Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 17: Férias na Floresta

Correndo pela mata, San segurava a espada, zunindo ao vento. Concentrado à frente, avistou seu objetivo: um goblin pequeno o esperando.

Desacelerando, apontou a lâmina, preparado para um ataque. O goblin alcançava até a cintura, empunhava uma faca rudimentar, o cabo enrolado em vinhas. Era verde e usava uma tanga na parte de baixo.

Os dois começaram a andar em círculos, aguardando o momento certo de atacar. Esse momento chegou quando um barulho na mata ao redor chamou a atenção do monstrinho.

Fazendo uma investida rápida, San mirou no estômago. Com os sentidos aguçados, o goblin se recuperou e usou sua faca para desviar a lâmina.

Por estar muito perto do inimigo e ser acertado se tentasse um segundo golpe, San afastou alguns passos. Novamente, os dois se encaravam, o goblin num sorriso enorme e dentes pontudos, e do outro lado um rosto sério.

Dessa vez, quem atacou primeiro foi o pequeno goblin. Correu com a faca levantada, em uma velocidade surpreendente. Tentou acertar onde conseguia alcançar, que era na parte de baixo.

San fez um corte em arco, o goblin se jogou de barriga, sendo arrastado na grama e levantando a faca, acertando o inimigo na coxa.

Segurando um grito, forçou a perna e deu um chute. O corpo era leve, então voou longe. Tirando vantagem de não poder desviar, San apresou passo, ignorando a dor. Abaixando o pé no peito do monstrinho, pressionou suas costelas, viu aqueles olhos arregalados e cravou a espada na cabeça.

A respiração trêmula e sentindo sua perna ardendo, olhava o corpo no chão. "Seria considerado canibalismo comer a carne dele?” Antes de decidir, o culpado pelo som anterior apareceu.

Era um segundo goblin, segurando uma faca, tão ágil que quase nem deu tempo de desviar.

San deu um pulo ao lado, mas ainda passou no lado direito do seu manto. Espada já preparada e aproveitando a distância, cortou para cima, atravessando facilmente a barriga e indo até a cabeça.

“Malditos bichos, esperem eu ficar forte e vão ver.” Tirando o manto da frente, confirmou que a armadura de couro o protegeu por pouco.

Olhou ao redor, tendo certeza de nenhum perigo estar perto. Pegou uma bandagem em sua mochila e viu a sua perna. O ferimento sendo raso, por sorte só um curativo daria bom.

Ao acabar, seguiu o caminho do mapa em sua mente. Durante a caminhada, imaginava vinganças contra os goblins, já perdeu a conta de quantos matou.

Andando há duas horas e a noite aproximando, alcançou a área marcada em azul, há minutos, contudo, descobrir a localização da base era outra história.

Tudo que via eram árvores, arbustos, pedras e grama. Andando para os lados, bateu nos troncos, verificando se eram ocos, levantou as pedras, normal.

Observando o céu cada vez mais escuro e xingando, Floki. Ouviu um galho quebrando atrás de si. Desembainhou a espada e virou apenas um galho.

Guardando a espada de novo, andou ao redor, continuando sua procura. No entanto, ao dar o primeiro passo, notou a grama estranha.

Arrastando o pé, o chão desgrudava. Abaixando-se, puxou a grama, revelando um alçapão de madeira com uma alça de metal.

Forçando a madeira a levantar, revelou uma escada de madeira descendo. “Claro, uma escada levando a um lugar completamente escuro, nem um pouco assustador.”

Descendo, — fechando o alçapão, tentando colocar o tapete de novo — estava quieto e escuro. Torcendo que a madeira conseguisse segurá-lo, desceu até o final. Colocando o pé no chão, se preparou imediatamente e acendeu uma luz na ponta do dedo.

Sua visão era limitada, por sorte, havia uma lâmpada grudada no teto presa a uma cordinha.

Puxando-a, luz iluminou a base subterrânea. Um quarto pequeno, as paredes todas de terra e um colchão no chão.

Encarando admirado, se perguntava como Floki, um cara magrelo, conseguiu fazer aquilo.

“Sem banheiro? Pena.” Colocando a mochila no chão, tocou as paredes, precisava ter certeza de que ao acordar, o teto continuaria em cima, e não no seu rosto.

Tanto as paredes quanto o resto eram estáveis o suficiente. Tirando seus equipamentos, os analisou.

O manto tinha rasgos em várias partes; seus dias tavam contados. A armadura duraria um pouco. A espada continuava perfeita, igual ao dia em que a viu pela primeira vez. Vários dos compartimentos das suas facas ficaram vazios, resultado de ter de fugir, o restante encharcado de sangue escuro, causado por chegar perto de um ninho de goblins. De resto, normal.

