Volume 1 – Arco 1
Capítulo 28: O cavaleiro delirante
Modros, 404 D.M.
A frustração de passar mais um ano novo longe das festas, logo pareceu insignificante diante da maravilha que foi presenciar tal cena.
Como queria que meu companheiro de minhas últimas viagens estivesse aqui para registrar minha última batalha.
No caminho, passei pela cidade natal dele, mas descobri por meio de seu discípulo que ele havia se despedido desse mundo há poucos meses, deixando uma de suas maiores obras: um quadro monumental da queda do meteoro, de mais de vinte metros de altura e dez de largura, incompleta.
Será que esse colosso traria uma nova inspiração para algo ainda maior?
Queria que ele pudesse partir com a visão de uma vitória da humanidade, não derrota. E essa batalha certamente traria mais um quadro lindo para o mundo.
Busquei um poeta que fosse digno, na mesma região de onde ele nasceu, mas não encontrei. Passei então pela cidade berço dos antigos artistas mais proeminentes, que o inspiraram, mas também não encontrei.
Então cheguei a uma realização.
No passado, perto da minha maior conquista, a primeira, onde venci uma guerra sem nenhuma casualidade, mesmo administrando um pequeno batalhão, repleto de soldados novatos, acabei me deparando com um artista perdido, sem esperança, diante de sua casa em ruínas.
O destino o enviou para que registrasse minhas conquistas.
Ele era a pessoa certa. Sua paixão fervente, seu intenso desejo em ver a queda do exército que matou sua família, trouxe ao mundo um quadro dominado por um vermelho só dele.
Pouco depois, ele ganhou fama e nossos caminhos tomaram rumos diferentes.
Mas desde aquela época, entendi que sempre que uma batalha decisiva se aproximava, o universo me apresentava um artista digno de registrar o momento perfeito.
Minha insistência em tentar forçar um artista para registrar meu desejo egoísta de me aposentar ao meu tempo, se provava inútil.
Assim como ascendi a glória encerrando a vida de outros subitamente, também ofereceria essa glória a outro, no momento certo.
Então surgiria um artista.
Vendo que o vento soprava contra a minha vontade, percebi que essa não seria minha última batalha. Então parti, rumo a Éden, para me encontrar com o especialista, domador de feras.
Essa não foi uma negociação favorável, mas a sorte estava ao meu lado, prova de que havia tomado a decisão correta.
O que pensava que seria minha última batalha, teve um desfecho menos épico que o esperado.
Graças as ótimas habilidades de negociação daquele homem.
Trakov Rasmiun, 1304 D.M.
— E com ajuda do príncipe de Éden, o grande herói Modros subjugou e domesticou um colosso com o título de uma das grandes catástrofes do mundo antigo, apenas com suas palavras.
Modros sempre foi o meu herói favorito.
Sua história, desde minha infância, na construção da decisão do que iria ser no futuro, até quando me alistei com o sonho de me tornar como ele, sempre me incentivou a continuar seguindo em frente.
Com um grande sonho para me lembrar nos momentos difíceis, uma convicção inabalável e persistência, tudo é possível.
Essa era a mensagem que sua história passava para mim.
Eu fui alistado aos vinte anos, na minha quarta tentativa. Um motivo de piada para os outros, já que era um exame fácil.
Mesmo ano após ano de fracasso, continuei me empenhando ao máximo, construindo o meu físico impenetrável, que não me traiu nos tempos de guerra.
Para os outros, vinte anos pode parecer tarde para ingressar na carreira militar, mas para mim era motivo de orgulho.
“Consegui entrar dez anos antes que Modros!”
Mas ao longo do tempo, essa se provou ser minha única vitória contra ele.
Diferente do passado, esses são tempos pacíficos. Principalmente em um lugar tão longe de todos os conflitos e tão estável e rico como Fortuna.
Entrei no exército com vinte, mas não fui chamado para guerrear até os trinta e cinco anos.
— Devia estar contente em ganhar seu salário sem nem precisar trabalhar. — Ninguém além de mim parecia incomodado em estar estagnado.
Mesmo assim, segui persistindo e fui subindo na velocidade comum.
De cargo em cargo, chegou o tempo em que fui chamado para lidar com uma invasão, no Sul de Kalogakathia.
