Volume 6

Capítulo 243: O estado atual do orfanato

Chomp, chomp, chomp, chomp!

Nhac, nhec, nhac, nhec, nhec!

— Vocês dois estão mesmo atacando.

— Uou, Fran! Você é tão incrível!

— Sim! Veja o Urushi! Ele também é superincrível!

No momento, estávamos no orfanato, onde Urushi e Fran estavam acabando com o curry de Io com muita rapidez. Eles estavam comendo tão vigorosamente que eu estava começando a me preocupar se eles ficariam com dor de estômago.

Eu também estava preocupado em saber se era bom ou não comer tanto quanto eles estavam comendo, ainda mais por estarmos em um orfanato. Por sorte, Io não parecia se importar. Na realidade, vê-los comer desse jeito a fez sorrir.

— Eu fiz muito, então comam o quanto quiserem.

— Nn! Mais.

Au, au!

— Qual o tamanho da porção você prefere?

— Enorme.

Ão.

No fim, a dupla acabou comendo cinco porções supergrandes, algo ao qual as crianças reagiram com admiração e um pouco de ressentimento. Parecia que eles seriam capazes de comer curry na manhã seguinte, contanto que Fran e Urushi não comessem tudo.

Algumas crianças se importavam muito menos com isso e muito mais com o quanto Fran poderia comer. Embora parecessem um pouco menos apegados ao curry, uma boa parte delas ainda a encarava com um pouco de reprovação, porque suas previsões incorretas os levaram a jogar fora uma parte de seu café da manhã.

Achei que seria uma boa ideia pagarmos mais tarde por toda a comida que comemos. O orfanato estava com certeza muito melhor do que antes, mas ainda assim era um orfanato.

— Obrigada.

Ão.

— Não, eu que agradeço. Estou feliz que você tenha gostado tanto.

— Nn. Saboroso.

Fran deu um tapinha em seu estômago agora inchado algumas vezes para expressar como se sentia satisfeita. O curry que Io fez era muito delicioso, tanto que a garota quase parecia com um pouco inveja pelo fato de não poder comê-lo com regularidade.

Infelizmente, não era algo que eu seria capaz de imitar. Io estava cuidando de um orfanato, então ela não tinha usado temperos supercaros. Ela estava usando o tipo de itens padrões, o que significa que o curry que ela fez foi tão delicioso por causa de suas habilidades como chef. Eu seria capaz de imitar sua variação do prato se a observasse durante todo o processo preparatório, mas não fiz isso.

As crianças já haviam terminado as refeições e não tinham muitos motivos para ficar por ali, então foram brincar. As únicas pessoas que restavam eram Fran, Urushi e Io.

— Partindo agora.

Fran se levantou e se preparou para ir embora enquanto acariciava seu estômago.

— Já? Você deveria relaxar e ficar por um tempo. Vou até fazer um chá para você, se você quiser.

— Preparado por Io?

— Mhm. Posso até conseguir alguns lanches para acompanhar, se você quiser, embora, infelizmente, tudo o que temos sejam doces assados.

— Sim, por favor.

Fran teve a chance de tomar um chá preparado por Io junto de alguns lanches feitos pela mulher, uma chance que seu lado mais glutão não poderia se recusar a perder.

Impulsionada por seu apetite, ela sentou-se na cadeira com uma série de movimentos graciosos e fluidos. Da mesma forma, Urushi, que compartilhava seus interesses alimentares, também se posicionou em uma cadeira enquanto mostrava em sua expressão apenas compostura.

— Não se preocupe, Urushi, vou garantir que você também receba sua parte.

Au!

Os doces assados que Io fez eram bastante simples. Eles continham apenas açúcar, farinha e ovos, mas um simples olhar para a maneira como Fran e Urushi reagiram ao prová-los deixou bem claro que eles estavam deliciosos. O mesmo aconteceu com o chá, embora as folhas usadas para prepará-lo fossem consideradas bastante baratas. Ambos os glutões gostaram tanto da experiência que acabaram exibindo expressões de felicidade durante a experiência culinária.

