Volume 6

Capítulo 301: O terror causado por uma ilusão

— Baruooo! — O demônio gritou quando nos atacou logo antes que pudéssemos nos preparar para mais uma das investidas do Besouro-Adamantino.

— Silêncio. — disse Fran.

O enorme inseto voltou a colidir contra nós no momento em que o demônio chamou nossa atenção. Mas desta vez, não fomos pegos de surpresa. Usei uma combinação de telecinesia e uma barreira para impedir que Fran fosse atingida, mesmo assim, fomos submetidos a uma forte onda de choque. Eu refleti sobre o ataque e seu funcionamento enquanto curava o braço esquerdo de Fran, que havia quebrado mais uma vez.

Não conseguimos detectá-lo até o momento em que estava prestes a nos atingir. Eu duvidava muito que pudéssemos evitar seus ataques a menos que pudéssemos focar neles.

"Desculpe Fran, mas eu vou cancelar o feitiço Aceleração por um tempo."

— Entendido.

"Você terá que administrar as coisas por conta própria por um tempo."

— Nn. Sem problemas. Ímpeto do Relâmpago Brilhante!

Eu estava usando a aceleração, um feitiço de espaço-tempo para acelerar nossos pensamentos, para que pudéssemos lidar melhor com os monstros, pois eles tinham estatísticas altas de agilidade. Embora isso parecesse muito bom e elegante, o feitiço teve seus deméritos. A desaceleração da nossa percepção do tempo distorceu os sons ao nosso redor. Nosso senso de audição também não era o único que se distorceu. Isso mexia com a maioria dos outros sentidos e até enfraquecia os efeitos da Detecção de Presença.

Ele não fazia nada além de atrapalhar casos como o atual, em que precisávamos que nossas habilidades de detecção estivessem funcionando por completo. Eu queria que continuássemos guardando o Ímpeto do Relâmpago Brilhante. A habilidade era mais adequada para batalhas mais curtas do que para as mais longas e prolongadas, mas não tínhamos muita escolha. Não teríamos sido capazes de derrotar os dois monstros diante de nós sem a Aceleração se não reforçássemos nossa agilidade.

O demônio mais uma vez começou a nos atacar, apesar da mudança na aura de Fran. A gata-negra me levantou na tentativa de bloquear a lâmina do monstro, mas isso não funcionou. A espada tóxica deslizou através de mim e acertou um golpe direto no corpo de Fran.

Ele provou ser digno de seu rank ao momentaneamente fortalecer a lâmina com energia mágica adicional, de modo que pudesse perfurar a barreira.

O ferimento que ela recebeu do ataque não foi tão grande assim. O maior problema era que ela havia sido submetida a seu veneno. Isso estava causando uma grande quantidade de dor, pois seus movimentos diminuíram em resposta. O besouro apareceu para a terceira rodada, mas Fran já tinha visto ele realizar o mesmo ataque duas vezes. Ela não estava prestes a se dar receber um terceiro golpe sem nenhum tipo de retaliação.

O inseto veio de trás e apontou seu chifre diretamente para o coração da garota, mas ela reagiu. Ela girou o corpo apenas o suficiente para evitar um golpe fatal. O inseto ainda pegou seu ombro direito e arrancou todo o braço, mas ela aguentou a dor e enfiou a mão esquerda no olho direito da criatura.

Um estalo alto ressoou quando ela enfiou seu braço até o cotovelo na órbita do besouro e retaliou com um feitiço.

— Explosão de Raio!

"Caramba, essa coisa é resistente!"

O ataque direto no cérebro fez o inseto gritar e se contorcer. Mas, apesar de ter sofrido várias queimaduras graves, o Besouro-Adamantino continuou vivo. Ele ainda estava se movendo.

— GAGGGGGIIIIIIIIIIIIIIIII!

— Ua…

"Fran!"

O violento movimento da criatura se debatendo fez com que o braço de Fran, que ainda estava no corpo do monstro, fosse arrancado de sua órbita. Os pedaços duros de sua carapaça agiram como uma tesoura e cortaram em dois o membro da garota.

"Cura Superior! Antídoto! Cura Superior!"

Lancei várias magias de cura em Fran, que perdeu os dois braços, enquanto a mantinha em pé com telecinesia. Ela facilitou o processo usando a regeneração instantânea, assim conseguindo restaurar seu corpo ao estado habitual. Infelizmente, isso teve um alto preço. Grande parte de sua mana havia sido drenada, junto com sua resistência física.

Continuei a refletir sobre tudo o que tinha acabado de acontecer enquanto curava Fran. Havia algo errado. Nem a investida do Besouro-Adamantino nem a lâmina do demônio pareciam... corretas. Havia algo incomum acontecendo.