Deveria estar feliz, mas dentre todas as possibilidades, ser enviado para um conflito do império era a pior delas.
Como Fortuna nunca esteve em bons termos com o Imperador, eles tratavam esses pedidos de ajuda como um desperdício. Um desperdício onde eles enviavam apenas os soldados que menos fariam falta.
A longa viagem até o Sul foi boa para mim. Me ajudou a esfriar a cabeça e relembrar de uma das vezes em que Modros lutou no mesmo campo de batalha para o qual estava indo.
Seu objetivo era centenas de vezes mais importante que o meu e sua presença possuía algum valor. Porém, depois de apodrecer no mesmo lugar por tanto tempo, até essa semelhança distante era o suficiente para mim.
Performei bem, acima da média, o que me resultou uma promoção antes do esperado.
Só que nesse momento o meu sonho impossível, pela primeira vez, ao invés de me ajudar, veio me atormentar.
A diferença entre os meus feitos e os de Modros era monumental, apesar da pequena diferença entre o número de pessoas que estávamos liderando.
O que significava que, pela primeira vez, não havia outro para ser culpado senão eu mesmo.
Eu desperdicei o evento mais importante da vida dele.
Com quarenta e dois anos, fui enviado para a minha terceira guerra.
Sentimentos negativos também podem ser usados como combustível e assim me serviu. Pouco tempo da primeira promoção adiantada, veio a segunda e logo a terceira. Gradualmente, estava começando a chamar atenção, finalmente estava me destacando.
Por um flanco desesperado, consegui olhar diretamente para o general inimigo.
Esse era o meu evento mais importante da vida.
Minha segunda vitória estava ao meu alcance.
Diante de mim, vi outro tomar as glórias da vitória e levantar a cabeça decepada do general derrotado. Um cavaleiro comum, como eu, com um pouco mais de sorte.
Desamparado, me distraí, e com uma multidão vindo para comemorar a vitória, meu cavalo se assustou e eu caí em cima do meu braço direito, que usava para manejar a lança.
O desespero foi elevado por uma dor descomunal e o medo de que além de ter perdido minha chance, tinha acabado de presenciar minha aposentadoria, por conta dessa lesão, bagunçou meus sentidos.
Enquanto os meus companheiros comemoravam e os inimigos fugiam, eu chorava segurando meu braço direito, ao lado do resto do cadáver do general inimigo.
“Já que vou me aposentar, enquanto os outros estão distraídos, vou tomar um pouco de ouro para mim.”
Nesse estado miserável, abandonei meu ideal do Modros, que respeitava os inimigos derrotados e os enterrava com suas posses. E comecei a saquear tudo de valioso que ele portava.
Vasculhei seus bolsos, tomei seu colar, arranquei suas roupas e quebrei sua arma, levando os detalhes decorados por joias.
Demorou um ano para eu juntar coragem de tocar naqueles objetos que roubei, pouco mais do tempo que meu braço levou para se recuperar por completo.
Talvez por estar emocional demais antes, superestimei a gravidade do meu ferimento.
No tempo em que fiquei afastado, acabei encontrando o amor da minha vida e sem a pressão da obrigação de me tornar como Modros, encontrei outros passatempos além da arte da guerra.
Aprendi a costurar e fabricar medalhas parecidas com as entregues para os soldados com feitos extraordinários com tanta proeza, que se tornaram impossíveis de se distinguir das reais.
E ganhei um bom dinheiro as vendendo como decoração ou premiação para torneios locais.
Sem precisar urgentemente de dinheiro, retirei de baixo do meu colchão, a caixa de madeira com uma fechadura de ferro, que guardava todos os bens daquele general.
Em frente ao espelho, não resisti a tentação de experimentar todos aqueles acessórios caros, mas quando fui tirar, um anel de ouro ficou preso em meu dedo indicador.
Joguei sabão e água, puxei com toda minha força, mas não saía de jeito nenhum.
Devolvi todo resto, enterrando no último campo de batalha daquele homem e fui a uma joalheria, para investigar o anel.
— É um artefato mágico, melhor procurar algum mago para ver isso.
Assim eu fiz e descobri que sua função era “aprimorar força física”.
Um efeito simples e direto ao ponto, que todo soldado raso recebia em algum momento.
