Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 3 – Arco 2

Capítulo 23: O deus da destruição

Hideki

 

— Então você acordou.

Abro meus olhos… estou em uma sala branca novamente, a calmaria toca meu coração e minha alma. Uma única pergunta passa pela minha mente.

O que aconteceu?

Eu olho pra frente. Lá estava eu sentado acima de um trono feito de espadas, parecia estar um pouco irritado.

— Acordei. Onde estamos?

— Dentro da sua alma.

— O que você fez?

— Vi que era uma luta, decidi tomar conta do corpo, além de que você estava demorando demais para entender as coisas. É sério que você ainda está confuso sobre o que fazer?

— Isso não é da sua conta.

— Claro que é, afinal de contas… eu sou você. A sua dor, sua tristeza, raiva ou qualquer coisa do tipo também me afeta. Eu deveria tomar conta do corpo, já que eu estava nele a mais tempo.

— Eu não entendo o que você quer falar com isso, mas não é da sua conta a demora que eu tenho para seguir um caminho.

— Você ainda está em dúvida sobre nosso pai? O que pretende fazer com toda a situação que ele te colocou?

Era uma pergunta muito bem feita em um momento muito caótico, não sabia responder isso, além de tudo estar acontecendo muito rápido, não tinha como saber o que fazer. Tudo estava um caos na minha mente. O pior de tudo isso é tentar entender o que meu pai queria fazer naquele momento comigo, ele realmente deseja a minha morte?

— Não é preciso pensar demais nisso. Ele realmente só deseja a nossa morte, e se ele quer isso… o que você vai fazer? — pergunta o eu.

— Não sei o que fazer perante isso.

— Por esse motivo eu deveria estar no comando.

— Espera, se você quer isso, então o que você iria fazer?

— Eu vou matá-lo.

— O que?

— Eu vou matar essa pessoa que nós chamamos de pai.

— Espera, por que você faria isso? É o nosso pai…

— Você ainda o considera um pai depois de tudo o que fez? Olha o que ele colocou dentro de você.

— O que ele… fez?

— Hideki, cai na real! Você não é um ser humano comum, você tem o poder de destruir as coisas.

Então ele levanta do trono e começa a andar em minha direção.

— Nosso pai só quer ver a gente sofrer e nada além disso, se você ficar em dúvida… não terá tempo para fazer as coisas que quer, dessa forma só irá realizar o que o pai quer.

— E o que tem de ruim em realizar algo que um familiar quer?

— CAI NA REAL! Droga… parece que falar com você não vai dar certo. Eu vou ficar no comando do corpo, vou matar essa garota e seguir em frente para matar nosso pai.

— Espera, não precisa fazer isso… 

— Se ficar nessa de esperar, vai chegar um momento onde você não vai saber o que fazer. Como você mesmo pensa, não há tempo para fazer as coisas, não há tempo para pensar direito, só temos que seguir um caminho que criamos.

— Mas você só quer criar um caminho repleto de ódio.

— E você quer fazer o que? Criar um caminho repleto de amor? Cai na real, Hideki. A vida não é uma fantasia.

— Você fala como se fosse muito mais velho que eu, mas na verdade viveu o mesmo tanto.

— Você é quem pensa nisso. Um dia você vai descobrir a verdade, e vai saber que eu estou certo. Agora vou continuar a luta.

— Espera.

— Tem que ser dessa forma, aceite a verdade… Hideki. Nosso pai não é a boa pessoa que você acha que foi um dia, ele é alguém terrível que só está aqui para nos ver sofrer, e por conta disso… você só está seguindo o caminho que ele quer que você siga. Dessa forma você está atrasando tudo.

— Mas…

— Não tem espaço para questionar mais alguma coisa, nem para pensar direito, só há espaço para aceitar a verdade e seguir em frente, nós temos o terrível problema de não conseguir pensar no que faz, isso causa uma dor terrível para aqueles que estão à nossa volta.

