Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 3.1: Alien

“Aliens”.

 Ou alienígenas. Seres extraterrestres. De outro planeta. Afinal existem? Existe vida no espaço? Existe vida além da terra? Estamos sozinhos num universo infinito ou há mais vida inteligente por aí?

 Estas são questões que têm incomodado diversos cientistas e pseudocientistas desde que a tecnologia tornou possível o estudo dos corpos celestes. Diversos filmes ou histórias retratam mesmo que fantasticamente a concepção da existência destes seres, ora desumanos e letais, ora mais humanos do que os terráqueos, ora inteligentes, ora apenas animais. Entretanto na grande maioria das vezes são retratados a partir da mesma moldura: uma forma humanoide, como que diferindo de nós em apenas um limitado conjunto de propriedades.

 Aqueles que foram selecionados para trabalhar no DCAE sabem: todas estas características retratadas nos filmes estão corretas. Os aliens existem, sim. E inclusive já vieram à Terra. E mais: são seres humanoides diferindo em apenas poucos pontos da nossa raça. Alguns inteligentes, alguns apenas animais, alguns predadores letais, alguns misericordiosos. Existe neles tanta variedade quanto existe variedade no ser humano típico.

 Mas por serem seres cuja existência ainda não está preparada para ser revelada à mídia, acabam sendo adicionados a apenas uma dentre as dez raças colocadas em observação, na lista de objetos de trabalho do DCAE.

 Na vez passada eu contei a vocês sobre os zumbis. Foi a primeira raça que lhes mostrei. Agora estou revelando a existência dos aliens. Pretendo revelar as dez raças e expor suas características aos poucos, para que isto não acabe sendo muito enfadonho.

 Aliens, conforme o nome já diz são seres que vieram de outros planetas. Na maioria das vezes dos planetas vizinhos, Marte e Arena. Enquanto Marte é conhecida por ser um dos dois planetas mais próximos à Terra, a existência da Arena, que se localiza ainda mais perto, é desconhecida ao público. A razão disso é que é fácil fazer as pessoas acreditarem que não há vida em Marte, visto que toda forma de vida inteligente lá tem hábitos subterrâneos, mas não é tão fácil esconder a vida em Arena.

 Arena é o planeta mais próximo da Terra, até mais do que Vênus. É um planeta pequenino com um raio de cerca de seiscentos e tantos quilômetros, o que é menor do que a própria lua. Contudo é lá que se encontra a maior diversidade de espécies vinda dos planetas mais próximos e também dos distantes. Todos os seres que são considerados perigosos acabam sendo transferidos para lá como forma de punição, ao passo que fugitivos também se mudam para lá como forma de evitar punição em seu planeta de origem. Uma terra sem lei onde todos lutam contra todos para garantir a sua sobrevivência, tornando apropriado o nome de Arena.

 Existem diversos tipos de alienígenas de interesse para o DCAE (leia-se: com inteligência), entretanto nós terráqueos, por falta de conhecimento, acabamos colocando todos sob o mesmo termo: aliens.

 Até agora todos os tipos que ousaram descer à Terra para incomodar o DCAE ou são de aparência ou humana ou podem alterar sua aparência física para a humana de alguma forma. O que é bom, pois a última coisa que queremos é ficar perseguindo monstros verdes e depois tentando convencer os jornalistas de que era uma espécie de jacaré que fugiu do zoológico.

 A diferença essencial entre um alien e um zumbi é que o primeiro não é intrinsecamente perigoso para a sociedade, visto que ele não necessariamente se alimenta de carne humana. É um ser onívoro como nós, podendo sobreviver perfeitamente à base de carne animal e vegetais. No caso, um alien não é visto como um assassino, mas como um imigrante ilegal.

 Por esse motivo o DCAE não sai por aí investigando todos os casos de aliens que aparecem, ao invés disso nos atemos apenas àqueles que realmente causam algum problema de natureza criminosa.

 Semelhantemente ao zumbi, os alienígenas têm algumas características que se realçam se comparadas aos seres humanos: a maioria dos tipos podem se mover de modo não natural. Para citar exemplos imagine um homem subindo na parede como se fosse uma lagartixa, dobrando os braços tanto para cima como para baixo, sendo capaz de capturar mosquitos facilmente com os dedos enquanto estes pairam no ar... Em geral diversos movimentos que são feitos diariamente por animais caseiros e selvagens, mas que não são imitados por humanos, estes feitos podem ser encontrados na raça alienígena.

