Volume 6

Capítulo 241: Em busca de um navio

Gamud levou Fran de volta ao seu escritório para dar aos discípulos um pouco de tempo para se acalmarem.

— Obrigado por hoje, você foi de grande ajuda. Desculpe que acabou demorando tanto.

— Sem problemas. Também aprendi.

— Aprendeu mesmo?

— Nn. Muitíssimo obrigada.

Fran curvou-se para Gamud em uma expressão de gratidão.

À primeira vista, parecia que o mestre da guilda apenas fez o pedido porque queria que derrotássemos seus discípulos para reduzir a arrogância deles, mas na verdade, foi mais do que isso. Ele queria que Fran aprendesse uma lição parecida. Era como se ele estivesse dizendo a ela que não queria vê-la ficando convencida. Ele queria ter certeza de que ela estava ciente de que havia lutadores mais fortes por aí, e que a garota morreria se não continuasse ciente de seus próprios limites.

Ela percebeu as intenções dele, embora eu não as tivesse mencionado, e por isso ela escolheu agradecê-lo de forma respeitosa.

— Não sei por que você está me agradecendo. Afinal, foi você quem me ajudou.

O mestre da guilda desviou o rosto dela por vergonha, um ato que apenas confirmou suas intenções.

— Nn. Ainda queria agradecer.

— … você ainda é jovem. Você tem muito tempo para crescer, então não se esforce demais, está ouvindo?

— Entendido.

Fran agradeceu a Gamud uma última vez e aceitou o pagamento do pedido antes de enfim virar e sair da Guilda dos Aventureiros.

“Muito bem. Finalmente chegou a hora de encontrarmos um navio."

— Nn. Procurar agora mesmo.

Au!

"Vocês dois parecem animados. Aconteceu alguma coisa?"

— Hoje à noite, curry. Io.

Au.

— Não posso atrasar. Não importa o que aconteça.

Ão.

Fran e Urushi se entreolharam e assentiram em perfeita sincronia. Era quase como se seus apetites tivessem permitido que eles se comunicassem enquanto abandonavam por completo a necessidade de palavras.

Eles estavam motivados pelas razões erradas, mas não me importei, desde que suas atitudes nos ajudassem a encontrar um navio o quanto antes. Mesmo assim, eu não queria que embarcássemos em algo muito suspeito. Poderíamos sempre voltar no dia seguinte se não conseguíssemos encontrar nada decente até a hora do jantar.

— Para a marina.

“Espero que possamos encontrar algo com o brasão da Nação dos Homens-Fera.”

Encontrar um deles deixaria as coisas mais convenientes, porque o Lorde das Feras havia nos dado um item, mas, para ser honesto, isso não importava muito. Parecia que Fran, ou melhor, a Princesa do Raio Negro, havia se tornado famosa o suficiente, mesmo em Barbola, portanto poderíamos conseguir um trabalho de escolta com facilidade.

Eu estava mais preocupado em saber se haveria algum navio que seguiria para nosso destino e no tamanho que ele teria se houvesse algum.

Pessoalmente, eu esperava embarcar em um navio maior, de preferência algo na escala de um transatlântico. Na verdade, eu não estava tão confiante na capacidade de um navio menor de chegar até outro continente.

Embora o tamanho fosse importante, não era a única coisa que tínhamos que levar em consideração. Também tínhamos que considerar a atitude da tripulação. Ao que parecia, a Tribo dos Gatos-Negros não estava mais sendo menosprezada pelo próprio país, mas isso não significava que todos os seus cidadãos se sentiriam da mesma maneira.

Não havia muito sentido em embarcar em um navio cuja tripulação consistia em sua maioria de pessoas que discriminavam Fran e seu povo. A atitude do capitão era de particular importância, pois ditaria a maneira como sua tripulação operaria.

Chomp, chomp. Aquele navio?

Nhac. Au. Nhac.

Fran e Urushi estavam conscientes de que iriam comer curry no jantar de hoje à noite, mas ainda assim optaram por comer alguns espetos com sabor de curry enquanto procuravam um navio.

— Veja.

"Por acaso você viu um navio bonito ou algo assim?"

— Aquilo. Parece gostoso.

“Ó. Foi isso que você quis dizer?"

A garota-gata vagarosamente se dirigiu para uma baia próxima atraída pelo cheiro. O prato que estava sendo vendido tinha uma aparência bastante interessante. Eles dobraram um monte de massa em uma forma cônica antes de dar modelá-la em algo que parecia Qeema Curry¹ com todo o seu líquido colocado por cima. Era como uma casquinha de sorvete, mas feita com curry.

Meus dois companheiros alegremente enfiaram essas coisas em suas gargantas, em vez de olharem ao redor com mais atenção. Parecia que eu teria que cuidar de toda a pesquisa.

