Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 2: Rotina de Sempre

Em frente a uma casa bonita, vários carros policiais se espalhavam na rua, formando um círculo e impedindo os civis de tentar passar a fita amarela.

Saindo de um táxi, um homem alto andou em direção aos policiais; tinha uma barba que, assim como seu cabelo, já estava grisalha, usava um sobretudo, seus cabelos desarrumados voavam ao vento da noite e rugas ao redor dos olhos mostravam sua idade avançada.

Passando pela fita, ninguém tentou impedi-lo, pessoas até tiraram fotos. Jogando o cigarro fora, entrou na casa. Por dentro, vários móveis quebrados enchiam o lugar. Indo ao meio da sala, viu dois corpos no chão, uma mulher e um homem de meia-idade. Ambos vestindo roupas caras, como se estivessem prestes a sair.

Os dois exibiam marcas por todo o corpo, desde cortes a queimaduras. O que mais se destacava eram as veias completamente pretas, indo dos pés até à cabeça. Seus olhos se transformaram em um branco puro e a última expressão sendo de um grito.

Enquanto olhava por minutos, uma mulher jovem, pele escura, cabelo amarrado e usando um terninho, se aproximou e disse:

— Seus nomes eram Connor e Vitória, casados há 20 anos, trabalhavam em uma empresa de televisão e iam em um baile beneficente.

Sem se importar, o homem olhou ao redor e perguntou:

— Estranho, por que a casa está tão bagunçada?

Ela também olhou ao redor e, como se fosse óbvio, disse:

— Devem ter lutado.

— Íris, né? Sabe quais eram os poderes das vítimas?

— Os dois tinham habilidades comuns. O do homem era criar ilusões simples e velocidade melhorada. A mulher, um pequeno controle sobre as plantas e dedução rápida. — falou enquanto lia em seu bloco de notas.

— Por que um homem como Dean Blackscar faria uma bagunça dessas? Se quisesse, poderia fazer com que os dois nem se movessem.

Parando de olhar as vítimas, começou a observar o lugar, com a mulher sempre o seguindo fazendo anotações em seu bloco de notas. O resto da casa permanecia normal, intocado. Chegando na cozinha, viu três pratos na mesa: um comido, e os outros dois quase não foram mexidos.

Com os corpos sendo levados embora, se encostou na varanda e acendeu um cigarro. Antes de poder terminar, Íris surgiu, trazendo o ar de seriedade consigo.

— Agente Ramon, tudo por aqui já foi resolvido. Esperaremos a autópsia para ver se encontram evidências.

— Então, só nos resta esperar, seja a autópsia ou por outra vítima.

— Como assim! Devemos procurá-lo e pegá-lo, vai saber quando irá matar novamente.

Com a voz cansada, respondeu:

— Você é novata, por isso vou explicar: é extremamente difícil achar Dean Blackscar, e se o encontrarmos, com certeza morreremos. Esse casal é estranho, normalmente ele só mata e pega seus poderes, dessa vez, as habilidades dos mutantes eram inúteis, e foram torturadas ainda. Com certeza tem mais aí. Por agora, só vamos esperar e ver o que acontece, e torcer para alguém melhor aparecer.

***

San acordou cedo, comeu uma refeição simples e foi ao trabalho. Andou por um tempo e chegou ao bar, cumprimentou os clientes regulares e entrou em uma sala separada. Saindo de lá, vestia uma camisa branca com avental preto.

Ser garçom era um trabalho entediante para San, mas não podia sair e caçar todos os dias. Durante a parte da manhã, o bar servia de restaurante. À noite, um bar lotado. Infelizmente, tinha assuntos a tratar na noite, por isso trabalhava de manhã. Sem se importar muito, se escorou no balcão e leu seu livro.

Distraído na leitura, teve o braço cutucado. Virando a cabeça, viu Sarah, uma garota um pouco mais velha que ele, seus cabelos pretos amarrados em um rabo de cavalo, sardas no rosto, olhos castanhos e usava a mesma roupa de garçom.

— A mesa quatro precisa de limpeza, urgente.

Deixando o livro na bancada, limpou a mesa. Ela espiou e disse:

— Monstros inteligentes, legal. Já chegou na parte dos lobisomens?

— Já, são bem interessantes.

— Acho horríveis, são grandes, peludos e assustadores.

— Eu até gosto, vivem em alcateias com toda uma hierarquia.

Depois de acabar, deixou um pouco o livro de lado e conversou com Sarah. Vendo o relógio e percebendo já ser meio-dia e seu turno acabou, se despediu e preparou para ir embora, mas Sarah o impediu.