 Como eu disse anteriormente: nem todos aliens são iguais. Nem todos vão conseguir fazer todas essas coisas, mas certamente todos eles conseguirão fazer alguma coisa que o ser humano não faz.

 Sendo assim, as peculiaridades físicas seriam um primeiro modo de se detectar um alien dentre nós. A segunda maneira de fazê-lo é observar seu interior: A composição interna de todos os tipos de aliens vistos até agora nunca se assemelham muito à humana. Alguns até mesmo diferem na cor da carne ou do sangue. Pode-se facilmente detectar a diferença com um raio x, por exemplo. Infelizmente não andamos por aí com máquinas de raio x para fazer a detecção e nem fazemos ferimentos profundos em nossos suspeitos para que possamos verificar seu interior, então quando necessário, em geral usamos a primeira maneira mesmo.

 Para matar um alien é preciso separar sua parte principal do corpo (algo contendo seu tórax e sua cabeça, se olhado externamente) e deixar esta parte separada por cerca de dezoito horas. Qualquer outro ferimento pode ser restaurado em até certo ponto e não resultará em sua morte.

 Para todo efeito, alienígenas podem ser pensados em uma mistura de humano com animal. Se um ser humano tivesse as características físicas de um animal adicionadas, ele seria um habitante típico da Arena ou de Marte. Nem preciso dizer que isso implica que um alien é naturalmente muito mais forte e ágil que um ser humano normal.

“Que um ser humano normal.”

 Mas se um alien quisesse disputar uma briga comigo, que aguento um golpe com caixa de pesca do zumbi que quebrou um vidro maciço de cinco centímetros com um só soco... Aí já é outra história.

 Falando nisso, creio que devo uma explicação sobre aquele incidente: o que acontece é que para lidar com seres paranormais como zumbis precisamos de pessoal especializado, caso contrário aconteceria como aconteceu com George e Carl aquele dia. Por isso na maioria das vezes ou os próprios agentes do DCAE são eles mesmos também seres paranormais ou são treinados intensamente para poder lidar com qualquer uma dessas raças abomináveis.

 Eu também sou muito mais fisicamente forte do que um ser humano comum, e por isso resisti ao golpe que Sprohic desferiu em mim com aquela caixa de pesca, mas não saia contando isso a ninguém.

 Era um dia após a captura de Jeffrey Sprohic. Embora eu tenha liberado Crane no dia anterior, hoje ela tinha que estar trabalhando já desde de manhã novamente. Tenente Dotson não dá descanso aos subordinados.

 — “Assassinado entre as dezesseis e dezesseis e meia desta terça-feira, nome: Gerald McMiller, idade: 35 anos, caucasiano, natural de Silverbay. Causa da morte: atropelamento.” — Disse Crane lendo as informações do relato que recebemos na madrugada entre ontem e hoje, com sua postura impassível e formal de sempre.

 — Atropelamento!? De todas as possibilidades eles vieram com isso? Ele teve uma baita mordida nas costas.

 — Creio que eles modificaram o ferimento depois para parecer atropelamento.

 — Não sei por que esses cretinos do legislativo insistem em esconder a verdade... Seria muito melhor se todo mundo soubesse quando tem um zumbi à solta. Tomariam mais cuidado.  — Expeli mais fumaça do meu cigarro — O coitado vai se revirar no túmulo, com certeza. É capaz que ele próprio vire um zumbi. Se não for virar com propagação de vírus vai virar para se vingar de quem inventou essa morte idiota.

 Fiz uma pausa. Notei que Crane estava suportando calada a fumaça que saía de minha boca. Estava indo na direção dela. Decidi apagar as cinzas no cinzeiro que estava sobre minha mesa.

 — E...? Você disse que tinha outro relato? Do casal de velhos?

 — Sim:

 — “O cidadão Gelson Hernandez reportou às 2:00 da quinta-feira. Avistou um jovem de cabelos longos que saltou entre a residência de seus vizinhos e a sua. Gelson o perdeu de vista logo em seguida. Preocupado, olhou pela janela vizinha e encontrou os dois corpos, ligando para a polícia em seguida. A polícia chegou cerca de quarenta minutos depois, onde fizeram a autópsia e verificaram que a causa da morte de ambos foi ataque cardíaco. A análise preliminar revelou morte natural. Não há indício de arrombo ou visita na residência. Uma das vítimas é Margareth Johnson, e a outra, um homem estimado em sessenta e cinco anos de idade, permanece não identificado.” É o relato.

