Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 1

Capítulo 24: Bastião álgido

No momento fatídico, o golpe se deteve.

Beth Louca — a corrente repleta de farpas — se enrolou ao redor do braço do gigante. O gancho da outra extremidade cravou-se numa saliência de pedra. As farpas se enterraram fundo na carne gelada da criatura, que se retorcia numa tentativa inútil de se libertar.

— É agora! — disse Nariz de Batata, e com um rugido desferiu um golpe no pé do gigante com seu imenso machado de batalha.

— Beth Louca, eu te amo, meu amor! — Cara de Prancha chutou a pedra que ainda prendia sua perna, o rosto contorcido de dor e êxtase.

O gigante do gelo cambaleou. Dois clarões rasgaram a tempestade. Os disparos de Kilian explodiram contra o flanco do gigante. O primeiro atingiu a coxa, lançando estilhaços em todas as direções. O segundo acertou a costela, e uma fenda azulada se abriu, jorrando sangue denso sobre a neve.

Cara de Prancha se ergueu, apoiado em seu porrete.

— Segurem-no, por favor! Vou preparar algo definitivo! — disse Garrik antes de desaparecer nos céus entre o nevoeiro com um lampejo de magia.

Kilian deixou cair na neve os paus de fogo primo já usados. Pegou mais dois, mirou e atirou sem hesitar.

Do outro lado, Maya também cambaleava. A luz verde ao redor de seu corpo vacilava. Cada passo exigia esforço. A dor latejava de forma constante, mas ela avançou, o rosto coberto de determinação.

Um dos disparos de Kilian passou rente ao seu rosto, atingindo um morro próximo. A neve explodiu ao redor, soterrando-a por um instante.

— Presta atenção, seu idiota! — gritou ela, limpando o rosto às pressas, com as palavras saindo entre os dentes.

Enquanto sacudia a neve dos ombros, o som de outro disparo veio logo em seguida. Desta vez, o projétil atingiu o peito do gigante com força, explodindo a carapaça de cristais sobre o ombro esquerdo da criatura. O colosso estremeceu, mas permaneceu firme, como se nada tivesse acontecido.

— Ele mal sentiu! — Maya arregalou os olhos quando percebeu a resiliência do ser imenso que enfrentavam.

Beth Louca se arrastava de volta. Mesmo danificada, envolveu o braço do gigante outra vez. A corrente apertava com força, impedindo que a criatura levantasse os braços com liberdade. O sangue do monstro escorria pela neve, escurecendo o campo de batalha.

— Agora, Nariz de Batata! — Cara de Prancha levantou o tacape e golpeou o joelho do gigante.

— Cala a boca, seu pedaço de bosta! — berrou Nariz de Batata, com o machado em mãos. Usou as costas de Cara de Prancha como trampolim e saltou alto.

O machado acertou com um estalo seco o mesmo ponto — o joelho esquerdo do gigante. A lâmina afundou na carne como faca quente em manteiga.

— Toma, filho de uma porca perneta! — gritou Nariz de Batata, rindo enquanto pressionava a lâmina com força.

— E também pela tua mãe, aquela alpaca cheia de banha! — gritou Cara de Prancha, o sorriso rasgando o rosto enquanto se agachava para escapar do balanço desajeitado do gigante.

Os dedos decepados, somados à força do objeto animado, foram demais para o colosso. Com um urro ensurdecedor, ele girou mais uma vez e caiu de costas sobre a neve. O impacto fez o solo tremer.

— Conseguiu, seu anão fedorento! — gritou Cara de Prancha, os olhos brilhando de euforia.

— Olha quem fala, seu verme sujo de barba quebrada! — retrucou Nariz de Batata, com a voz cheia de determinação.

Com o gigante no chão, os anões — ainda sob o efeito da magia de Garrik — saltaram sobre a barriga da criatura e correram em direção ao pescoço, prontos para o golpe final.

— Não errem o ataque! — gritou Maya. Sua mão firme canalizou uma luz azul que envolveu as armas dos anões e pulsou com intensidade.

