Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 39: A Base dos Salvadores

O sol aquecia tudo, desde ruas até casas; as pessoas faziam o máximo pra refrescar o corpo, jogando água, comendo coisas frias e desfrutando de ar condicionados. Enquanto andava, podia-se ver crianças brincando, jogando balões de água.

Era março, os verões na cidade de Veridiam sempre foram uma boa época; não sofriam de secas ou falta de água. O maior problema eram os insetos.

Adoravam a época, principalmente quem tinha ar condicionado. San caminhava no meio da rua, com uma sacola na mão e torcendo para uma nuvem tapar o sol; infelizmente, o céu naquele dia era completamente limpo.

Na portaria do seu apartamento, deu de cara no senhorio, que sentia o vento do ventilador. Ao ver San, abriu um sorriso — algo raro de acontecer — e se aproximou.

— Santiago, meu jovem. Está bem?

— Bem, valeu. — respondeu, curioso do bom humor do homem.

— Bom, só queria agradecer de pagar dois meses adiantado o aluguel.

— Sim, tchau. — Subiu as escadas correndo.

“O que foi isso? Tenho certeza não ter pagado. Melhor deixar assim, vai que ouve um erro.” Abrindo a porta de casa, todas as janelas estavam abertas, Leo tava sentado no chão sem camisa, tentando se esfriar com o frio do piso, junto a Garmir, dormindo ao seu lado.

— To dê volta.

— Por favor, me diz que trouxe o sorvete.

— Tá aqui. — jogou a sacola na barriga do amigo.

Teve há uma semana no hospital, realizando exames; havia saído do no domingo e preferia ir imediatamente à base dos salvadores, mas Leo disse que teria poucos no dia; até criminosos aproveitam o domingo. Então, deixaram pra segunda.

— Vamo logo.

— Deixa eu só me vestir, rápidão.

Quase uma hora depois, ficou finalmente pronto, de camiseta e bermuda. San usava uma camisa e os dois últimos botões abertos e uma bermuda também.

Percorrendo a rua, perguntou:

— De onde arrumou dinheiro pra pagar o aluguel da minha casa?

Abrindo um sorriso animado, disse:

— Como descobriu?

— Conheço muita gente, que me consideram amigo, e somente um iria fazer essa maluquice.

— Aaah, me pegou. Tô recebendo bem e já que tô praticamente morando na sua casa, decidi ajudar.

— E esse dinheiro?

— Ganhei um patrocínio, vai descobrir em breve.

No seu percurso, ocasionalmente sussurros eram ouvidos, ficavam encarando San; alguns até se escondiam.

Por conta da notícia de um mercenário machucado coberto de sangue nas ruas, sabiam quem era; a maioria sentia medo e se afastava; tinha até os que saía da sala. “Que saco. Daqui a uns dias me esquecem.”

Entrando nos bairros pobres, tiveram de passar becos e vielas, só pra alcançar o lugar certo, um galpão grande. As janelas quebradas e as peças de metal enferrujadas.

Chegando a quatro metros da porta, dois homens apareceram do nada, usando pedaços de pano no rosto e segurando bastões e olhares de aviso. Porém, viram Leo, e o deixaram.

A porta grande abriu, revelando várias pessoas, ajeitando caixas, treinando com armas de mão e conversando.

— Legal. — falou enquanto olhava os lados.

Os dois continuaram um tempo, San prestando atenção, se surpreendendo. Era grande, ficava dividido por paredes simples de plástico; em cada cômodo, havia uma utilidade.

Um, gente discutia sobre o uso de armas, outro, uma pequena enfermagem, atendendo e dando remédios. Ao fundo, grande e com crianças correndo, brincando entre si ou jogando na TV.

Finalmente ultrapassando, entraram por uma porta levando a um corredor diferente, as paredes eram feitas de concreto, enquanto caminhavam, um ar frio enchia o ambiente.

Andando calmamente, era silencioso; apenas o som dos passos ecoava.

Parando na frente de uma porta, Leo a abriu e San o seguiu. Por dentro, tatames cobriam o chão e jovens sentavam em círculo, escutando uma mulher.

Era bonita, seus cabelos castanhos ficavam presos em um rabo de cavalo, os olhos azuis vagueavam pelos alunos ali, os avaliando. Usava uma camiseta confortável, junto a leggings justos e elásticos, ajustando perfeitamente ao seu corpo e permitindo total liberdade de movimento.

Apontando um, levantou, e começaram o treinamento. Dava socos e tentava acertá-la constantemente, pra ser bloqueado ou desviado. Ao errar, dizia e corrigia os erros, ficou até aprender.

— Quem é? Por que tão treinando aqui? E onde arrumaram esses equipamentos?

— Nossa patrocinadora. Estão aqui porque são os melhores e é bom investir neles. Pra finalizar, nos ajudou.

— Tá falando sério? Esqueceu do por quê quer ajudar, seu nome, etc.

