Volume 6

Capítulo 245: A cabine

Todos começaram a se apresentar depois que o grupo rank C, o Sopro do Deus de Ferro, terminou de se desculpar com Fran.

No começo, pensei que eles não precisavam ir tão longe a ponto de se prostrarem. Contudo, a combinação da disposição com que eles fizeram isso e a impressão que eu tive deles me fizeram sentir que, para eles, isso não era algo fora do comum.

Suas atitudes arrogantes pareciam ter desaparecido por completo. Em vez disso, o trio começou a se curvar de forma submissa, como se quisessem compensar seus erros. Parecia que a declaração de Mordred, sua proclamação de que Fran era muito mais forte do que ele, deixara uma impressão bastante profunda neles.

Para ser sincero, fiquei surpreso que uma palavra dele fizesse com que suas atitudes mudassem de forma tão drástica. A maioria dos outros aventureiros ainda duvidava da força de Fran por causa da aparência dela. Um pouco mais de consideração levou-me a perceber que a vontade de aceitar a força da garota-gato vinha da confiança em Mordred. Eles pareciam certos de que ele nunca mentiria para eles.

Embora os subordinados de Mordred não questionassem a autenticidade de suas palavras, eu o fiz. Fran era com certeza mais forte que ele, mas ela era muito mais forte que ele em apenas seu estado desperto. Do jeito que eu enxergava o cenário, ele era um Guerreiro Mágico habilidoso o suficiente para se igualar até a Colbert em um combate individual. Ele seria um adversário perigoso se não o levássemos a sério.

— E esses são meus quatro companheiros.

— Estamos ansiosos para trabalhar com você.

— Estamos ansiosos para trabalhar com você.

— Estamos ansiosos para trabalhar com você.

— Estamos ansiosos para trabalhar com você.

— Nn. O mesmo. Também me apresentarei de novo. Aventureira rank C. Fran. E Urushi.

Au!

— Uau, esse lobo acabou de sair do nada!

— Ele-ele surgiu das sombras!

— Muito bom. Ele parece bastante forte.

— Nn. Confiável.

Ao contrário de seus subordinados, Mordred permaneceu calmo, apesar de Urushi, uma fera demoníaca poderosa, ter aparecido do nada. Na realidade, ele até sorriu depois de afirmar a força do lobo, como se quisesse expressar que estava feliz por ver outro lutador em nossas fileiras. Eu realmente tinha que tirar meu chapéu para ele. Todos os outros aventureiros recuaram e apenas encararam o Lobo da Escuridão de longe.

— Acho que devo apresentar todos os outros. Primeiro serão esses caras. Eles são a Terra Vermelha, uma equipe rank D.

— Fico feliz em poder trabalhar com você.

— E aí.

— Eiiii.

Embora o líder do grupo parecesse do tipo formal e rígido, o mesmo não poderia ser dito para seus dois companheiros. Ambos deram uma impressão muito mais descontraída. Não pude deixar de notar que todos na equipe tinham escamas verdes crescendo em seus braços e rostos, uma característica que os denotava como homens-cobra.

Não pude deixar de sentir que eles eram um pouco estranhos, não porque tinham escamas, mas porque todos pareciam fazer parte da mesma demografia. Seus corpos musculosos tinham quase o mesmo tamanho, em altura ou largura. Da mesma forma, todos usavam espadas gêmeas e tinham rostos com aparência semelhante.

— Idênticos.

— Ahahahaha. É porque nós três somos irmãos. Estamos vagando pelo mundo e nos aventurando juntos há algum tempo. Faz um tempo desde a última vez que visitamos nossa casa, por isso decidimos aceitar essa missão de escolta para podermos voltar.

Suas aparências não eram tudo o que era compartilhado. Os três homens-cobra tinham sido ensinadas pelo pai, então acabaram com o mesmo conjunto de habilidades. A estranha semelhança que eles tinham um com o outro me levou a suspeitar que eles eram trigêmeos. A única maneira real de eu diferenciá-los era olhar para os penteados deles. Eu não achei isso muito confiável, então decidi avaliá-los sempre que conversássemos, para ter certeza de que sabíamos quem era quem. Para registrar, o líder tenso era o mais velho do grupo.

Embora a Terra Vermelha parecesse um pouco intimidadora, descobri que eles eram na verdade pessoas bastante decentes. Eles não pareciam ter nenhum preconceito contra a tribo de Fran.

— Esses três últimos pertencem aos Defensores Cristalinos, uma equipe rank E.

— H-hiia.

— Engraçado te ver de novo.

— Ahahaha…

Os últimos três aventureiros eram nossos conhecidos. Na verdade, eles ainda estavam muito frescos em nossas mentes, porque acabamos de lutar com eles alguns dias atrás. Eles eram Miguel, o usuário de espada grande, Liddick, o lanceiro sério, e Naria, a arqueira.

— Ó, vocês já se conheciam?

