Volume 5

Capítulo 222: A história de fundo de Celldio

Os membros da equipe da guilda recuperaram o cadáver de Celldio enquanto seus servos eram escoltados para a masmorra.

Por outro lado, acompanhamos Dias para que pudéssemos contar o que havia acontecido.

Uma das funcionárias nos trouxe uma xícara de chá quando chegamos ao escritório do mestre da guilda.

— Caramba! Alguém finalmente fez isso! Você não tem ideia do quanto eu queria que isso acontecesse.

Dias soltou o braço de Fran no momento em que ele fechou a porta e no mesmo instante se curvou e começou a elogiar a garota.

— Muitíssimo obrigado!

— Muito feliz?

— O grupo de Celldio era um tumor que a Guilda dos Aventureiros de Kranzell precisava remover. Eu não posso te agradecer o suficiente por nos ajudar se livrando deles.

O fato de Dias ter chamado Celldio de tumor serviu para evidenciar o quanto o visconde não era admirado.

— Você o avaliou?

"Avaliei."

— Então imagino que você deve ter pensado que ele era fraco demais para um rank A?

A especulação de Dias acertou em cheio o alvo. Eu estava convencido de que não havia como Celldio ser mais do que um rank B em termos de força.

Eu pensei que o visconde tinha chegado tão longe por um motivo oposto ao pelo qual Fran teve negada sua promoção. Em outras palavras, assumi que ele havia sido classificado como um rank A por causa de uma série de realizações notáveis ou algo semelhante.

Mas, pelo visto, esse não era o caso.

— Os aventureiros rank A são efetivamente heróis. Força é um requisito que não pode ser renunciado ou ignorado, embora você esteja certo ao assumir que também é necessário uma série de conquistas para se qualificar.

O que Dias quis dizer foi que não era possível que alguém fraco se tornasse um rank A, independentemente das ações que ele tinha em seu nome, fato que parecia contradizer a realidade apresentada pelo status de Celldio.

— Apesar de nossos requisitos rigorosos, o lunático com quem você acabou de lidar ainda conseguiu receber o rank A. Você sabe dizer o motivo?

"Pelo que você disse até agora, parece que os rank A precisam passar por algum tipo de teste de combate. Eu não consigo imaginar como ele poderia ter conseguido passar por isso."

— Na verdade, existem quatro requisitos que precisam ser cumpridos para que o aventureiro seja reconhecido como um rank A. O primeiro é a força, o segundo é ter conquistas significativas, o terceiro é a pessoa ter feito uma certa quantia de contribuições para a guilda e o quarto é ser reconhecida por pelo menos 15 diferentes mestres da guilda.

Os requisitos eram rigorosos, sendo o último quase impossível.

— Ou pelo menos é assim que funcionaria em circunstâncias normais. Infelizmente, as habilidades tornaram o visconde capaz de contornar nossos pré-requisitos.

— Habilidades?

— Deixe-me reformular essa frase. Quantas mestras da guilda você acha que este país tem?

Sua pergunta ativou meu cérebro e me permitiu descobrir sobre o que ele estava falando.

"Suponho que você esteja falando sobre as habilidades que ele tinha contra o sexo oposto? Estou assumindo que o título de Conquistador que ele tinha deve ter ajudado de alguma forma."

— Isso mesmo. Ele colocou suas presas em sete diferentes mestras da guilda.

A habilidade “Causa Boas Impressões no Sexo Oposto” parecia ser a que provocava boa vontade, enquanto a habilidade “Atração do Sexo Oposto” funcionava como uma espécie de encanto.

Seu título de Conquistador fazia com que todas as mulheres que tivessem uma mínima impressão dele ficassem apaixonadas no mesmo instante.

— Ele conseguiu conquistá-las com a mínima menção de amor.

"E foi assim que ele foi promovido e chegou tão longe?"

