Volume 7

Capítulo 390: Partida e despedida

— A propósito, gostaria que você ficasse com isso.

O Rei das Feras curvou a cabeça para Fran por cerca de um minuto, então entregou a ela uma bolsa. À primeira vista, era uma bolsa pequena, comum e suja, mas senti a magia nela.

— Bolsa de Itens?

— Sim. Você conseguiu só dez milhões, não foi?

Só dez milhões? Em que quantidade de zeros ele estava pensando, me perguntei.

— Por que economizar com uma heroína? Seria melhor dar cem milhões. Mas, mesmo que eu seja o rei, não posso dispor do tesouro ao acaso. Se começar a fazer isso, vou cair no nível de algum ditador.

E ele disse coisas surpreendentemente decentes. Pensava que ele era um daqueles reis que preferiam a autocracia1, mas acabou que ele não era assim.

— Embora, antes de mais nada, não haja tantos funcionários civis em nosso país. Não gostaria de prejudicá-los de novo.

O Rei dos Homens-fera deu um sorriso forçado.

Parecia que apenas as fileiras militares eram populares na Nação dos Homens-fera. Parecia que os homens-fera “herbívoros” estavam inclinados a atividades pacíficas, mas mesmo entre eles havia muitos valentes e ousados. Era por isso que o país vivia uma forte escassez de pessoas pretendendo se tornar funcionários civis.

E aqueles que possuíam tais qualidades notáveis, a quem poderia ser confiada a posição de ministro, podiam ser contados em apenas uma mão. Por isso, na Nação dos Homens-fera, eles eram tratados com respeito especial. Em outros países, os oficiais costumavam menosprezar esse tipo de função como fracotes, mas na Nação dos Homens-Fera, tal atitude era impensável.

— Nossos cidadãos amam comer bem, então a logística é nossa prioridade máxima. Por isso, aqueles funcionários que estão envolvidos nesta área são respeitados ainda mais.

— Então é isso.

Oh, parece que desviei do assunto. Bem, embora o país não possa dar mais nada em gratidão, ninguém será contra um presente pessoal meu. Pelo menos, vou me sentir melhor com isso.

— O que há dentro?

— Isso é algo como minha reserva pessoal, não é muito, cerca de cinco milhões de Gorudo. Gastei boa parte na minha viagem. Não havia quase mais nada.

Nn.

Hmm. Não tinha mais forças para ser surpreendido. Cinco milhões... ha, ha, ha, ha. Pare, isso é verdade? Cinco milhões? Junto com a recompensa da medalha e os lucros da venda dos materiais das feras demoníacas, tínhamos um total de mais de vinte milhões de Gorudo.

E Fran, como sempre, não levantou nem uma sobrancelha! Por que ela me faz parecer um idiota ficando empolgado toda vez que ganhamos grandes somas de dinheiro?

Mas enquanto falávamos, era hora de navegar. Junto com Royce e Goldalfa, alguém que parecia um capitão apareceu e veio até nós.

— Madame Fran, peço que se prepare para embarcar no navio. Partimos em cinco minutos.

— Bom.

— Você tem bagagem?

— Está tudo bem. Preparei tudo.

— É mesmo, então você está usando Magia de Espaço-Tempo.

Tendo saudado o capitão, soubemos que ainda tínhamos tempo para falar antes de partir. E então era isso. Este navio nos levaria para longe do continente Chrom, para o continente Gilbard.

— Fran, volte a qualquer hora!

Nn.

— Obrigada.

— Você salvou todos nós.

Depois que o Rei das Feras falou, Royce e Goldalfa apareceram ao lado dele, ajoelhando-se e curvando as cabeças. Ao que parecia, a Magia de Teletransporte foi usada.

— Gostaria de agradecer em nome da Mestra Kiara.

— Agradecer?

— Sim. Ela morreu no campo de batalha enquanto evoluiu lutando contra um inimigo poderoso. Afinal, esse era exatamente o sonho da Mestra Kiara. Além disso, em seus últimos momentos de vida, você cuidou dela, Srta. Fran. Alguém que ela considerava praticamente sua neta... invejo tal morte.

