Volume 6

Capítulo 343: O senso de tempo dos Deuses

Kiara perguntou. Era um pedido? Em outras palavras, ele veio a esta dungeon a pedido de alguém? Mas quem?

— Bem, se é Kiara e seus amigos, acho que está tudo bem, são os Deuses.

— O quê? — Kiara perguntou, incrédula. Ao que parecia, nem ela poderia aceitar com facilidade essas palavras. Como se fosse engraçado, Asura riu e continuou a falar:

— Kukuku, ao que tudo indica, os deuses têm uma obsessão peculiar por espadas divinas. Elas supostamente estão sempre sendo vigiados.

Era possível que, dependendo de como as espadas divinas fossem usadas, elas se tornariam mais perigosas que o deus maligno. Podia ser por isso que elas estavam sendo monitoradas.

— E se algo der errado, eles enviarão um oráculo1. Bem, acho que é apenas uma questão de tempo antes de você começar a se acostumar.

— Isso significa que você recebeu ordens de Deus para realizar algum tipo de missão?

— Não, não é algo tão grande. Desta vez, é apenas uma viagem de ida para esta localização.

— Então, é uma ordem?

Deus estava enviando informações sobre o local diretamente como se quisesse que o homem fosse até lá, então sem dúvidas parecia uma ordem, como Mare disse. Mas, pelo visto, esse não era o caso.

— Só recebi um pedido adequado duas vezes. Além disso, ignorei pedidos algumas vezes no passado, mas nunca fui acusado de nada antes.

— Vo-você o ignorou! O oráculo!

— Bem, eu estava no meio de um trabalho importante, então não poderia fazer nada. Mas eles não me puniram, então imagino que isso significa que não estão com raiva.

Que um homem corajoso. Mesmo que não fosse uma ordem, era um pedido de Deus que você ignorou. Até Kiara parecia ansiosa enquanto escutava.

Isso era incomum para alguém deste mundo. Não, agora que penso nisso, ele estava sendo obrigado a lutar com uma habilidade que não queria, então talvez eu estivesse com uma visão surpreendentemente enviesada dos Deuses.

— Não há mesmo uma punição? Será que a punição ainda não foi aplicada?

— Hahaha, como a tragédia laurentiana?

— A, aaa…

— O que é... a tragédia laurentiana?

— Hã? Essa senhorita Gata-Negra é de outro continente?

— Sim.

— Bem, então acho que não é de se admirar que você não saiba.

A tragédia de Laurentia foi aparentemente um incidente ocorrido há cerca de 150 anos neste continente. A história remonta há mais 50 anos, ou 200 em relação a data atual.

Naquela época, havia uma pequena nação chamada Reino Laurentiano ao sul da Nação dos Homens-Fera. Devido à sua posição geográfica, eles estavam à mercê da Nação dos Homens-Fera e eram tratados como um estado vassalo2. O rei era jovem e patriótico demais para suportar isso.

O que esse rei deveria fazer? Pessoas tolas com poder pensariam o mesmo em qualquer lugar. O Rei de Laurentia então convidou um mago maligno a invocar um deus maligno, oferecendo sua alma através daquele homem. Desde o começo, o rei não pretendia invocar deuses malignos, mas trazer caos e exaustão, desencadeando o aparecimento de um grande número de monstros na Nação dos Homens-Fera.

O Rei de Laurentia, que impôs pesados impostos a seu povo, usou o dinheiro que coletou para comprar escravos para sacrifício e usou as pessoas que não podiam pagar seus impostos para aumentar esse número.

Mas então as pessoas que se levantaram para derrubar o rei mergulharam o reino laurentiano na guerra civil e o rei acabou sendo capturado.

Não sabemos que tipo de negociação ocorreu neste momento, mas o rei não foi executado. A família real foi desmantelada e o país mudou para um governo parlamentar do povo. No entanto, a antiga família real foi condenada à escravidão e levada para a fronteira, onde foi ordenada a cultivar o deserto selvagem.

Mas a família real não desapareceu. O ex-rei começou a fazer as pazes e começou a cultivar a terra. Dizia-se que ele trabalhava duro, cultivando a um ritmo incrível e contribuiu muito para a produtividade da República Laurentiana. Não apenas isso, mas ele também fez um trabalho de caridade, como administrar um orfanato e reempregar os feridos e doentes.

Quando cinquenta anos se passaram, havia menos pessoas na República Laurentiana que falavam mal da antiga família real. Então, por consentimento unânime do Congresso, eles foram libertados da escravidão. Bem, parecia que houve muita conversa política envolvida, mas não era algo relevante aqui, então vamos pular isso. O importante é que os laurentianos foram verdadeiramente convertidos e aceitos na República. O ex-rei e outros eram considerados pessoas eminentes até então.

No entanto, havia um ser que não havia esquecido seus pecados. Sendo mais específico, os Deuses.

De repente, um dia, o castigo divino foi entregue à família real laurentiana. A acusação era de que o rei usou um grande número de pessoas para invocar um deus maligno. Todos devem ter pensado: "Por que agora?"

No entanto, a família do ex-rei, que foi completamente reformada e até reverenciada pelo povo, foi morta de modo trágico pelo castigo divino. Dizia-se que os únicos que restavam eram aqueles que não eram descendentes diretos ou não pertenciam a linhagem principal. Esta era a famosa tragédia laurentiana do continente Chrom.

