Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 1: O início do fim.

O vento forte passa pelo meu corpo. Respiro fundo, na minha frente tem uma oportunidade onde tudo poderá acabar aqui… Seguro firme a espada em minhas mãos. Este é realmente o fim.

— CHEGOU FINALMENTE A HORA, O MOMENTO EM QUE TUDO SERÁ DECIDIDO. VAMOS REALIZAR OS SONHOS DE TODOS AQUELES QUE NOS ACOMPANHARAM E NOS AJUDARAM A FAZER TUDO ISSO SE TORNAR REALIDADE. Não estamos sozinhos… TODOS ESTÃO NOS OLHANDO E TORCENDO PELO MELHOR, VAMOS EM FRENTE, A GUERRA VAI COMEÇAR… AGORAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!

Todos se alinham e assim corremos em direção às pessoas que estão na frente. Aqui começa a guerra entre os deuses e os humanos, tudo será decidido aqui. E EU IREI FINALMENTE DESCOBRIR A VERDADE POR TRÁS DAQUELES QUE FIZERAM A MINHA VIDA UM INFERNO.

— EU VOU TE MATAR...

O silêncio mais uma vez... havia surgido na minha mente.

 

HIDEKI

Alguns anos atrás.

 

O dia está muito chuvoso, ainda bem que estou com meu guarda-chuva…

Se lembro bem, na carta dizia que o local era aqui, então… 

Me encontro de frente com um castelo enorme, era até assustador o tamanho desse lugar, nesse momento eu estou de frente com a academia de batalha Infanterie-Kampf… 

Na esquina a minha direita vejo uma pessoa correndo desesperada em minha direção, eu acho que já sei quem é…

— AAAHHHH! HIDEEEEEKIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!! — diz essa pessoa.

Sim, é ela… a Shiori, a minha amiga de infância… Ela pula em minha direção como se quisesse me abraçar, não tenho muita escolha a não ser aceitar e abrir os meus braços. 

— FAZ MUITO TEMPO QUE A GENTE NÃO SE FALA!!!! — diz Shiori desesperada.

— Faz faz… muito tempo…

— EU SENTI TANTO A SUA FALTA!!

— Eu também…

Ela estava sem guarda-chuva e completamente molhada, eu fico um pouco triste com isso, não queria me molhar… mas fazer o que.

— Qual o motivo de você estar sem guarda-chuva?

— Ah sim, é que tinha uns gatinhos sem teto lá, daí eu arrumei uma caixa para eles e ajudei lá, foi muito legal isso da minha parte, pode falar que eu sei que é verdade!

— Sim sim, foi muito legal da sua parte…

Eu não consigo manter uma conversa, mas estou tão feliz. É tão estranho de te ver novamente, minha mente está bagunçada, eu não sei o que sentir de verdade… 

— Você está bem, Hideki?

— S-Sim, eu estou bem!

— Está falando tão pouco.

— Ah, é que eu… não sei o que dizer…

— Oh… tendi tendi.

— Eu estou tão feliz de te ver, que acabo ficando sem palavras e sem saber o que fazer.

— Hehe… eu também estou muito feliz de poder te ver…

Começamos a andar de mão dadas até sermos parados pela multidão. 

Consigo ouvir lentamente o barulho de metal batendo, era como se estivesse tendo uma luta ao meu lado…

— VOCÊ NÃO VAI FUGIR DESSA!

— BOA TENTATIVA CAPITÃO, AE!!!!!!!

Isso é um pouco desconfortável, tem muitas pessoas aqui… Escuto o barulho do chão quebrando, logo em seguida, um gemido de dor.

Uma voz robótica começa a ecoar pelo local.

— Sala 3 - B venceu.

— EU FALEI QUE VOCÊ NÃO IA FUGIR DESSA AHÁ!!!

— O lugar é tão… desconfortável… — falo em voz baixa.

— Uai… por que? — pergunta Shiori.

— Não sei dizer… são tantas pessoas…

Shiori se coloca nas pontas dos pés e passa a mão no meu cabelo, como se estivesse acariciando uma criança. 

— Eu não sou uma criança…

— Mas mesmo assim é fofo como uma.

— OLHA AQUELE CARA ALI Ó, O MANINHO ALI TÁ ME DEVENDO 5 CONTO — diz a mesma voz que ganhou a luta.

Uma pessoa muito forte surge no alto, ele usa o mesmo uniforme que eu, com a diferença de que tem um bracelete dizendo ser o presidente do conselho estudantil. Ele para do lado da Shiori e conversa com um garoto que estava por ali. 