— Concordo. Quando soube que a mestra adoeceu, pensei que ela não morreria tão facilmente.

— Foi você, Fran, quem a ajudou a se levantar. Se não fosse por você, acho que a Mestra Kiara não teria sido capaz de evoluir, ou mesmo lutar.

— Se anime! A morte da mestra não é sua culpa! Ela morreu a melhor morte possível! Sem dúvidas, ela mesma é grata a você! Eu, como aluna dela, não tenho dúvidas disso!

Embora isso soasse um pouco duro na minha opinião, sabia que era tudo para animar Fran. E Fran sabia disso também. Com uma cara séria, ela acenou para o Rei dos Homens-fera.

Nn.

— E mais um conselho sobre a Graça do Deus das Espadas. Não se afogue em seu poder.

— Entendi.

— Muito bem então. Este será o seu guia. Acho que isso vai te ajudar.

Nn.

— Vamos duelar na próxima vez que nos encontrarmos.

Ficou claro que o próprio Rei das Feras não achou sua habilidade Graça do Deus das Lanças fácil de usar. E esse foi um marco que ajudaria a conquistar novas alturas depois de ganhar habilidades “reais”. Ao que tudo indicava, ele uma vez sentiu o mesmo que a gente agora.

— Fran...

— Mare...

Mare se aproximou de Fran uma última vez. Sem saber o que mais ela poderia fazer, ela pegou as mãos de Fran e as ergueu até a altura do peito e olhou em seus olhos com um olhar triste.

— Estamos nos separando.

Nn.

Era perceptível como não só os olhos de Mare, mas também os olhos de Fran estavam marejados. Não, seus olhos já estavam se enchendo de lágrimas. Era só uma questão de tempo até que elas começassem a chorar.

— Se alguém te ofender, me chame. O que eu estiver fazendo... onde quer que você esteja, eu com certeza aparecerei.

— E eu também.

— Sim.

Nn.

— Este não é nosso último encontro. Mas não posso conter minhas lágrimas.

Nn.

— Mas não posso... evitar...

Nn.

As lágrimas rolaram pelos rostos de Fran e Mare as enxugou suavemente. Então, deixando as mãos uma da outra, elas se separaram. Este foi um sinal de despedida.

— Fran, veja. O navio já está partindo.

Ouviu-se o som de um sino e Fran subiu depressa a escada para o navio veloz. Uma vez no convés, Fran ainda manteve os olhos em Mare.

— Até!

— Obrigada!

Acho que ela não poderia se dar ao luxo de chorar na última vez que a via. Fran tentou muito sorrir. Que sorriso amargo. No entanto, Mare fez o mesmo.

E mesmo que ambas as meninas não pudessem sorrir de verdade, elas sorriram uma para a outra o máximo que puderam.

“Você me ajudou muito.”, eu disse.

— Eu deveria dizer isso, você nos ajudou muito. Até mais. Da próxima vez, mostrarei a verdadeira força de Llinde.

— Terei prazer em dar uma olhada.

— Bem, Fran. Até mais!

Hum-hum! Até mais.

Não era por acaso que este navio era chamado de rápido. Assim que o navio deixou o píer, começou a ganhar velocidade de forma surpreendente. A terra foi deixada para trás cada vez mais rápido.

Mas Fran continuou a acenar a mão mesmo assim. Mesmo quando ela não via mais ninguém, e Greyseal se transformou em um ponto no horizonte. Ela continuou acenando e acenando.

— Tchau todos, tchau, tchau!


Nota

1 – Autocracia tem o sentido, a partir da análise dos radicais gregos autos (por si próprio) e kratos (poder), de poder por si próprio. É uma forma de governo na qual há um único detentor do poder político-estatal, isto é, o poder está concentrado em um único governante, podendo ser este um líder, um comitê, um partido, uma assembleia, etc. O governante tem controle absoluto em todos os níveis do Estado. O termo autocracia tem funcionalidade apenas para descrever a concentração ou a distribuição do controle do poder estatal, não servindo para avaliar a presença ou ausência de legitimidade democrática de um governo. Há, com efeito, a possibilidade de um governo autocrático ascender ao poder via eleições democráticas e mesmo realizar eleições periodicamente.



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