Volume 5

Capítulo 218: Uma reunião daqueles que desejam se reunir ao nosso redor

Um grupo de indivíduos de aparência estranha se aproximou de Fran no momento em que ela saiu da Guilda dos Aventureiros.

Todos os quatro usavam túnicas cinza que os cobriam da cabeça aos pés e obscureciam seus rostos. Nas mãos deles havia bastões feitos de madeira de uma espécie de árvore velha e amarrada. Eles pareciam magos, sendo mais específico, do tipo que você costumava ver descrito em contos de fadas.

A aparência deles se encaixava tão bem no estereótipo que eu quase quis rotulá-los como cosplayers, mesmo que magia fosse algo que existisse. A maneira sincronizada e quase mecânica em que eles se comportavam os fez parecer deslocados e quase suspeitos.

A Avaliação permitiu-me confirmar que todos eram de fato magos, mas nenhum deles era muito poderoso. O melhor entre eles era um mago da água com nível 7 em sua magia associada.

— O quê?

Embora parecessem muito suspeitos, na verdade, eles não pareciam hostis ou queriam nos prejudicar de qualquer maneira. Como resultado, não fui capaz de descobrir o que eles estavam querendo ou como deveríamos reagir à presença deles.

Os quatro se dividiram em dois grupos menores, um movendo-se para a direita e o outro para a esquerda. Eles então ergueram seus bastões para o céu, como se quisessem criar um corredor.

Um quinto indivíduo percorreu o caminho recém-criado. Ao contrário dos outros quatro, ele estava vestido com uma túnica roxa elegante bordada a ouro. Seu bastão estava decorado com joias e, de forma clara, era muito mais caro.

Outra diferença entre o homem e os outros quatro indivíduos que o acompanhavam era que seu rosto estava visível. Seu cabelo azul brilhante complementava sua boa aparência, mas eu ainda não pude deixar de sentir que ele era meio suspeito. Uma parte de mim quase queria dizer que era precisamente o rosto bonito dele que o tornava suspeito.

— Eu estava esperando sua chegada, Milady¹.

— Nn? Quem?

— Meu nome é Grakma, chefe da filial Ulmutiana da Guilda dos Magos Aiwass².

As ações de Grakma eram tão elegantes que quase pareciam ter sido tiradas de algum tipo de pintura.

A Guilda dos Magos era algo que ouvimos muitas vezes no passado, mas não nos preocupamos em nos envolver com eles ou seus membros. Espere, Grakma disse que era o chefe da filial de Ulmut, não disse? Isso também não faria dele um dos melhores magos do país? Eu duvidava muito que fosse esse o caso. Grakma era basicamente o equivalente ao Mestre da Guilda dos Magos, mas ele não estava à altura do título.

Ele não era tão fraco, mas não era páreo para Dias ou Klimt.

Grakma estava apenas no level 20. Ele tinha as estatísticas de um aventureiro médio rank D, e nem era tão habilidoso em magia. Suas melhores habilidades eram Magia das Chamas, Magia da Tempestade e Magia do Relâmpago, com níveis 3, 1 e 2, respectivamente. Ele não tinha nenhuma outra habilidade que destacava. Poderia se dizer, olhando para seus atributos, que ele se especializou nas artes mágicas.

Minha maior pergunta, no entanto, não veio de seus atributos, mas de sua atitude. Por que diabos ele estava se referindo a Fran como "Milady"?

— Suas batalhas foram nada menos que magníficas!

— Tá.

— A visão de você lançando feitiços incríveis, um após o outro, não fez nada além de me levar às lágrimas!

Achei que fazia sentido, já que ele era um mago. Para ele, deve ter parecido que Fran estava usando magias de alto nível sem parar. Fui eu quem invocou Kanna Kamui, então ele deve ter interpretado isso como ela usando sem nem mesmo um encantamento.

Milady, não posso deixar de rotular você como uma Arquimaga!

— Nn? Não sou maga.

Imaginei que “Arquimaga” devia ser um título, mesmo assim, isso me fez pensar nas classes. Senti que Fran devia ter desbloqueado algumas boas classes, e que não seria uma ideia muito ruim para nós irmos conferir.

Grakma não ouviu a resposta que Fran murmurou baixinho, e como resultado, continuou como se nada tivesse acontecido. Ele tirou uma pequena caixa do bolso no peito, abriu-a e mostrou seu conteúdo a garota enquanto se ajoelhava.

Os quatro magos que o acompanhavam pareciam tomar suas ações como uma espécie de sugestão, enquanto abaixavam os bastões para que fossem apontados para a frente antes de se moverem como se quisessem nos cercar.

Quase parecia que eles estavam tentando iniciar algum tipo bizarro de ritual. Eu sabia que não era o caso, porque eles não emitiam nenhum tipo de energia mágica, mas o que parecia acontecer ainda era esquisito, então me preparei para usar a telecinesia para fazê-los voar no momento em que tentassem algo.

— Por favor, aceite isto.

— Isto?