— Bem, o que essa história nos mostra é como os Deuses tem seu próprio ritmo.

— Ritmo?

— Os Deuses, que originalmente existem no tempo eterno, e nós humanos temos diferentes percepções do tempo, eu acho. Para nós, parece que a punição ocorreu depois de 50 anos. Mas para os Deuses, 50 anos não é tanta coisa. Se você fizer algo realmente ruim, poderá ser punido em um instante.

Bem, isso fazia sentido, de certa forma. Por exemplo, se você comparasse uma pessoa a um inseto, o valor percebido do tempo seria diferente. Imaginei que a mesma coisa poderia ser dita sobre Deuses e os humanos.

— Mas talvez, Asura ainda não tenha sido punido?

— Hahaha! Está tudo bem. Afinal, verifiquei diretamente com o apóstolo de Deus!

— O quê? Você se encontrou com o apóstolo de Deus?

— Sim, eu o encontrei duas vezes quando ele veio me transmitir seu comando. Não é de admirar quando os Deuses ordenam que o apóstolo aja. Perguntei a ele se estava tudo bem comigo ignorando isso, e ele disse que não havia problemas.

— Mas por que ele lhe daria um oráculo tão vago se ele não se importava de ser ignorado?

— Eu não sei. Também não entendo... o Apóstolo disse que era uma coisa pessoal, entende o que eu quero dizer?

— O que você quer dizer?

Asura contou sua conjectura, com base no que ele ouviu do apóstolo de Deus. Ao que parecia, os Deuses fariam vista grossa se fosse algum tipo de incidente comum. No entanto, quando seres malignos estavam envolvidos, eles agiam.

Não era algo que precisava ser consertado a todo custo, mas se pudéssemos ajudar, teríamos que fazer algo. De qualquer forma, é aí que entrava o Espadachim Divino. Além de monitorá-los com regularidade, era fácil para eles enviarem oráculos pela Espada Divina. Em outras palavras, parecia que a ideia era usá-lo como uma ferramenta de vigilância e também como uma ferramenta de comunicação.

— Bem, como eu disse antes, os Deuses têm seu próprio ritmo. Não levaria décadas para encontrar alguém próximo ao local onde é provável que o incidente possa receber o oráculo, resolver o caso e avisar ao oráculo? Por isso acho que um espadachim divino é procurado, já que pode ser contatado imediatamente.

Os Deuses levaram 50 anos para aplicar uma punição. Se fosse esse o caso, poderia levar décadas para enviar o oráculo.

— Desta vez, parece que há uma dungeon envolvida. Imaginei que teria que agir. Ei Mare, você já recebeu uma ordenação3?

— Uma ordenação? Não, eu não. Talvez eu ainda não tenha sido reconhecida como a verdadeira dona. Não da espada, nem dos Deuses.

— Entendo... — Ele pareceu surpreso ao ouvir a história, por isso fiquei um pouco incomodado.

Bem, parecia que ele ainda não era capaz de liberar o verdadeiro poder da Espada Divina, então achei que esse era o motivo.

"Eu vou estar lá por você…"


Notas

1 ― O oráculo é a resposta dada por uma divindade a uma questão pessoal através de artes divinatórias. Por extensão, o termo oráculo por vezes também designa o intermediário humano consultado, que transmite a resposta e até mesmo, no Mundo Antigo, o local que ganhava reputação por distribuir a sabedoria oracular, onde era notada a presença Divina sempre que chamada, que passava a ser considerado solo sagrado e previamente preparado para tal prática.

2 ― Um Estado vassalo é um termo que designa comumente qualquer estado que é subordinado a um outro, especialmente no contexto do sistema internacional pré-moderno (antes da Idade Contemporânea). O uso do termo vassalo refere-se ao sistema feudal de relações de vassalagem entre o senhor feudal e o vassalo na Idade Média. Uma vez que estas relações eram essencialmente pessoais, a condição de vassalo propriamente seria atribuída ao governante ao invés do próprio Estado (cuja entidade era de natureza muito diferente do Estado moderno). Ser vassalo implica obrigações de assistência militar e apoio político. Sendo um vassalo mais comumente implica a prestação de assistência militar para o estado dominante, quando solicitado a fazê-lo; mas, por vezes, implica pagamento de tributo, porém um estado que faz isso é melhor descrito como um Estado tributário. Tanto o termo "estado vassalo" como o "estado tributário" são normalmente reservados para períodos históricos anteriores ao contemporâneo. Atualmente, termos mais comuns são Estado fantoche, Estado satélite, protetorado ou Estado associado.

3 ― A ordenação é o processo pelo qual os indivíduos são consagrados, isto é, separados e elevados da classe dos leigos para o clero, que é então autorizado (geralmente pela hierarquia denominacional composta por outros clérigos) a realizar vários ritos e cerimônias religiosas. O processo e as cerimônias de ordenação variam de acordo com a religião e a denominação. Aquele que está se preparando ou que está passando pelo processo de ordenação às vezes é chamado de ordenança. A liturgia usada em uma ordenação às vezes é chamada de ordenação.



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