, ela só estava usando uma toalha de banho, e seus ombros levemente rosados pareciam sexy demais.

— Por que você não está vestida?!

— Eu não tenho roupas para trocar, então você poderia me emprestar algumas, Sorata?

— O quê? Por que você não tem roupas?

— Porque eu não trouxe nenhuma.

— Por quê?

— Eu estava planejando voltar quase imediatamente e pensei que poderia pedir as roupas da Mashiro emprestadas por uns 2 ou 3 dias.

Agora que ele pensou sobre isso, ele percebeu que ela não estava trazendo nenhuma mala.

— Então você veio aqui de mãos vazias? Que corajosa.

Rita se encolheu e fingiu não ouvi-lo.

— Por favor, não fique me olhando assim. É embaraçoso.

— D-Desculpe!

Sorata rapidamente desviou o olhar e pegou a roupa no varal. Ele não sabia se poderia emprestar as roupas para Rita sem a permissão de Mashiro, mas como ele não podia fazê-la usar roupas de meninos, ele passou o pijama e a calcinha da Mashiro para ela.

— Isso é seu, Sorata?

— Se fossem meus, eu seria um enorme pervertido. São da Shiina.

Ele saiu do quarto enquanto Rita se trocava.

— Então... Você é o namorado da Mashiro?

Rita falou do outro lado da porta.

— Não sou.

— Então... Significa que você não pôde resistir aos seus desejos carnais depois de morar com sua paixão sob o mesmo teto.

— Acho que, se você era a colega de quarto dela, já deveria saber que a Shiina não consegue fazer nada sozinha para sobreviver.

— Entendi. Então você é o “Encarregado pela Mashiro” aqui no Japão.

— O quê? Vocês tinham isso na Inglaterra também?

— Era por causa disso que ninguém queria dividir o quarto com a Mashiro. Aliás, você já pode entrar agora.

Quando ele voltou para dentro, Rita estava vestida e sentada no centro da cama. Embora ela estivesse usando o pijama que Sorata estava acostumado a ver, ele ficou mais apertado em Rita e deu uma sensação completamente diferente. Os botões não estavam fechados até o topo. Graças aos dois botões soltos, seu belo decote estava visível.

Era melhor do que estar só de toalha, mas a forma com que o pijama parecia já não ser mais um simples pijama era assustadora.

— Este é o seu quarto, Sorata?

— É-É, isso mesmo. Não tinha outros quartos disponíveis, então, por favor, aguente.

— Esta é a minha primeira vez dentro do quarto de um menino, tô ficando animada.

— E eu tô ficando nervoso!

Rita olhou ao redor do quarto com uma expressão interessada. Ela definitivamente estava pensando que havia muitos gatos no quarto, ou que os desenhos nas paredes eram estranhos, ou poderia estar apenas julgando Sorata.

O olhar de Rita mudou quando ela estava inspecionando os desenhos na parede.

— Metade deles foram feitos pela Mashiro.

— Então você pode dizer só de olhar.

— Bem, eu morei com ela na casa do meu avô desde que tínhamos seis anos.

Parecia que o nome Ainsworth não era apenas uma coincidência.

— Então, você também pinta, Rita?

Quando Sorata fez a pergunta para puxar conversa, Rita virou a cabeça.

— Eu não pinto mais... Eu parei com isso.

Por um momento, ela parecia magoada e assustada. Sorata queria confirmar sua suspeita, então perguntou novamente.

— Por quê?

Quando ele perguntou, Rita virou para ele, colocou o dedo indicador nos lábios e sorriu.

— Mulheres são criaturas misteriosas, então não posso te dizer.

Sentindo que bombardeá-la com um monte de perguntas seria rude, Sorata decidiu encerrar a noite. Ele poderia perguntar mais sobre isso depois.

— Durma na cama. Eu troquei os lençóis também.

Os sete gatos estavam encolhidos juntos na cama e compartilhavam a mesma expressão ameaçadora, como se estivessem dizendo que a cama era o território deles. Como eles não seriam generosos e não sairiam da cama, Rita teria que aguentar.

— Vou dormir na cozinha, então.

