Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 10 – Arco 4

Capítulo 91: O drama começa.

Emilly



— E então…

Any era a pessoa que mais estava demonstrando seus sentimentos referente ao que eu estava falando, quando disse sobre o casamento arranjado, seus olhos se arregalaram e ela parecia ter ficado com extrema raiva sobre o que estava ouvindo. Dava para entender o sentimento que ela estava escondendo, nesses dois anos que ela passou fora muita coisa aconteceu, dava medo de contar algo e ela começar a ter uma crise de raiva.

— E então… eu não sei o que aconteceu. O rei começou a ficar estranho com todos aqueles a sua volta, dava um certo medo de tudo o que ele fazia, era como se estivesse sendo controlado, todas as suas ações, e leis que aprovou…

Antigamente tinha uma lei no reino que apenas cidadãos poderiam se candidatar ao trono, isso se dava ao fato que o rei queria apenas pessoas com o sangue do reino para governar no lugar dele, e ao meu lado também, então qualquer estrangeiro, mesmo que se tornasse um cidadão, não poderia governar o reino se contar pela lei que tinha até mesmo antes do meu pai.

— Qual lei você está falando?

— Meu pai retirou a lei de apenas cidadãos poderem se candidatar ao trono.

— Por que ele faria algo do tipo?

— Pelo fato do homem que apareceu para se candidatar como meu marido.

— Ele fez tudo isso apenas por esse cara? Ou ele é muito bom…

Any não terminou sua frase, deixou para que as pessoas à volta interpretassem da forma que queriam.

— Isso não é o de menos. Após um tempo meu pai começou a aceitar as coisas que esse homem pedia.

— Afinal de contas, quem é esse cara?

— Como eu disse, seu nome é Lucy, e ele está aqui apenas para se casar comigo, pois em suas palavras… “não há princesa mais linda que você nesse mundo”.

— Em algo ele tem razão…

— Você poderia levar um pouco mais a sério a minha situação?

— Desculpa.

— Após isso meu pai começou a tentar me forçar o trono, então todos os dias eu estou naquela sala pronta para receber o homem que pediu a minha mão. O que me deixa estranha… é o fato do meu pai falar que já conhece esse homem há muito tempo.

— Será que…

— É impossível que seja da guerra, ao menos que ele consiga manipular o próprio corpo, já que aquilo faz muito tempo, e pela sua aparência… ele parece ter a mesma idade que eu, ou até mais novo.

Interrompi Any que provavelmente iria falar sobre a guerra que aconteceu no passado entre os dois reinos, algo que eu achei ser impossível, ele teria que ser uma pessoa mais velha, ou ao menos ter alguma coisa que remetia a guerra, mas ele não tinha nada, na verdade sua aparência era extremamente jovem.

— Ele ao menos disse sua idade? — perguntou Any.

— Claro que não, eu não conheço praticamente nada dele.

— Droga… sabe de onde ele veio?

— Amor, eu literalmente não sei nada sobre ele…

— Ah… o que a gente deve fazer então?

— Não deixar ele governar o reino? Independente do que ele tenha em mente, não podemos deixar ele simplesmente governar, tomar o lugar de outra pessoa… também não quero que as coisas comecem a ficar ruins só por conta do meu pai estar… ignorando o que ele mesmo criou.

— O que ele mesmo criou? 

— As recentes decisões do rei fez com que as pessoas começassem a tentar sair do reino, já que ele estava sendo imprudente… não só isso… ele também começou a fazer execução em praça pública a todos aqueles que simplesmente tentarem quebrar alguma regra. Isso daqui está praticamente virando uma ditadura.

— O rei sempre foi assim? — perguntou Yukiro.

— Não… por isso eu digo que ele está sendo controlado.

— Talvez seja um desejo interno dele. — disse Maki.

— Dificilmente, eu sou a filha dele, ninguém dentro desse lugar pode falar mais dele do que eu mesma.

— Bem, eu acho que posso te ajudar, mas tudo aqui dentro depende mais dele.

Yukiro aponta para Hideki que estava em um sono profundo até então, parece não ter ouvido o que aconteceu.

