Volume 5

Capítulo 150: Agressores

Nós guiamos Solas de volta a superfície ao refazer o caminho que seguimos para descer até aqui. O curamos, mas ele perdeu muito sangue, então imaginei que seu ritmo seria bastante lento. Contudo, ao contrário de minhas expectativas, ele estava se movendo muito bem.

Sendo sincero, eu apenas assumi que ele era um rank F porque ele comentou que sua equipe era composta por aventureiros rank D, E e F, mas ele parecia ser tão bom quanto um rank E.

— Ei Fran, você está usando algum tipo de habilidade de detecção? Com certeza parece que sim. Eu mesmo só tenho Detecção de Presença.

— Nn.

Solas parecia ser do tipo tempestuoso. Ele continuou falando e não se calou, apesar do fato de que tudo o que Fran fazia era responder a suas divagações com acenos.

Conseguimos progredir pelo calabouço com bastante rapidez devido ao fato de que as armadilhas que desarmamos ainda não tinham sido restauradas. Eu não tinha certeza que tudo continuaria desarmado tempo o bastante para atravessarmos o quinto e sexto andar, mas torci para que isso tivesse acontecido, já que as armadilhas nesses lugares eram mais difíceis de se lidar.

Dois homens apareceram na nossa frente enquanto continuávamos a seguir na direção da saída.

— Ei vocês.

— Nn. Olá.

— Huh? Vocês dois estão sozinhos?

— Isso é impossível. Eles são apenas crianças. Não tem como duas crianças conseguirem chegar tão fundo sozinhas.

— Cer-certo, tem razão. Então, onde está o grupo de vocês?

Ambos os homens pareciam muito surpresos que Fran e Solas pareciam estar explorando sozinhos. Eu não podia culpá-los. Isso era totalmente justificado se você levasse o senso comum em consideração. Mesmo assim, eles logo se recuperaram após nos perguntarem algumas coisas.

— Então vocês estão mesmo sozinhos?

— E vocês são aventureiros?

— Esse lobo é o familiar de vocês?

— Sintam-se à vontade para nos acompanharem se vocês se separaram do resto de seu grupo.

— Ei, essa não é uma ideia ruim!

— Não é? Venham, vamos lá.

Eles pareciam ser caras legais que estavam preocupados com Fran e Solas…

Não.

Uma rápida avaliação logo me informou que eles eram tão vilanescos quanto poderiam ser.

Eles não apenas tinham habilidades como roubo, tortura, ameaça e falsidade, como também eram marcados com títulos que os declaravam como assassinos.

Meu palpite imediato era que a estratégia deles era se aproximar de outros aventureiros de forma amistosa e atacá-los no momento que eles baixavam sua guarda. Você normalmente pensaria que aqueles cartões do calabouço poderiam ser usados para provar que uma pessoa matou outro aventureiro vendo os registros feitos, mas esse não era o caso. Os cartões só gravavam as mortes de monstros e não poderiam ser usados para provar se a pessoa cometeu um crime dentro do calabouço.

Senti outra pessoa se esgueirando atrás de nós enquanto ponderava se esses caras eram o mesmo grupo que atacou a equipe de Solas... não que isso importasse muito. Em todo caso, eles eram inimigos que tínhamos que derrotar e isso era tudo.

“Tome cuidado Fran, essas pessoas são ladrões.”

“Nn.”

Au?”

“Qual o problema garoto?”

Au au?”

Ao que parecia, ele estava perguntando por que usei avaliação, considerando que Dias tinha acabado de nos avisar para ser mais prudentes no uso dessa habilidade.

Ele tinha um ponto, mas eu logo justifiquei minhas ações. Sendo mais específico, os avisos de Dias diziam respeito mais a casos envolvendo a realeza, especificamente, em situações públicas. Ele também explicou mais ou menos que outras pessoas também poderiam, às vezes, ficar furiosas quando eram avaliadas porque isso era, em geral, uma quebra de etiqueta. Um de seus outros pontos cruciais era que usar isso sob certas circunstâncias também poderia nos fazer ser pegos em algum tipo de estratagema ou conspiração se você não fosse cuidadoso.

Calabouços, contudo, apresentavam um cenário completamente diferente. Você não pode deixar de usar Avaliação em cenários como calabouços, considerando como era muito comum para você encontrar idiotas como esse pessoal. No mínimo, usar isso era mais do que natural. Você precisa mesmo ser um tipo especial de imbecil para confiar de forma incondicional em alguém que acabou de conhecer, em especial se esse alguém por acaso tem uma arma.