Io observou os dois com um sorriso durante todo o processo. Para ser mais específico, ela esperou que Fran terminasse de tomar seu chá antes de se dirigir a ela em um tom muito mais sério do que o habitual.

— Muitíssimo obrigada.

Sua expressão ficou séria quando ela se curvou enquanto falava algumas palavras de agradecimento.

— Nn?

— Admito que ostentei um pouco para o jantar de hoje, pois sabia que você estava vindo, mas valeu a pena. Suas ações trouxeram sorrisos genuínos aos rostos das crianças. Elas estão transbordando de alegria desde que você se aproximou e nos ofereceu sua ajuda.

Fran ficou em silêncio e ouviu Io continuar a falar:

— Nós, as crianças e eu, costumávamos passar nossos dias com o medo constante de que não teríamos o suficiente para comer. As crianças ainda sorriam, mas não da maneira pura e despreocupada que fazem agora.

Eles nunca sabiam quando o orfanato acabaria fechando, então fazia sentido que nunca tivessem uma real paz de espírito. As crianças tinham a tendência de serem ingênuas, mas isso não significava que eram estúpidas. O prédio em que moravam era decrépito, elas tinham muito pouco para comer e até eram incomodadas por um agiota de vez em quando. Os sinais estavam todos presentes, e eram mais do que óbvios o suficiente para dizer às crianças que o orfanato não estava indo muito bem.

Todos os adultos envolvidos sempre se esforçavam ao máximo para esconder os problemas financeiros das crianças. Isso os estressaria e faria com que as crianças notassem seu descontentamento, o que, é claro, apenas levaria os adultos a redobrarem seus esforços. Era um ciclo vicioso sem fim à vista.

— Muito obrigada por permitir que as crianças sorriam mais uma vez.

— Ajudada por Amanda. Não eu.

— Você está certa. Amanda foi quem nos ajudou a sair de nossa dificuldade, mas isso foi algo que ela fez por sua causa. Ela nunca teria tido a oportunidade de nos ajudar se não fosse por você informando-a de nossa situação. Obrigada, muito obrigada!

Io se curvou ainda mais, como se demonstrasse que não podia agradecer a Fran o suficiente pelo que ela havia feito.


E assim, uma hora passou voando.

As coisas acabaram ficando um pouco estranhas depois que Io terminou de se desculpar, ao que parecia porque ambas as partes estavam se sentindo um pouco envergonhadas. As duas tinham uma boa relação, então elas conseguiram tirar o desconforto do ar e voltaram a iniciar uma conversa.

— Partindo agora.

— Sinto muito por ter tomado tanto de seu tempo.

— Sem problemas.

Io nos acompanhou até a entrada do orfanato. Tentamos oferecer um pouco de dinheiro a ela, considerando tudo o que havíamos comido, mas ela acabou recusou com teimosia qualquer forma de pagamento. Ela insistiu que só havia nos alimentado como forma de expressar seu agradecimento e que não havia como ela nos cobrar por isso.

"Mestre, o que fazer?"

No final, acabamos guardando o dinheiro que tínhamos planejado dar a ela. Imaginei que seria grosseiro forçá-la a aceitar isso depois de tudo o que ela dissera, e que a mulher ficaria muito mais feliz em não aceitar.

Falando em felicidade, Fran parecia estar de ótimo humor. Ela até cantarolou uma rara música enquanto voltávamos para a pousada.

"O curry que ela fez estava saboroso?"

— Nn!

Ó, pelo amor de Deus. Vou ter que me esforçar muito para não a deixar me superar.

— Além disso...

"Além disso?"

— Pareciam felizes. Ambos Io e os órfãos.

"Eles com certeza pareciam."

— Nn. Feliz.

Para Fran, os órfãos sob os cuidados de Io não eram meros estranhos. Eles eram pessoas cuja situação era paralela à dela. Ela também havia perdido seus pais quando era jovem, então devia ter simpatia por eles. Vê-los felizes provocou suas emoções e a encheu de um sentimento sincero de alegria.

"É, acho que você tem razão. Também estou feliz que tudo acabou dando certo a seu favor."

— Nn.



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