Volume 5

Capítulo 183: Porta Dimensional

A resposta de Fran para minha pergunta me pegou desprevenido. O fato de ela estar interessada em Magia Dimensional não era algo do qual eu estava ciente.

Dito isto, eu poderia entender com facilidade o motivo para esse impulso, já que compartilhava seu interesse nisso.

“Você tem certeza que não quer gastar alguns pontos nas Técnicas Divinas com Espada primeiro?”

— Mais curiosa com a Magia Dimensional.

“Por que isso?”

— Porta usada pelo guarda do Lorde das Feras.

“Ó, verdade. Parece que estamos pensando da mesma forma.”

A habilidade de Royce, Portal Dimensional, soava como algo que você aprenderia se aumentasse alguns níveis da Magia Dimensional. Parecia algo superconveniente de se usar e parecia que tê-la poderia tornar as visitas a Rumina muitíssimo mais fáceis.

Longo Salto era ótimo, mas também tinha muitas limitações.

O número de coisas que nos incomodava com isso era dois, com a primeira sendo sua capacidade de carga e a segunda sua facilidade de uso, ou melhor, a falta dela. A capacidade de carga era limitada pela massa, e era na verdade tão carente, que nem mesmo nos permitia transportar Urushi, a menos que ele se encolhesse.

Mesmo assim, a distância que poderia ser percorrida era inversamente proporcional[1] com a massa, então não éramos capazes de ir assim tão longe. O mais longe que poderíamos ir, mesmo sem Urushi, devia ser o equivalente a cinco ou seis andares de distância[2], no máximo; não conseguiríamos nos transportar para a residência de Rumina. A parte da facilidade de uso se referia ao fato de que os únicos objetos que poderiam ser transportados eram os que estavam em contato direto com usuário.

Portal Dimensional parecia o tipo de habilidade que não se importava com a massa do que seria transportado, já que você criava um par de portas do nada. Ela não parecia ser o tipo de habilidade que tinha muito uso em batalha, mas, puxa, isso deixaria a locomoção muito mais fácil. Apenas o fator conveniência fazia a habilidade parecer algo que honestamente valia a pena de se investir.

“Muito bem. Acho que vou tentar aumentar um pouco da Magia Dimensional e ver o que acontece.”

Eu só tinha 20 pontos de autoevolução sobrando, assim decidi dar a habilidade um nível de cada vez.

“Esse é o nível 2... parece que aprendi a fazer duas coisas novas.”

Aumentando a habilidade uma vez me permitiu obter uma técnica chamada Escudo de Dobra. Ela permitia bloquear ataques à longa distância e atrapalhar os inimigos ao torcer o próprio espaço. A quantidade de energia mágica que a habilidade consumia escalava de acordo com o tamanho da distorção espacial criada. Lançar algo em uma escala grande o bastante para tragar por completo meus arredores parecia capaz de consumir algo próximo de dois mil pontos de mana. A habilidade parecia bastante decente e aparentava ter muitos casos de uso diferentes.

O outro feitiço que aprendi se chamava Sinalizador. Ele me permitia sentir as áreas e objetos em que o lancei, mesmo a uma grande distância. Isso era bastante conveniente, mas não percebi de imediato por que algo como isso seria obtido ao aumentar a Magia Dimensional. Eu só percebi por que ele foi classificado dessa forma após aumentar a habilidade principal em mais um nível.

Deixando a Magia Dimensional no level 3, desbloqueei uma habilidade com o nome de Aporte[3]. Ela me permitia puxar qualquer coisa dentro de minha visão na minha direção. Não parecia tão especial à primeira vista, mas pensar nisso me fez perceber que mover um objeto em direção a si mesmo era, na verdade, um passo em frente para poder se mover até um alvo.

Combinar essa habilidade com o Sinalizador só a tornava ainda mais impressionante; Aporte foi feita de forma a pegar qualquer coisa que eu desejasse, desde que tivesse um sinal já preparado no objeto. Na mesma hora, este caso de uso me fez perceber que o Sinalizador era capaz de trabalhar com mais do que apenas o Aporte. Ele também melhorava o Longo Salto e me permitia me teletransportar por distâncias ainda maiores. Sinalizador parecia bastante simples a princípio, mas acabou se provando algo bem útil.

Aporte não foi tudo que ganhei no nível 3 da Magia Dimensional. Eu também consegui aprender a Superaceleração, que era basicamente a mesma coisa que a Aceleração regular, exceto pelo fato de que essa tinha uma pequena área de efeito.

Somente depois de melhorar a Magia Dimensional até o level 4 por fim conseguimos a habilidade que estávamos desejando.

“Maravilha, parece que consegui aprender a usar a Porta Dimensional.”

A habilidade da Porta Dimensional era criar um par de portas. O primeiro sempre apareceria no local atual do conjurador. O segundo, por outro lado, estava a critério do usuário, mas só poderia ser colocado em uma área que estivesse dentro da memória dele.

Qualquer coisa poderia passar pelo portal, desde que coubesse, o que era perfeito, já que o tamanho das portas aumentaria com base na quantidade de energia mágica usada. Eu era capaz de criar um grande o suficiente para caber Urushi no maior dele, se eu não me importasse em descartar toda a minha mana.

Nossa habilidade, Porta Dimensional, era na verdade um pouco diferente do Portal Dimensional que vimos em Royce. Embora seus nomes fossem semelhantes, as duas funcionavam de forma completamente diferente, com a nossa apenas abrindo um buraco no espaço, enquanto a de Royce parecia operar com um tipo todo diferente de mecanismo.