Verificou o machucado para assegurar-se de que estava bem e irritou-se novamente. Podia ter acabado facilmente a luta usando seu poder ou suas facas, apesar disso, queria melhorar no uso da espada. Também pretendia melhorar o uso da habilidade, então revezava qual usava.

Treinando na clareira, sentia seu progresso lento. Só quando começou a realmente lutar e arriscar, sentiu melhoria, descobrindo a melhor hora de atacar ou recuar. Claro, havia muito a melhorar, ao menos tentava.

Sentando-se no chão, esperou, vendo o relógio a todo momento.

— Qual a sua opinião, Sacro? Seguro pra aguentar a noite?

O relógio permaneceu quieto, considerando sua resposta.

— Talvez, desde que não apareça algum monstro se movendo na terra ou aconteça um erro e caia o teto.

— Super motivador.

— Preferia uma mentira?

— Desse a informação de um jeito tranquilizador, tipo: “Tá tudo bem, San, as chances são mínimas.”

— Prefere que eu faça isso das próximas vezes?

— Sei lá. — Pensou um tempo em silêncio. — Deixa da sua forma, posso ficar preparado.

Esperando meia hora, finalmente anoiteceu. Focando-se somente na audição, tentou ouvir algo lá fora.

Só silêncio, mas era difícil ter certeza estando no subsolo. O pouco barulho podia significar estar bem ou apenas que estava tão baixo na terra que o som era abafado.

Considerou subir as escadas só pra colocar o ouvido no alçapão, porém, deixou quieto. Era seguro por enquanto; para que arriscar.

Recusando a ficar acordado à noite, com medo de o encontrarem, dormiu. O cansaço acumulado facilitou. Seu corpo sofreu bastante em apenas um dia; escolheu arriscar e pular uma das bases, tentando encurtar o tempo. Por pouco, teve de passar a noite em uma árvore de novo.

Sem sonhos, San acordou dolorido, resultado de perseguições e lutas. Olhando ao redor e tendo certeza do lugar estar ok, se esticou e fez exercícios, queria estar no melhor estado. Equipando-se por completo, subiu as escadas e saiu; a luz do sol bateu diretamente em seu rosto. Ainda no buraco, olhou ao redor da abertura.

Tendo certeza, saiu, tampou de volta com grama falsa e abriu seu mapa. Percebeu um desenho de uma pessoa pequena e verde, “como se desse pra imaginar isso sendo um goblin.”

No seu próximo caminho, teria de passar perto de um ninho, “agora o desafio é descobrir o que é esse desenho.” Virando o mapa de vários ângulos, tentou adivinhar. Na sua opinião, era um gato amarelo de listras pretas.

Desistindo de decifrar, seguiu em frente. O sol apenas no início do dia, seu café da manhã, uma barra de proteína guardada. Pelo menos, na floresta, era fácil achar frutas em arbustos e árvores.

Enquanto andava, ouviu um som curioso, igual a um porco grunhindo. Seguindo-o, encontrou o culpado. Do tamanho de um urso, andava de pé, garras nas patas, pele cinza e um rosto grotesco. Dentes longos e quebrados, nariz de porco, olhos pequenos e orelhas longas.

Pela sua pouca experiência sobre derrotar monstros, San aprendeu uma lição importante: sempre é bom saber sobre seu inimigo, fraquezas, vantagens, habilidades da sua raça, etc…

Atrás de um tronco caído, perguntou ao seu fiel relógio:

— Parece fraco, devo derrotá-lo fácil, me fala da sua espécie.

— Dretch. São bestas serviçais de demônios, inteligência baixa e poucas habilidades problemáticas.

— Com o que devo me preocupar?

— Suas garras são afiadas. A boca tem dentes pontudos, e principalmente, com um gás venenoso disparado ao sentir estar em perigo.

— E os pontos fracos?

— Descubra você mesmo, estou só te dando as informações básicas. É bom ser independente, até de mim.

Sabendo que iria ganhar somente aquilo de informação, esgueirou-se nos troncos. Contra garras, usaria a espada; contra velocidade, a habilidade. Fez essa regra para se organizar.

 A alguns metros de distância das suas costas, o monstro se virou de imediato, rugindo, já pronto ao combate.

“Fiz algo que chamasse a sua atenção?” San podia estar em dúvida do porquê de ter sido descoberto, porém, era hora de lutar.

O Dretch atacou primeiro; de quatro, correu na direção do inimigo. San pretendia desviar para o lado e acertar seu pescoço com a espada. Esperando, já tinha a ideia em mente. Próximos, a besta ficou de pé, como um urso, e atacou na sua direção.

Pego de surpresa, foi incapaz de desviar e teve seu peito cortado; caiu no chão. Atordoado, desviou por pouco do monstro tentando cair em cima dele. Rolando ao lado, levantou-se rapidamente e usou sua espada para cravar na cabeça.