 —  Como assim, não identificado? Ele não morava junto com a velha? Deve ser o esposo.

 — Margareth Johnson está viúva desde 1993, pelo que consta, tenente.

 Cocei minha costeleta.

 — E do suspeito, o jovem de cabelos longos...?

 — ...Nada. — Crane completou.

 — Morte natural simultânea. Resolveram ter ataque justo no mesmo dia. Que coincidência infeliz para os dois, não..?

 Tamborilei meus dedos na mesa enquanto refletia. Crane permanecia estática à minha frente, me fitando de modo inabalável. Poderia se passar por esquisita, mas eu já estava acostumado. Houve uma batida na porta. Então ela se abriu, donde uma jovem adentrou o recinto.

 Era uma jovem de cabelos longos e ruivos, alisados e presos de maneira carinhosa. Sua pele clara realçava as sardas espalhadas pelo seu corpo lhe passando uma aura pueril. Entretanto esta aura contrastava com sua maneira elegante e madura de se vestir, usando uma peça social curta de um vermelho escuro bonito, mas sem ser chamativo. Sua voz revelou-se suave e doce ao formular aquela pergunta de natureza banal:

 — Com licença, tenente Henry Dotson?

 — Eu.

 — Eu sou Ewalyn Lowe, sabe... A transferida do departamento de North Kingston Hill.

 — Ah, sim. Você vai substituir o Cuco.

 O Cuco era um ótimo detetive, mas ele acabou se aposentando por causa de tempo de serviço. Ele não era velho, mas por não ser humano e ter expectativa de vida menor eles fazem umas leis diferentes de direitos de trabalho. Estávamos sem o Cuco já fazia mais de três meses. Então de detetives eu tinha apenas o Joey e o crápula do Chapman.

 Eu tinha me esquecido, mas quinta-feira era o dia em que a detetive que ia substituir o cargo dele chegava. Ela trabalhava no departamento de North K Hill, mas como eles tinham uns detetives sobrando (e para falar a verdade, em comparação com Sproustown tinham casos faltando) o governo resolveu finalmente fazer a redistribuição.

 Estava satisfeito por finalmente ter mais um detetive com quem contar, e ainda mais satisfeito por ser uma jovem ruiva de personalidade rutilante.

 Ela me lembrava minha esposa Jane quando não era rabugenta.

 — E então? O que está achando de... Sproustown?

 — Ah... Estou gostando... — Respondeu ela enquanto olhava discretamente ao redor da minha sala — Só acho o ar um pouco poluído...

 Afastei o cinzeiro na mesa mais para o lado da parede.

 — Com licença, senhor. — Crane fez uma reverência breve e se retirou.

 Me levantei e me aproximei para cumprimentá-la devidamente.

 — Venha. Vou te mostrar o departamento. — E Lowe me seguiu.

 O departamento do DCAE tinha uma sala de recepção grande com uma mesa central, onde trabalhavam Joey Meyers e a secretária Emma Crane. A mesa era grande demais para eles dois, ocupando de cinco por dois. E a própria sala tinha uma área de pelo menos quatro vezes mais a área da mesa. Ironicamente, além da mesa não havia muita coisa na sala: as cadeiras, o bebedor, outra mesa de canto para o café e um armarinho onde ficavam alguns arquivos e outros materiais. Os arquivos de caso eram guardados todos na minha sala. O resto era só espaço sobrando.

 Além da porta para o elevador, a sala de recepção tinha mais duas portas: Uma para a minha sala, de onde eu e Lowe tínhamos acabado de sair, e outra que estava sempre aberta, dava para um corredor.

 Com a mão estendida na direção da mesa, eu apresentei:

 — Esta é a Crane. A secretária. Vocês já devem ter se conhecido. — Lowe assentiu com a cabeça enquanto Crane apenas olhou de relance. — Quando não está em outro lugar o Joey está aqui também.

 — E aqui é a sala da chefe. — Disse eu após entrarmos no corredor à direita da sala da Crane. Experimentei a porta e entrei. Era uma sala exatamente igual à minha, exceto que não tinha nada bagunçado na mesa. Não havia ninguém lá dentro.

 — A chefe é... A tenente Sarah Harmon? — Ela perguntou observando o nome escrito no vidro da porta.

 — Capitã agora.

 — Eu certamente lembro dela. Trabalhamos juntos no caso do filho do governador em Kingston Hill. Ela é uma das melhores que eu já vi.

