Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 129: Sobreposição Mágica

Na manhã seguinte, a sala de aula estava em seu habitual burburinho, com os alunos conversando enquanto aguardavam a professora. O som de passos firmes ecoou pelo corredor, e logo a porta se abriu, revelando Kassandra. Ela entrou com um sorriso radiante, emanando energia positiva. 

— Bom dia, turma! — cumprimentou alegremente, enquanto os alunos respondiam de maneira mista, alguns animados, outros ainda lutando contra o sono. 

Ela caminhou até uma das cadeiras na frente da sala, onde sua filha, Cassie, estava sentada. A professora se inclinou discretamente, piscando o olho para a filha enquanto sussurrava: 

— Valeu, filhinha, por ontem. A noite foi... mágica. 

Cassie instantaneamente levou a mão ao rosto, tentando esconder a vermelhidão que tomou conta de suas bochechas. 

— Tá, mãe! Esquece isso, não preciso dos detalhes! — murmurou ela, constrangida, enquanto os alunos próximos trocavam olhares curiosos. 

Kassandra deu uma risadinha antes de se levantar e iniciar a aula. 

— Certo, pessoal, hoje vamos falar sobre um tema fascinante: sobreposição mágica. — Sua voz tinha um tom animado e professoral, o suficiente para atrair a atenção de grande parte da sala. — Como já sabem, existem cinco classes de magos: elementalista, transformo, forjador, conjurador e dominador. Embora cada pessoa pertença a uma classe, existe a possibilidade de trocar de classe uma única vez. É isso que chamamos de sobreposição mágica. 

A sala ficou em silêncio enquanto os alunos absorviam a explicação inicial. 

— Vou dar um exemplo — continuou Kassandra, gesticulando com as mãos para reforçar suas palavras. — Um mago se torna dominador automaticamente ao receber uma invoker acoplada ao seu corpo. Isso cria uma espécie de simbiose entre a alma do mago e a do arcano selado na invoker. Se uma pessoa que nunca despertou poderes mágicos recebe uma invoker, seus poderes se manifestam e ela se torna uma dominadora. 

Ela fez uma pausa dramática antes de prosseguir. 

— Mas e se a pessoa já tiver poderes? O que acontece se ela, que pertence a outra classe, recebe uma invoker? — Kassandra ergueu as sobrancelhas, incentivando os alunos a refletirem. 

Alguns murmuraram entre si, tentando encontrar respostas. 

— Nesse caso, ocorre a sobreposição mágica. Basicamente, a alma do arcano dentro da invoker é mais poderosa e sobrepõe os poderes do mago, forçando-o a se tornar um dominador, independentemente de sua classe anterior. 

Kassandra caminhou até a mesa, onde havia duas caixas lacradas. Ela as abriu, revelando o conteúdo para a sala atenta: em uma delas, um martelo azulado feito de energia pulsante; na outra, um ovo brilhante, envolto em um halo azul etéreo. 

— Esses equipamentos rúnicos são excepcionais. — Sua voz ficou mais baixa, quase como se estivesse compartilhando um segredo. — Eles permitem a criação de uma sobreposição mágica de forma artificial. 

Ela ergueu o martelo, analisando-o brevemente. 

— Forjadores e conjuradores, diferentemente de elementalistas e transmorfos, têm suas almas fragmentadas. Os forjadores o fazem com seu equipamento de forja, enquanto os conjuradores o fazem com suas bestas mágicas. Este martelo, por exemplo, permite que o mago molde sua alma, mudando sua classe para forjador. Já este ovo — ela apontou para o segundo artefato — cria uma besta mágica e transforma o mago em um conjurador. 

Ela voltou o olhar para os alunos, que estavam completamente absortos. 

— Contudo, há um custo. — Seu tom ficou mais grave. — O controle mágico do equipamento de forja ou da besta mágica se torna significativamente mais difícil. É por isso que essa prática é extremamente rara e considerada uma medida extrema, sem volta. 

Antes que pudesse continuar, a porta da sala se abriu novamente. Prya entrou, seguida pelos clones de Kenia, Moara, Donny e Vicente. 

— Desculpe o atraso, professora — disse Prya rapidamente, com um sorriso meio sem jeito. 

