Magus Supremo Americana

Tradução: SilentFitts

Revisão: Barão_d’Alta_Leitura


Volume 3

Capítulo 123: Término

As opções de Arjîn eram limitadas. Indo contra mágicos, ele duvidava que Hatorne usasse fechaduras comuns.

O mercado ilegal era sua maior fonte de renda, então certamente ela acionaria alarmes e medidas de segurança para se livrar dos intrusos ou destruir todas as provas incriminatórias, caso algo desse errado.

Arjîn não tinha cabeça quente, nem a missão tinha um prazo, então ele esperou, aguardando dois dias para ter a oportunidade.

Chegou na forma de um carregamento de caixotes, que dois jovens entregaram depois de estacionar a carruagem no beco da entrada de serviço. Finalmente, a porta foi aberta por dentro, permitindo que as mercadorias fossem trazidas para o interior tanto pelos guardas quanto pelos mensageiros.

Usando o Life Vision, Arjîn verificou os arredores em busca de testemunhas e, em seguida, o prédio para ter certeza de que a inteligência que ele tinha estava correta. Não havia guardas escondidos lá dentro, e isso era uma boa notícia.

Se Arjîn quisesse, ele poderia ter pulado e matado todos eles em apenas dois segundos.

Os cadáveres não eram um problema, ele poderia armazená-los em seu amuleto dimensional, e o sangue também. Um simples pulso de energia escura apagaria todos os traços do massacre.

Mas isso significaria matar dois inocentes em potencial, sem falar que a carruagem e as caixas chamariam a atenção, já que eram perfeitamente visíveis da estrada principal.

Arjîn esperou os guardas voltarem e, no último segundo, quando a porta estava prestes a ser fechada, ele Blinkou* para dentro.

A pequena adaga de Arjîn cortou a coluna vertebral do crânio do homem, matando-o na hora. Antes que o segundo guarda, um homem corpulento de meia-idade, pudesse até mesmo reagir, Arjîn Blinkou novamente, aparecendo atrás dele e colocando a mão direita na boca do guarda antes de cortar sua garganta de orelha a orelha.

Nem mesmo uma gota de sangue atingiu o solo, Arjîn conseguiu capturar tudo com a magia da água e armazenar em seu amuleto dimensional. Em seguida, passou a vasculhar os cadáveres, encontrando um conjunto de chaves e objetos pessoais.

A julgar pela aparência, o guarda de meia-idade não era casado, nem tinha família. Sob o peitoral, suas roupas estavam sujas com manchas de comida de dias anteriores, faltando alguns botões que ele nunca se importou em substituir.

Seus pertences equivaliam a um jogo de dados e um odre já meio vazio, apesar de ainda ser de manhã. Todos os sinais de que o homem estava se deixando levar, sem nenhuma preocupação no mundo.

O outro guarda era mais jovem, mais limpo, com um medalhão oval em volta do pescoço, dentro havia quatro iniciais inscritas em um coração.

Arjîn usou magia de ar para raspar sua nuca e magia de água para remover a cicatriz falsa, aplicando ao mesmo tempo um pouco de maquiagem para se parecer o máximo possível com sua vítima antes de vestir suas roupas.

– “Enquanto alguém não chegar perto o suficiente, seria difícil me reconhecer como um intruso. Mesmo que isso aconteça, a surpresa deve me dar um ou dois segundos, o suficiente para me livrar do bastardo.” –

Depois de selar os corpos em seu amuleto dimensional, Arjîn usou a magia da terra novamente, desta vez examinando o edifício por dentro.

Como ele havia suspeitado antes, havia sido protegido contra sondagem externa, mas de lá ele foi capaz de perceber uma grade não mapeada de túneis e salas logo abaixo da loja

Arjîn saiu do armazém em direção à entrada mais próxima. Ele se arrependeu de não ter a oportunidade de vasculhar as caixas atrás de si, mas agora estava atento. Seu objetivo era obter todas as evidências de que precisava, antes de explodir o local ou fugir depois de escrever um pedido de desculpas.

Graças ao Life Vision, ele pôde ver que a porta à sua frente não tinha propriedades mágicas. No entanto, quando ele encontrou a chave certa, ele usou magia espiritual para destrancá-la, apenas por segurança.

De acordo com a planta, a loja ocupava o primeiro andar do prédio, sendo composta pelo espaço de exposição de mercadorias de médio-baixo valor para o público ver, o armazém para estoque de matéria-prima não selecionada e um amplo corredor, ligando os dois com as instalações dos funcionários.

Abaixo do nível da rua, deveria estar apenas o laboratório de alquimia e o cofre, contendo os produtos de alta qualidade e ingredientes raros.

Graças à magia da terra, Arjîn não teve problemas em encontrar a alavanca oculta que abria o caminho para os túneis. A estrada foi disseminada com alarmes e armadilhas, mas entre a magia real e o Life Vision, ele foi capaz de passar por eles, mal diminuindo a velocidade.