 — Você trabalhou no caso do filho do Pearson?

 — Sim. Levou bastante tempo para pegarmos o sujeito, com todo aquele envolvimento político com a própria polícia, mas... A lembrança que eu tenho foi que ela fez tudo. — Ela soltou um riso breve.

 — Então vocês já se conhecem. Não vai ser difícil se adaptar por aqui. Perto daquele caso intrincado e cheio de política envolvida, capturar um zumbi ou dois não vai ser problema para você aqui em Sproustown.

 — É. Espero que não. — Lowe olhava ao redor enquanto mexia seu corpo para a esquerda e direita ritmicamente.

 — Ah! Vou te mostrar a sala de treino.

 Saímos da sala de Sarah e continuamos pelo corredor. Ele virava uma rampa que descia até um corredor imenso com janelas de vidro. Pela janela dava para ver o pátio onde ficavam as viaturas e mais adiante o prédio anexo do pessoal de suporte. As janelas eram imensas e ocupavam a largura do corredor inteiro, sobrando apenas um metro de parede abaixo delas e um pouquinho mais entre o topo do vidro e o teto. Seguimos adiante até o fim do corredor e começamos a ouvir tiros.

 — É o Joey. — Adiantei.

 Entramos na sala de treino e Joey estava equipado com uma calibre 12 e um baita de um tapador de ouvido. Atirava contra os alvos, segurando a arma com apenas uma das mãos. Ele notou nossa presença e assim que viu Lowe, começou a se exibir. Enquanto olhava para nós continuou disparando tiros contra os alvos que circulavam em velocidade fixa, amarrados na esteira. Sempre acertava os alvos.

 Lowe procurou algo para dizer, mas não conseguiu.

 — Ah, são vocês. Aqui é assim. Não tem moleza. Todo mundo tem que acertar o meio dos malditos. — Disse Joey enquanto tirava o tapador e vinha em nossa direção para cumprimentar-nos. Por incrível que pareça ele realmente estava acertando os alvos no centro, de modo que a frase dele não era exagero.

 Lowe me olhou com uma estranheza na sobrancelha, como que se perguntando se eu realmente exigia isso dos empregados. Mas ela não chegou a perguntar verbalmente.

Apenas expliquei:

 — É a finesse do Joey.

 “Finesse” é um termo usado entre seres paranormais. Lembre que eu disse que um zumbi tem uma mente mais desenvolvida que um ser humano, pois assim que nasce ele consegue se equiparar a um adulto maduro mentalmente em apenas poucos dias de adaptação. Por isso é de se imaginar que algo no cérebro dele ocorre de modo que ele aprenda de forma diferente.

 Alguns seres humanos também aprendem de modo diferente. Enquanto alguns conseguem falar um novo idioma em apenas poucos meses outros ficam mais de seis anos estudando sem chegar a lugar algum. É só um exemplo. Em seres humanos além da diferença do método de aprendizado existe também a persistência. Alguém que deseja aprender a desenhar, mesmo que não use um sistema muito bom consegue atingir nível profissional eventualmente, se tiver persistência. Já outra pessoa poderia ser que aprendesse em menos tempo, mas ao invés de persistir acaba desistindo quando vê que não atinge o resultado esperado com pouco esforço.

 Campeões mundiais nas tarefas mais variadas, assim como os profissionais mais talentosos na maioria das vezes devem sua habilidade a uma combinação dessas duas coisas: esforço e método.

 O que aconteceria então se um zumbi resolvesse empenhar seu tempo para aprender uma tarefa básica de forma proficiente? Como eles naturalmente têm maior capacidade de aprendizado que o ser humano, teriam que se preocupar apenas com o aspecto da persistência.

 O mesmo vale para os alienígenas. A maioria deles, por se assemelharem essencialmente a uma mistura de insetos com humanos, já possui aptidão física o suficiente para não precisar de esforço algum para aprender qualquer atividade que exija meios físicos. Então, um alien poderia facilmente ser um dos maiores contorcionistas ou bailarinos, se empenhasse o tempo necessário, por exemplo.

 Os seres paranormais, devido à suas características, sempre conseguem algum hobby que podem aprender facilmente ou rapidamente se comparados a um ser humano normal. Quando eles resolvem realmente se apossar desta vantagem e adquirir uma habilidade nova através do aprendizado, esta nova habilidade na qual viram proficientes é chamada de sua finesse.