Kassandra apenas assentiu, indicando com a mão que se sentassem. Eles se acomodaram no fundo da sala, mas suas atenções não estavam na professora. Seus olhares estavam fixos em Joabe, Kreik, Clemencia, Cassie e Rufus, que retribuíam o olhar com intensidade. O clima de tensão no ar era palpável, mas Kassandra continuou sua explicação como se não tivesse notado. 

Enquanto isso, em outro canto da universidade, Areta estava em sua sala particular. Sentada em uma poltrona de couro, ela olhava para um ponto fixo na parede, perdida em pensamentos. Seus dedos tamborilavam levemente no braço da poltrona até que a porta se abriu. 

Rydia entrou hesitante, a expressão tentando mascarar a inquietação. 

— Chamou, professora Areta? — perguntou, mantendo o tom respeitoso. 

Areta olhou para ela e abriu um sorriso que parecia carregar segundas intenções. 

— Sim, minha estagiária. Quero que agende uma reunião com o professor Lemon Doyle e traga aquele faxineiro que trabalha para ele. Tenho algo a negociar. 

O coração de Rydia disparou. Ela sentiu o sangue gelar ao ouvir aquelas palavras. “Que merda! Agora ela vai descobrir que mentimos sobre o Uji trabalhar para o professor... O que vamos fazer? Ela vai nos matar se descobrir a verdade!” 

Apesar do turbilhão de pensamentos, Rydia forçou um sorriso e respondeu calmamente: 

— Como quiser, professora. Providenciarei o encontro agora. 

Ela se retirou da sala o mais rápido que pôde, sua mente já tentando desesperadamente bolar um plano para contornar aquela situação.

Alguns minutos depois, Areta adentrou na sala de reuniões com passos firmes, o som dos saltos ecoando pelas paredes cobertas de estantes de livros e equipamentos mágicos antigos. Doyle já a aguardava, sentado à cabeceira da longa mesa de mogno. Seus dedos tamborilavam ansiosamente, e seus olhos brilhavam de curiosidade. Uji e Rydia seguiam a professora, assumindo posições discretas ao lado dela, mas atentos a cada movimento. 

— Professor Doyle — começou Areta. Seus olhos rubros emanavam superioridade, e sua voz carregava uma autoridade inquestionável. — É um prazer tê-lo aqui. Temos algo muito importante a discutir. 

Doyle inclinou-se para frente, cruzando as mãos sobre a mesa desgastada. Seu jaleco, manchado por um líquido azul que refletia sob a luz, denunciava a recente interação com suas preciosas águas-vivas mágicas. 

— Professora Areta — respondeu ele com um tom que oscilava entre o respeito e a cautela. — Sempre à frente de planos grandiosos. Diga-me, o que a trouxe aqui? 

Areta lançou um olhar discreto para Uji, que permanecia imóvel ao seu lado. O jovem de cabelos loiros mantinha a expressão serena, mas seu corpo estava tenso, preparado para qualquer eventualidade. 

— Sobre o seu... “faxineiro”, Lemon. — A voz de Areta tinha um toque de ironia enquanto ela gesticulava casualmente. — Ele me contou tudo sobre suas artimanhas. 

— Meu faxineiro? — Ele arqueou as sobrancelhas, claramente intrigado. — Receio que não saiba do que está falando. 

Uji sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Doyle estava começando a desconfiar. Instintivamente, sua mão deslizou para o cabo da katana escondida sob o casaco, mas ele manteve a expressão neutra. 

Percebendo o momento crítico, Rydia deu um passo à frente, sua presença imediatamente dominando a sala. Os cabelos curtos de tonalidade verde-musgo contrastavam com seus olhos calculistas, que brilhavam com uma frieza intimidante. 

— Ah, professor Doyle... — disse ela, com um sorriso que não alcançava os olhos. — Talvez tenha esquecido, mas sabemos de sua pesquisa irregular. É realmente impressionante como tenta se aproveitar da rivalidade entre Areta e Leonora para avançar em sua própria agenda. 

A jovem inclinou a cabeça levemente, seu sorriso transformando-se em algo mais ameaçador. 

— Sugiro que coopere. Afinal, seria uma pena se a diretoria descobrisse suas... práticas questionáveis.

Doyle sentiu o impacto das palavras de Rydia. Suas mãos tremiam levemente, mas ele as escondeu sob a mesa. Sua voz falhou quando tentou retrucar: 

— Eu... Eu... não sei do que está falando.