Ele se vira e senta no trono de espadas novamente, seu rosto sério me encara como se estivesse esperando uma fala.

Querer matar o meu pai? O que ele quer falar com isso…? Sua forma de falar, totalmente ignorante… é como se tivesse muitos anos de vida, uma forma experiente de falar e de fazer as coisas.

No final das contas eu sei que existe a gigante possibilidade de não conseguir fazer as coisas da forma que eu quero, terei de descobrir a verdade por trás de tudo da forma mais rápida possível. Mas não quero confiar nisso… não quero acreditar que meu pai é alguém realmente do mau… no final das contas, será que é verdade?

— Você já pensou demais na mesma coisa. — diz Hideki que estava no trono de espadas.

— O que?

— A todo momento que passa, você pensa na mesma coisa, já chegou a imaginar o quão ruim isso é para as pessoas à sua volta?

— C-Cala a boca.

— Me pergunto como sou você…

— Somos pessoas diferentes.

— Somos a mesma pessoa, no final das contas seguimos o mesmo objetivo só que mais extremista.

— Como assim?

— Eu quero matar o Riki, você quer tentar entendê-lo, é por isso que somos um pouco diferente… é por isso que…

Ele pega uma das espadas que estava no trono e se aproxima lentamente de mim.

— É por isso que você tem que morrer.

Ele parece se preparar para um ataque, que aos poucos começa a se aproximar com curtos passos. Parece que está tentando lutar… deveria me preparar? Na primeira chance não faço nada… não sei se ele é mais forte do que eu…

Não estou na vontade de lutar comigo mesmo, até porque seria uma luta que poderia durar infinitamente, sem contar que se eu perder pra mim mesmo… só vou estar reforçando a ideia de que sou fraco para aguentar qualquer coisa. Parece que somos pessoas diferentes, mas na verdade… é como ele mesmo disse. Somos a mesma pessoa, com a diferença que um é mais extremista que o outro.

Pensando bem… se eu morrer, não terei que lutar diretamente contra os ideias de pessoas que são extremamente mais fortes do que eu, não irei atrapalhar a vida de muitas pessoas e não irei preocupar ninguém com isso. Se talvez… fosse possível fazer as coisas de forma tão simples quanto penso…

— Você até mesmo desiste de lutar pela sua própria vida? — pergunta ele.

— Não, só penso se… você irá conseguir seguir em frente, mesmo sem eu estando por aqui.

Mas, óbvio que todos meus pensamentos estão errados, não sei se há algo após a vida, mas se tiver… até mesmo lá terei que lutar contra ideias de pessoas, e é óbvio que irei preocupar alguém caso eu for embora. Até mesmo abandonarei promessas que fiz a Shiori… não é assim que tem que ser, tudo deve seguir da forma que eu luto pra seguir.

Eu não luto para descobrir toda a verdade, eu luto para achar um motivo para lutar de novo… ou seja, eu estou em um looping

— Eu seguirei normalmente.

— Eu sei que você não irá seguir em frente, sei melhor do que qualquer pessoa.

— O que?

— Até porque… eu sou você.

Eu tenho que cumprir minhas promessas, tenho que ficar ao lado da Shiori e protegê-la para todo o sempre. Não posso desistir das coisas dessa forma, mesmo que tenha que lutar contra eu mesmo… irei achar uma forma de passar por cima de tudo isso e conseguir seguir em frente com as minhas promessas.

— Você é o pior de todos. — diz ele.

Ele avança com seu ataque, tocando a espada com tudo no meu peito, mas não aprofundando para me matar, nesse momento, tenho o desejo que essa espada suma, eu não quero, e não posso morrer.

Então… suma, suma espada.

— O que?

A linda lâmina que estava nas mãos dele… some. 

— Então… o meu poder é esse…?

— Como você…

— Eu desejei que a espada sumisse.