Enquanto Sorata tentava sair, ele foi impedido pela voz de Rita atrás dele.

— Eu não posso expulsar o dono deste quarto e dormir aqui sozinha. Outros ingleses me repreenderiam por ser rude.

— Eu não penso assim. Não estamos na Inglaterra, então não se preocupe.

— De qualquer forma, por favor, durma aqui também, Sorata.

— Olha... Eu sou um homem perfeitamente saudável... Você tem certeza de que está tudo bem?

— Sorata, você é como um lobo selvagem?

Rita perguntou sem nenhum vestígio de preocupação.

— Se eu tivesse a oportunidade, eu gostaria de...

Como ele deveria fazer para ser igual ao Jin? Como ele poderia cruzar essa linha? Sorata ainda não conseguia entender.

— Não importa muito para mim, então durma comigo.

— O que? Com você?

— Eu quis dizer dormir juntos no mesmo quarto... Mas você quer algo mais do que isso?

— O-O que você tá dizendo?! Não seja idiota!

Rita riu como se fosse algo engraçado, enquanto olhava para o rosto corado de Sorata. Parecia que ela estava apenas brincando.

— Por favor, contenha a sua luxúria. Promete que você não se transformará, de repente, em um lobo selvagem?

— Isso é quase uma tortura, então eu vou dormir na cozinha.

Ficou bastante claro que essa era a melhor opção para os dois.

— Se você dormir na cozinha, então eu também vou dormir lá.

Sorata percebeu que era impossível persuadi-la, então decidiu desistir.

Então, em vez disso, ele deitou no chão usando uma almofada como travesseiro.

— Vou dormir no chão para que você possa usar a cama... Por favor, não me faça levantar novamente.

Rita soltou um gemido baixo e olhou para ele. Além de seu peito voluptuoso, seus olhos levemente preocupados eram visíveis. A visão não era nada agradável aos olhos de Sorata, mas sim assustadora

Sorata virou seu corpo e ficou de costas para Rita.

— Você é uma pessoa legal. Acho que é por isso que você é tão tímido.

Embora ele não pudesse entender como esses dois pensamentos estavam conectados, ele não pressionou mais.

Estendendo a mão para o interruptor de luz tipo cordão, Sorata apagou a luz. Rita continuou a falar, mas Sorata não prestou atenção nela.

Pouco depois de fechar os olhos para dormir, ele sentiu um gato roçando em seu corpo. Julgando pela textura de seu queixo, parecia ser Kodama.

— Kya! Não, para, por favor... faz cócegas.

Sorata tentou dormir, mas não estava com sono. Sua mente estava agitada. Provavelmente porque havia uma garota bem do seu lado. Tinha isso, mas ele sabia que não era tudo.

As palavras de Rita ainda estavam dentro do coração de Sorata.

" — ...alguém que ficará marcada na história da humanidade..."

Se fosse Mashiro, ela seria capaz de fazer algo assim. Ela certamente teria o potencial. Ele olhou para o teto no escuro. Seus olhos já haviam se acostumado com a ausência de luz. Rita provavelmente ainda estava acordada, e os sons da sua respiração podiam ser ouvidos.

— Tem algo que gostaria de me perguntar, não é? — Rita falou com ele primeiro — Por isso que foi me procurar, né?

Ela já conseguia ler Sorata como um livro.

— A Shiina é realmente assim tão fantástica?

— ...

— Eu não entendo muito de arte.

— ...

— Ahm?! Tá dormindo? Nossa.

— Tente entender o meu lado, por favor. Nem que seja só um pouco.

— Entender o quê?

— Sobre meus sentimentos... Ter que falar sobre o talento da Mashiro é...

Sua voz estava clara, e o tom era o mesmo de sempre, mas Sorata podia sentir a atmosfera tensa no quarto.

Ele não sabia o motivo, mas percebeu que havia feito uma pergunta proibida. E sua pergunta deve ter sido a razão pela qual Rita estava triste.

— Me desculpa.

— É errado pedir desculpas sem saber a razão.

— Me desculpa por isso também.

Rita sorriu silenciosamente.

— Eu vou te perdoar por hoje.