— Era mais como se elas estivessem oferecendo a ele. Uma de suas apoiadoras era uma dama com 40 anos a mais que ele, uma com bastante influência.

Nojento…

Espera, como ele conseguiu o rank A com apenas sete apoiadoras?

— O resto ele subornou, pressionou usando a influência de seus pais e fez promessas. Ele usou todos os tipos de métodos para atingir seu objetivo.

— Guilda ainda apoiou?

"Isso parece bastante preocupante para mim."

— Desculpem. Mestres da Guilda também são pessoas. Somos imperfeitos, e alguns de nós são escória pura.

"Sim, eu sei o que você está tentando dizer."

Os políticos e policiais da Terra também não eram todos livres de culpa. Um mestre da guilda que falhava em cumprir seu dever parecia ser algo parecido com esses exemplos.

— Por sorte, posso dizer que me dediquei muito e fiz com que todos, exceto três dos mestres das guildas que aprovaram Celldio, fossem privados de suas posições.

"Espere, ele ainda era um rank A apesar do fato de que a maioria de seus apoiadores foi substituída?"

— Infelizmente, nem mesmo nós, mestres das guildas, somos capazes de fazer muito contra os rank A. Indivíduos reconhecidos como aventureiros rank A recebem maiores liberdades, além do direito de expressar suas próprias opiniões. Temos que ter em mente que rescindir uma promoção que concedemos é um ato que colocaria uma mancha na honra da guilda.

Isso parecia bastante problemático, uma vez que um bom número de mestres da guilda parecia obcecado por precedentes.

— Eu estou de olho no grupo de Celldio desde que ele recebeu seu rank na esperança de encontrar um incidente que me permitisse rebaixá-lo. De forma lamentável, nunca apareceu um.

"Mas ele não extorquia pessoas com regularidade?"

— Suas ações eram tecnicamente classificadas como legais. Ele exagerava, mas ainda pagava em vez de apenas ir embora com seu dinheiro. Para piorar a situação, nenhum de seus alvos tentaria processá-lo.

"Hã? Sério? Por que não? Ele não roubou as armas deles?"

— Você só pensa assim porque é do tipo com quem ele não pensaria em mexer. Você é forte, tem muita influência e tem a atitude certa que precisa para lidar com esse tipo de pessoa. A maioria dos rank C cederia na mesma hora se se deparassem com um rank A que vem de uma família chefiada por um marquês, em especial se o rank A em questão tiver uma reputação muito ruim.

Isso meio que fazia sentido. Afinal, perder a arma seria muito melhor do que perder a vida.

— Porém, o mais irritante e difícil de lidar em relação a esse visconde era o fato de ele ter muitos parafusos soltos.

— Parafusos soltos?

"Como isso o tornava difícil de lidar?"

— Alguns itens mágicos têm a capacidade de detectar crimes. O problema é que eles funcionam a partir dos pensamentos das pessoas em que são usados, dessa forma, os itens não respondem se seus alvos acharem que estão em seu direito legal.

Em outras palavras, itens que poderiam detectar crimes não funcionavam em Celldio porque ele não achava que estava fazendo algo errado.

"Espere, mas um de seus títulos não dizia que ele era viciado em elixir?"

A forma como isso foi redigido o fazia parecer um tipo de drogado.

— Elixires são usados com frequência em tratamentos médicos, portanto, ingeri-los com regularidade não é um pecado em si. Alguns nobres mais burros também consideram a ingestão de elixires um passatempo regular. Eles não pensam nisso como um crime ou um pecado.

Isso significava que pegar Celldio por seu vício também implicaria fazer o mesmo com todos os outros nobres que estavam no mesmo barco. Isso parecia algo que não iria correr tão bem e poderia potencialmente piorar o relacionamento da aliança com os nobres do país. Continuar com essa ideia seria, em suma, uma enorme dor de cabeça.

— Elixir?

