Volume 5

Capítulo 170: O segredo de Dias

Dias nos recebeu com um olhar de surpresa em seu rosto assim que retornamos para a guilda e subimos para sua sala.

— Você já derrotou o chefão? Isso foi rápido demais.

— Nn.

Parecia que ele não esperava que nós já teríamos resolvido tudo, o que imaginei que fazia sentido, considerando como estávamos treinando e tudo o mais. Era provável que demoraríamos duas vezes mais se não fosse por minha habilidade de melhorar habilidades através da absorção das pedras mágicas.

— Mensagem de Rumina. “Cumpra o contrato”.

— Ora essa. Quem é Rumina?

— Desculpe Erza, isso é um segredo.

Ao que parecia tudo sobre Rumina deveria ser mantido em segredo, inclusive de Erza.

Oops…

— Tuuudo bem. Não se preocupe, eu entendi.

— Desculpe. Obrigado.

— Teehee. Uma boa mulher é aquela que não faz perguntas demais.

Erza parecia entender o que estava acontecendo e abandonou o tópico na mesma hora após piscar. Sua resposta rápida parecia se originar do fato de que ele estava completamente consciente da diferença em status entre ele e o Mestre da Guilda, e que ele não estava qualificado para ouvir o que quase começamos a discutir.

Por ora, era melhor para nós apenas seguirmos para o próximo tópico.

— Completei vários pedidos.

— Entendo. O que foi que você concluiu? Podemos verificar tudo isso agora.

— Este, este…

Fran puxou todos os papéis representando pedidos que ela completou. Ela começou com os nove pedidos de extermínio antes de seguir trabalhando em missões de coleta de itens. Infelizmente, não parecia que conseguimos atingir o patamar de 23 pedidos que Dias disse que precisávamos.

— Se incomoda em me mostrar seu cartão do calabouço?

— Nn. Aqui.

— Hmmm, esses são resultados impressionantes. Você completou mesmo todos os pedidos de extermínio.

— Uou Fran, você é tão incrível. Mhmm, sim, você é siiiim.

Dias e Erza estavam surpresos pelos resultados mostrados no cartão do calabouço de Fran, já que ele os informou de todas as feras demoníacas que ela matou.

Ao que tudo indicava, era normal para aventureiros evitarem batalhas sempre que possível. Nós, por outro lado, fizemos o exato oposto e basicamente derrubamos tudo em nosso caminho, assim, acabamos matando dezenas de monstros a mais do que eles esperavam.

— Uou Fran! Mesmo uma equipe formada por ranks D teria sofrido para matar tantos. Mhmm.

— Você também deve ter materiais o bastante para concluir muitas de suas missões de coleta, não é? Você já desmantelou tudo?

— Nn. Já fiz isso.

— Você poderia colocar tudo logo ali?

— Entendido.

Erza já tinha preparado um lençol parecido com vinil para nós colocarmos as coisas, dessa forma, não sujaríamos o chão com o sangue e coisas parecidas.

Nós colocamos os materiais em cima dele, começando com os chifres de Ogro Superior e as bolsas de veneno dos Rastejadores-Mímicos-Venenosos. Erza estava observando, então nos certificamos de parecer estarmos tirando os itens da bolsa de pano de Fran, ao contrário do meu espaço de armazenagem.

Fran tratou as bolsas de veneno com grande cuidado. Provavelmente, nem Erza nem Dias morreriam caso cometêssemos um erro e estourássemos a coisa, mas isso ainda seria uma dor de cabeça para limpar. Eles também ficariam furiosos se isso acontecesse.

— Eles estão em boa condição e são de uma qualidade muito alta. Você quer entregar todos para seus pedidos?

— Aim.

— Em suma, você completou um total de 17 missões. Na verdade, 18, contando a subjugação do chefão. Você poderá aumentar seu rank se fizer mais cinco.

— Você está tão perto! Só um pouco mais de esforço e você chegará lá Fran!

Isso nos apresentou um pequeno problema. As únicas missões que restavam nos exigiam caçar as feras demoníacas mais raras, como os Fogos-Fátuos-Vis. Isso tomaria muito de nosso tempo para cuidar de tudo e obter o que precisávamos.

Eles sendo raros já era ruim o suficiente, portanto, o fato de que eles também eram furtivos tornava a tarefa de encontrá-los um pesadelo. Era muito mais difícil para nós os surpreende-los do que matar qualquer coisa que viesse até nós.

Poderíamos acabar tendo que passar muito mais tempo no calabouço do que passamos na última vez.

Ó, bom, que seja. Poderíamos pensar nisso após conversarmos com Aurel. O torneio estava se aproximando, e havia uma chance de termos que esperar até que ele terminasse para voltarmos para o calabouço e obter o que precisávamos para aumentar o rank.

Dias se perdeu em pensamentos assim que Fran o informou de seus planos.

— Hmm… então você gostaria de aumentar seu rank o mais rápido possível?

— Mmmm, eu realmente não acho que isso é necessário. Você já é muito conhecida por tudo o que tem feito, então eu não acho que haverá mais ninguém querendo começar brigas com você.

Erza julgou que isso era desnecessário, mas Dias ofereceu uma opinião contrastante.

— Isso pode ser verdade por ora, mas duvido que se aplicará para os aventureiros que entrarão na cidade nos próximos dias.

— Verdadeee.

— Acho que é por isso que ela quer aumentar seu rank o quanto antes.

— Nn.

Mais uma vez, havia algo muito importante que estava nos impedindo de correr de volta para o calabouço e aumentar nosso rank.