O demônio era um conjurador cuja habilidade em esgrima era apenas nível seis. Não fazia sentido para Fran ser incapaz de se defender contra seus ataques, mesmo que ela tivesse que lidar com outro inimigo ao mesmo tempo. Com isso em mente, decidi avaliar o demônio pela segunda vez.

"Espere! Tudo faz sentido agora! Esse maldito tem Magia de Ilusão!"

A habilidade de nível quatro provavelmente era muito mais eficaz do que eu acreditava ser. Eu suspeitava que havia uma boa chance de ele estar mexendo com mais do que apenas nosso senso de visão.

Esta era a nossa primeira vez lutando contra um inimigo capaz de distorcer nossos sentidos, então acabei subestimando o quão aterrorizante essa magia poderia ser. Mesmo assim, eu deveria confirmar minha hipótese antes de tirar conclusões precipitadas.

Eu ativei todas as minhas habilidades de detecção e observei os movimentos do demônio enquanto ele se preparava para outro ataque e confirmei que minhas suspeitas estavam corretas. O demônio havia escondido seus braços reais e produzido outro conjunto com magia de ilusão.

O aspecto mais aterrorizante era que os braços reais do demônio eram impossíveis de serem detectados por meios comuns. Eu nem conseguia sentir a presença deles. E para piorar a situação, os braços falsos poderiam produzir som. Eu podia ouvi-los atravessando o ar enquanto o demônio se movia para atacar. Fran tinha sido totalmente enganada. Eu, no entanto, não. Na mesma hora, eu usei a telecinesia para me redirecionar e bloquear o ataque do demônio.

“Mestre?" Fran perguntou, curiosa para saber por que de repente eu assumi o controle.

"Vou me concentrar na defesa, você se concentra no ataque!"

— Nn!

Executamos o plano. Fran lançou uma investida de ataques enquanto eu evitava o que o demônio jogava contra ela.

Como demonstrado em Schwarzekatze, eu não era páreo para Fran ou Urushi em termos de intuição. Meus instintos não eram tão afiados quanto os deles. Mas eu poderia compensar isso com a minha capacidade de ver através de ilusões como a que nos deparamos agora. As coisas que distorciam os cinco sentidos não eram tão eficazes contra mim quanto para meus companheiros, pois meus sentidos eram uma construção inorgânica desde o início. Eu não tinha olhos para ver, mal sentia o toque, e nem mesmo sabia por que era possível ouvir. E esses eram todos os sentidos que eu tinha. Eu não tinha paladar. Eu não tinha olfato. Eu só conseguia ver, sentir e ouvir.

— Giiiiiiiiiii! — O demônio gritou enquanto dava outro golpe.

"Boa tentativa, mas eu posso ver através de seus truques!"

Os feitiços do demônio eram extremamente eficazes não apenas para criar ilusões, mas também para ocultá-las. E esse era precisamente o truque por trás do besouro que surgia do nada.

Conhecer o truque era metade da batalha. Compreender isso me permitiu desenvolver um mecanismo pelo qual eu podia agir. O corpo do besouro estava envolto por uma ilusão. Mas isso não significava que ele não estava lá. O ar ao seu redor ainda mudaria enquanto ele disparava. Eu podia detectá-lo, mesmo que Fran continuasse confusa.

Lancei um feitiço na direção do besouro no momento em que ele começou a se mover. Ele tinha resistência a magia, então não me incomodei em tentar nada ofensivo.

"Escudo de Dobra!"

Em vez disso, lancei um feitiço destinado a alterar a trajetória dos projéteis inimigos.

O Besouro-Adamantino era enorme. Mas, imbuindo o feitiço com o máximo de mana possível e, em seguida, combinando-o com telecinesia, consegui redirecioná-lo apenas o suficiente para alterar seu destino.

Claro, eu não esperava que o ataque do besouro acabasse indo na direção do demônio. Meu objetivo não era esse. Tudo o que eu queria era uma abertura, algo que conseguimos.

E Fran, sendo Fran, não era do tipo que ignoraria uma abertura.

— Haaah!

O demônio pulou para trás em pânico, a fim de evitar a investida do besouro. Fran o perseguiu e deu um forte golpe com sua lâmina, dividindo seu corpo em dois.

— Acabou! — gritou Fran. Ela então me girou e me usou para destruir o núcleo do demônio em um instante. A batalha se transformou em uma simples luta de espadas, uma na qual ela possuía uma vantagem esmagadora.

O besouro imediatamente julgou que a situação havia piorado, por isso disparou contra nós com mais velocidade do que havia demonstrado até o momento. O monstro parecia ter ativado algum tipo de trunfo e pretendia nos atravessar junto dos restos mortais do demônio. Eu tive que elogiar o besouro. Seu julgamento não foi tão ruim, apesar de ser literalmente um inseto.

Mas a perda de seu suporte significava que ele não era mais uma ameaça. Eu destruí o inseto que estava se aproximando me teleportando acima dele e o empalando com uma catapulta telecinética.



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