— Obrigado.

— E eu vou te contar o motivo, só por hoje.

— Deixa pra lá, eu não quero ouvir.

— Não... Eu acho que seria melhor para você saber disso. Acabei de perceber isso.

O que ela quer dizer com isso? Sorata pensou, mas não perguntou.

— A Mashiro é avassaladora.

— Como assim...?

Sem entender o que ela queria dizer, Sorata perguntou sem nem pensar e, imediatamente, se arrependeu de ter perguntado.

— Eu queria que ela apenas... desaparecesse.

Mesmo nessa situação, o tom de voz de Rita não mudou.

Isso fez Sorata se sentir ainda pior e o levou a um labirinto sem fim. Sorata não conseguia nem começar a entender o que Rita queria dizer... Como ele não sabia se devia rir e levar na brincadeira ou ficar quieto e esperar pelo que ela iria dizer, ele só pôde ficar calado.

— Por favor, tome cuidado, Sorata.

— Sobre o que?

— Você vai ser destruído se ficar perto da Mashiro. Assim como eu fui...

— Entendi...

Ele só podia responder assim.

Parecia haver algo obscuro escondido no fundo do coração de Rita. Seu coração era como um enorme labirinto, e Sorata não deveria ter entrado nele tão despreparado. Ele não sabia o que aconteceria com ele se ficasse perdido nesse labirinto. Era assim que as palavras de Rita pareciam para ele.

— Mas não se preocupe. Eu vou levar a Mashiro de volta... Com certeza.

 

 

No dia seguinte, Sorata abriu os olhos sentindo um grande peso em seu corpo. Ele pensou que fossem os gatos em cima dele, mas estava enganado. Era Rita, que havia caído da cama em cima do seu corpo.

O volume de suas curvas era comparável ao de Misaki e era suficiente para deixar Sorata perplexo. Sendo bem sincero, as curvas de Mashiro nem se comparavam com as de Rita.

— Rita, acorda! Minha luxúria está no máximo agora!

— Hmm... O que é isso...? Que barulho...

Ela ainda estava sonolenta.

Confundindo Sorata com um despertador, ela bateu em seu rosto algumas vezes, como se estivesse desligando ele.

Sorata se contorceu sob Rita, tentando se libertar.

Nesse momento, alguém bateu na porta.

— Kanda, já passou das oito, você tá bem? Você tá acordado?

Era a voz de Nanami.

— E-Eu tô bem! Eu tô acordado!

— É realmente... barulhento.

Rita de repente olhou para a porta e começou a falar com ela, ainda dormindo.

— Ei, o que cê tá fazendo?!

— Isso é o que eu deveria estar dizendo, Kanda! Porque eu consigo ouvir a voz de uma garota?!

Nanami abriu a porta com força.

Atrás dela estava Mashiro, que já estava vestida com seu uniforme escolar. Nanami deve tê-la acordado e a vestido.

O que a dupla viu diante deles foi Sorata e Rita, que mais pareciam estar lutando.

— Bom dia.

Embora Sorata tenha cumprimentado Nanami normalmente, ela respondeu a ele com um olhar frio que o congelou até à alma.

— Eu entenderia se você dissesse que a deixou dormir aqui por compaixão, mas parece que vocês dois ficaram muito próximos durante a noite.

— N-Não é isso! Se você quer culpar alguém, culpe a Rita por se mexer enquanto dorme!

Esperando uma reação negativa, Sorata mal conseguiu se levantar depois de empurrar o rosto de Rita para o lado.

— Heh... Então você já tá tão próximo dela, que já tá até chamando ela pelo primeiro nome, é?

Ele se arrependeu imediatamente, mas já era tarde demais.

— Sorata está do lado da Rita?

Os olhos de Mashiro encararam Sorata diretamente.

Ele estava prestes a dizer “Não!”, mas Rita agarrou seu braço e o interrompeu.

— É isso mesmo.

O braço esquerdo de Sorata estava sendo felizmente pressionado entre os seios de Rita.

— Ei!

Sorata gritou.

— Nossa.

— Ehh.

Nanami e Mashiro olharam para ele com um olhar de desprezo.