— Ah, sabe sim. — Rydia retrucou, sem perder a compostura. — Mas não se preocupe. Estamos aqui para propor uma solução, não para complicar as coisas... desde que você esteja disposto a colaborar, é claro. 

Areta sorriu levemente para Rydia, orgulhosa com sua imponência e aproveitou a deixa para retomar a conversa. 

— Exatamente. Sempre estou à frente, professor Doyle. Estou aqui com os incentivos certos. Podemos fazer algo grande juntos.

— Estou ouvindo — respondeu Doyle, ainda inquieto, olhou para Areta, tentando recuperar a compostura.

— Meu plano é simples. — A confiança de Areta era palpável. — Você quer reconhecimento por sua pesquisa. Eu quero o lugar que me é devido como Reitora. Trabalhando juntos, podemos incriminar Leonora e derrubá-la. Em troca, eu assegurarei que você tenha financiamento irrestrito para suas águas-vivas.

Doyle esfregou o queixo, fingindo ponderar, mas sua mente ainda vagava pelas palavras sobre o “faxineiro”. Algo não fazia sentido. 

— E se Leonora descobrir? — Ele perguntou, testando os limites da proposta. 

— Ela não descobrirá. — Areta foi categórica, sua voz firme como uma lâmina. — Eu cuidarei disso pessoalmente. Leonora está fraca e vulnerável. Quando ela cair, será tarde demais para qualquer retaliação. E quem não estiver do meu lado cairá junto. 

Houve uma breve pausa enquanto Doyle fingia avaliar as opções. 

— Bem... Parece uma troca justa. — Ele assentiu lentamente. — Concordo, professora Areta. Trabalharei ao seu lado. 

— Ótimo. Não se arrependerá, Lemon. E lembre-se, não tente nenhuma gracinha. Sou bastante persuasiva... pode perguntar ao seu “faxineiro”. 

Doyle sorriu tenso, sem responder. Enquanto Areta saía, seguida por Uji e Rydia, ele permaneceu na sala, observando-os com atenção. Quando Uji ajustou o boné, uma mecha loira escapou, ativando a memória de Doyle. 

Ele ficou imóvel, as peças se encaixando em sua mente. 

— Foi ele... — murmurou, os olhos se estreitando enquanto o rosto assumia uma expressão sombria. — Aquele maldito foi quem atacou minhas águas-vivas. E agora forjou essa história absurda... 

Um sorriso frio surgiu em seus lábios enquanto ele se dirigia à janela, olhando para o horizonte, sua voz carregada de promessas sombrias e uma determinação quase insana.

— Vocês acham que podem brincar comigo? Primeiro, ganharei a confiança de Areta... Depois, acabarei com vocês. Principalmente você, “faxineiro”.

A manhã transcorreu sem maiores eventos até o fim da aula da professora Kassandra. Assim que o sino soou, os membros da guilda Crossed Bones se reuniram na pequena sala de limpeza. Lá, os aguardavam Rufus, entretanto, junto com o jovem Flamel estavam Cassie e Clemência. 

Baan, com sua expressão desconfiada, cruzou os braços ao notar as duas garotas presentes. 

— Ei, o que essas duas estão fazendo aqui? 

— Viemos ajudar. — Clemência tomou a frente. — Já estamos cansadas de ser enganadas e manipuladas. Vamos participar do plano para acabar com aquele Poeta Fantasma maldito e deter a Prya! 

— O que estamos fazendo aqui é perigoso — Rydia falou, apoiando-se contra a parede, após lançar um olhar frio. — Quanto menos vocês se envolverem, melhor. Não estamos brincando. 

— Perigoso ou não, eles capturaram o Donny! Não vamos descansar até trazê-lo de volta. Se quiserem nos excluir, tudo bem, mas saibam que não pensaremos duas vezes antes de espalhar a real identidade de vocês por aí. Também não estamos de brincadeira. 

O ar ficou pesado. Baan lançou um olhar de esguelha para Kreik e Joabe, que apenas desviaram os olhos, fingindo desentendimento. Ele suspirou, derrotado. 

— Não sei como vocês descobriram isso... — admitiu, esfregando a nuca — Mas muita coisa mudou, e agora não teremos como protegê-las se forem atacadas. 

— Quem disse que vamos precisar de proteção? Nós damos conta. Né, Cassie? 

— Sim... Não vamos recuar. — Cassie, embora hesitante, assentiu.