— Ei San, se estiver livre esta noite, a gente podia comer algo.

— Caramba, me desculpa, eu tenho um trampo hoje à noite, deixa pra próxima.

Indo embora, se lamentou um pouco, mas logo esqueceu. Sabia que ela gostava dele, então era só marcar para outro dia. Naquela noite, iria até tarde.

Sendo meio-dia e já tendo almoçado no bar, San ficou sem o que fazer. Pensando por um tempo, foi à biblioteca pesquisar. Era um lugar normal. Livros de todo tipo enchiam as prateleiras, pessoas sentadas em cantos aleatórios lendo e balconistas entediados.

Faltando pouco tempo para despertar e com tudo o acontecendo, decidiu fazer uma pesquisa sobre monstros. Pelos livros, achou o básico, mas nada além. Já leu boa parte. Desistindo da pesquisa normal, mudou o foco aos computadores.

No entanto, pesquisar na internet sobre esse tipo de assunto era perigoso, San já havia sido enganado e quase morto várias vezes por gente dizendo serem mutantes experientes. Porém, nesse dia, descobriu coisas interessantes.

Uma delas sendo os humanos fazerem um tratado de paz com os monstros racionais e assim, podendo andar livremente nas cidades. “Como se fossem aceitar facilmente isso”. Muita gente era contra, uma parte era de pessoas com medo, a outra, achando que as bestas devem ser exterminadas e que humanos são superiores.

O outro assunto interessante, foi as academias de mutantes também começarem a aceitar monstros inteligentes de alunos.

San não se importava com isso, ao despertar e virar um mutante oficial, pretendia se tornar independente e usar suas habilidades conseguindo dinheiro matando monstros.

Mesmo se quisesse entrar em uma academia, eram caras demais; eram boas ensinando sobre controle, trabalho em equipe e táticas. Se conseguisse se formar, teria uma posição boa em qualquer lugar.

Suas pesquisas continuaram por horas, até o sol se pôr e precisar ir ao trabalho. Andando nas ruas, passou por vários caminhos e chegou aos bairros pobres. Crianças e adultos usando trapos o encaravam, esperando para ver se era uma pessoa roubável.

Ignorando-os, foi até os becos e, realizando inúmeras curvas, parou na frente de uma porta de metal. Bateu duas vezes rápido e uma lenta e a porta abriu por um homem beirando os dois metros de altura, usava roupas escuras e cobria o rosto com um capacete.

San o ultrapassou e subiu a escada ao segundo andar, onde se deparou com várias pessoas olhando o ringue abaixo.

Sentando-se no bar, esperou ser servido. Pra matar o tempo, encarou a tela mostrando uma luta. Os dois homens brigavam sem camisa; um sendo magro, o rosto repleto de machucados e sangue, enquanto o outro, ao contrário, havia o corpo de um fisiculturista e poucos machucados. San até se surpreendeu do magro ainda estar de pé.

O barman terminou de servir um cliente e se aproximou.

— Quem você acha que vai ganhar? — perguntou enquanto pegava um copo.

— É meio óbvio, o magrelo vai cair em poucos socos.

— Olhe bem. —, falou dando uma risada baixa.

Curioso, concentrou sua atenção na briga. Dava para ver que já estar no fim, e o público gritava a plenos pulmões, até que, em um momento, o magro parou. Não andou nem fez nada, e o homem avançou com tudo; subitamente, o som de todo o ambiente sumiu. Estranhando isso, San até tentou falar, mas nenhum som saía.

Na arena, o magro abriu a boca e soltou um grito de estourar os ouvidos, e foi exatamente isso que aconteceu; o homem caiu no chão com os ouvidos sangrando. Chegaram enfermeiros e colocaram o caído na maca. O apresentador se aproximou e gritou.

— E TEMOS UM VENCEDOR! — enquanto comemoravam, continuou — PARABÉNS AOS QUE APOSTARAM NELE, VÃO GANHAR UM BOM DINHEIRO.

Algumas pessoas ficaram bravas por perderem, outros, gostando de apostar no azarão, felizes. Nesse lugar, tem dois tipos de lutas: de mutantes e de gente normal. O vencedor ganha uma parte do dinheiro das apostas, ou pode apostar em si.

Olhando o barman, San perguntou:

— Sabia qual era a habilidade dele?

— Já vi o cara em outros lugares.

— Qual o seu poder? Sei que é sobre o som, como funciona?

— Até onde sei, canaliza os sons ao redor e junta em um grito.

— Precisava ter apanhado tanto para a usar?

— Se usasse um ataque fraco, o cara ia saber e desviar, ou acertar, mas não fazer muito nele. Então esperou sua multidão gritar o bastante. Só pra adicionar, o do outro é resistência aumentada.