Construir um laboratório mágico no subsolo era incomum, mas não sem precedentes. Lidando com feitiços poderosos e componentes voláteis, era de suma importância que a instalação fosse perfeitamente isolada de forças externas.

Se energias místicas selvagens entrassem, seja qual for o motivo, durante uma etapa crucial, o melhor cenário seria perder horas, senão dias de trabalho e todos os recursos empregados. Na pior das hipóteses, todo o laboratório explodiria.

Um bom isolamento por meios mágicos era muito, muito caro — Por isso que magos mesquinhos ou necessitados escolheriam a opção subterrânea para aliviar o fardo em suas carteiras.

Arjîn agradeceu sua boa sorte por Hatorne não ter percebido que seu estratagema era uma espada de dois gumes. Por um lado, permitiu-lhe construir um laboratório sob o laboratório, longe de olhares indiscretos, sem levantar qualquer suspeita.

Por outro, porém, ele podia ver através da Life Vision que ela tinha sido realmente mesquinha. O verdadeiro laboratório estava mal isolado, o que significava que Hatorne não poderia ter colocado nenhum tipo de dispositivo mágico poderoso nas proximidades sem que ariscasse sua própria vida.

Como ele esperava, daquele ponto em diante, as armadilhas e alarmes eram apenas de natureza mecânica, tornando seu trabalho muito mais fácil. Enquanto ele investigava mais, Arjîn de repente percebeu por que a segurança era tão frouxa.

Os corredores eram grandes o suficiente para que dois adultos mal conseguissem andar lado a lado e eram iluminados magicamente de forma que não houvesse nenhum esconderijo. Entrar era relativamente simples, mas se fosse descoberto, sair seria quase impossível.

O teto baixo tornava o voo inútil; o espaço apertado impedia o uso de agilidade para fugir. Força e números seriam muito mais importantes em uma luta do que velocidade e magia.

A primeira sala que encontrou foi uma luxuosa sala de estar, com um tapete caro cobrindo todo o chão, e sofás e poltronas de veludo vermelho dispostos ao redor de uma longa mesa de cerejeira.

– “Deve ser onde ela discute negócios com seus clientes ‘especiais’.”-

Arjîn notou várias caixas de madeira sobre as mesas, cada uma delas com uma fechadura mágica muito complexa já ativada, exceto por uma. Ele reconheceu o padrão de runa. Era uma variação de fechadura muito popular entre contrabandistas e espiões.

Abriria por quem conhecesse a combinação certa, não só por aquela que imprimiu a sua magia, mas um único erro e o recipiente implodiria, destruindo o seu conteúdo.

Esta versão parecia ser mais complicada e perigosa, iria explodir em vez de implodir. Arjîn armazenou todas elas em seu amuleto dimensional, na esperança de ser capaz de encontrar uma maneira de ‘invadi-los’ mais tarde.

Ele também pegou a caixa destrancada e, após mover alguns móveis para obter o máximo de espaço possível, colocou-a no chão, apertando o botão de abertura.

A caixa cresceu para o tamanho de um grande armário, contendo beckers, varetas de vidro, frascos e vários queimadores.

Também estava cheio de engrenagens conectadas a braços mecânicos que pareciam ter sido projetados para segurar e manusear as vidrarias de laboratório que ainda não haviam sido arranjadas — uma maravilha da magia e da ciência com que Arjîn nunca havia sonhado.

– “Seja o que for, deve ser a versão desmontada do que está nas outras caixas. Se ao menos a vidraria já estivesse pelo menos preenchida com os ingredientes, minha missão estaria pronta. Do jeito que está, a missão permanece… mas para que diabos serve isso? ”

A dúvida se manteve. Ele comprimiu a caixa novamente, também a armazenando.

A sala levava a outro pequeno corredor, idêntico ao anterior. Depois de verificar com a magia da terra e Life Vision por armadilhas ou guardas escondidos, Arjîn avançou, determinado a encontrar a última peça do quebra-cabeça.

Seus passos não produziram nenhum som, permitindo-lhe manter um ouvido atento aos inimigos que se aproximassem, mas não achou ninguém.

À sua esquerda, encontrou outra porta, diferente de qualquer outra no prédio. Era grossa e acolchoada, feita para evitar que algo saísse, mas não tinha fechadura alguma. Isso despertou sua curiosidade, então depois de mudar suas roupas de volta para seu terno encantado e se preparar para o pior, ele lentamente abriu a porta.

O que viu foi tão assustador que mesmo um veterano endurecido como ele não poderia deixar de sentir calafrios correndo por sua espinha.

A sala interna era pequena, com cinco metros de largura e dez metros de comprimento, com correntes saindo das paredes e do chão. À primeira vista, poderia parecer uma prisão, mas tudo estava errado.

Não havia prisioneiros pendurados, apenas cadáveres. Um parecia ter explodido por dentro, o peito aberto em dois por um único ferimento enorme, que nenhuma arma ou besta conhecida deveria ter sido capaz de infligir.