— É uma medalha que serve para apresentar o maior prestígio que a Guilda dos Magos Aiwass tem a oferecer. Por favor, Milady, suplico que você a aceite.

— Prestígio?

O mestre da guilda continuou empurrando a caixa em nossa direção, apesar do fato de que não tínhamos ideia do que isso implicava.

“Mestre?”

"Hmm... eu também não tenho certeza do que fazer."

Não parecia que nenhum dos cinco magos presentes estava lançando ou se preparando para lançar algum tipo de feitiço, então senti que não haveria nenhum problema em nós apenas aceitarmos a medalha que eles estavam nos presenteando.

— Por favor, aceite isso. Ela servirá como evidência de sua capacidade como Arquimaga.

Eles não estavam mentindo e não pareciam ser inimigos, mesmo assim, não conseguia confiar neles.

"Eles parecem suspeitos demais, então não vamos fazer isso por ora. Isso é meio repentino, eu gostaria de investigar um pouco mais a Guilda dos Magos antes de aceitar esse presente."

— Nn. Não preciso.

— Por-por que não!?

— Parece suspeito.

Milady, isso simplesmente não pode s-...

— Tá legal, que tal pararmos por aqui?

— Qu-quem se atreve a interferir!?

Alguém se colocou entre Fran e Grakma logo quando comecei a considerar se deveríamos usar a força para fazê-lo parar de nos incomodar.

— Vocês da Aiwass nunca mudam, não é?

— Fermus?

— Ei Fran, não te vejo desde ontem.

A pessoa que se inseriu entre Fran e o mago irritante não era outra senão o usuário de fios ex-rank A que enfrentamos no dia anterior, Fermus.

— O que você está fazendo!? Saia daqui aventureiro! No momento estamos no meio de um ritual importante!

— Eu sei. O motivo pelo qual eu interferi foi para impedi-lo de completar esse ritual ridículo.

— E o que você quer dizer com isso?

— Não ligue para eles. O que eles estão fazendo aqui hoje é, na verdade, nada fora do comum.

Parecia que minhas suspeitas estavam corretas. A razão pela qual os outros quatro magos pareciam estar se preparando para realizar algum tipo de ritual era porque era isso mesmo o que eles estavam fazendo. Sendo mais específico, eles estavam se preparando para realizar um ritual que doutrinaria Fran em sua organização.

Fran teria se tornado um de seus membros se ela aceitasse a medalha que lhe foi oferecida.

— Eles não usarão magia para prendê-la de alguma maneira, mas posso dizer com certeza que eles teriam continuado a incomodá-la daqui para frente se você se juntasse a eles.

Em outras palavras, era basicamente um golpe. Eles planejavam afirmar que nos tornamos um de seus membros através do ato de prosseguir com o ritual desde que aceitássemos a medalha, independentemente de sabermos ou não o que a aceitação implicava.

— Mesmo que tivesse sido enganada?

Suas ações não pareciam fazer sentido. Parecia que havia uma boa chance de suas ações irritarem as pessoas que eles doutrinavam. Embora isso, por si só, não fosse um grande problema, poderia se transformar em um caso em que eles tentavam enganar um mago mais poderoso e respeitável. Parecia uma série de ações que poderiam danificar muito rapidamente e com facilidade a reputação deles.

— A consciência de suas ações é o que as torna tão repulsivas. O truque que eles acabaram de usar em você é o que eles tentam contra crianças talentosas. Eles devem ter pensado que isso funcionaria porque assumiram que você era tão ingênua quanto jovem.

Sem dúvidas eles estavam cientes e fazendo uso do fato de que uma criança comum não tentaria lidar com a situação usando a força.

Em outras palavras, eles forçavam as crianças a entrarem na organização ao lisonjeá-las e depois usar o fato de que haviam completado um ritual como uma espécie de iniciação para fazê-las cumprir suas ordens.

— Existem muitas Guildas dos Magos por aí, mas nenhuma é tão terrível e infame quanto o Aiwass. Seus métodos são quase tão obscuros quanto seu objetivo, a dominação mundial. Eles podem muito bem ser uma organização clandestina e querem recrutá-la depois de ver a extensão de sua força.

— Entendido.

— Por favor, lembre-se de ser prudente Fran. Você estará recebendo todo tipo de atenção daqui em diante.

— Nn. Obrigada.

— Teremos que lidar com esses idiotas. Como você acha que devemos fazer isso?

— Por-por “esses idiotas”, você está se referindo a nós!? Você se atreve, apesar de ser um aventureiro, um bruto simplório, a recorrer à violência!?

Embora eu admitisse que havia um bom número de aventureiros que agiam assim, senti como se ele estivesse nos estereotipando. Não foi preciso nada mais do que apenas olhar para Fermus para reconhecer o fato de que ele era civilizado. Dizer que ele era um idiota só porque era um aventureiro era algo irracional.

— O quê? Então você acha que há algo errado comigo chamando alguém que tenta forçar seus ideais nos outros sem considerar as consequências de idiota?

— Haaah!? Como você se atr-...