 Em nosso ramo, como trabalhamos com violência, isto é, temos de usar violência para capturar outros seres paranormais que também usam da violência em seus atos, é apenas natural que procuremos finesses que tenham a ver com violência.

 Joey passou muito tempo treinando tiro ao alvo. Nunca sai daquela sala. O dia de hoje não é uma exceção. Somando sua obsessão ao método de aprendizado que é acelerado, após treino o suficiente ele tem a precisão para acertar exatamente o meio dos alvos em movimento constante, segurando a arma com uma mão e sem olhar.

 Se ele estiver olhando e segurando a pistola com as duas mãos na posição correta ele consegue acertar alvos exatamente no meio e em movimento inconstante, isto é, velocidade e posição aleatória. Esta certamente é uma finesse útil para um policial.

 Outro exemplo de finesse é a do Cole Chapman, meu outro empregado. Ele manuseia fios de nylon com maestria. Por que escolheu isso? Um ser que possui uma força física fora do comum vai querer empregar essas características em sua finesse, tornando possível a aprendizagem de uma habilidade impossível a um ser humano comum. Um fio de nylon pode não fazer muito se eu simplesmente arremessá-lo de forma tosca sobre alguém de perto. Entretanto se uma moto passa por um fio esticado à alta velocidade pode ser cortado fatalmente. Por que isto acontece? Por causa da velocidade com que o fio foi arremessado contra o corpo do motoqueiro.

 Levando isto em consideração, Chapman percebeu que se conseguisse aprender a segurar um fio esticado e empregasse sua força descomunal nas pontas, poderia fazê-lo ser arremessado contra alguém que estivesse a um curto alcance com uma velocidade parecida. Então como hobby buscou aperfeiçoar as características necessárias para usar esta técnica em combate, desde os ângulos com os quais arremessa um fio, aplicar a força de forma correta, como prender os fios em coisas penduradas na parede fazendo o menor movimento necessário com o resto do corpo para que o fio tenha tensão, e assim por diante. Embora não haja nenhum campeão mundial de cortes com fios de nylon porque os seres humanos não têm a força suficiente nos dedos, como Chapman não é um ser humano, ele pode aprender esta finesse.

 Então tome cuidado se você deixar o Chapman nervoso com um carretel no bolso e estiver em um corredor estreito com vários lugares para ele prender os fios.

 Lowe naturalmente sabia o que é uma finesse então por isso relaxou os ombros assim que eu disse que aquele treino era especial do Joey. Eu não exigia de meus empregados aquela precisão impecável.

 — E aí? Já se acostumou com o cheiro do cigarro do tenente? — Perguntou Joey à Lowe, que apenas olhou para mim e fez um sorriso desconfortável.

 Seria tão bom se Joey ficasse quieto.

 Me dirigindo para Lowe, mudei de assunto:

 — Então...É basicamente isso que temos por aqui. Quando você quiser café tem lá na cozinha...

 — Vocês já vão voltar para lá? Eu vou treinar mais um pouco... — Disse Joey.

 — Para dizer a verdade... Precisamos de você lá na frente também. Apareceu outro caso.

 — Outro caso? — Joey guardou a arma no suporte designado.

 — Assassinato. Um casal de idosos. Um deles não tem identidade. Os dois morreram de morte natural.

 — Ué? Mas se é morte natural não é um caso do DCAE.

 — As mortes ocorreram ao mesmo tempo.

 — ...

 — De morte natural simultânea? Mas isso quer dizer que..? — Lowe começou. — Será “ductu”?

 Afirmei levemente com a cabeça.

 — É o que parece... Se realmente for “ductu” temos um grande problema... Adicionalmente... Um alien foi visto.

 — Um alien? Como? O que ele fez?

 — Até agora apenas fez um pouco de parkour exagerado. Foi visto perto da cena do crime em horário coincidente, saltando sobre telhados ou algo do tipo. Difícil acreditar que não tenha alguma relação. Estava indo checar o local agora. Normalmente você é minha dupla, mas estava pensando em levar a Lowe junto, já que é o primeiro dia dela. O que você acha, Lowe?

 — Por mim, tudo bem. — Suas palavras eram mais amenas em comparação com a expressão de sua face. Seus olhos pareciam mais dizer “quero muito ir checar o local”.

 Saímos da sala de treino e nos dirigimos à entrada. Já que não havia muito que fazer, convidei também Crane que estava plantada na cadeira com um semblante enfadonho.

 Combinamos que o pessoal do suporte atenderia os telefonemas em nossa ausência e partimos todos os quatro para o local.



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