Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 33: Capitão

Após o sucesso da emboscada feita por mim e Lana contra um grupo de soldados do Leste alguns inimigos se entregaram, poucos conseguiram fugir, mas a maioria tombou em combate.

Levamos os resgatados para o nosso acampamento improvisado. Os prisioneiros libertos eram soldados que estavam lutando nas linhas defensivas ao sul do país, segundo eles, foram vítimas de uma emboscada e os que sobreviveram se dispersaram.

— A frente de defesa do Sul? Foi completamente desmantelada!  Nunca vi um contingente inimigo daquele tamanho em toda a minha vida! Foi um massacre horrível! — dizia um dos homens severamente ferido e Lana ouvia atentamente cada palavra daquele soldado que lamentava a má sorte das suas tropas diante da superioridade numérica do inimigo.

— Eu sobrevivi por pouco, vi meus melhores amigos tombando um a um e tudo que consegui fazer foi fugir daquele lugar! E para que? Para sermos caçados como animais em nossas próprias terras. Já nem sabemos direito aonde viemos parar.

— Estão quase nas terras de Álbion, mas então houve rendição? — perguntou Lana incrédula.

— Não, isso ainda não. Dizem que mesmo o rei, confinado em um local secreto articula um movimento de virada — disse outro homem.

— Eu preciso de mais informações. Estou à procura de meu pai. Vocês precisam me ajudar!

— Lamento minha jovem. Eu não quero parecer ingrato, mas as chances de que ele esteja vivo são pequenas. Não saberia dizer por onde começar a procurar. Toda aquela região foi devastada. Sinto muito mesmo — disse o homem ferido.

Lana não podia aceitar aquela resposta. Seu semblante era de tristeza. Pensei em dizer algo em seu consolo, mas as palavras me fugiam da mente naquele momento. Enquanto ela estava ali, em silêncio e desolada eu conseguia pensar somente em uma coisa “Como ela é linda!” Censurei-me por ter aquele tipo de pensamento em hora tão imprópria, mas era inegável meu fascínio por sua beleza e agora também por sua habilidade. E todos os mistérios em torno desta jovem dava um tom ainda mais especial.

Quebrando o silêncio um dos feridos levantou-se e disse:

— O nome, poderia ao menos me dizer o nome dele? — disse o homem indo em direção a Lana. — Ele por acaso possui o cabelo assim como você?

Lana olhou desentendida.

— Digo avermelhado, talvez um pouco mais claro — arriscou o homem.

— Sim — respondeu Lana. — Seu nome é Alan.

Fez-se um silêncio no local. Todos os soldados se entreolharam e então lançaram um olhar estupefatos para a jovem.

— Jovem, você está se referindo ao general Archel? — perguntou um dos homens ainda surpreso com a notícia.

— Sim… ele mesmo — respondeu a ruiva.

— Você é filha de um general? — perguntei desconcertado.

— É por isso que ela luta daquele jeito! — exclamou um dos homens.

— Nem mesmo que fosse filha de mil generais é de se esperar que uma garota lute assim — murmurei enquanto mentalmente ia tentando encaixar as peças de um estranho quebra-cabeças.

Aline estampou um sorriso orgulhoso que mal cabia em seu rosto. Para a pequena soava como se Lana fosse filha do próprio rei de Bravia.

Os homens ficaram surpresos com a notícia, mas mantiveram-se cabisbaixos e em silêncio até que um deles resolveu falar.

— Sabemos bem quem é o nosso general. Sabemos também de tudo que ele tem feito na guerra, mas o seu paradeiro é desconhecido — falou o homem em tom de pesar.

— Pois eu sei! — retrucou um outro prisioneiro com sotaque ligeiramente arrastado.

— Ah, um dos forasteiros. O que você pode saber? — questionou outro soldado com certo desdém.

— Deixe apresentar-me. Meu nome é Wallace. Como disse o camarada ali eu não pertenço as estas terras, nem eu e nem o meu amigo aqui, o Denis. Somos de Merídia — falou o homem de média estatura, cabelos castanhos, barba por fazer, vestindo trapos tal como os demais.