Aceitei isso como um pequeno agradecimento do general por devolver seus pertences e segui minha vida.
Mas esse artefato estava em um nível de força completamente acima do que esperava.
Nas minhas próximas três batalhas, obtive um resultado digno de ser chamado de lendário. E após isso, conheci o Grão-Duque pessoalmente, que me ofereceu a posição de líder do grupo de escolta de uma de suas filhas.
Vendo o pagamento, não pensei duas vezes.
E agora, perto da idade em que Modros enfrentou o mesmo colosso, diante de mim, uma nova oportunidade surgiu, para alcançar o que não consegui anos atrás.
— SIGAM EM FRENTE, VOU COMPRAR TEMPO PARA VOCÊS! — gritei com toda a minha força.
— Não tente bancar o herói! — gritou o Barão, colocando sua cabeça para fora da carruagem. — Vamos fugir para aquele vale estreito e esperar por reforços!
“Qual será o artista que eternizará minha conquista para a história?”, estava com um bom pressentimento, uma confiança extraordinária.
Além de mim, mais outros dois Grão-mestres ficaram ao meu lado, no caminho do colosso que acelerava, derrubando construções gigantes pelo caminho.
— Usem tudo que tiver! — Me concentrei e levei a mana até o artefato, que brilhou e começou a aquecer.
Rafun, a minha direita, também começou a usar um artefato dele.
E a minha esquerda... Parece que esse só ficou por impulso mesmo.
— Obrigado por realizar meu sonho. — Senti um ano de vida ser tomado pelo artefato, então cortei a canalização.
Um dia de vida perfurava uma árvore espessa, uma semana destruía tudo em um raio de dez metros e um mês causava uma explosão que evaporava instantaneamente toda água em um raio de cinquenta metros.
Nunca foi necessário nada mais que isso.
Esperei o colosso se aproximar o máximo possível e atirei, perdendo a consciência imediatamente.
Lucca Massaro Monti, 1340 D.M.
— Ele... Conseguiu?
Depois de um estrondo ensurdecedor e uma luz que piscou como um relâmpago, uma densa nuvem negra cobriu completamente o colosso, que levada pelo vento, nos cobriu por completo.
Os passos que faziam o chão tremer, pararam, mas ninguém tinha certeza se o colosso foi derrotado.
— Não é possível.
A nuvem se dissipou e o colosso estava intacto.
— Desse jeito, teremos que usar o artefato que o seu avô entregou — disse o Barão.
— Em uma situação dessas, que motivo ele teria para reclamar? — respondeu Khajilamiv.
Os passos retornaram e começaram a ganhar velocidade.
— Consegui instalar uma armadilha no tempo que o Trakov comprou para gente! — gritou um dos magos.
A pata direita do colosso afundou no chão e ficou presa em um buraco cheio de um material cinza líquido, que rapidamente se solidificou. E aproveitando disso, o Rafun, com ajuda de seu tigre, saltou até a altura da cabeça do colosso e mirou um ataque no olho direito dele.
Com os dois braços ocupados pelo Trakov e outro grão-mestre inconsciente, uma nova figura se colocou na frente do colosso, defendendo a ponta da lâmina com a sola do pé: uma armadura metálica completa, levitando.
Os dois começaram a lutar e o ser usou os corpos como escudo, para fazer o Rafun hesitar em seus ataques.
Enquanto essa luta se desenrolava, um pássaro subiu em cima da nossa carruagem, passando despercebido por todos ao nosso redor e começou a bicar a grade que protegia a pedra elemental.
— Tirem esse bicho de cima daí! — gritou o Barão.
O Rafun desviou seu olhar e foi chutado em nossa direção.
— Por que não entregamos o cristal? — perguntei.
— Quando um ladrão vem te roubar, você entrega seus bens imediatamente? — retrucou Khajilamiv.
— Sim?
— Sem o cristal, pelo menos dois terços do nosso grupo vão morrer. E vocês dois estão inclusos nessa — disse Selena.
Os cavaleiros espantaram o pássaro, mas quando Rafun se recompôs, a armadura flutuante desapareceu.
Então o colosso repousou, permitindo nossa fuga.
Ágata, Ilha voadora Drumont, 2017 D.C
Logo que saímos daquela loja, abrimos as caixas dos consoles, vestimos como óculos, como o manual de instrução recomendava, colocamos o chip do jogo que o vendedor recomendou e apertamos o botão de ligar.