Passamos um pouco mais de tempo nas imediações do porto, enquanto os dois glutões que eu acompanhava compravam e comiam o que quisessem. Durante esse tempo, consegui avistar dois navios diferentes com o brasão do País dos Homens-Fera, mas não queria embarcar em nenhum deles.

Minhas razões foram as seguintes: o primeiro parecia desgastado e pertencia a uma empresa muito pequena que esperava lucrar com o comércio internacional. Todos os membros da tripulação eram de nível relativamente baixo, e o mesmo se aplicava às habilidades relacionadas à navegação. Eu não sentia que seria seguro embarcar, na verdade, eu estava mais ou menos convencido de que isso iria afundar.

O segundo navio estava em muito melhor forma, ele tinha uma aparência decorosa. O mesmo, no entanto, não poderia ser dito para sua tripulação. Eles não podiam ser considerados decentes, não importava como você os olhasse. Ainda não eram verdadeiros piratas, mas eles com certeza estavam chegando lá. Não podíamos confiar neles. Embarcar no navio era claramente uma péssima ideia.

Como não tínhamos encontrado nada, acabamos vagando um pouco mais pelo porto, momento em que fomos cumprimentados por um comerciante do sexo masculino.

—Ei você!

— Nn?

— Por acaso você está procurando um navio para escoltar?

— Como percebeu?

Embora estivéssemos em guarda a princípio, logo descobrimos que nosso objetivo era bastante óbvio para uma pessoa atenta. A maioria reconheceria Fran como a Princesa do Raio Negro porque ela era uma jovem Gata-Negra com um lobo ao seu lado. Em outras palavras, eles a reconheceram como uma aventureira, em vez de apenas uma garota comum.

Ela obviamente estava olhando para os navios que estavam por perto, então o comerciante juntou dois e dois e chegou à conclusão de que Fran precisava atravessar o mar. Afinal, era bastante típico que os aventureiros realizassem missões de escolta para pegar carona.

— Foi por isso que vim até você. O que você acha de escoltar meu navio?

Contratar uma aventureira tão forte quanto a Princesa do Raio Negro não apenas garantiria a carga do homem, mas também permitiria que ele se promovesse como um comerciante de prestígio. Ele adoçou o acordo não apenas nos oferecendo uma carona, mas também uma recompensa bastante decente.

Embora a oferta fosse bastante promissora, não poderíamos aceitá-la sem primeiro esclarecer alguns fatos.

— Destino?

— Estamos planejando zarpar para o continente de Reddina.

— Não posso.

O comerciante parecia bastante desapontado, mas acabou recuando pouco depois que Fran balançou a cabeça. Eu esperava que ele fosse um pouco mais persistente, mas parecia que ele era do tipo que sabia que incomodar a garota não era uma boa ideia.

Ele não foi o único comerciante a falar conosco. Mais alguns tentaram nos perguntar a mesma coisa, mas, infelizmente, nenhum deles iria para Chrom, o continente em que o país dos Homens-Fera estava localizado. Ainda assim, continuamos olhando em volta e não desistimos. No final, levamos cerca de três horas para enfim encontrarmos um navio cujo destino era o mesmo que o nosso.

Eu não sabia muito sobre navios, mas o pouco de conhecimento que consegui captar em um certo mangá sobre piratas me disse que o navio em questão devia ser um galeão². Tinha cinco mastros e era com certeza um dos maiores navios atracados no porto. Tinha até um brasão da Nação dos Homens-Fera, além disso, ele estava decorado com uma coroa, o que significava que era um navio que trabalhava diretamente para a família real.

Os marinheiros a bordo pareciam disciplinados, mas animados, e como o riso muitas vezes ecoava do convés do navio, considerei esse um sinal de que o ambiente em que trabalhavam era pelo menos decente. Em outras palavras, o navio e sua tripulação pareciam o tipo em que poderíamos confiar. Além disso, eles nos acomodariam se pudessem porque tínhamos o cartão de identificação de Royce em mãos, então decidi perguntar para ver se eles poderiam nos deixar entrar a bordo.

"Ei Fran, que tal checar esse navio?"

— Nn. Entendido.


Notas

[1] Qeema Curry é um prato tradicional do subcontinente indiano, tipicamente é feito de curry com cordeiro moído com feijão ou batatas e especiarias, algumas vezes é usado como recheio para chamuça ou naan.

[2] Um galeão é um navio que se distingue dos restantes navios do mesmo tipo pelo facto de possuir quatro mastros, de alto bordo, armado em guerra, frequentemente utilizado no transporte de cargas que possuíam alto valor na navegação oceânica entre os séculos XVI e XVIII. Alguns deslocavam 1.200 toneladas e continham 40 bocas de fogo. O número de velas era variável e tinham duas ou três cobertas. Uma das suas características é a existência do chamado "castelo", à sua popa, apresentando até à proa uma pequena curva.



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