Volume 1
Capitulo 7: O Levantar
A Armada descansava sobre um morro — um pequeno momento de paz, interrompido pela chegada de um bando desconhecido, tão grande quanto, ou até maior que o deles. Suas vestes e armas eram semelhantes às da Armada. Baru se pôs à frente do grupo, cruzando os braços com um olhar duro.
Um homem parrudo, de barba ruiva e uma cicatriz nos lábios, se destacava entre o bando suspeito. Ele se aproximou até ficar a centímetros de Baru. Ambos se encararam com uma tensão evidente.
— Você engordou — afirmou Baru. — Será que ainda pode lutar, Gori?
— E você envelheceu — disse, cuspindo no chão. — Será que ainda consegue ficar em pé, Baru?
O minuto de tensão se encerrou com as gargalhadas dos dois guerreiros. Eles se abraçaram com companheirismo. Os dois bandos se uniram; velhos amigos se cumprimentavam após anos sem se ver. Ky e Kanala se aproximaram, tentando ouvir a conversa dos dois homens.
— Finalmente chegou o dia — disse Gori com ânimo. — Nunca pensei que viveria para ver isso. — Notou Kanala de canto de olho. — Ora, ora, se não é a pequena Kanala… embora agora esteja grande demais para ser chamada assim.
— É bom revê-lo, senhor Gori — disse ela, sem muita emoção na voz. — Como tem estado?
— Tenho me mantido vivo. Afinal, alguém precisa esmagar as plantações dos inimigos — respondeu com orgulho. — Pelo visto, sou o primeiro a chegar.
— Encontraremos os outros pelo caminho — explicou Baru. — Discutiremos o plano de invasão quando estivermos todos reunidos.
Sobrevoando o grupo rebelde, um corvo de olhos púrpura observava e ouvia tudo. A criatura alada se afastou. Do outro lado da floresta, havia um acampamento ostentando a bandeira do Império Dracena. O corvo se esgueirou até uma tenda escura. Adentrando o local, pousou sobre um corpo morto deitado numa mesa, coberto por um pano vermelho.
Das sombras, revelou-se um homem pálido, de cabelos cor de fuligem. Em cada uma de suas mãos havia uma tatuagem representando um olho. Suas vestes eram velhas e escuras, com um leve tom de roxo.
Ele olhou para o corvo e o agarrou com brutalidade, devorando sua cabeça com uma mordida. Seus olhos se reviraram em direções opostas, sua mente vagava pelas memórias da ave.
— Invasores — murmurou.
O cadáver sobre a mesa começou a respirar, atraindo a atenção do mago.
— Está na hora de acordar, minha criatura.
O mago foi interrompido pela entrada do velho guerreiro Travos. O homem bocejava como se tivesse acabado de acordar de um longo sono. Seu rosto, com os olhos semicerrados, denunciava sua falta de interesse em estar ali. Seu machado gigantesco, quase do seu tamanho, balançava nas costas a cada passo.
— O corvo retornou? — indagou Travos, coçando a barba. — Espero que tenha algo pra fazer nessa maldita escolta.
— Invasores ao leste. Cerca de dez mil — explicou Vidares.
Travos ergueu uma sobrancelha, como se os números não abala-se.
— Seu pupilo não conseguiu destruir o acampamento principal, Vidares. Agora teremos que limpar sua bagunça.
— Foi uma batalha perdida, admito — Vidares lançou um breve olhar ao cadáver coberto. — Mas não foi uma completa perda de tempo.
— Espero que sua aberração tenha valido a pena — comentou, sem esconder o desprezo pela criação do mago. — Atacaremos ao anoitecer, feiticeiro. Não me atrapalhe — desdenhou, retirando-se.
A penumbra cobria os morros e florestas. As criaturas da região adormeceram, assim como os viajantes cansados da Armada. Movendo-se sem fazer barulho, Kanala se esgueirava entre as árvores, querendo conhecer melhor o terreno. Indo a contragosto, Ky a acompanhava, tentando não atrapalhar.
— Parece tudo quieto — comentou a garota.
— Podemos voltar, então? — indagou Ky.
— Quando tudo está quieto é que mora o verdadeiro perigo — disse, sacando sua lança e cravando-a no chão. Em seguida, sentou-se de forma assimétrica, com cada pé repousando na coxa oposta. — Irei manter a vigília nesta área. Retorne para o acampamento.
— Tritan me mandou te ajudar — respondeu, sentando-se com um bocejo.
Ky permaneceu em silêncio, encarando a terra como se tentasse compreender algo. Sua mente vagava, tentando entender os eventos desde o ataque dos Homens do Sul.
— O que acha que os espíritos querem das pessoas? — perguntou com certo pesar na voz.
— Eles não querem nada. Estamos ligados a eles desde o nascimento — respondeu Kanala de imediato. — Se dependesse deles, duvido que qualquer espírito se importasse conosco.
— Eu não sou ligado a eles — disse Ky, levantando a cabeça para vislumbrar as estrelas. — Mesmo assim… — Interrompeu-se, recusando-se a mencionar sua conversa com o ser misterioso. — Acho que esse mundo está cheio de mistérios.
Os ouvidos dos jovens se aguçaram com o som da mata balançando e dos passos metálicos de homens armados — um som que conheciam bem. Kanala pegou sua lança e, lentamente, recuou alguns passos.
— Faça silêncio — sussurrou. — Vamos avisar os outros.
Ambos escaparam sorrateiramente. O batalhão Dracena se aproximava, enquanto os jovens se afastavam.
Os homens de armadura marchavam em silêncio. As narinas de Travos se dilataram ao sentir um odor humano.
— Perdemos o fator surpresa — avisou, bufando. — Alguém estava nos observando. — Farejou, concentrando-se nos dois aromas que se afastaram. — Duas pessoas estão voltando ao acampamento.
— Tem certeza de que não era um animal? — zombou Vidares. — Não precisamos nos preocupar. Apenas aponte para os bisbilhoteiros.
Travos apontou para a trilha deixada pelo cheiro dos jovens. Dois soldados se aproximaram, carregando um caixão nos ombros. Era metálico, com símbolos gravados em seu casco.
— Isso será um bom teste para ele — disse Vidares. A tatuagem em sua palma brilhou em roxo escuro, assim como os símbolos do caixão. — Acorde.
A porta se abriu, exalando uma névoa escura. Uma sombra se ergueu e desapareceu da vista dos soldados — apenas um rastro sombrio foi visto na direção indicada por Travos.
A criatura, de pele branca como um cadáver, se movia com velocidade absurda, seguindo os rastros dos dois jovens. Kanala pressentiu algo enorme vindo atrás deles. Agarrou o braço de Ky e o puxou para o lado, desviando do ser pálido.
Os olhos de Ky se arregalaram. Apesar do tamanho e das costuras espalhadas pelo corpo, o garoto reconheceu aquele rosto no instante em que o viu.
— Avan?
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