A única coisa que você obteria ao chamar isso de quebra de etiqueta sob tal circunstância seria suspeita. Era possível para algo infeliz acontecer com o uso indiscriminado da Avaliação, mesmo em um calabouço, mas isso só aconteceria se o alvo tivesse alguma habilidade super-rara capaz de causar dano naquele que tentou o avaliar. Mesmo assim, para ser sincero, eu diria que avalia-los valeu o risco.

Eu também não me incomodaria em ser o alvo disso. Quer dizer, acho que é justo e não me queixaria se alguém quisesse nos avaliar para confiar em nós caso nos encontrássemos no meio de um calabouço.

“As coisas são assim, então não se preocupe com isso.”

Terminei de explicar meus pensamentos para Urushi bem na hora que os homens começaram a ficar impacientes com o fato de que Fran permaneceu em silêncio.

— E aí? Onde tá o seu grupo?

Um dos homens começou a falar com um tom mais duro, como se ele não pudesse mais manter sua atuação.

— Nn?

“Fran, tente deixar um deles vivos, se você puder. De preferência, o que parece ser o chefe.”

“O resto?”

“Seria uma enorme dor de cabeça ter que levar todos eles de volta para a cidade com apenas nós aqui, portanto, vamos apenas estraçalhar os outros.”

“Nn. Entendido.”

“Os status deles não são tão baixos, tome cuidado. Urushi, você é responsável por proteger Solas.”

Rrrrr!”

Apesar de dizer isso, eu não podia descartar a possibilidade de que esses homens não eram o mesmo grupo que atacou Solas. Eles poderiam ser apenas ex-vilões que já tinham sido reabilitados em cidadãos íntegros. A chance de tal cenário era muito pequena, mas ela existia, assim, eu esperei que eles fizessem o primeiro movimento, só para confirmar que eles eram mesmo vilões.

Felizmente, a próxima ação deles quase pareceu funcionar como uma resposta a essa minha esperança: um dos homens perdeu a paciência e começou a nos atacar.

— Ugh, que se foda, já chega desta merda.

A pessoa que falou parecia ser o líder, e suas palavras algum tipo de sinal. O homem que esteve se esgueirando atrás de Fran sacou sua adaga na mesma hora e disparou contra ela com uma velocidade incrível.

Apesar do agressor ser apenas um ladrão, tive que admitir que ele não era tão ruim no combate. Sendo mais específico, senti que ele merecia elogios por permanecer cauteloso. Ele não baixou sua guarda com Fran, apesar de ela ser uma garota tão jovem, ele permaneceu vigilante e tentou realizar um golpe que impediria qualquer ação futura ao contrário de um que iria matá-la. Em outras palavras, ele não se comprometeu totalmente ao combate e tentou se certificar que poderia se retirar se não fosse capaz de cumprir seu objetivo.

“Ele é bem cuidadoso, mas está longe de ser o bastante.”

— Quê!?

Eu parei a adaga do homem, e cortei seu pescoço com magia do vento antes de ele conseguir se recuperar do choque de seu braço perdendo toda sua força de repente e parando no lugar.

— Huh!? Quê!?

Solas ficou perdido enquanto a situação continuava a mudar com rapidez.

— Quê!

— Guah!

Fran fatiou um dos homens, e fez o outro voar ao bater nele com a parte plana de minha lâmina.

— Gruaaahh!

O homem que saiu voando estava com tanta velocidade que acabou rachando a parede com que ele se chocou. Seus braços e costelas pareciam ter se quebrado na mesma hora. Sua espinha também não parecia estar em seus melhores dias.

— Por que…

— Óbvio demais.

— Mas que… merda…

O homem respondeu a Fran com um gemido de frustração antes de perder sua consciência.

“Mestre, e agora?”

“Vamos voltar para a cidade, assim podemos entregar esse cara que acabamos de capturar para a guilda. Você será recompensada por entregá-lo, se lembra? Podemos até o fazer dizer com quem ele está trabalhando enquanto estamos nisso.”

Solas se aproximou do homem enquanto pensávamos no que fazer com ele e imediatamente desferiu sua espada sem o menor traço de hesitação.

Sua ação e a resposta de Fran fizeram um som metálico ecoar pelos corredores do calabouço.

O homem que cuidadosamente escolhemos não matar acabaria a sete palmos debaixo da terra se Fran não me usasse para deter o golpe de Solas.

— Explicação.

— Des-desculpe, ver ele de novo me fez querer…

Acontece que esses caras eram mesmo os que atacaram Solas e seu grupo. No fim, o garoto acabou abaixando sua espada, mesmo assim, ele continuou a encarar o lixo humano que capturamos com ferocidade.



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