— Você foi gentil comigo ontem à noite, porém...

— Não diga coisas que causarão um mal-entendido fatal!

— Kanda, fala sério, né?!

Nanami estava tão furiosa que seu punho cerrado tremia.

— Essas coisas só acontecem comigo, mesmo!

— Mesmo que você esteja tão feliz agora?

Ele conseguia ver os peitos, a bunda e as coxas de Rita.

— Rita, se afaste do Sorata

Mashiro disse isso friamente.

— Por que eu deveria?

— Não precisa de motivo. Se afaste dele.

Rita se agarrou a ele ainda mais forte.

— Se você disser que vai voltar para a Inglaterra comigo, Mashiro, eu me afasto.

Com as palavras de Rita, Mashiro olhou para Sorata novamente.

— Sorata é um inimigo.

— Eu não sou!

— Você é tão malvado... Mesmo depois de passarmos a noite juntos.

— O que cê tá dizendo?!

— Mas você também acha que a Mashiro deveria voltar ao mundo da arte, não é, Sorata?

— Não, isso é...

Olhando de canto de olho, Sorata pensou ter visto Mashiro ficar um pouco chateada. Mas poderia ter sido apenas um engano dele, já que eram apenas seus olhos que estavam levemente tremendo.

Nesse momento, Rita deu o golpe final.

— Você realmente estava pensando sobre isso, não estava?

— É-É que eu...

Sorata começou a gaguejar depois de ser perguntado tão repentinamente.

— Decidi que vou ficar no quarto do Sorata até a Mashiro voltar para a Inglaterra comigo.

— O quê? Sem nem mesmo me perguntar?

Sorata só tinha permitido que ela dormisse em seu quarto por uma noite.

— Tudo bem. Faça o que quiser.

Depois de falar, Mashiro saiu correndo do quarto.

— Ah, espera! Mashiro!

Nanami a seguiu.

No mesmo momento, Misaki e Jin apareceram na porta.

— Parabéns, Kouhai-kun! Então você finalmente se tornou um adulto! Tô feliz por você!

— Eu passo meu título de Rei das Festas do Pijama para você. Cuide do resto, Sorata.

Depois de piorar ainda mais as coisas, Jin e Misaki rapidamente saíram para a escola.

Até mesmo Chihiro veio ao quarto e falou:

— Kanda, eu já acho isso tem um tempinho, mas você é bem irritante.

— Sensei, isso não tem nada a ver com o assunto de agora!

É claro que Chihiro saiu do quarto sem falar mais nada.

Mesmo quando Sorata tentou ir atrás dela, ele não conseguiu se mover por causa de Rita o segurando.

Então, Mashiro voltou. Ela estava abraçando um travesseiro em seu peito. Sem pensar, ela entrou no quarto de Sorata e colocou o travesseiro, que trouxe de seu quarto, na cama de Sorata.

— O que cê tá fazendo?

— Também vou dormir aqui.

— Por que você vai dormir aqui?! E você nem usa travesseiro!

— Mas a Rita usa.

— A situação dela é completamente diferente.

— Eu não me importo. Posso ficar conversando com ela antes de dormir, então tudo bem.

— Esse quarto é meu! Eu quem decido as coisas aqui!

Nanami também voltou, um pouco mais tarde que Mashiro. Ela também estava escondendo algo atrás das costas.

Na verdade, ela estava tentando esconder, pois dava para ver. Era a almofada em forma de tigre de Nanami, Torajiro.

— Então, eu também...

— Aoyama, por favor, continue sendo uma pessoa normal! Eu te imploro!

— É-É claro que eu estava brincando. Era uma piada. Eu estava brincando. Fala sério, era só uma brincadeira.

— Não precisa falar isso quatro vezes!

— E-Enfim! Vamos discutir se vamos deixar a Rita-san ficar ou não em uma reunião do Sakurasou!

— Sorata, você vai votar por mim, né?

Rita pressionou ele.

— Sorata é um idiota.

Mashiro começou a levantar seu travesseiro e balançar ele perto de Sorata. Pensando que era perigoso, Sorata protegeu Rita por reflexo, mas foi uma decisão errada.