O outro foi queimado até a morte, enquanto o vizinho estava totalmente congelado e, apesar de o quarto estar longe de ser frio, não dava sinais de degelo. Depois de verificar os dois, Arjîn entendeu que a morte deles não fazia sentido.

Não foi o resultado de nenhum feitiço ou evento natural, o fogo e o gelo, respectivamente, os devoraram por dentro. O último cadáver era ainda mais estranho que os outros.

O que ele supôs ter sido um velho agora tinha o rosto desfigurado pela agonia. Os olhos revirados, mostrando apenas o branco.

O cadáver tinha as veias transformadas em um azul brilhante e estavam salientes, como se fossem se abrir a qualquer segundo.

Quando Arjîn tocou o corpo para examiná-lo melhor, o velho recuperou os sentidos, choramingando uma prece quase silenciosa.

“Por favor, me mate.”

Arjîn saltou para trás, surpreso, ativando instintivamente o Life Vision. Não apenas o velho estava vivo, mas todos os corpos acorrentados, mesmo na morte, continuavam emitindo uma assinatura de mana. O que quer que os tivesse matado ainda estava ativo.

– “O que em nome dos deuses aquela louca fez?” –

Arjîn guardou os corpos, os magos reais teriam muito que lhe explicar.

Então, ele verificou o velho novamente. Ele estava claramente com muita dor, sem condições de ser movido e Arjîn não era um curador. Ele havia se tornado um Desperto recentemente, desenvolvendo com magia verdadeira apenas os feitiços para os quais já estava apto.

“Sinto muito, velho, mas seu corpo ou o de seus companheiros podem ser a chave para evitar um grande desastre. O Reino honra seu sacrifício.”

Arjîn quebrou seu pescoço, causando-lhe uma morte indolor, mas assim que o fez, as correntes começaram a piscar com energias mágicas.

Mesmo sem entender como, ele sabia que havia acionado algum tipo de alarme. Arjîn avaliou que, entre os corpos e as caixas, tinha o suficiente. Era hora de sair dali.

Sem que ele soubesse, não era um alarme, assim como o quarto não era uma prisão. Era apenas mais um laboratório, com um tipo diferente de cobaia. As cadeias simplesmente alertaram os assistentes que era hora de coletar os dados.

Arjîn voltou correndo usando a fusão de ar, diminuindo a velocidade apenas para evitar as armadilhas. De repente, um homem trajando a um mago e dois guardas apareceram de um canto, conseguindo soar o alarme no momento em que avistaram o intruso.

Amaldiçoando sua má sorte, Arjîn disparou para frente, seus estiletes acabaram com os guardas e o mago, que morreu antes de ter tempo de lançar um único feitiço. Mais e mais guardas inundaram os corredores, morrendo como formigas sob os estiletes de Arjîn, seus cadáveres empilhados tão rápido quanto chegaram.

O alarme não parava de ressoar no prédio, forçando um assistente a alertar sua patroa.

“Senhora Hatorne, há um intruso no laboratório de Kandria.” Sua voz estava cheia de pânico.

“Até onde ele foi? O que ele levou?” A velha voz rouca estava mais irritada do que preocupada. Eles a haviam perturbado durante um ponto crucial em seu último experimento.

“Não sabemos. Ele está saindo do laboratório subterrâneo. Não sei por quanto tempo seremos capazes de detê-lo. Por favor, nos ajude!”

“Ajudar vocês? Um bando de idiotas incompetentes e ingratos? Vocês estão todos demitidos!”

Coirn Hatorne tirou uma pérola de vidro de seu amuleto dimensional, esmagando-a sob seu calcanhar. Um segundo depois, uma explosão poderosa, mas controlada irrompeu do laboratório subterrâneo, transformando tudo e todos em um raio de cinco metros da loja em cinzas.

Então, ela pegou seu amuleto comunicador, informando seu cliente.

“Lukart, velhote, eu tenho boas notícias e más notícias. A má notícia é que um intruso estragou o seu pequeno plano mestre. Tive que destruir tudo para impedi-lo de escapar.”

“Quais são as boas notícias?”

“Ainda não terminei, seu idiota. Meu antigo aluno, o professor Reflaar, veio buscar seu pedido e provavelmente também está morto. Se eu estiver certa, e geralmente estou, o intruso foi enviado aqui pela Rainha.

A morte do Professor é inoportuna, provavelmente vão pensar que ele era um de seus cachorros de colo. Além disso, não sei se houve mais de um intruso ou o que eles descobriram.

O último lote está perdido ou nas mãos do inimigo, se eu fosse você, me apressaria. Se eles descobrirem o conteúdo, você falhará antes mesmo de começar.”

A voz do arquimago Lukart estava cheia de raiva e impaciência, ele teria enterrado viva aquela velha bruxa anos atrás, se ao menos tivesse a chance. Mas Hatorne era muito inteligente e sabia muito.

“Ainda estou esperando as boas notícias.” Ele rugiu.

“O laboratório estava seguro.”



Comentários