— Ele quem vai decidir se podemos te ajudar ou não, já que em meio a tudo isso um problema maior surgiu. Até poderíamos tentar te ajudar, mas ele sendo o mais forte dentre nós… bem, acho que dá para me entender.

— Entendo… tudo o que precisamos é esperar que ele acorde?

— Esse não é o problema, senhorita… Emilly, o maior problema é que o Hideki tentará fazer de tudo para trazer sua amada de volta, quem sabe só assim poderá pensar em te ajudar.

— O que eu posso fazer para arrumar essa situação? Farei qualquer coisa para ajudar vocês… caso isso seja retribuído.

— Não sei… talvez se conhecer alguém que possa ajudar a gente com o problema que a Shiori tem agora… talvez precisássemos de um médico.

— Eu conheço alguém que possa ajudar… podemos ir agora se quiser.

— Primeiro vamos esperar ele acordar, depois vemos o que iremos fazer.

— Entendi…

A última coisa que consegui observar por algumas horas foi o rosto delicado da Shiori dormir.

A pressão que eu ganhei com o tempo nesses dois anos foi o suficiente para quase me fazer desistir da vida, se talvez a Any não tivesse sumido… o que teria acontecido? Acho que a pergunta que devo fazer é… por que tudo isso tem que acontecer logo comigo? Talvez se eu tivesse feito algo de errado teria entendido melhor a situação, mas nada na minha mente se passa quando penso nessas coisas.

Talvez pelo fato de quebrar uma regra que normalmente é abolida pela humanidade? Não… me apaixonar pela Any não tem nada haver com todas essas coisas. Talvez seja o fim de tudo o que tentei criar? Não… não consigo pensar em uma resposta do porquê tanto problema tem que acontecer logo agora.

Na verdade… talvez eu mereça, algo que eu fiz de errado na minha está sendo cobrado justo agora, no momento mais tenso.

— Eu vou… sair um pouco.

— Certo.

Me levantei e comecei a andar pelos corredores vazios do prédio. Por um momento o sentimento de solidão invade a minha mente e me deixa totalmente atordoada, algo que eu simplesmente não consigo deixar de lado, a dor e tudo mais que me preocupava me deixava completamente perdida.

Mas… algo removia algumas das minhas tristezas, pelo menos… eu consegui vê-la novamente, algo que por muito tempo achei que seria impossível, por alguns meses realmente acreditei no fato dela estar morta, mesmo que na verdade estava por aí, se aventurando…

O que será que eles conseguiram fazer em todo esse tempo? Será que descobriram algo extremamente legal? Bem, quando tiver tempo tentarei ter a minha resposta…

Respirei fundo e assim saí um pouco do prédio, era até normal eu fazer isso no meu dia a dia, então meio que não era nada estranho para a população, comprimentei aquelas pessoas que tanto esperaram ser comprimentadas por mim… e logo em seguida me despedi de todas.

Mesmo que na noite, as pessoas saíam se suas casas apenas para me comprimentar, algo que não era pra ser normal, mas por conta de algo que o rei criou… ficou assim, eu ainda acho que ele está sendo controlado por alguém, mesmo sem conseguir acusar uma pessoa se quer, mas mesmo assim, tenho meu objetivo de salvá-lo, mesmo sendo… ele.

Como uma sombra misteriosa, alguém estava vindo do horizonte daquela linda rua… alguém que combinada extremamente com a luz que a falsa lua criava.

Eu sabia exatamente quem era que estava coberto por aquele manto escuro… Lucy, o tal homem que veio tentar se casar comigo.

Seu corpo definido com seu cabelo preto liso e uma pequena franja jogada na frente do seu olho direito, junto com pequenos óculos de lente deixava tudo mais misterioso ainda, mas eu sabia o motivo dele estar atrás de mim, naquele momento… era a noite que eu deveria dar uma resposta definitiva para a pergunta que ele me fez no passado, caso o contrário… algo terrível aconteceria com o reino.

