Volume 3
Capítulo 133: Contingência
“Você não vai se arrepender de sua escolha, Lith.” O professor Marth deu um tapinha em suas costas, um olhar orgulhoso no rosto. “Depois de se formar, você descobrirá que os magos de nível A, como você e eu, são estimados quase como nível S, se não mais.” Deu uma risadinha.
“O que? Por que?” Lith não sabia se devia considerar isso uma boa ou uma má notícia.
“Porque, como você viu, gênios como Manohar não são apenas brilhantes. Também são obstinados, inconstantes e imprevisíveis. Podemos não ser tão produtivos, mas somos muito mais equilibrados e fáceis de lidar.”
***
Após o acidente na sala de treinamento, o professor Rudd havia perdido muito de sua maldade. Ele agora respondia quando alguém lhe pedia explicações e, sempre que via Quylla ou Lith, suspirava profundamente, balançando a cabeça.
Nas semanas seguintes, Lith colocou seu coração e alma no Forgemastering, importunando implacavelmente a Professora Wanemyre com perguntas. Ele estava pesquisando as runas que mantinham as caixas trancadas e uma construção que parecia humana.
A biblioteca o ajudou muito em sua primeira tarefa. Mesmo que a sequência exata de runas não fosse encontrada em nenhum lugar, Lith foi capaz de determinar seu poder e propósito. Chegou à conclusão de que abrir pelo menos uma das caixas era viável, se tivesse o nível de maestria de Wanemyre e uma equipe de pesquisa adequada.
Como isso era impossível, decidiu fazer uma rota indireta. Em vez de atacar a fechadura de fora, como um Forgemaster normal, ele destruiria seu pseudonúcleo como apenas um Desperto poderia.
A fechadura e a caixa tinham um pseudonúcleo cada, ambos mantidos no lugar pelos respectivos caminhos de mana que seu criador os cercou, graças aos padrões de runas. A principal diferença entre um pseudonúcleo e um núcleo de real mana, era que o primeiro não tinha como repor suas energias sem o mago que o imprimiu.
Portanto, se de alguma forma Lith conseguisse danificar os caminhos, a energia armazenada no pseudonúcleo deveria vazar sem acionar a explosão, e o feitiço de bloqueio seria desfeito.
Antes de fazer esse tipo de experimento, Lith sempre usava seu feitiço Hush e várias barreiras, para evitar que uma explosão resultante destruísse seu quarto ou fosse notada de fora.
Passado um mês desde o início do segundo semestre, Lith já havia perdido três caixas. Todas explodiram sem deixar rastros, mas ele ainda considerava um sucesso.
Nem ele nem seus pertences sofreram qualquer dano, e a cada caixa a explosão ficava mais fraca. Era apenas uma questão de tempo até que Lith pudesse encontrar a maneira certa de perfurar as vias rúnicas sem que o pseudonucleo se tornasse instável.
– “Agora entendo porque a visão queria que eu salvasse Nok e conhecesse Kalla. Com apenas a caixa de Rodimas, nunca teria conseguido abrir.
Eu só poderia dar à marquesa ou ao Linjos, me deixando de mãos vazias — ou isso, ou tentar falhar sozinho. ” – Ele suspirou.
– [“Bem, por ser autodidata, você está indo muito bem. Marth e Wanemyre sempre te elogiam por seu talento e realizações. Acho que Wanemyre já o considera o melhor aluno do quarto ano.”] –
– “Sim.” – Ele suspirou novamente. – “Alguém está fadado a ficar com raiva de mim, de novo. Sem mencionar que estou ficando para trás na magia dimensional. Sem as noites inteiras, até mesmo Yurial está lentamente me alcançando, e eu ainda tenho que aprender o feitiço Restauração, que Quylla já sabe. Devo trabalhar mais duro! ” –
– [“Talvez seja porque Quylla tem apenas uma especialização, enquanto Yurial duas, e eles também são trabalhadores. Você, em vez disso, é um preguiçoso.”] – A voz de Solus exalava sarcasmo.
– [“É o melhor de suas duas especializações oficiais, está aprendendo outras especializações por conta própria e convertendo-as em magia verdadeira. Tudo isso enquanto trabalha naquela fechadura, pesquisa um corpo para mim e refina seu núcleo de mana durante seu tempo livre.
O que geralmente significa que… você não para nem ao usar o banheiro, apenas durante as aulas teóricas. Não dorme há quase um mês. Honestamente, estou surpresa que você tenha alcançado tanto com apenas 24 horas por dia.