Infelizmente, a besta conseguiu levantar de novo, entretanto, não saiu ileso, uma das suas orelhas foi arrancada, soltando um grito estranho e alto. Sem conseguir ir longe, a cabeça do Dretch ia ser cortada.

Irritado e com medo, do seu corpo saiu um gás; San se afastou. O gás parou de avançar dando três metros.

O sangue caindo incessantemente, o bicho dava gritos altos; a dor o deixou claramente instável. Negando perder a chance, San prendeu a respiração e se meteu na nuvem de fumaça.

Seus olhos ardiam, lacrimejavam só de segundo dentro da névoa, superando isso, chegou perto o suficiente; estava no alcance. No entanto, vendo quem cortou a sua orelha na sua frente, se irritou e utilizou as garras.

Dando um corte na vertical, tentou acertar o rosto do humano; contra as suas ideias, ele usou a sua espada contra as garras, cortando-as facilmente. Soltando outro grito, o desespero tomou conta. Distraído pelo medo, sua cabeça foi cravada pela ponta da lâmina.

O corpo caiu no chão, San se afastou e observou os arredores, com medo de atrair perigos devido aos gritos. Pegando uma boa distância, perguntou:

— Fui bem?

— Mediando, precisa aprender fintas e parar de sempre tentar acertar o pescoço ou cabeça dos inimigos. Sabe melhor que ninguém, existem inúmeros lugares para acertar e matar o alvo.

— Eu sei, mas é diferente quando tô perto deles, mais perigoso, só quero dar um fim logo. Usando as minhas balas de energia, posso ficar tranquilo, porque sei que tô seguro.

— Ah, o medo do combate corpo a corpo, normal ao começar a usar um novo tipo de arma. Qual a diferença de agora e lutando contra Simon?

— Era um humano, ruim, mesmo assim, uma pessoa. Esses monstros são imprevisíveis, cada um faz uma coisa diferente e inesperada.

— E como acha que será enfrentando os mutantes? Simon era inexperiente, fraco. Aprenda, os melhores são imprevisíveis, e você tem que ser assim também, tente fazer o inesperado.

— Vou me lembrar.

— Sabe o motivo do Dretch te perceber?

— As orelhas.

— Bom. Considere as características físicas dos seus inimigos nas suas lutas.

— Os Dretch são servos de demônios, então tem um aqui? Por que um demônio estaria no meio da floresta?

— Às vezes, essas bestas fogem dos seus donos; aquele deve ser um.

Sentando-se em uma pedra, fez um curativo no peito e voltou a andar. O restante do seu dia foi produtivo, se aproximava do seu objetivo; avistava animais para comer e não achou os gatos listrados por enquanto. Como sempre, a sorte de San durou pouco, porque entrou na zona de um ninho.

A espada já desembainhada, andou lentamente, cuidando se algo apareceria entre os arbustos ou pularia das árvores. Sabendo das possibilidades de ser atacado, tudo estava calmo, sem pegadas, fezes ou sinal indicando perigo nas redondezas.

Por mais que gostasse da calmaria, não abaixou a guarda, são nesses momentos que acontece o inesperado, e acertou. Comendo uma barra de proteínas, um rugido bestial espalhou na floresta, ecoando até dentro do seu corpo. Abaixando-se imediatamente, escondeu-se entre arbustos e grama, torcendo para nem ver a sombra do dono. Dois minutos depois, apareceu. Semelhante a um tigre, amarelo e listras pretas, o diferente nele era muito maior comparado aos outros, ultrapassando os três metros de comprimento.

Andava com um cervo na boca, pingando sangue a cada passo. O corpo de San permaneceu em alerta; um felino desses com certeza tinha um olfato apurado.

A espada abaixada na grama e preparado, sua essência circulava no corpo todo, só esperando um sinal para se soltar.

Por sorte, o monstro continuou o seu caminho, nem dando sinal de parar.

San esperou dez minutos, só pra ter certeza. Confirmando, acelerou o passo para longe; nada atrapalhou seu caminho, mesmo assim, pôde ouvir rugidos ao redor, toda vez o deixando alerta.

Saindo apressado do território, começou uma corrida; de vez em quando, pequenos monstros apareceram; sem ânimo de os enfrentar, deu um tiro na cabeça deles e continuou em frente. Descobriu que presas fracas, o tiro ultrapassava facilmente.

Com horas antes do anoitecer, chegou na próxima base. Para piorar seu dia, no lugar levando a passagem ao esconderijo, um monstro o esperava. Um Goblin evoluído.

A única coisa que mudava dos evoluídos aos normais, era serem maiores, mais fortes e melhores lutadores.



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