Porta Dimensional era como qualquer outro feitiço derivado da família da Magia Dimensional; seu desempenho poderia ser melhorado através do uso do Sinalizador.

Para ser mais específico, a Porta Dimensional era capaz de abrir portas para lugares que eu nunca estive antes, desde que houvesse um sinalizador presente — confirmamos essa funcionalidade invocando o Sinalizador em uma rocha aleatória e fazendo Urushi carregá-la para outro lugar.

O feitiço parecia ser muito útil, contanto que tomássemos cuidado e colocássemos alguns sinais em cruzamentos críticos com antecedência.

Em circunstâncias normais, os Sinalizadores expirariam após alguns dias. O conjurador poderia estender essa duração predefinida aumentando a quantidade de mana usada na invocação inicial da magia. Parecia que eu poderia deixar um sinalizador em um lugar por cerca de um ano, desde que eu depositasse até a última gota de mana que eu tinha para criá-lo.

Imaginei que seria uma boa ideia deixarmos um sinal em algum lugar dos aposentos de Rumina para facilitar a visita a ela sempre que desejássemos. O tamanho do portal diminuiria à medida que a distância até o local de destino aumentasse, mas não parecia ser muito difícil para nós conseguirmos nos encaixar nele.

O outro feitiço que me foi concedido por melhorar a Magia Dimensional até o nível 4 se chamava Mina de Lentidão, e mais ou menos nos permitia implantar zonas de debuff[4] acionáveis. Elas eram difíceis de detectar e podiam ser colocados tanto no chão quanto no ar. Nossa capacidade de instalar múltiplas de uma só vez parecia muito útil para nos permitir pegar alguém desprevenido.

“Parece que conseguimos a habilidade que queríamos. Por acaso você tem mais alguma coisa em mente?”

Cada nível da Magia Dimensional consumiu 3 pontos de autoevolução, de modo que fazer a habilidade chegar até o level 4 nos deixou com apenas 11 pontos restantes.

Quer dizer, nós poderíamos continuar colocando pontos na Magia Dimensional, mas sempre havia a opção de escolhermos outra ação. Não é como se estivéssemos dependendo disso ou algo parecido.

— Maestria de Vigor?

“Por que esse em particular?”

— Lorde das Feras tinha. Pode ter ligação com a evolução.

Olhar para os detalhes do status do Lorde das Feras nos convenceu de que a Maestria de Vigor era basicamente uma versão atualizada da Manipulação de Vigor. A razão pela qual ela também queria isso era bastante clara. Ela queria ter todas as habilidades que o Lorde das Bestas tinha e que nós não, já que era possível que a evolução estivesse ligada a uma habilidade específica.

“Claro. Vamos fazer um teste.”

— Nn.

Gastei cinco pontos na Manipulação de Vigor, que por sua vez destravou a Maestria de Vigor, assim como esperávamos.

“Então? Como você se sente?”

— …?

Acontece que a Maestria de Vigor não tinha nada a ver com a evolução. Contudo, ela teve um efeito claro e imediato. A maneira como minha mana fluía por meu corpo parecia ter mudado. Isso tornou-se muito mais suave e eu pude sentir minhas habilidades baseadas em detecção ficando muito mais sensíveis como resultado.

Mas isso não era tudo.

“Eu sinto que meu corpo ficou mais fácil de controlar.”

Ativei a Mudança de Forma e transformei uma parte do meu corpo em uma série de fios. Os fios pareciam muito fáceis de manipular; eu consegui usá-los para formar vários padrões geométricos diferentes com facilidade. Eu então dividi minha lâmina em dez pedaços menores e os movi ao mesmo tempo. Fui capaz de fazer o que a Locutora do Sistema fez com os Esqueletos Lendários quando lutamos com um monte deles ao mesmo tempo[5]. Ou seja, consegui formar cada um em um fio fino, mas sólido, e empurrá-los em direções diferentes.

Minha lâmina se deformou e se moveu exatamente como eu queria; me tornei capaz de manipulá-los tão bem e, além disso, com um custo de mana muito menor.

Maestria de Vigor não parecia nada muito chique, mas acabou sendo útil pra caramba.

“Quer guardar os últimos pontos por enquanto?”

— Nn. Parece bom.


Notas

[1] Proporção inversa, em matemática, é a nomenclatura associada à relação que existe entre duas grandezas para as quais se observa o seguinte comportamento: dobrando-se o valor inicial de uma delas, a outra terá seu valor correspondente dividido por dois; triplicando-se o valor da primeira, o valor da outra divide-se por três, e assim por diante.

[2] A altura de cada andar está baseada na altura do teto nos cômodos e na grossura do pavimento que separa dois andares. Geralmente, essa altura gira em torno dos 3 metros.

[3] Aporte é uma palavra que tem origem no idioma francês ("apport") e seu significado original é “contribuição”. A palavra aporte também aparece na parapsicologia. Aqui a palavra é usada para designar o fenômeno em que um objeto sólido atravessa outro objeto sólido, ou seja, de acordo com a parapsicologia, existe a possibilidade de matéria atravessar matéria, de determinado objeto atravessar uma parede, por exemplo. E dentro desse ramo de pesquisas esses curiosos casos são conhecidos como aporte.

[4] Debuff é uma expressão usada em jogos que se refere a um status negativo que deixa o alvo mais fraco.

[5] Eventos do capítulo 80.



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