Magia Gênesis Brasileira

Autor(a): Rafaela R. Silva


Volume 1

Capítulo 22: O Primeiro Conjurador

Até hoje, pouco se sabe sobre esse nome. Tão antigo e desconhecido como a própria terra. Há uma lenda, que esse nome pertencia ao primeiro ser que dominou e conjurou a magia pura. Não há relatos de como ele era especificamente. Apenas muitas histórias e contos sobre ser o primeiro conjurador. Isso era tudo que o grupo sabia sobre Fazhar.

Não tinha como saber que esse homem, que estava perante a eles, dizia a verdade. Uma lenda tão antiga, seria impossível ele estar vivo até hoje. Alguns afirmam que ele nasceu da própria magia, outros dizem que ele é filho de Gaia. Muitas especulações sobre sua origem, mas nenhuma ainda confirmada.

Da mesma forma que na fonte, Lenna não sentia nenhum tipo de magia vindo daquele indivíduo. Cázhor se aproximou do belo homem no trono, mesmo com a contra indicação de todos, então ergueu sua mão em direção a ele e para sua surpresa, ele confirmou suas suspeitas quando sua mão transpassou por ele. Não era real.

— Tudo bem, você me pegou, não que eu estivesse tentando esconder isso, mas... — O homem parecia desapontado com a descoberta.

 — Essa é uma magia de... — Cázhor foi interrompido.

— Projeção! — feliz, ele batia palmas — uma projeção que foi gravada nesta sala. Então parabéns, você é um excelente usuário de magia.

Ele parecia não falar diretamente para o mago, e sim para qualquer um que descobrisse o tal truque. Aparentemente havia um limite para a “suposta projeção”.

— Aparentemente, ele tentou ser o mais genérico possível na hora de gravar, para parecer real independentemente de quem visse — concluiu Cázhor, explicando para os demais.

Aquele que se auto intitulava de Fazhar, seguiu explicando sem dar muito tempo para que o grupo questionasse.

— O tempo que temos é curto. Usei o que restou da minha magia, para a ativação dessa explicação. Preciso passar ao menos o básico, para evitar que fiquem mais perdidos ainda.

— Mas... — Lenna não teve a oportunidade de continuar sua frase.

— Infelizmente demais explicações sobre mim e minha origem terão de esperar, sinto seu anseio por respostas, mas terá seu momento. Eu prometo.

— Em resumo, ao longo de minha jornada, desbravei vários lugares, deixando minhas experiências e aprendizados registrados — continuou, enquanto apontava para um pequeno pedestal que surgia mais ao canto do salão.

Em cima dele um livro desgastado se fazia evidente. Imediatamente os brasões começaram a apontar em direção ao objeto. Tudo indicava que esse era o livro que procuravam.

Fazhar continuava sua explicação, falando sobre sua grande afinidade com magia, o que lhe proporcionou uma enorme facilidade em compreender como ela se formava. Sua curiosidade, acabou lhe fazendo conhecer a história de Vastyr.

— A melhor parte começa agora — disse o conjurador surpreso com as próprias palavras.

O grupo seguia atento. Sem perder nenhuma informação, mas, ao mesmo tempo, tentavam se convencer de que, o que viam não era um delírio coletivo.

— Um semideus, que não aceitava suas origens. Acabou corrompendo-se com a obsessão de obter mais poder. Rebelou-se contra seus criadores por não aceitar viver junto aos humanos. Queria viver ao lado dos Deuses, de igual para igual.

— Semideus? E isso existe? — Vladmyr estava surpreso.

— Silêncio! Deixe-o continuar — Cázhor repreendeu.

— Bom... continuando, após tanta persistência, Vastyr acabou sendo banido por sua petulância. Como punição, foi removido das lembranças da humanidade e acabou caindo no esquecimento — Fazhar continuou com um olhar apreensivo — Porém, isso só piorou as coisas. Ele acabou se aliando aos inimigos naturais dos deuses, os demônios. Trazendo consigo, o caos e perturbação ao equilíbrio na terra por onde passava.

Tudo era tão fantasioso que, Fazhar admitiu também achar difícil de acreditar na época.

— Um semideus apagado da história e se aliando a demônios? É muita coisa para absorver de uma vez só — disse Eduardh.