Nesse meio tempo uma mulher começa a flutuar e observar os alunos, seus cabelos são longos demais… ela para na frente de todos e começa a chamar as salas uma de cada vez.

— Sala 1 - D

Essa é a minha sala juntamente com a Shiori… ela começa a me puxar. Seguimos caminho até a área central que é tão grande que me sinto em um hospital de primeira classe… Existe um segundo andar que dá para ver muitas pessoas, eles parecem já ser alunos faz tempo.

Uma moça muito linda aparece na nossa frente, seus longos cabelos amarelos com seus olhos azuis, seu corpo extremamente avantajado e um terno feminino. Aquela parecia ser uma pessoa importante julgando dessa forma.

— Vocês já chegaram… Meu nome é Alysci e eu sou vice-diretora daqui. — Ela aponta o dedo para Shiori — Você se chama Shiori né, então essa deve ser a turma 1 - D, venham comigo.

Vamos até uma sala de escola normal, havia espaço para mais de 50 pessoas. Shiori senta ao meu lado, de frente com a mesa do professor. O lugar era estranhamente aconchegante, o tempo parecia passar de certa forma mais lento do que o normal, aquilo era perceptível.

A professora rapidamente chega junto com algumas pessoas, assim ela começa a falar.

— Prazer conhecer todos vocês, meu nome é Carla e a partir de hoje estarei sendo professora. Ensinarei muitas coisas sobre lutar e até mesmo magia.

Os alunos se levantam e se curvam diante da professora, Shiori parece ter ficado um pouco atrasada, será que ela não está prestando atenção direito nas coisas?

— Começando o nosso dia, tenho algumas coisas para falar. Fora me apresentar, também tenho que contar a vocês todas as nossas regras — diz a professora enquanto senta em cima da minha mesa.

Minha mesa… isso é meio estranho de certa forma, olho para a Shiori e ela parece estar se segurando com uma cara de ciúmes… eu estou me sentindo muito desconfortável com isso, é como se ela fosse muito íntima de mim, mas não é.

A professora começa a falar sobre muitas regras que havia na escola, mas uma em específico chama minha atenção, assim como a de todos.

— Os alunos não poderão sair da academia. Sabem, a guerra dos deuses ainda está acontecendo, não podemos deixar nossos alunos saindo por aí em um lugar que é potencialmente um campo de guerra.

— Poderia dizer a situação que a senhora está falando? — diz um garoto do meio da sala.

— Que guerra é essa que você está falando? — diz uma garota que estava sentada no canto da sala.

— Ah… Depois conversamos sobre isso. —  Professora dá uma pausa e continua falando logo em seguida. — Vocês trabalharão em trio, a sala provavelmente tem aluno o suficiente, até amanhã quero nomes na minha mesa. Tratem de se conhecer para que possamos começar de verdade o nosso trabalho.

Os alunos estavam inconformados com o que estava acontecendo, afinal de contas… isso tudo é meio estranho, uma guerra? Nossa cidade está tranquila, não tem motivo para essa regra existir. Mesmo assim eles seguem as ordens e começam a formar trio, me aproximo da Shiori e falo.

— O que você acha da gente simplesmente esperar?

— Esperar?

— Sim, a gente espera as pessoas formarem seus trios e assim a última pessoa que sobrar fica no nosso trio.

— Você só está com vergonha, né?

— Não é isso!

Digo, eu não sou bom em conversar com novas pessoas, isso é complicado para mim…

Após um tempo das pessoas conversando e formando seus trios, uma garota havia ficado sozinha, ela tinha um cabelo liso e escuro que chegava até sua cintura, de certo modo ela é parecida comigo, desde a cor do cabelo, cor da pele e características assim.

— Então… vai ser ela? — Shiori pergunta.

— Bem, parece ser a única pessoa que sobrou… então, sim, será ela.

— Você vai lá falar?

— Eu acho que seria melhor se você fosse…

Me seguro na Shiori como se fosse uma criança perdida, é tão vergonhoso isso, mas…

Shiori se aproxima e começa a falar.

— Com licença… meu nome é Shiori Takahashi, e essa é a minha dupla Hideki Hirai… qual seu nome?

Ela olha para a Shiori e depois foca em mim…

— Me chamo Yukiro.

— Que nome lindo, você aceita fazer parte do nosso trio? — Perguntei.

— Por mim não há problemas…

Ela é meio quieta, falava as coisas em uma velocidade elevada e isso era meio estranho, era como se quisesse terminar a conversa mais rápido.

Em menos de 15 minutos a sala inteira já se havia formado em trios, foi algo tão rápido que até a professora olha espantada para gente.