Pedi desculpas a Fermus em meu coração. Seus esforços foram apreciados, mas, em última análise, foram em vão, pois Fran era o tipo de aventureira que tendia a recorrer à violência. Isso se aplicava ainda mais às pessoas que tentavam mexer com ela. Ela simplesmente não os suportava.

O chute direto da garota-gato derrubou Grakma, que caiu com as costas no chão.

— Ugrahhhh…

Fran não havia colocado muita força no ataque. Ela se conteve porque só pretendia derrubá-lo.

Contudo, isso o fez cair e ele começou a rolar para frente e para trás, desarrumando suas roupas no processo.

"Uou, ele é fraco."

— Nn.

Os olhos de Fran se arregalaram em choque, um ato que não via há muito tempo. Ela estava pensando em mostrar a ele o inferno, mas o homem já havia caído depois de apenas um único toque. Para ser honesto, eu quase quis dizer que isso foi um pouco decepcionante.

— O que você está fazendo Milady!?

— Por que você faria um ato tão selvagem!?

— Um pouco irritada.

— Isso não justifica suas ações Milady!

Fran gostava de ser uma aventureira. Ela também gostava muito de seus colegas, pessoas como Amanda e Erza. Ela teria atacado o homem, independentemente das reivindicações de Fermus e sua relação com o assunto.

— Merda! Vamos dar… espere, quê!?

— Não posso me mover!

— Merda!

— Você não será capaz de fugir. Você é fraco demais para escapar dos meus fios e das amarras deles.

Os fios de Fermus com certeza pareciam úteis. Ele foi capaz de usá-los para restringir por completo os cinco magos. Todos ficaram incapazes de se mover.

— Quando?

— Os fios eram um tipo de arma inicialmente desenvolvida para uso em espionagem. Eles são muito mais eficazes em emboscadas do que em conflitos diretos.

— Entendido.

Pensando nisso, Fermus estava certo. Sua arma não era adequada para o combate em uma arena. Ele era muito mais poderoso em algo tão apertado em termos de espaço quanto um calabouço. Ele seria capaz de preparar armadilhas com facilidade. Eu podia nos ver completamente ferrados porque, por acaso, tropeçamos em uma enorme massa de fios em um corredor apertado.

— No entanto, duvido que seria capaz de derrotá-la, mesmo que as circunstâncias estivessem a meu favor.

— Por quê?

— O ataque poderosíssimo que você usou para me matar não é um contra o qual eu possa me defender.

O problema com o que ele sugeriu foi que a combinação que tínhamos usado não era uma que poderíamos usar sempre. Como resultado, ficamos insatisfeitos. Queríamos ser fortes o suficiente para poder vencê-lo ao enfrentá-lo de frente.

— Certo, voltemos ao que estávamos dizendo. O que você acha que devemos fazer com eles?

— Não tenho certeza.

— Minha sugestão seria deixá-los para a Guilda dos Aventureiros.

— Boa ideia?

— Eu acho que sim. Não vejo por que a guilda não pode agir para defender uma aventureira tão poderosa quanto você de outra organização.

Bom, acho que poderíamos fazer isso, ainda mais vendo como Fermus recomendou isso. Eu fiquei meio tentado a ir para a guilda deles e mostrar a seus membros seus lugares, mas não tínhamos tempo para isso.

— Então vou deixar para a guilda.

— Acho que devemos levá-los para dentro então.

— Primeiro espere um pouco.

— Você vai fazer algo com eles?

— Nn. Administrar punição.

E assim, Fran acabou socando cada um dos homens no estômago antes de arrastá-los para dentro da guilda.

Para minha surpresa, Dias ficou feliz em saber o que havia acontecido. Eu sabia que ele seria capaz de lidar com a situação sem muito problema, mas não esperava que ele estivesse literalmente pulando de alegria.

— Isto é perfeito! Eles compraram uma briga conosco e, ao fazer isso, nos deram mais do que apenas uma desculpa para acabar por completo com eles!

Dias olhou para seus subordinados, um sinal que os levou a se aproximarem antes de levarem os magos que capturamos.


Notas

[1] Milady é um termo que pode ser utilizado no tratamento respeitoso a senhoritas, senhoras e demais damas de linhagem nobre.

[2] Aiwass (escrito também como Aiwas) é referida como a figura que ditou o trabalho do ocultista inglês Aleister Crowley nos três dias de escritura do “Livro da Lei”, entre 8, 9 e 10 de 1904. Aiwass declara-se ser o ministro de Hoor-paar-kraat, um deus dos antigos egípcios conhecido como Harpocrates. Harpocrates é uma forma do deus Hórus representado como uma criança inocente. Sua mãe é Nut ou Nuit no Liber AL. Essa atribuição enfatiza mais ainda a função de Aiwass na entrega da palavra da “Criança Coroada” e “Conquistadora”. Aleister Crowley acreditava que Aiwass tinha sido um dos Mestres Secretos da A∴A∴, Astrum Argentum, uma ordem ocultista fundada por Crowley e George Cecil Jones em 1907.



Comentários