— Essa aliança não passou despercebida pelos deuses. Gaia, percebendo todo o desequilíbrio que Vastyr estava causando na terra, o aprisionou. Selando a parte da alma que se originava dos deuses. Com isso, seu corpo pendeu conforme os anos, como um humano normal e assim findando sua aliança.

As palavras do conjurador, soavam como milhares de agulhas que caiam de forma aleatória sobre a pele fria. Cada uma provocando um leve desconforto e juntas, um grande impacto. O grupo já não sabia mais como reagir.

Fazhar contou que para restabelecer o equilíbrio e manter o selo, ela criou quatro itens únicos com a essência mágica de Vastyr e os espalhou na terra nos principais pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste. Seu intuito, era distribuir por igual esse poder no mundo. A essência desses objetos, aos poucos, foi se misturando ao meio em que estavam e originando assim a magia que conhecemos.

— Eu tive contato com um desses itens no reino de Kastari. Foi algo meio acidental, em meio às minhas explorações — Fazhar parecia sem graça ao comentar dessa memória.

— Kastari? O reino flutuante? Eu não acredito que ele realmente existe... — Eduardh estava fascinado com o que ouvia.

O conjurador mal sabia que sua jornada estava acabando por ali. Ao ter contato com o objeto, recebeu involuntariamente, fragmentos das memórias da deusa Gaia. Foi assim que descobriu sobre Vastyr e sua história, percebendo também, o quão fraco o selo estava se tornando. Devido às memórias, pode ter uma ideia do que poderia acontecer caso a alma de semideus de Vastyr voltasse a essa terra.

— Às vezes, acho que escutava Gaia falando comigo. Sussurros, sonhos e vozes na minha cabeça. As visões eram assustadoras. Visões de um futuro que eu poderia, talvez, evitar — Fazhar parecia apreensivo.

Depois disso, ele acabou se oferecendo para restabelecer, por mais um tempo, o selo que aprisionava tal entidade. Sendo guiado até ali, talvez pela própria deusa, para fazer o ritual, porém isso consumiria sua essência e vitalidade. Fazhar sabia que hora ou outra, isso acabaria acontecendo novamente, precisava pôr um fim e evitar que mais alguém tivesse que interromper sua jornada, assim como ele. Optou por restabelecer o selo e deixar o que descobriu para os próximos finalizarem por ele.

— Existe uma forma que pode funcionar. Um jeito de destruir esses objetos, e impedir que o selo se quebre e impedir o ritual de reencarnação — disse Fazhar, convicto em suas palavras.

Havia tantas coisas que ele gostaria de contar, mas precisou administrar bem o tempo para falar os pontos mais importantes. O grupo sentia a tristeza nas palavras do conjurador, mas não havia nada que pudessem fazer, apenas absorver o máximo de informação possível e usá-las da melhor forma para sem desperdiçar todo o esforço que ele teve.

— Desculpe envolver outras pessoas nisso, mas se minha magia estiver certa quem aqui está, tem o poder de terminar com tudo isso! — disse Fazhar confiante.

O grupo ouvia incrédulo toda a informação que era jogada sobre eles. Ao mesmo tempo que era uma honra conhecer tal homem. Uma mistura de sentimentos. Nas condições que tudo aconteceu, não tinha como ser diferente. Ali, concluíram que pouco sabiam da história da terra e sem que pudessem se preparar, estavam com o futuro dela nas mãos.

— Aaaah... mais uma informação importante. Além deste, existem mais três outros livros. Talvez mais parecido com um bloco de notas que de fato um livro Ahahah... Lá tem mais informações sobre esses itens, ou melhor, as chaves, como eu prefiro chamar — O mago parecia preocupado, por não ter calculado bem o tempo para explicar tudo.

De acordo com Fazhar, cada anotação indicava a suposta localidade das outras chaves, tudo baseado nas memórias que recebeu, deixando-os juntos a chave que teve contato em Kastari.

—Vocês não vão precisar do livro que estava na sala para descobrir qual o local que os demais estão, pois, acabei de falar.

— De fato, isso já é um adianto — disse Cázhor não muito aliviado com a informação.

— Entretanto, um ponto a se observar, é que minha magia se adapta a linguagem de quem me ouve agora e infelizmente, na época que escrevi, era-se falado um idioma diferente, então precisarão traduzir.

Fazhar acreditava ter sido a melhor forma para que as chaves não fossem localizadas sem seu auxílio, ou antes do tempo necessário.