Cara de Prancha ergueu o porrete e o desceu com brutalidade no rosto da criatura. O nariz do gigante se espatifou em uma explosão de sangue. Ele vacilou, atordoado. O caminho ficou livre para Nariz de Batata.

— Segura essa, seu desgraçado! — gritou Cara de Prancha, com um sorriso selvagem nos lábios.

Nariz de Batata ergueu o machado, pronto para decapitar, mas, num reflexo desesperado, o gigante acertou-o com um tapa que mais parecia uma martelada.

O anão foi lançado longe. Rodopiou no ar e caiu pesado no chão, imóvel. A armadura amassada, o sangue escorria pelo elmo.

— Nariz de Batata! — gritou Cara de Prancha, ao ver o estado do colega.

A pausa foi o bastante para o gigante se levantar. Ele sacudiu o braço, e a corrente com cravos voou pelo campo de batalha como uma serpente de ferro.

— Droga! — rosnou Kilian, ao se jogar para o lado.

Fragmentos de pedra e neve cortaram sua pele.

— Ele ainda tá de pé? — gritou Cara de Prancha, incrédulo.

O gigante, ainda cambaleante, se mantinha firme.

Cara de Prancha saltou de cima da criatura no último instante.

Kilian, com a mão ensanguentada, firmou o pau de fogo primo contra o ombro.

— Vamos, Beth Louca... de novo! — murmurou, enquanto a corrente animada se lançava com um estalo metálico em direção ao gigante.

A criatura se virou, olhos brilhando, encarando a corrente viva.

Maya e Cara de Prancha correram até Nariz de Batata.

Cara de Prancha olhou para ela, a pergunta clara nos olhos.

— E aí? Ele vai aguentar?

Maya se abaixou ao lado do corpo do anão.

— Ainda respira. Mas tá por um fio.

Cara de Prancha soltou um longo suspiro, os ombros pesados.

— Então faz o que for preciso. Eu cuido do resto.

Kilian fechou um olho para focar melhor a mira. O rosto coberto de sangue e neve, os dentes cerrados.

— Agora vai... — murmurou.

O primeiro disparo atingiu a perna do gigante. Um estalo seco ecoou.

O segundo explodiu no abdômen da criatura.

Uma sequência de detonações em cadeia se seguiu, abrindo um buraco grotesco na carne do monstro.

O urro de dor cortou o céu, reverberando pelo vale.

— Acertou! — gritou Maya, sem desviar os olhos da criatura.

Cara de Prancha virou-se na direção de Kilian, olhos arregalados.

— Bem nas fuças dele! — gritou Cara de Prancha. — Ele conseguiu, Maya! Ricocheteou!

— Então é isso o tal ricochete do pau de fogo primo? — perguntou Maya, ainda concentrada em Nariz de Batata.

— Bem desse jeito! Um tiro, várias explosões! — respondeu Cara de Prancha, que já avançava novamente em direção ao gigante.

— Vamos ver se você aguenta essa, seu filho de uma égua!

Kilian, ainda sangrando, tentou respirar enquanto retirava do fardo mais dois paus de fogo primo.

— Essa coisa tem que ter um ponto fraco...

Cara de Prancha correu em direção ao gigante. A neve caía com fúria, cada vez mais densa, a ponto de cortar as partes expostas de sua pele como lâminas afiadas.

— Neve ou não, vou esmagar esse infeliz! — rugiu o anão, os olhos vidrados no colosso à sua frente.

Beth Louca já avançava pela neve.

O brilho mágico pulsava em seus elos espinhosos. Os ganchos nas extremidades se agitavam como pernas sinistras, numa corrida desengonçada.

Com um salto, a corrente se lançou sobre o gigante. Enroscou-se ao redor dos braços e do peito da criatura.

O colosso grunhiu. Seus músculos se contraíram, tentando arrancá-la com violência.

Beth apertou ainda mais. Os membros do gigante se tornaram inúteis.

— Isso, garota! — gritou Cara de Prancha, com os olhos brilhando. — Segura que eu arrebento o desgraçado!

Ele contornou o inimigo. A neve afundava sob suas botas, mas nada o impedia.
Chegando às costas do gigante, o anão ergueu o porrete.