Mas nada aconteceu.
Descobrimos que aquilo só funcionava ligado em uma tomada e felizmente encontramos uma, perto da praça de alimentação. Dessa vez ele ligou, entretanto não abriu o jogo.
“Erro de conexão, conecte-se a uma rede wi-fi ou dados móveis.”
Perguntando para uma pessoa que parecia conhecer desse assunto, descobrimos que a melhor opção, até arrumarmos uma casa, seria ir em uma Lan house, já que em um hotel a conexão costuma ser lenta demais para jogar um jogo multiplayer.
Saímos do shopping, já que não tinha um lá dentro, depois de despistar a Katarina em uma loja de remédios, mostrando uma droga para insônia. E pedindo instruções na rua, chegamos a uma construção apertada, que só tinha uma placa apontando que estava aberta e escadas de pedra mal iluminadas.
Sem nenhuma placa ou ilustração com o nome do negócio ou indicativo sobre o tema do estabelecimento, quase passamos direto. Felizmente, vimos um homem carregando um console igual o nosso — mas com cores diferentes — subindo as escadas e nos informando que era o lugar certo.
— Cem horas, por favor!
Por algum motivo, a atendente nos deu um olhar muito sério e foi para a porta dos fundos, sem dizer nada.
— Olha, aquela porta abriu, acho que é para entrar lá — disse Wade.
Passamos por duas fileiras de computadores cheio de luzes brilhantes e alguns outros consoles diferentes, então vimos o que tinha atrás da porta: uma sala com duas máquinas de vendas, uma comum e outra que estava fora do lugar.
— Um elevador? — O Lucca já tinha nos ensinado sobre essa e muitas outras tecnologias da Terra, mas mesmo vendo no shopping, acabamos usando as escadas rolantes, por serem mais intuitivas.
— Para usar, primeiro tem que apertar no botão com a seta para cima ou para baixo?
— Na dúvida, aperta os dois.
Fizemos isso e após uma pequena espera, o elevador se abriu.
“Só tem três andares?”
— Que sequência estranha.
Ao invés de números, os botões tinham três símbolos estampados: um triângulo, uma caveira e uma bolinha.
— Parece ser um enigma... Sabia que devíamos ter usado as escadas.
— Resolvi. — E Wade apertou duas vezes o triângulo, uma vez a bolinha e três vezes a caveira.
O elevador começou a descer.
— Como descobriu tão rápido?
— Na outra máquina de vendas tinha 3 produtos com símbolos ao invés de números. No triângulo tinha dois pacotes de doce de abóbora, a bolinha tinha uma lata de refrigerante e a caveira tinha três balas.
Seguido de uma música curta, o elevador parou e a porta abriu, revelando um corredor com mais uma porta e um painel digital sobre a maçaneta.
Enquanto pensávamos sobre como passaríamos, o elevador chegou com mais uma pessoa, que abriu a porta colocando o dedo polegar no painel.
— São novos? — perguntou ele.
— Sim — respondi.
— Demônio e cientista maluco, estou certo?
— Praticamente.
— Tentem usar roupas menos chamativas da próxima vez. — E ele segurou a porta, esperando a gente passar.
— Realmente, esse jogo tem muitos fãs.
Descendo mais um lance de escadas, chegamos a uma área aberta imensa, cheia de pessoas, monstros e armas, organizados em várias barraquinhas, com um grande palco no fundo e uma mesa circular no centro, com vinte cadeiras que pareciam bem caras, nove ocupadas por pessoas com aparências bem excêntricas, até mais que o Wade.
— Sejam bem-vindos! — Uma mulher usando um terno preto e gravata vermelha veio nos cumprimentar energeticamente. — O meu chefe pediu para eu guiar vocês, aliás... Adorei suas joias!
— Obrigada! Foi meu pai que me deu.
— Hm!? Temos uma filha de um figurão aqui? Meu nome é Marta, prazer em conhecê-los. Vamos indo?
— Sou a Ágata e esse é o... Wade?
— Aquela aparência não é só fachada, que amigo maluco o seu, foi direto na seção das quimeras. Depois a gente busca ele, vamos só nós duas por enquanto?
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