— Bom... com o que me resta de tempo e magia, só o que posso fazer agora é compartilhar meu poder. Deixei selado nesta sala antes do ritual, para dá-lo aos que vão partir nessa jornada — disse Fazhar, enquanto a sala se iluminava cada vez mais.

“O que ele pretende agora?” Eduardh estava apreensivo.

— Confio no julgamento da minha magia, e vocês precisam confiar uns nos outros. Sei que fiz a escolha certa. Gostaria de explicar também sobre o receptáculo, mas não me resta mais tempo.

— Quê? Como assim receptáculo? — disse Ector surpreso.

— Esse livro deve ajudar a localizá-lo, na verdade, eu deveria ter falado sobre isso antes... mas paciência.

— Tem muita coisa que você deveria ter nos falado! — Lenna estava indignada que após tantos percalços em busca de respostas, ele os deixou com mais dúvidas ainda.

— Bom... o que mais posso dizer nesse pouco tempo... sim, eu provavelmente estou morto. Minha alma, da mesma forma que a de Vastyr, está presa no selo que eu mesmo criei... Ahahah hilário não é mesmo?

— Ele realmente está achando sua situação engraçada? — disse Vladmyr, descrente com o que ouvia.

— Acabou meu tempo. Peço perdão por não conseguir explicar melhor e passar mais detalhes. Também foi novidade para mim. Como estão até agora aqui, presumo que aceitaram a missão. Procurem pelas chaves do selo. Acabem com isso!

Apesar de o grupo saber que era algo muito mais grandioso do que o planejado, concordaram em seguir, juntos, a jornada. Algo dentro deles fazia com que não hesitassem, eliminando toda a insegurança e imperícia. Era como se o destino os tivesse escolhido a dedo.

— Agora, concedo a vocês o meu poder, e junto, a missão de salvar esta terra no meu lugar...

Com o pronuncio de algumas falas incompreensíveis ao grupo, Fazhar disse suas últimas palavras e como uma flor de dente-de-leão ao vento, sua imagem se desfez.

Era impossível absorver tudo isso em tão pouco tempo. Uma situação tão delicada e com uma repercussão tão grande nas mãos de meros desconhecidos era difícil de acreditar.

— Que insano! Viemos aqui para procurar um livro que tinha a chance de nem existir e agora a pouco, conversamos com o autor dele? — Eduardh estava eufórico com toda a situação.

Entretanto, antes mesmo que pudessem se questionar se isso realmente aconteceu, o brilho dos cristais ampliou-se ainda mais, de uma forma que era quase impossível de se enxergar no salão. Ofuscados após o clarão, eles tentavam entender o que estava acontecendo. Aos poucos, recobraram a visão se deparando com o trono, feito por Fazhar, vazio. Os cristais já não emitiam mais nenhum tipo de luz. Restava apenas o pedestal com o livro.

Cázhor, então reparou que, acima deles, próximo ao teto, havia cinco pontos luminosos que flutuavam pelo salão como folhas ao vento. Quando menos se esperava, o grupo foi surpreendido, quando as luzes foram em direção a cada um deles com extrema velocidade. Colidindo com seus corpos, logo em seguida, unindo-se a eles.

Um símbolo surgia nas costas da mão direita de cada um. A sensação era que ardia em fogo vivo, uma dor excruciante. No local, pequenos feixes de luz eram emitidos, apagando-se lentamente, dando lugar a algo similar a uma tatuagem, um símbolo rúnico. O desenho parecia o desabrochar de uma flor, no centro, o formato de um pequeno cristal, isso era o mais próximo que conseguiram assimilar. Ainda estavam atordoados com o que havia acontecido, mas tirando a dor, não sentiram mais nada de diferente.

Porém, quando menos se esperava, uma presença, de certa forma familiar, surgiu. Eduardh sentia o selo em seu ombro esquerdo pulsar, levando a mão instintivamente e pressionando o local. Ele sabia quem era. Ao presenciar a reação do elfo, os demais do grupo entenderam o recado e se preparavam para mais um embate.

— O livro! — Cázhor olhava atônito para o altar vazio.

Desorientado, o grupo olhava pasmo ao ver o que estava nas mãos daquele homem. Em meio às sombras, se projetava um leve barulho seco, e o bater dos dedos em uma velha capa rígida, ecoava pelo salão cinza.



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