Com um rugido, desferiu um golpe brutal na perna da criatura.

O som seco do impacto ecoou pelo campo.

O gigante vacilou.

Preso pela corrente, seus joelhos cederam. O colosso se dobrou diante da força do anão.

— Muito bem, Cara de Prancha! — disse Maya, enquanto observava a ação com uma expressão concentrada.

O gigante cambaleou e, num movimento desesperado, conseguiu se soltar da corrente e lançá-la longe mais uma vez.

Uma vez livre, ergueu sua perna imensa, mirando Cara de Prancha. Com um golpe devastador, o pé desceu sobre o anão. O impacto o prensou contra o chão, como se ele fosse um inseto a ser esmagado.

Maya levantou a mão num gesto frenético, os olhos arregalados.

— Cuidado!

De longe, Kilian só pôde observar a cena, a preocupação evidente em sua voz.

— Tenho que fazer algo... Não posso errar...

Cara de Prancha sentiu a pressão esmagadora em suas costelas; o ar escapava célere de seus pulmões. Mesmo assim, rangia os dentes — a fúria queimava dentro de si.

— Olha pra mim, seu monte de bosta congelada! — rosnou o anão. O brilho da magia de Garrik ainda circulava por seu corpo. Com um esforço colossal, começou a erguer o pé do gigante. O suor escorria de seu rosto e misturava-se à neve ao redor. — Sou eu quem vai te derrubar!

Com um último impulso, Cara de Prancha afastou o pé do gigante e se levantou, ofegante, coberto de neve, mas com os olhos carregados pela faísca da determinação.

— Vem, seu pedaço de carniça gelada!

O colosso ergueu a mão para esmagá-lo, mas uma luz cortou o ar e explodiu na neve ao redor. O primeiro disparo passou em vão, mas o segundo atingiu o rosto da criatura em cheio.

Faíscas mágicas rasgaram a nevasca. O gigante rugiu de dor e cambaleou para trás, permitindo ao anão aliviar a pressão que o mantinha preso ao chão.

— Agora é minha vez! — bradou Cara de Prancha, enquanto aproveitava o momento para atacar de novo.

O golpe acertou o flanco do gigante com força; o som de ossos quebrando ecoou, e o colosso curvou-se de dor. Kilian, que já preparava outro disparo, atirou durante o movimento brusco do humanoide. O disparo passou longe, explodindo contra um pinheiro distante.

— Droga! — disse Kilian, enquanto jogava o pau de fogo primo na neve, com raiva.

Maya, ao lado de Cara de Prancha, não parava de conjurar. Seus dedos traçavam símbolos num ritmo frenético, enquanto magias arcanas e divinas envolviam o anão, fechando seus ferimentos e criando uma nova camada de proteção.

— Não vai ajudar o Nariz de Batata? — rosnou Cara de Prancha.

— Ele está fora de perigo — respondeu Maya, concentrada. — Agora é você quem precisa de ajuda.

O gigante, enfurecido, rugiu e investiu contra eles. Beth Louca voltou a interceptá-lo, apertando-se ao redor de seu corpo numa tentativa desesperada de contenção.

A corrente, porém, já mostrava sinais de desgaste. Kilian disparou de novo, mas o colosso, agitado, desviou com facilidade.

Num gesto violento, o gigante arrancou Beth Louca do próprio corpo. Com um rugido furioso, lançou-a longe, como se fosse apenas um empecilho.

Cara de Prancha cuspiu na neve, o olhar fixo no inimigo.

— Agora o bicho vai pegar... — murmurou, com os olhos estreitos. — Maya, sai fora! Agora é comigo.

Antes que o gigante atacasse de novo, o céu foi rasgado por uma luz ofuscante. Uma presença avassaladora tomou o campo de batalha.

Até o colosso hesitou. Garrik flutuava no céu da nevasca, cercado por orbes de fogo girando ao seu redor. O gelo da tempestade derretia ao tocá-lo.

— Me desculpem pela demora! — disse Garrik, sua voz como um trovão sobrepujando a tempestade. — Mas agora, vou compensar o atraso!

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