— Seria muito rude da nossa parte se ao menos não pudéssemos retribuir a você que nos libertou — completou Denis, um sujeito baixinho de cabelo e pele mais clara.

— Merídia fica ao extremo sul. O que fazem aqui? — questionei surpreso com a notícia.

— Éramos batedores, tínhamos que analisar a situação nas fronteiras e notificar aos nossos superiores. A situação fugiu de controle quando as suas tropas começaram a ser desmanteladas, fugir para cá foi o melhor que conseguimos fazer.

— E o que sabem… sobre o meu pai? — Lana vacilava com as palavras enquanto um breve lampejo de esperança alcançava os seus olhos.

— Eu não o conheci pessoalmente, mas só pode ser ele. Ele conduzia um grupo de soldados em direção das fronteiras de Merídia após uma investida malsucedida. Acho que estava indo em busca de abrigo ou de apoio, difícil dizer — concluiu Wallace.

— Não é muita informação — analisei friamente.

— Mas já é um ponto de partida! — respondeu Lana. — Vamos Aline! Partiremos imediatamente para Merídia.

— Aonde você vai? — questionei inconformado.

— Não está claro? Aline e eu iremos para Merídia. Não precisa se preocupar eu já disse que sei me cuidar!

— Não é com você ou com a jovem Aline que eu me preocupo.

— Então é com o quê?

— Estou preocupado é com os seus inimigos — falei olhando para o rosto da jovem com um sorriso bobo na face e Lana fez cara de desentendida e em seguida deu um leve sorriso. — Não pode sair por aí lutando com todo mundo.

— Se todo mundo fosse gentil como o Edmundo isso não seria preciso — rebateu Lana.

— Oi gente! Me chamaram? — tentou interromper Aline.

— Só o Edmundo? E eu?

— Você? Você é um mentiroso!

— Nossa! Isso é grave! — comentou Aline.

— Eu? Um mentiroso? Como assim?

— Nem você e nem o Edmundo são meros viajantes de passagem! Acho que já passou da hora de esclarecer as coisas.

— Escute aqui… — Perdi a fala pois não queria me identificar ali na frente de todos, não naquela circunstância.

— Eu vi como você lutou contra aqueles soldados e a facilidade que você derrotou aqueles homens. Não vai me dizer que também não recebeu treinamento para isso? Quem são vocês afinal? — intimou Lana.

— Que barraco — sussurrou Aline baixinho enquanto observava tudo de perto.

Engoli as palavras por um minuto enquanto ela me encarava com seriedade e então sem muito raciocinar disparei:

— Se bem me lembro eu fui atacado a noite por você e pela sua amiguinha aqui. Você não me parecia muito digna de confiança e mesmo assim quando o monge pediu que eu retornasse para te ajudar, vim o mais rápido possível! E agora… e agora eu poderia estar tranquilamente em casa, mas não! Estamos aqui ajudando sem reclamar!

— Eu não pedi ajuda de ninguém! Veio por que quis!

— Ui! Isso foi indelicado — murmurou Aline.

— E mesmo assim veja como sou tratado! — respondi.

— O que você quer afinal?

Fiquei em silêncio pois percebi que para aquela pergunta eu ainda não possuía uma resposta. Poderia eu estar ali para tentar provar alguma coisa? Provar que o povo de Polaris tem coração e padece pelos males da guerra, ou eu queria provar que eu realmente era o bom espadachim, aquele que corre em auxílio dos necessitados, ou ainda poderia ser que eu simplesmente estava interessado em ficar mais um pouco perto daquela moça?

— Vamos preparar nossas coisas Aline! — disse a jovem dando as costas para mim.

— Acredito que não é somente ela que precise de tais respostas — disse Edmundo colocando a mão em meu ombro.

Olhei surpreso e ele continuou:

— E eu não estou falando de mim.

— Está tão evidente assim? — questionei.

— Fomos além das gentilezas. Acredito que seja hora de retornarmos para casa — disse o sagaz se retirando.



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