Progresso, não perfeição. Lembra? Você precisa ir mais devagar.”] –
– “Não dá. O exame do segundo trimestre está se aproximando e ninguém sabe o que vai acontecer. Devo fazer com que cada segundo tenha importância!” –
***
Desde a explosão do laboratório alquímico de Coirn Hatorne, a cidade de Kandria mergulhou rapidamente em uma histeria em massa. Poucos dias depois do evento, estranhas doenças e assassinatos começaram a acontecer por toda a cidade e, com o passar do tempo, as coisas só pioraram.
Curandeiros de todo o Marquesado e além foram chamados para ajudar, mas apesar de tanto a Coroa quanto a Associação dos Magos não pouparem despesas na busca pela raiz do problema, não estavam chegando a lugar nenhum.
Um blecaute de informações foi decretado para evitar que o pânico se espalhasse para fora das fronteiras da cidade. Aqueles que sabiam do fenômeno falaram sobre uma misteriosa praga que assombra a província de Kandria e temiam que se espalhe.
A contagem de cadáveres já havia chegado às centenas e, a cada dia que passava, mais e mais casos surgiam, obrigando a Coroa a declarar o estado de quarentena duas semanas após o início do surto.
Quem quer que tentasse entrar ou sair da cidade seria executado no local, toda a região havia sido envolvida por uma matriz que impedia o funcionamento dos feitiços de voo e Warps Steps.
Sylpha, Rainha do Reino Griffon e chefe suprema da Associação de Magos, estava à beira de um colapso nervoso. Não dormia direito desde que a rebelião dos velhos nobres havia começado, e agora, com o mistério não resolvido da praga, sentia estar perdendo a cabeça.
A Rainha não deixou de pensar em como a situação atual ocorreu logo depois que Arjîn desapareceu em ação, o problema era determinar como os dois eventos estavam relacionados. Conhecendo as proezas de Arjîn, ela suspeitava que fosse tudo obra de um Desperto.
Era impossível para um membro do Cadáver ser morto por meios convencionais durante uma simples missão de reconhecimento. Além disso, o fato de que as melhores mentes do Reino ainda não tinham ideia era prova suficiente de que não era algo que a magia falsa pudesse alcançar.
Seu problema era que, além dos membros do Cadáver, a Coroa não tinha nenhum Desperto, e Lady Tyris se recusava a treinar mais de sete de cada vez. Os seis membros restantes já estavam envolvidos em situações de vida ou morte, caso contrário, ela nunca teria se lembrado de Arjîn tão cedo.
As equipes de resgate ainda estavam procurando por ele sob os destroços do laboratório, mas até agora nada havia saído. Em desespero, ela pegou seu amuleto de comunicação, tentando alcançar Krishna Manohar, o deus da cura.
Ele era o melhor curador do Reino e sua última esperança. Além de uma praga mágica, poderia ter sido o efeito de um artefato antigo. Uma arma tão poderosa, se é que existia, uma vez encontrada, teria que permanecer em segredo, e essa foi a razão pela qual ela o manteve como último recurso.
Esse homem era um canhão solto, discrição e confiabilidade não eram seus pontos fortes. O amuleto não respondeu, mesmo após várias tentativas.
Não tendo tempo para suas travessuras, Sylpha ligou para Linjos, em vez disso, perguntando sobre o paradeiro de Manohar e o motivo de sua indisponibilidade.
“Eu nunca ousaria desobedecer a uma ordem direta sua, Majestade, mas, infelizmente, seu primeiro pedido está além de mim. Mesmo eu não sei onde ele está. Quanto ao segundo, acho que você não acreditaria em mim sem ouvir da boca do cavalo. ”
O diretor pegou um pedaço de papel e colocou-o na gema do amuleto, permitindo que a rainha lesse seu conteúdo.
{Caro Linjos …} O nome foi seguido por um rabisco representando um cavalo com uma semelhança impressionante com o Diretor, vestindo suas mesmas roupas.
{… Estou à beira de uma descoberta mágica incrível. Não posso arriscar que minha pesquisa seja arruinada pela constante importunação de mentes medíocres, então irei embora por um tempo.
K.M.}
“Como ele se atreve a desaparecer de novo? Já é a terceira vez este ano!” Sylpha socou sua mesa com força suficiente para quebrá-la ao meio.
“Envie-me o seu segundo melhor diagnosticador. Se ele não resolver o meu problema, colocarei sua cabeça ao lado da de Manohar na minha sala de troféus!”