Mashiro balançou com mais força e depois soltou. Ela segurou a mão de Nanami e tentou sair do quarto em silêncio.

— Ah, espera, Mashiro! Não me puxa!

Logo, a voz de Nanami ficou mais distante.

Quando a tempestade se acalmou, Sorata suspirou. Rita, que ainda estava agarrada ao seu braço, parecia feliz também.

Por que isso aconteceu logo de manhã...?

— Uh, Rita... Por favor, me deixe ir agora.

— Estou em dívida com você de muitas maneiras. Deixe-me recompensá-lo com o meu corpo.

— Você tá ouvindo o que tá dizendo?

— Eu sou muito confiante com o meu corpo, então, por favor, quero pelo menos uns 10.000 ienes por cada ato sexual.

— Não diga coisas que são realmente possíveis de acontecer! E por que o preço é tão realista?! Na verdade, você não precisa se forçar de forma alguma! Suas pernas estão tremendo, então na verdade você está se forçando pra falar isso, não está?

Sorata também estava chegando ao seu limite. Ele não tinha certeza se poderia suportar essa tortura infernal por muito mais tempo. Parecia que seu auto-controle havia escapado para a Galáxia de Andrômeda.

— Fui descoberta. Já me chamaram para sair uma vez, mas, na verdade, não tenho nenhuma experiência quando se trata de estar perto de um homem.

Rita deu uma desculpa e finalmente deixou Sorata ir.

Sua cabeça doía, não fisicamente, mas mentalmente...

Não, agora a dor estava começando a ser física, também.

Ele suspirou, e toda a tensão saiu de seu corpo enquanto ele abaixava a cabeça.

De repente, ele sentiu alguém na frente dele.

— Por que isso aqui tá tão agitado logo pela manhã? Por acaso nós estamos em um zoológico com todos os animais no cio?

Alguém estava de pé perto da porta.

A pessoa estava vestindo calças escolares. Portanto, a pessoa era um homem. Jin já havia saído e a voz não parecia ser dele.

Na verdade, era uma voz que Sorata não ouvia há meses.

Devagar, Sorata olhou para cima. Pernas finas, figura esbelta, pele pálida e um rosto andrógino. A pessoa parada ali era um menino, cujo cabelo se estendia até a cintura.

— O-O-O que?! Uau! É Você!

— Você é burro?

— Eu não sou! M-Mas você... você é um holograma?

— Espero que a tecnologia avance para podermos fazer isso livremente um dia.

— Um robô, então?

— Com eles, todos teriam uma empregada doméstica em casa.

— Então você é o verdadeiro Akasaka?!

A última vez que Sorata o viu foi antes das férias de primavera. Aproximadamente 5 meses atrás. Mas Ryuunosuke apenas o cumprimentou, como se eles se vissem todos os dias.

— Kanda, se apressa. Vamos nos atrasar.

Ryuunosuke saiu da porta de Sorata e seguiu em direção ao final do corredor.

Parecia que ele estava indo para a escola.

— Não apareça assim fingindo que nada aconteceu!

Sorata gritou com toda a sua força para liberar seu estresse por estar sobrecarregado com a confusão de agora a pouco e a repentina aparição de Ryuunosuke.

 

 

9 de setembro.

Naquele dia, durante o intervalo do almoço, houve uma reunião de emergência do Sakurasou. A discussão sedenta por sangue continuou durante todo o intervalo do almoço e até o quinto período, também.

Resumo da reunião do Sakurasou de hoje, junto com o registro dos moradores:

— Com quatro votos a favor e três votos contra, Rita Ainsworth ficará por um curto período aqui no Sakurasou. Por favor, se dêem bem com ela. Registrado por: Sorata Kanda.

— Sorata é um idiota. Sorata é um idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. — Registrado por: Mashiro Shiina.

— Sorata é um pervertido! Registrado por: Nanami Aoyama.

— Então o Sorata-sama gosta dos grandões? Que lixo. Registrado por: Maid-chan.

— Vamos todos nos dar bem! Não, por favor, nós temos que nos dar bem! Registrado por: Sorata Kanda.



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