San bebeu um pouco e voltou até as escadas, dessa vez indo para baixo. Passou o magro comemorando e se inscreveu. Depois de poucas partidas, teve seu nome chamado.

Entrou na arena sem camisa, o que era obrigatório. “Usam a desculpa da roupa, pode ter algo me protegendo, duvido ser isso”. Seu corpo era bem treinado e várias cicatrizes se espalhavam. De mordidas no ombro, garras no peito, cortes de faca nas costas e uma de bala na barriga, resultado de monstros e brigas tido por anos. No seu ombro esquerdo, dava para ver uma tatuagem de um corvo com as asas abertas.

A arena era grande; seu piso feito de pedra e, em cima, o público olhava de todas as direções. No meio, um homem robusto, com um sorriso grande, cabelo cortado ao meio e vestindo um terno, segurava um microfone.

— NA LUTA DE AGORA, TEMOS O SCAR!!

Vários aplaudiram e comemoraram. Vários lutadores têm apelidos, e nem são eles a escolher, é o público.

— E SEU ADVERSÁRIO, UM NOVATO, MAS MUITO FORTE, CLAAARENCE.

“Parece ter poucas lutas; senão, teria um apelido.” Do outro lado entrou um cara alto e forte com a cabeça raspada. “Pelo jeito a erguer os punhos, deve ser boxe. Outro indício é o nariz achatado.”

— QUE A BATALHA COMECE.

San escolheu esperar, não preferindo ser o primeiro a avançar. Clarence se aproximou agilmente, suas mãos levantadas na altura do rosto. Tentava acertar vários golpes, San desviava por um triz, e toda vez que tinha uma oportunidade, contra-atacava. E de nada adiantava, o homem era grande e sua expressão nunca mudava.

Nem sempre conseguia desviar, isso resultou em ser acertado em inúmeras partes. Até que uma hora, Clarence conseguiu acertar um soco forte na barriga de San, e o fez ficar no chão segurando a barriga.

— Há! Tá assim com apenas um soco, você é uma decepção.

Aproveitando a proximidade, San fechou o punho fortemente e acertou em cheio no meio das pernas de Clarence. Isso o fez se abaixar com uma expressão horrível.

— C-covarde. — falou fracamente.

Ignorando, foi até suas costas e segurou seu pescoço dando um mata-leão. O rosto de Clarence mudou em segundos para vermelho, e mesmo tentando se soltar, no fim fechou seus olhos.

O apresentador surgiu rapidamente verificando a condição de Clarence. Eram permitidos qualquer ataque. No entanto, uma das poucas regras era parar antes de matar. Vendo estar tudo bem, foi até San e levantou seu braço.

— TEMOS UM VENCEDOR!!

As pessoas comemoraram e San voltou aos vestiários, se vestiu com dificuldade, pegou seu dinheiro e saiu. De volta às ruas, andou por quase uma hora, passou os três bairros, o pobre, mediano e chegou no rico. Um lugar completamente diferente dos outros. As casas eram grandes e bem cuidadas, policiais apareciam frequentemente, rondando para ver a situação dos cidadãos. E até sendo tarde da noite, crianças andavam sem preocupação.

Indo a uma casa específica, parou na frente de dois homens. Seguravam armas grandes e encaravam-no de cima a baixo, vendo se apresentava ameaça.

Um deles pegou um comunicador e falou por um tempo, ganhando a confirmação o deixaram entrar. Passando as salas, quartos chiques e quadros nas paredes, entrou em uma porta.

Dentro, um homem gordo permanecia sentado atrás de uma mesa bonita. Usava um terno caro e cabelos escuros penteados perfeitamente. Junto a isso, um rosto sério enquanto olhava os papéis na mesa. Vendo o visitante, abriu um sorriso, revelando alguns dentes feitos de ouro.

— Santiago, bom ver você aqui.

— Não posso dizer o mesmo, Eugene. To com o seu dinheiro.

— Sente-se. — Sinalizou a sua frente.

Sabendo que suas escolhas eram poucas, sentou na cadeira.

— Está andando estranho, o que aconteceu? Se machucou por aí?

— Brigando pra conseguir a grana.

— Tem jeitos melhores de conseguir dinheiro.

— Sério? Nunca pensei nisso. Já disse que não vou voltar a trabalhar para você.

— Garoto, você já trabalha para mim.

Cansado daquilo, estendeu a mão e transferiu o dinheiro.

— 3 mil créditos, perfeito. E só te lembrando, cuidado com a língua, porque estou considerando aumentar para 4 mil créditos.



Comentários