— Tá legal. Seu nome é Laurem, tava fora da cidade e concorda que o jeito que nos tratam é errado.

— E deu pra vocês esses equipamentos?

— Sim, dinheiro, local e informações.

Ficando quieto, observou-a; desviava facilmente e, quando queria, revidava no momento perfeito, só pra parar a centímetros do oponente.

Vendo Leo, abriu um sorriso e disse ser hora da pausa. Se aproximando, falou alegremente:

— Oi, tá bem?

— To bem, golpes legais.

— Ah, tive treinamento jovem. Quer me desafiar outra vez? — falou indo na direção do rosto dele.

Corando, desviou o olhar e apontou a San.

— Trouxe um amigo, fui mostrar o lugar e paramos aqui.

Olhando ao lado, surpreendeu, falando admirada, perguntou:

— É o zumbi?

Abrindo a boca e responder, Leo falou rindo:

— Sim, apelido ruim, né?

— Soube que conseguiu fugir de um ninho, é verdade?

— É, e voltou pra confrontar o parceiro fugitivo.

— Nossa! E como foi?

— O maldito ainda está por aí, vai falar com os mercenários depois.

— Tomara que a justiça seja feita. Planeja entrar aos Salvadores?

“Eu juro, se Leonardo responder de mim de novo, dou um soco nele.” Pisando no pé do amigo, falou:

— Vim dar uma olhada, só.

— Hum, estranho. Só entra na nossa base quem faz parte do grupo.

— Ah, conheço San desde que éramos moleques, confio no cara.

— Aham. Me diz, zumbi, é bom lutando?

— Se fosse ruim, estaria morto.

— Que tal uma partida amistosa?

— Claro.

— Me deixe só afastar os alunos.

Indo no meio do tatame, falou com o resto do pessoal. Leo a encarava num sorriso bobo. Dando uma batida no seu ombro, San falou:

— Não acha muita areia pro seu caminhão?

— Quê! Somos amigos, cara, se toca. — falou enquanto desviava o rosto.

— Sei, da última vez que te vi assim, corri por todos os bairros só pra te impedir de casar com aquela prostituta.

— Qual é, isso é passado, eu havia recém feito 18 anos. Dizia que me amava e que pararia de trabalhar.

— É, agora tem 20, quanto tempo. — falou sarcasticamente na voz. — É boa lutando?

— Bastante, perdi.

“Interessante, Leo é famoso por ser um lutador excepcional.”

O meio liberado, os dois ficaram de frente. Logo os alunos cochicharam, falando sobre o zumbi contra a sua mestra. Prestes a iniciarem, ela disse:

— É uma partida de treino, sabe o funcionamento?

— Nos atacamos e paramos faltando pouco de acertar.

— Certo. Termina marcando três pontos.

Preparado, Lauren iniciou. Seus ataques eram ótimos, mas dava para aguentar; o problema era a força, sempre que acertava um braço, doía igual receber um golpe direto.

Então focou na esquiva, que era uma especialidade da sua técnica. Abaixando a cabeça quando um soco passou, se aproximou e colocou a mão na sua garganta e a forçou contra o chão.

— Ponto pra mim.

Voltando às posições, um brilho sutil apareceu nos olhos de Laurem. Avançando em uma investida mais rápida, estendeu a mão aberta, semelhante se tivesse garras.

Seu objetivo era o pescoço; San desviou dificilmente. Antes de conseguir atacar, um chute veio de baixo, o derrubando de costas. Um soco veio de cima, e desviou rolando; bem na hora que foi levantar, já estava a centímetros, a mão fechando no seu rosto.

— Meu ponto.

Engolindo em seco, voltaram às posições. San ficou animado, sabia que ela ativou um pouco do poder, e o deixava ansioso; lutar dependendo apenas de si, mesmo estando levemente machucado, era o suficiente para ter uma partida animada.

Dessa vez, com os olhos cuidando os movimentos, partiu pra cima, usando golpes ágeis e tentando acertar em qualquer área. Como era a partida final, os dois davam o seu máximo, escolhendo a melhor hora para atacar e desviar.

San deu um soco mirando no rosto, ela desviou abaixando e o acertando na barriga; segundos depois, deu uma rasteira e o derrubou de costas no chão.

Laurem deu um soco, mirando no chão. Desviando, assegurou seu braço e colocando as pernas contra seu corpo e forçando ao lado, a imobilizando.

Sabendo que ela tinha habilidades físicas de um mutante e duraria minutos, assegurou seu pescoço e o forçou, simulando uma quebra.

No seu ouvido, falou:

— Ponto pra mim.

Afastando, os alunos surpreenderam; sua mestra, que os vencia facilmente, perdeu para um aleatório. Recompondo, aplaudiram.

Levantando, agradeceu e disse:

— Boa luta, espero repetirmos.

— Com certeza.

Pegando Leo, saíram da sala. Sozinhos, seu amigo ficava constantemente lembrando da luta, dizendo dos golpes legais e o fim, da forma ganha.