— Elixires são drogas aterrorizantes que proporcionam sentimentos poderosos de alegria a quem os bebe, com a única recompensa sendo um pouco de dano cerebral. É usado com frequência por nobres e indivíduos que residem nos palácios reais para transformar as pessoas no poder em fantoches facilmente manipuláveis.

— Por isso tinha problema na cabeça?

— Eu acho que sim. Celldio ainda era capaz de falar e pensar, mas ele parecia ter perdido a capacidade de raciocinar. Seus sintomas fazem parecer que ele foi obrigado a beber uma quantidade muito específica da droga com regularidade.

"Agora que você mencionou, parecia que os membros do grupo dele o estavam manipulando."

— Culpados, servos?

— Hmm… isso seria difícil de dizer. Se dependesse de mim, diria que a culpa deve ser do próprio marquês.

“Tem certeza? O marquês não acabaria perdendo o respeito se Celldio estivesse causando problemas? As pessoas acabariam acusando o marquês de drogá-lo se descobrissem por que ele enlouqueceu, certo?"

Além disso, manipular o próprio filho não parecia algo muito benéfico.

— Eu diria que a escolha do marquês foi boa pela única razão de que Celldio era uma escória genuína. Acho que ele é culpado de cerca de 10 casos diferentes de assalto, estupro e roubo, tudo isso sozinho. Ele os encobriu, através do uso do poder de sua casa, ou pela autoridade que pertencia à mestra da guilda que ele havia colocado aos seus serviços na época. E quanto a quem o acusou ou se opôs a ele?

Dias ergueu o polegar e o arrastou por seu pescoço.

"Espere, você está dizendo que ele os assassinou?"

— Isso mesmo. Seu pai é um marquês, então é natural que ele esteja familiarizado com negócios mais obscuros, por isso acredito que ele está melhor em seu estado atual. O único lado negativo é que quem falou com ele pode dizer que ele era um lunático.

Então isso significava que o marquês drogou seu filho para fazer parecer que ele havia se reformado?

— Existe essa possibilidade, mas você não pode esquecer que ter um aventureiro rank A como fantoche é algo que traz um número incrivelmente grande de benefícios. Em geral, os nobres não deveriam ser capazes de emitir ordens para a guilda de aventureiros, mas o pai de Celldio podia fazer isso através dele. Como resultado, o marquês havia reforçado suas próprias forças a alturas insondáveis.

Parecia que muitos aventureiros estavam dispostos a cumprir a vontade de um rank A, mesmo não gostassem do rank A em questão.

"Tudo bem, estou te acompanhando até agora, mas por que drogar Celldio era uma parte necessária de tudo isso? O marquês não poderia ter apenas ordenado que ele voltasse?"

— Ele parece ter chegado à conclusão de que Celldio, como havia sido no passado, era estúpido demais para se tornar um rank A. Há também o fato de que Celldio provavelmente não teria obedecido ao pai depois de subir de ranking, mesmo que ele tivesse conseguido realizar isso por conta própria. Para o marquês, drogar o filho era a solução mais rápida e simples.

Ouvir a explicação de Dias quase me fez querer exclamar que o coração do marquês era negro como carvão. Envolver-se com a nobreza parecia ser algo que teríamos que evitar por todos os meios possíveis.

— O marquês Ashtonah nunca deve ter visto Celldio como mais do que um peão descartável, dado que ele era um filho ilegítimo. No mínimo, manter Celldio por perto era prejudicial, dado que sua presença seria mais do que suficiente para iniciar uma luta pelo poder.

Consegui entender a explicação de Dias, mas não consegui aceitá-la como algo razoável. Isso, é claro, não significava que eu não tinha perguntas.

"Então, por que seus subordinados o encorajaram a extorquir pessoas? Não seria uma ideia melhor apenas mantê-lo sob controle, considerando toda a merda que eles tiveram que passar para torná-lo um rank A?"

A reputação de Celldio teria sido muito melhor se ele não tivesse começado a sair da linha. Ele também teria muito mais influência sobre a guilda.

