Volume 6

Capítulo 279: O status social de Kiara

Kiara se dirigiu a Fran depois que ela terminou de vasculhar seu armário.

— Primeiro, vamos seguir para Schwarzekatze¹! Temos que dizer a todos que os gatos-negros podem evoluir.

— Todos na vila já foram informados enquanto você dormia. —, disse Guendalfa.

— Excelente! Tenho certeza de que aqueles que estão interessados em evoluir já começaram a formar equipes para caçar seres malignos. Vou me juntar a eles logo.

— Schwarzekatze? — Fran inclinou sua cabeça.

— É uma vila de gatos-negros. —, explicou Guendalfa. — Depois de libertados da escravidão, muitos gatos-negros perderam suas casas ou não puderam fazer a viagem de volta às suas cidades natais. A vila foi construída como um lugar onde eles poderiam recuperar seus meios de subsistência em um ambiente seguro.

— Sim, você deveria vir comigo e mostrar sua cara. —, disse Kiara a Fran. — Todo mundo provavelmente vai te amar.

Com isso, Kiara foi em direção à porta, mas foi parada pela empregada que a agarrou pelo braço.

— Eu não vou deixar você ir. —, disse ela. — Você está de cama há quase vinte dias. Você precisa descansar por pelo menos mais uma semana.

— Ugh. Mas que droga Mia! Me deixe ir!

Kiara puxou seu braço, mas não se mexeu, não importava o quanto ela lutasse. Ela até agarrou a beirada da porta para ajudar a se puxar, mas tudo o que isso resultou foi a porta se dobrando e rangendo.

Puta merda! A camareira é forte! As estatísticas de Kiara não deveriam ser enormes, já que ela recebeu o dobro do crescimento normal dos atributos numéricos por causa da bênção que teve? Caramba, essa empregada não se mexeu nem um centímetro! Espere, essa empregada já evoluiu!?

— Essas empregadas reais fazem jus à sua reputação. —, disse Guendalfa.

— Famosas?

— Sem dúvidas. As criadas reais são as melhores das melhores, escolhidas a dedo para servir a família real e convidados de honra. Elas são selecionadas desde tenra idade e treinadas extensivamente em etiqueta, limpeza, hospitalidade e até combate. Eu seria massacrado se tentasse brigar com qualquer uma delas.

Tendo desistido de lutar contra Mia, Kiara virou-se para Fran.

— Ah, a propósito, ouvi dizer que você veio aqui de barco do outro país. Como estava o clima em sua jornada?

— Nn. Bom.

Um silêncio constrangedor se seguiu. Kiara deu um puxão rápido em seu braço, mas a criada ainda a segurava com força.

Ela tentou distrair a empregada com conversa fiada! Que constrangedor!

— ... então, por que você veio aqui? — perguntou Kiara de forma acanhada.

— Vim aqui conhecer Kiara. E mais uma pessoa.

"Espere Fran. Eu não acho que você deva mencionar o ferreiro divino. O Senhor das Feras disse que todas as informações sobre ele deveriam ser confidenciais..."

"Eu sei." Ela respondeu telepaticamente. — Não direi mais.

— Entendo. —, disse Kiara. — Bem, eu gostaria de poder ajudá-la mais, já que você é uma gata-negra como eu, mas acho que não posso. Eu posso morar em um quarto chique como este, mas não tenho influência fora dessa porta.

— Absurdo. —, disse Mia. — Não há quase ninguém que se oponha à sua vontade, Lady Kiara.

— Hum. Qualquer pessoa que ouça uma velha rabugenta como eu deveria se jogar na cadeia.

— Tenho certeza que eles fariam se você os pedisse.

Uou. Mia parecia bastante relaxada para uma camareira real. Ela não era tão tensa quanto as outras criadas que conhecemos.

— Mas, falando sério... —, continuou Mia, — Você não pode se considerar sem importância depois de fornecer ao país muitos dos indivíduos mais importantes com seus ensinamentos. O Lorde das Feras, a Princesa, os generais, as empregadas reais, os guardas do castelo. Muitos de nós passamos a infância inteira sob seus cuidados, e iríamos correndo para a sua cabeceira se você chamasse.

— Merda, eu cometi um erro. —, disse Kiara. — Eu não deveria ter te treinado tanto quando era mais jovem se soubesse que você ficaria forte o suficiente para me impedir a essa altura!