Levando em consideração que a aparição dele causou a esse lugar terríveis momentos, era de fato um sentimento de medo que dominava o meu corpo simplesmente por conta de algo pode acontecer com o reino, isso causava em mim um medo tão extremo que eu nem ao menos conseguiria pensar em algo, e mais do que isso… tudo o que ele poderia fazer, além de ser um mistério… poderia afetar a Any, mesmo sem eu saber o que seria.

— Então… o que será? — perguntou.

Sua voz era grossa demais e causava em todas as pessoas a volta um efeito de atordoamento, como se ele tivesse a voz mais poderosa desse mundo, até mesmo mais poderosa que o rei. Eu sabia que se não conseguisse dar a resposta algo poderia acontecer, mas mesmo assim não conseguia nem olhar nos seus olhos.

Abaixei minha cabeça e não respondi sua pergunta, de alguma forma ele veio atrás de mim e não era isso o que eu queria saber no momento…

— Não posso ter… mais tempo para pensar? 

— Ah… você só está me enrolando… sabe…

Quando olhei para seus olhos já que ele parecia estar irritado com o que perguntei, vi que seus olhos tinham mudado para a cor vermelha, rapidamente me assustei um pouco.

— Talvez seja melhor deixar você pensando um pouco sozinha.

Ele segurou meu braço esquerdo e puxou com muita força, naquele momento não pude deixar de escapar um gemido de dor, algo que provavelmente Any tinha escutado, já que ela apareceu na porta do prédio. Ela olhou de baixo pra cima para o homem que estava na minha frente e disse as seguintes palavras:

— Ei, o que você acha que está fazendo?

Ele para e então revida o olhar para Any.

— Estou apenas levando a minha esposa para o lugar certo.

— Então você é ele… larga ela agora!

— Caso o contrário?

Any retira de suas costas uma espada que brilhava imensamente.

— Eu vou te matar.

Lucy me joga para trás com uma força… fazendo eu bater com tudo na parede de outro prédio e não conseguindo levantar logo em seguida. Enquanto seu manto caía no chão, Lucy levantava suas mãos como se fosse um protesto, uma chuva forte começa e raios estavam caindo em volta dele.

Seus pés saiam um pouco do chão, e aos poucos ele voava… Any não conseguiu alcançá-lo a tempo, o que a deixou logo abaixo dele, e por conta disso… Lucy começou a mudar o tempo para chover cada vez mais forte.

— Any… você mesma causou tudo isso.

— Do que você está falando?

— Você sabe perfeitamente o motivo de tudo isso estar sendo causado, não se lembra?

O rosto de Any se transforma em pura raiva e ela começa a tremer suas mãos, principalmente a que estava segurando a espada, por conta de tudo o que estava acontecendo o exército começou a se mobilizar para descobrir qual era o motivo por trás de tudo isso…

E ao verem uma pessoa misteriosa segurando uma espada — já que a Any estava com um manto cobrindo seu corpo, eles se mobilizaram para tentar atacá-la… minha única reação foi…

— ANY, CORRE DAQUI, POR FAVOR!

— Mas…

— POR FAVOR, SAI DAQUI, EU TENTO FALAR COM VOCÊ DEPOIS, SÓ SOME DAQUI, PEGA TODOS ELES E SAEM, VOCÊ SABE EXATAMENTE PRA ONDE IR, OS MÉDICOS IRÃO TE AJUDAR, SÓ POR FAVOR, NÃO MATA NINGUÉM DELES!

Any sem saber o que fazer… segurou a raiva e disse:

— EU VOU TE ENCONTRAR DEPOIS, ME ESPERA!

— Eu… eu vou!

E com isso ela correu pra dentro do prédio, o que aconteceu dali pra frente se tornou um mistério pra mim, já que não estava conseguindo aguentar mais a dor, e então desmaiei. Quando acordei, estava em um quarto misterioso e trancado, com apenas uma janela que parecia uma jaula, até mesmo a porta era extremamente pesada…

— Você vai ficar aí até pensar em uma resposta adequada para a pergunta que te fiz, já que não consegue nem ao menos… fazer o que te pedi.





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