— Isso é algo que eu também estava pensando. O boato é que eles estavam procurando por Lâminas Divinas. A habilidade Controle de Arma que ele tinha o tornara bastante adequado para fazer isso.

"Então você acha que eles andaram por aí extorquindo pessoas na esperança de encontrar uma Lâmina Divina?"

— Mais uma vez, eu mesmo não sei a resposta exata para isso. Tudo o que posso dizer com certeza é que eles têm algum tipo de motivo.

Um dos funcionários da guilda bateu na porta quando Dias terminou de falar. O timing do funcionário foi bastante decente, então ele respondeu na mesma hora dizendo que a pessoa poderia entrar.

— Mestre da Guilda, eu poderia direcionar sua atenção para um assunto?

— O que foi?

— Conseguimos recuperar vários itens do Anel Dimensional de Celldio.

O funcionário apresentou um pequeno frasco de líquido ao lado do que parecia ser algum tipo de documento.

— A garrafa contém elixir, como evidenciado pelo seu conteúdo não tremer à medida que o recipiente se move. Este documento, por outro lado… parece ser uma lista de Lâminas Divinas.

As informações pertencentes às Lâminas Divinas chamaram minha atenção, então Fran me reposicionou para que eu pudesse dar uma espiada. O documento continha uma lista de nomes, assim como vários desenhos e descrições que poderiam permitir um melhor reconhecimento das armas em questão.

Os itens exatos listados diferiam um pouco dos que vimos no documento que Rumina havia nos mostrado.

O que estávamos vendo agora estava mais atualizado?

— Estou surpreso que você tenha aberto a caixa de itens dele. Algo desse tipo normalmente é acompanhado por uma espécie de medida de segurança.

— Fomos informados sobre como abrir a caixa depois que Erza começou seus interrogatórios.

— Então, qual deles abriu o bico?

— O ladino.

— Faz sentido. Bad boys são o tipo preferido de Erza.

Ó deus. Ó meu deus. Erza, o que diabos você fez com aquele pobre homem!? Eu queria perguntar, mas, ao mesmo tempo, não queria saber. A maneira como o membro da equipe estava agindo demonstrou que isso foi, no mínimo, um método fora do normal.

— Ei Fran!

Erza apareceu no momento em que eu jurei nunca o irritar. Vê-lo me fez no mesmo instante me forçar a esquecer o fato de que ele parecia estar envolto em algum tipo de brilho.

—Bom trabalho Erza. Você descobriu alguma coisa?

— Mhm. Eu tenho bastante informação para você. Consegui extrair muitas informações dele depois de esgotá-lo de forma bastante atenciosa. Parece que eles não imaginavam que a maldição da espada funcionaria porque pensaram que a habilidade de Controle de Arma de Celldio o deixaria superá-la.

Então foi por isso que eles o incitavam em vez de pará-lo.

— Ó, e eles não disseram isso explicitamente, mas parece que eles estão trabalhando sob as ordens do marquês Ashtonah.

— Você descobriu por que eles queriam privar Fran da arma dela?

— Mhm. Totalmente.

— Quero saber.

— É uma razão muuuuitoooo estúpida. Eles já estavam podres por dentro, mesmo assim, eram aventureiros rank A. Eles tinham muitas informações que a guilda mantinha em segredo do público, então o marquês ordenou que fossem procurar por Lâminas Divinas. Mas eles enfrentaram um grande problema, um que colheram por eles mesmos plantarem. O mais engraçado é que Celldio acabou um pouco quebrado, mas melhorava a cada espada mágica que encontrava. Na verdade, eles não foram capazes de controlá-lo.

Eu não pude deixar de concordar com Erza. O fato de a falta de sanidade de Celldio ter feito com que ele ficasse obcecasse com espadas mágicas comuns depois de receber ordens para encontrar Lâminas Divinas era meio engraçado de uma maneira patética.



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