— Que pena. Você terá que ter mais cuidado da próxima vez.

— Nrrrggh!

— Desista. Você não está em boa forma agora. A descarga de adrenalina que você está tendo está te impedindo de perceber esse fato.

— Haaah.

— Você não precisa se esforçar neste momento. Os seres malignos não vão desaparecer tão cedo. Peça a alguém no comando que estabeleça as bases para você. Eu não estava brincando quando disse que metade do castelo viria correndo se você chamasse.

— Tá legal. — A tensão em Kiara desapareceu. — Mia, vá e me traga alguém decentemente competente do castelo.

— Como desejar.

Mia soltou Kiara, pegou um pedaço de papel, escreveu uma pequena mensagem e a entregou a uma empregada que esperava do lado de fora da porta.

Kiara endireitou suas roupas.

— Fran, eu sei que disse isso antes, mas estou muito agradecida por você ter vindo aqui para me ver. Você é uma verdadeira luz na minha vida. Eu gostaria de fazer algo por você para expressar minha gratidão. Como você pode ver, tenho bastante poder não oficial neste castelo.

— Não precisa. Não fiz por agradecimento.

— Hah! Boa resposta. Mas não estou pedindo nenhum senso de obrigação. Eu só quero fazer algo por você. Realmente pode ser qualquer coisa, entendeu? Por exemplo, não me importaria de dar um fim permanente a alguém que você considere um incômodo.

— Não, obrigada. Farei isso eu mesma.

— Sério? Não, você tem razão. É mais divertido fazer isso por conta própria.

— Nn.

Dias estava certo. Fran e Kiara se deram bem de maneiras estranhas. Ambas eram gatas-negras guerreiras que casualmente poderiam falar sobre assassinar alguém de quem não gostavam.

Fran e Kiara continuaram a conversar sobre alguns tópicos bastante preocupantes, parando apenas depois que foram interrompidas por uma batida do lado de fora da porta.

— Com licença. Você me chamou, Madame Kiara?

— Sim, entre.

Um velho entrou na sala. Ele tinha cabelos grisalhos prateados e usava uma túnica bordada. Ele falou de forma alegre.

— Madame Senhora Kiara, vim atender seu chamado.

— Aí está você. Eu estava querendo apresentá-lo a alguém.

— Ó? — ele se virou para Fran. — Você deve ser a Princesa do Raio Negro.

— O quê? Você já a conhece?

— É claro. Eu acho que você era a única pessoa no país que não a conhecia.

O homem curvou-se de forma elegante para Fran.

— Saudações, minha lady. Perdoe-me por não me apresentar antes. Meu nome é Raymond e eu ocupo o cargo de primeiro-ministro² deste país.

Puta merda! Eu sabia que ele parecia importante, mas ele era mesmo o primeiro-ministro!? Kiara realmente sabia como usar sua fama.

— Aventureira rank C, Fran. Às vezes chamada de Princesa do Raio Negro.

— Parem logo com esses cumprimentos excessivos. —, disse Kiara. — Você chegou ao posto de Primeiro-ministro, então, se continuar abaixando a cabeça, as pessoas deixarão de respeitar sua posição. Mantenha a cabeça erguida e mantenha os olhos para a frente.

— Isso foi apenas devido à graça do atual senhor das feras. No fundo, sou um simples e humilde funcionário público. — Ele voltou-se para Fran. — Fui previamente informado de suas circunstâncias por Sua Majestade e me disseram para acomodar suas necessidades durante a sua estadia. Também lidarei com a carta de recomendação para aquela pessoa, conforme solicitado. Precisa de mais alguma coisa de mim?

Fran falou comigo telepaticamente.

"Mestre. Alguma coisa?"

"Para mim, nada. E você?"

"Só uma. Quero visitar a aldeia dos gatos-negros."

"Parece bom para mim. Manda ver."

Fran fez a Raymond seu pedido.

— Entendido. —, disse ele. — Verdade seja dita, eu ia mesmo te pedir para visitar Schwarzekatze. Sua solicitação é mais que oportuna. Eu já tenho um mapa preparado para você.

— Obrigada.


Notas

[1] Schwarzekatze significa "gato preto" em alemão.

[2] O título de primeiro-ministro (do inglês, prime minister) é aquele que é frequentemente utilizado para designar o chefe de governo nos Estados em que o cargo é diferenciado do chefe de estado.



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