“Envolver a filha da Kassandra nessa história... Isso vai dar merda...”, refletiu Baan. 

Uji, mantendo-se despreocupado, riu enquanto cruzava os braços. 

— Ei, Baan. Elas não vão recuar. É melhor aceitar logo. 

Após um momento de silêncio, Baan suspirou mais uma vez e cedeu. Ele então começou a explicar o encontro da guilda com a reitora Leonora, enquanto Rydia detalhava a perigosa aliança de Areta com Lemon Doyle. 

Rufus ouviu tudo atentamente. Quando terminou de assimilar as informações, falou com resignação: 

— Bom... Se não havia outra alternativa além de aceitar a oferta de Leonora, fizeram o certo. Ainda bem que foi Leonora que descobriu, ela é uma boa pessoa. 

— Você parece confiar bastante na reitora... — comentou Joabe, arqueando uma sobrancelha de curiosidade. 

— Sim. — Rufus cruzou os braços e lançou um olhar distante. — Passei minha infância isolado, controlado pelos meus pais. Eles não queriam que eu seguisse os passos do Randalf... Mas, quando meu irmão retornou para Meryportos, começou a conviver comigo. Foi então que descobri o quão bondosa Leonora era... e por que meu irmão largou tudo por ela.

— E sua mãe? Acha que ela realmente está envolvida com esse poeta fantasma só para atingir Leonora?  — Baan perguntou.

— Minha mãe é obcecada por destruir a Leonora. Ela a culpa pelo que aconteceu com Randalf. Mas envolver alunos... Isso não parece algo que ela faria. 

— Também acho que não faz o estilo dela. Mas, de toda forma, Leonora quer que a investiguemos. Nosso primeiro passo é localizar o laboratório secreto dela — Rydia ponderou, os olhos semicerrados. 

 Rufus endireitou a postura, interessado. 

— Vocês conseguiram a localização? 

— Acho que fica em algum compartimento da sala dela. — Rydia explicou, ajeitando uma mecha de cabelo verde-musgo. — Sempre antes de ir embora, ela cria uma barreira mágica, impedindo qualquer um de entrar. Além disso, quando precisa ficar a sós, como hoje, ela reforça a barreira e se tranca completamente. 

— Isso complica as coisas. — Baan franziu o cenho. — Vamos ter que romper a barreira dela. Mas como? 

— Eu sei como. 

Atônitos, todos voltaram seus olhos para Rufus. 

— Como? — perguntaram em uníssono. 

— Minha besta mágica tem a habilidade de remodelar magia. Mas isso só funciona quando a magia não é muito superior à minha. Contudo, ela pode receber poder mágico emprestado de outras pessoas. Assim, meu poder aumenta temporariamente, permitindo remodelar magias mais poderosas por um breve período de tempo. 

— Então, se não formos rápidos o suficiente, ficaremos presos dentro da sala? — questionou Baan, apreensivo. 

— Exatamente. Mas não é só isso. Minha mãe usa uma runa de alarme na porta. Se alguém abrir, o alarme vai soar diretamente numa outra runa conectada a ela, que ela guarda na cabeceira da cama. 

— Merda... Isso parece impossível. — Kreik passou as mãos pelos cabelos ruivos, frustrado. 

Rydia suspirou profundamente. 

— Então fazemos assim: Rufus e Baan irão hoje à noite até o laboratório da professora Areta. Eu irei até a casa dela e trocarei a runa. 

— Como você pretende fazer isso?  — perguntou Rufus, perplexo.

— Não sei ainda. Mas vou descobrir. 

— E nós? O que fazemos? — perguntou Uji, com seu sorriso habitual.

— Vocês vão emprestar seu poder mágico para minha besta mágica. Quando fizerem isso, ficarão temporariamente sem poderes. Então, é melhor ficarem na retaguarda, aguardando o efeito passar. 

— Ai, não. — Clemência bufou, inflando as bochechas de raiva. —Não quero ficar só sentada enquanto vocês vão para a ação! 

Cassie, mais calma, colocou a mão no ombro da amiga e balançou a cabeça, tentando convencê-la. Clemência, relutante, acabou cedendo, mas seu olhar teimava em demonstrar sua insatisfação. 

O plano estava traçado e a tensão no ar era palpável. A noite eles iriam ter que executar o planejado, cada movimento precisava ser calculado, cada passo, precisamente impecável.

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