San deu de ombros do resultado; era um treino. Na sua opinião, se lutassem de verdade, perderia, já que só numa amostra do poder, era complicado resistir; usando completamente, iria ser outro nível.

E com seus poderes, previa que o resultado continuava sendo a derrota. Só ganhou aquela luta devido à experiência; desde jovem foi lutando e se metendo em situações perigosas; ela, precisava melhorar.

Cansando da falatória constante do amigo, disse ir ao banheiro, recebeu instruções e seguiu em frente. O banheiro era grande e frio também; tendo certeza de não haver ninguém, lavou o rosto e olhou no espelho.

“Devo cortar esse cabelo.” Já alcançavam na metade da testa; daqui a um tempo, chegariam nos olhos. O seu rosto estava bem melhor, a maioria sem machucado.

— Teoria de quem é ela? — perguntou ao seu relógio.

— Difícil dizer, suas técnicas eram boas e confiança estampada no rosto.

— Com certeza, é de uma boa família.

— Concordo, a questão é, por que uma garota dessas está aqui?

— Sim, e olhando seus alunos, vi admiração, gostam dela. Mas é estranho, o que quer?

— Ajudar?

— Qual é, vamo ser realistas, sempre querem algo em troca, o que uma garota rica iria fazer aqui?

Percebendo que demorava no banheiro, saiu de dentro. Voltando a Leo, pensou: “Que mal faria dar uma explorada sozinho?”

Andando no sentido contrário, andou aleatoriamente; ocasionalmente, entrava em uma sala e via o que havia dentro; quando alguém aparecia, cumprimentava como se fosse membro dos Salvadores.

Já desistindo e indo voltar, decidiu olhar mais uma porta. A abrindo, um som estrondoso encheu seus ouvidos. Ficando alerta, já preparou para usar um poder. Entrando cautelosamente, olhou dentro. Alinhados, seguravam armas de fogo nas mãos, miravam e atiravam em um alvo que se movia.

Em cima de uma mesa, muitas outras. Desde que monstros surgiram e as armas tornaram obsoletas por causa dos mutantes, foi dificultando encontrar o produto.

No entanto, a quantidade na mesa era grande, e de certeza há mais guardadas em quartos diferentes. Não querendo ficar ali, voltou ao amigo.

O achou facilmente, conversando com Laurem. Seu rosto era irritado, enquanto ela, séria. Se aproximando, perguntou:

— Opa, o que aconteceu?

— Nada, fez a sua visita, já vai embora?

— O que houve, Leo?

Hesitante, respondeu:

— A polícia invadiu várias casas no bairro pobre, agrediram e mataram quatro. — Sua voz carregava raiva.

— É uma pena, cara.

— Sim, e temos que dar o troco. Qual o plano, Leo?

Ficando quieto, considerou; no final, decidiu.

— Vamos revidar, diferente da última vez, é sério. Temos que nos arrumar, vamos decidir o dia.

Laurem entendeu e concordou, correndo ajeitar as coisas. San também entendeu, iriam utilizar as armas, se vingar.

— Tenho que resolver uns problemas, volta pra casa.

— Eu sei, — decidiu ir direto ao ponto. — tem um estoque de armas.

— Mas… ah, sabia que tava demorando. Bem, já pode ir.

Tentou se afastar, saindo do ar frio e juntando ao aglomerado, só pra ser assegurado no ombro.

— Cara, o que tá fazendo?

— Justiça.

— Há, eu duvido. Matar a sangue-frio não é justiça. Sim, erraram ao invadir as casas e machucar, contudo, iniciar uma guerra é pior.

— Já me decidi.

— Show, me diz, acredita que os moradores dos bairros pobres são bons?

— Pra que?

— Responde.

— Não, sei ter gente ruim.

— Pode confirmar?

— É impossível um lugar ter somente bons.

— Concordo, também é impossível ter somente pessoas ruins nos policiais; ao começar essa guerra, inocentes vão se envolver.

— Temos de mandar um sinal, é o único jeito.

— Quem disse? Laurem?

— O que tem?

— Não acha estranho? Uma garota rica decide ajudar os pobres precisando, dá comida, um bom esconderijo pra ficar, os treina e dá armas. Tem algo errado, sei disso.

— San, deixa de desconfiar de todos, você sempre foi assim. Aprende a confiar. Acredito nela.

— Tenho certeza, tá bolando alguma coisa.

— Ah, e tinha certeza que o membro do seu grupo era bom, mesmo assim foi com aquele cara pra um ninho e seu grupo morreu!

A multidão ao redor pararam e olharam a cena, curiosos da briga.

— Foi mal eu…

A voz calma, o encarou e disse sinceramente:

— Quando seu plano der errado, percebendo que matou desnecessariamente. Não vem chorar no meu ombro.

A passos largos, foi embora, tendo o caminho aberto.



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