— Meio que sim. Ela nos destruiu em um sparring há alguns dias.

— Certo, vocês eram aprendizes do mestre da guilda, não é? Puxa, estou com inveja. Eu teria amado a chance de duelar com a Princesa do Raio Negro. Estou feliz que vocês a conheçam. Deixa tudo mais conveniente.

Embora os Defensores Cristalinos mal contassem como nossos conhecidos, eu ainda os preferia a alguém que não conhecíamos pelo único motivo de que eles já haviam entendido que Fran era forte.

— Aqui, por quê?

— Bem, a verdade é que enfrentar você nos ensinou como éramos realmente fracos.

— Todos falaram um pouco e percebemos que estávamos começando a ficar desleixados por causa do tamanho de nossa equipe. Ter nove pessoas acabou nos fazendo ficar relaxados demais.

— Decidimos nos dividir em três grupos menores para que pudéssemos começar a nos treinar do zero.

Ao que tudo indicava, eles não haviam desperdiçado as lições que aprenderam ao lutar contra Fran. Eles perceberam que algo estava errado e agiram no mesmo instante.

— Tá legal. Boa sorte.

— Obrigado.

— Vamos dar o nosso melhor!

— Muitíssimo obrigada pelas instruções e pelas palavras de encorajamento!

O imediato do capitão puxou Fran e Mordred para uma rápida discussão depois que todos se apresentaram porque ele os reconheceu como os dois membros mais influentes do grupo. Os outros aventureiros não pareciam se importar, pois haviam saído depois de afirmar que iriam concordar com o que o par decidisse.

— Devemos pensar em como lidaremos com a cadeia de comando. Você tem alguma sugestão? Quanto a mim, não me importo. Sinta-se livre para assumir, se quiser.

Mordred era o tipo de cara que valorizava a habilidade, ou, para ser mais específico, a força de combate, acima de tudo. Ele estava mais do que disposto a ceder sua posição a Fran, mas, sendo sincero, eu e a garota-gato não possuímos as habilidades necessárias para preencher essa vaga. O mago da lava era muito mais adequado para o trabalho. Por isso, acabamos rejeitando sua proposta.

— Ruim em dar ordens.

— Tudo bem, continue.

— Você assume comando. Desejo ser tratada como unidade autônoma.

Fran havia dito que queria apenas fazer o que quisesse em resposta à situação em questão. Em outras palavras, sua proposta era egoísta e permitia que ela mantivesse sua liberdade e, ao mesmo tempo, rejeitasse todas as responsabilidades problemáticas que surgiram ao assumir o comando.

— Tudo bem para mim, mas você pode se certificar de verificar comigo quando for começar a agir por conta própria?

— Nn. Serei prudente.

— Você é mais forte que eu, então tentarei não lhe dar ordens se puder, mas ainda o farei se entrarmos em uma emergência que exige isso.

— É claro.

— … tudo bem.

Mordred deu um suspiro longo, mas acabou concordando em seguir nossa ideia. Parecia que teríamos a sorte de fazer o que desejávamos na maior parte do tempo.

— Parece que vocês dois encerraram a sua reunião, então, Fran, que tal conhecermos seu quarto?

— Nn.

— Já peço desculpas, mas ele estará do lado dos menores.

— Sem problemas. Só preciso de cama.

— Acho que você não precisa se preocupar com isso. Não há como a tratarmos tão mal assim.

Um dos marinheiros levou Fran a seus aposentos. A sala para a qual ela foi designada era uma sala privada destinada aos lutadores mais fortes do navio; a proximidade do convés facilitava o acesso para onde ela fosse necessária o mais rápido possível em casos de emergência.

— Este será seu quarto.

— Nn. Parece bom.

— É bom ouvir isso. Estou feliz que você gostou.

O marinheiro parecia pensar que Fran estava elogiando a sala apenas por educação, pois ele parecia um pouco envergonhado durante toda a conversa, mas ela e eu gostamos muito do local.

Era um pouco menor que o normal, mas essa era minha única reclamação. Era uma sala privada com uma cama limpa, algumas gavetas, um armário e uma mesa de aparência decente. Havia até uma lâmpada mágica suspensa no teto. Era muito melhor do que as pousadas baratas em que costumávamos ficar.

Embora dito tudo isso, a coisa que realmente se tornou a cereja do bolo foi a janela redonda decorando a parede externa da sala. Era o tipo exato de janela que você esperaria ver em um navio marítimo. Um único raio de luz fluía dela e iluminou o interior escuro da sala. Isso era tudo o que ela fazia, mas era o suficiente para enfatizar que estávamos na cabine de um navio.

Fran parecia gostar da atmosfera no ambiente do quarto, pois ela se sentou na cama e começou a balançar as pernas para frente e para trás. A expressão que decorava seu rosto era de clara excitação.

— Gosto deste quarto.

"É, eu também."

Ela deitou-se e começou a rolar para frente e para trás na cama até que enfim se cansou.



Comentários