— Eu não imaginava que vocês iriam ser tão rápidos assim… bem, já que formaram seus grupos aqui na sala eu consigo pegar o nome de cada um mais rápido, o quarto de vocês estará disponível daqui a pouco, então se acalmem, honestamente achei que vocês iriam demorar tanto que nem havia preparado algo… podem andar pela academia… vocês estão livres hoje.

Fazer um trio não é nada fácil para alguém introvertido como eu, a única amiga da minha vida inteira é a Shiori e eu nem ao certo me lembro como começou a nossa amizade, foi tudo tão do nada…

Pego pelo braço da Shiori e me afasto um pouco e começo a sussurrar com ela.

— Shiori, será que deu certo?

— Bem, eu não sei, o que a gente deve fazer agora?

— Eu não sei…

Shiori assim se aproxima da garota rindo de toda essa situação, ela deve estar me zuando…

— Ei, Yukiro!

— Oi...

— Como a gente sabe se o trio foi formado?

— Olhe para a professora.

— Sim?

— Ela segura o papel anotando os nomes.

E realmente é isso, a professora está segurando um papel e anotando os nomes numa velocidade surpreendente, mas não tenho reação, diferentemente de Shiori que estava com seus lindos olhos alaranjados brilhando como se fosse o sol.

— Obrigada pela informação!

— De nada.

Shiori assim me pega e começa a sair da sala, o lugar estava completamente vazio e era possível escutar as outras salas tendo a mesma aula que a gente, com a diferença de que todas as professoras estavam anotando os nomes, fomos realmente os primeiros a terminar.

O lugar é gigantesco e acima da gente havia um teto desenhado com estrelas como se fosse a noite, o chão parecia ser banhado a ouro…

— Que lugar gigante né, Hideki?

— Sim… parece até a sua antiga casa!

— Né… que saudades daquele lugar… Aqui é muito lindo e vazio…

Até onde eu lembro a Shiori morava em um castelo, algo extremamente parecido com isso aqui, mas por conta de alguns problemas ela teve que sair de casa e ir morar sozinha, foi nesse ponto que tivemos nossa última conversa antes de tudo de agora.

Ficamos indo de um lado para o outro até parar em um corredor gigantesco.

O corredor é curvo com muitas janelas que iluminam o local, no final dele tem uma porta medieval com uma placa ao lado dizendo ser a sala da diretora.

— Bem… Eu não acho que deveríamos entrar na sala da diretora… mas você vai querer entrar, Hideki?

— Não, eu não pretendo.

— Então vamos embora?

— Vamos.

Eu penso que não tem ninguém na sala, mas só até começar a escutar vozes. Realmente tem alguém dentro da sala, e como uma pessoa totalmente curiosa…

— Hideki, o que você está fazendo tentando ouvir a conversa dos outros?

— Fique quieta…

Shiori fica com uma cara confusa e brava por eu falar isso, me desculpe Shiori. Eu tenho uma certa dúvida sobre esse lugar, já que não é complicado de passar pela prova, até mesmo uma criança de três anos consegue… Mas, uma voz abafada começa a falar de dentro da sala.

— Já conseguiu quantos alunos neste ano?

É uma voz estranhamente irritante, ela parece de certo modo com a da vice-diretora, mas a mesma fala logo em seguida.

— Nesse momento foram mais de mil alunos, e no meio deles tem alguns que talvez você irá gostar… senhorita Akumo.

— Como assim?

— Temos alguém da família Hirai, e também uma pessoa que parece ser a filha daquela desgraçada que tornou sua vida um inferno…

— Ora ora, mas são só esses dois?

— Tem muito mais esse ano… o que a gente deveria fazer?

— Deixe com que pensem que estão seguros e coisas assim, eu voltarei com o tempo.

— Uma coisa que queria saber, por que quer tanto matar esses alunos?

— O corpo jovem tem mais capacidade de mana que um corpo adulto, por mais incrível que eu seja, não tenho tanto poder quanto eles, com isso em mente eu irei matar todas essas pessoas, pegar o poder delas e assim dominar todo esse lugar… irei mostrar para todos aqueles idiotas quem é que manda nessa porra.

— Entendi…

Matar? Ela estava falando sobre matar? Mas espera… alguém da família Hirai, esse é meu sobrenome, então ela está atrás de mim? Mas o que eu fiz? O que está acontecendo?

Olho para Shiori e ela está assustada demais, parecia que iria gritar a qualquer momento, seguro em seu ombro e me vejo assustado, minha cabeça estava um caos completo… Eu queria falar algo, mas qualquer coisa iria sair como um grito.

Shiori começa a sair lentamente, mas aquela porta gigante começa a se abrir.