— Quero participar do torneio.

Você teria que se cadastrar na Guilda dos Aventureiros, a Arena, ou em um dos muitos outros locais preparados por toda a cidade, a menos que você tivesse uma carta de recomendação. O citado cadastro começaria em três dias.

Qualquer um que se candidatasse seria recusado, a menos que ele fosse em pessoa e apresentasse seus documentos. Registros por representantes estavam proibidos.

— Ó, não se preocupe com isso. Eu posso apenas guardar seu pedido para você.

— Mas preciso cadastrar em pessoa.

— Sabe, a guilda tem um grande número de recomendações sobrando, e não há nenhum motivo para não entregar uma delas para uma aventureiro rank C competente.

Está mesmo… tudo bem? Ser recomendado pela guilda não é algo bem importante? Isso seria o mesmo que ser efetivamente o representante da guilda, não é? Você não teria que ser não apenas forte, como também muito cortês?

— Não se preocupe com as tecnicidades, negócios administrativos nem nada do tipo. Fomos nós que te pedimos para aumentar seu rank em primeiro lugar, então não há problema em fazer a você um favor ou dois em troca. Vamos cuidar de tudo, assim, sinta-se livre para apenas se enfurnar no calabouço mais um pouco e cuidar de tudo o que você precisa.

Dias estava agindo de forma suspeita. Não pude pensar sobre o motivo para ele estar nos tratando da forma que estava. Quer dizer, ele sabia que tínhamos conexões, e que ambos Amanda e Klimt estavam nos apoiando, mas ele ainda nos tratou muito melhor do que deveria, considerando que éramos apenas rank D. Era quase como se ele estivesse fazendo de tudo para que ele pudesse nos fazer ir e permanecer dentro do calabouço.

— Dias. Agindo esquisito?

— Hahaha, do que você está falando? Estou agindo da mesma forma que sempre ajo.

— Realmente esquisito.

— Concordo com Fran. Parece que você está um pouquinho apressado. É como se você estivesse tramando algo.

Do mesmo modo, Erza também parecia ter percebido que o velhote não estava agindo como de costume, e acabou inclinando sua cabeça em confusão.

— Vocês só estão imaginando coisas.

— Você está tentando pregar algum tipo de peça em Fran de novo?

— De novo?

— Nah, sem chances.

Éééééééé, ele definitivamente estava tramando algo, mas não pensei que ele nos deixaria saber o que era isso, não importava o quanto o questionássemos, pelo menos não agora. Fiquei empacado tentando pensar em algum tipo de solução, ou pelo menos fiquei até ver Erza levando seu rosto para a frente do de Dias antes de falar em um tom bastante baixo.

— Eu sabia. Você está mesmo tramando algo.

— H-hahaha, você com certeza parece confiante.

— Chame isso de intuição feminina!

Então, uh… decidi deixar de lado a ideia de quão confiável a “intuição feminina” de Erza seria e foquei em algo um pouco mais importante: o fato de que Erza, que conhecia Dias por muito tempo, determinou que ele estava tramando algo, assim sendo, ele devia estar tramando algo.

Achei que seria melhor para nós usarmos nosso trunfo.

“Fran, use aquilo.”

— Nn!

Fran puxou a carta de Klimt e a segurou para o alto como se estivesse a exibindo. Isso, é claro, não foi o bastante por si só, então ela atirou algumas frases a mais para aumentar o efeito.

— Dias. Fale a verdade.

— H-haha… não sei do que você está falando.

O medo que Dias sentia por Klimt foi imediatamente demonstrado assim que seus olhos começaram a vacilar no momento que ele viu a carta.

— Posso dizer que você está escondendo alguma coisa.

— Ó, vamos lá… eu juro que você só está imaginando coisas.

Sua voz também vacilou. É, tá legal, fiquei convencido. Ele definitivamente estava escondendo alguma coisa, e tudo o que precisávamos para descobrir isso era um empurrão final.

— Vou dizer a Klimt e Amanda que sofri um trote de Dias.

— Eu sinto muito! Eu sinto muito mesmo!

O velho Mestre da Guilda saltou no ar antes de aterrissar em uma posição indicativa de nada além de sua prostração. Pois é, tenho que admitir. Ele tinha mesmo capacidades físicas de um aventureiro rank A. O fato de que ele voou por sobre sua mesa enorme fez disso uma atuação 10/10.

— Eu sinto muito, muito mesmo!

— O qu-que acabou de acontecer? Mas o que é essa coisa?

Os olhos de Erza se moveram entre Fran e Dias; o olhar em seu rosto era o de clara confusão. A cena de um velhote enterrando seu rosto no chão enquanto se prostrava para uma criança era algo que levaria um homem crescido as lágrimas, assim, sua confusão era justificada, em especial ao ver como tudo aconteceu porque o citado velhote acabou vendo uma certa carta.

— Erza. Esta filial, algum Falcão-correio?

— Hum-hum.

— Nn. Primeiro, enviarei carta para Klimt…

— Eu sinto muito. Eu sinto muito. Eu sinto muito, muito, muito mesmo. Por favor, tudo menos isso.

Quer saber, ele provavelmente sofreria uma morte social se soubessem que ele tentou pregar uma peça em uma garotinha. Contar a Amanda, contudo, resultaria nele experimentando uma morte real.

— Então conte tudo.

— Tudo bem. Puxaaaa, você é tão maldosa. Você não tem piedade? Eu fiz tanto por você.

Decidimos esperar até que escutássemos seu caso antes de enfim o darmos um veredito.



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