Uma pessoa mais baixa do que eu se demonstra, uma pele branca como uma folha de papel, um vestido preto, curto e com um decote entre os peitos, seu corpo era estranhamente fino, parece que se tocar, algum osso irá se quebrar. Mas o que assustava nela não era o fato de parecer uma pessoa totalmente assustadora, e sim o que carregava em suas costas… Delas estavam saindo lâminas gigantes e pareciam estar afiadas, era como uma aranha, um corpo pequeno mas com patas gigantes e assustadoras.

— Oh… posso ajudá-los em algo?

Essa pessoa se parecia com alguém que já vi antes, isso… é estranho, olhar para ela me traz ódio e tristeza, um sentimento de vingança… Mas toda hora que eu me pergunto quem seria essa pessoa, a minha cabeça começa a doer muito.

Quem é você?

— E-Eu só queria falar com a diretora… — Eu não sabia o que falar, então só disse a primeira coisa que me veio à mente.

Ela sorri atentamente e diz.

— Perfeito, ela está bem ali. Agora se dá licença.

Antes que ela pudesse me dar as costas e seguir até o início do corredor…

— A gente já se conhece? — Perguntei.

— Oi?

Ela olha para trás e uma mão vem até minha boca como se estivesse tampando.

— Você se esqueceu de quem sou eu? SOU A SHIORI SEU IDIOTA!

Shiori havia tampado minha boca e respondido à pergunta, aquela mulher continua seguindo seu caminho e a gente entra na sala da diretora. Era como um escritório qualquer…

Um momento complicado que parecia não ter fim. Dentro do escritório tem cabelos brancos por todo lado, e na minha frente tem uma mulher, seu cabelo é branco como os que estão jogados no chão, a gente se aproxima e ela pergunta.

— Posso ajudar? 

Shiori dá um passo à frente, quando se parece que irá perguntar algo de extrema importância sobre o que acabamos de ouvir, ela simplesmente ignora isso e questiona.

— S-Sobre os nossos quartos que foram prometidos, quando iremos ganhá-los?

— Oh, quer saber sobre os quartos né, o de vocês é o 1625, podem ir lá.

— Mas, e sobre uma chave?

— O quarto só se abre com a presença de vocês…

— Obrigada, já estamos indo então.

— Se acalmem, algo aconteceu?... Vocês parecem tão pálidos…

O olhar da diretora era assustador e penetrante, ela não estava olhando para mim, e sim para a minha alma. Shiori só sorri para a diretora.

— Nada aconteceu, e então, vamos, Hideki?

Ela estende a mão e seguimos caminho até o tal quarto que é nosso. Está de noite, e ninguém está andando pela academia, a única coisa que se ouve são os passos da Shiori que ofuscam qualquer barulho que tenta ser mais alto. Não consigo olhar para qualquer lugar que não seja o chão, o que está acontecendo? Eu irei morrer?...

Minha respiração começa a ficar pesada, minha visão começa a escurecer… eu… estou perdendo forças… o que está acontecendo, minha cabeça dói…

A última coisa que vejo é o chão e escuto de fundo uma voz desesperada gritando meu nome, parecia ser a Shiori…

Acordo e estou em um lugar confortável, o teto é estranho, tinha desenhos como se fossem estrelas, me levanto e percebo que estou em um quarto… tem três camas alinhadas e também algumas portas pelo lugar. Shiori está sentada em uma cadeira no pé da minha cama, ela está debruçada e dormindo. 

Lentamente passo minha mão em seus cabelos, ela acorda e pergunta.

— H-Hideki?

Eu acordei mas não consigo dizer nada, o choque ainda é tanto que faz minha cabeça doer, eu comecei a tremer de medo e a Shiori me abraça.

— Calma…

— Eu… Eu vou morrer? — pergunto.

— Não, claro que não…

— Como você pode ter certeza?

— Não vou deixar que façam qualquer coisa com você…

São palavras que aquecem meu coração, por mais que talvez seja mentira… elas ainda estão no fundo da minha alma.

Nessa academia que entrei pensando que teria paz e conseguiria respostas sobre meu pai, na verdade é um lugar terrível que queria tanto me matar quanto matar os outros alunos… me encontrava em um ponto de sobrevivência, teria que saber fugir e encontrar as respostas sozinho…

Minha cabeça está uma bagunça em meio a tanta coisa acontecendo, o que será que consigo fazer? Me salvar? Sair daqui? Eu tenho que pensar nisso, eu tenho que achar uma solução para todas as coisas que estão acontecendo… Mas… Mas… Mas como eu vou fazer isso?

Pai, o que eu devo fazer? Me diga… Se você está me vendo de algum lugar, me diga… O que eu deveria fazer?



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