— Então… conseguiu descobrir o que você faz?

— Olhe “eu”... como você mesmo disse, somos pessoas iguais, e por sermos a mesma pessoa que eu sei quais são seus pontos fracos, eu não sei o que aconteceu com você enquanto esteve sozinho nesse lugar branco, mas é hora de acordar. Eu terei o controle e seguirei com as minhas promessas.

— Que? NÃO!

— Estarei seguindo em frente da minha forma, não sei o que será de você, não sei até quando vai seguir tendo esse ódio, mas seguirei em frente da minha forma e fazendo promessas acontecerem. 

— Você está maluco? Tá levando as coisas demais na fantasia, olha a porra do poder que você tem em mãos, vai simplesmente agir como se nada estivesse acontecendo?

— Sim. Vou agir como se nada estivesse acontecendo, tenho tempo para pensar nisso, e é como algumas pessoas me falaram. Quando eu reencontrar uma certa pessoa, descobrirei toda a verdade por trás dessas coisas que você tanto fala.

— Isso não é justo… você não está pronto para descobrir toda a verdade!

— Mesmo se não estiver pronto, eu terei que descobrir por minha conta, e se você não quiser me ajudar, terei que te tirar do caminho. Então, o que vai ser?

— Eu… eu não vou ajudar uma pessoa que acha que tudo vai se resolver na base da fala, sendo que não é bem assim.

A sala branca aos poucos se transforma em um deserto de areia branca, um céu estrelado domina toda a luz do local… uma tempestade de areia acontece, mas não afeta em nada o que está acontecendo aqui.

— EU VOU VOLTAR AO TRONO, E ASSIM… IREI FAZER O QUE EU QUISER, DESCOBRIREI ESSA TAL VERDADE QUE VOCÊ TANTO FALA… e irei seguir ao lado da Shiori para todo o sempre.

Me aproximo do “eu” que estava se ajoelhando e boto a mão em seus cabelos e me ajoelho na sua frente, tocando nossas testas.

— Eu sei que você não quer fazer isso e quer muito seguir em frente tendo seu ódio repleto por alguém que cuidou tanto da gente, por isso você é muito fraco pra seguir em frente.

— Você não entende nada.

— Não, não entendo nada, e por não entender que quero seguir em frente e tentar ver o seu lado de outra forma, agora…

O “eu” começa aos poucos a evaporar juntamente com a tempestade de areia branca, eu havia desejado que ele sumisse…

— Agora… eu sei o motivo de falarem que tem algo especial que somente deuses podem entender. Isso significa que… sou o deus da destruição.

Sigo em frente e me sento no trono de espadas que estava esperando um rei. Agora… eu irei seguir da minha forma e conseguirei fazer todas as promessas se tornarem realidade, não é o “eu” quem vai seguir em frente, será eu quem irá seguir.

A tempestade começa a sumir e tal deserto com areia branca se torna em uma sala totalmente branca novamente, agora… eu fecho meus olhos.

Respiro fundo.

É agora.

Tenho que acordar.

Dessa forma irei ajudar a Shiori e seguir em frente lutando contra a tal garota que apareceu para tornar a minha vida mais difícil. 

Acordo e estou no ar, acima do local abandonado, é como se estivesse caindo do céu… a espada que Solveig tinha me dado estava em minhas mãos e abaixo de mim estava a tal garota que chegou aqui.

Várias espadas começam a voar em minha direção… tenho que pensar rápido… é só eu usar esse poder que tem dentro de mim, eu tenho que ajudar as pessoas com isso, terei que usar de uma forma que a Shiori se beneficie…

Quando a primeira espada se aproxima eu tento segurá-la com a minha mão, mas sua lâmina acaba me cortando um pouco. Eu não preciso segurar com força, provavelmente só tocar já está tudo bem…

Rápido… e por cima… calmo, é tudo o que preciso ser para tornar esse poder uma realidade.

A segunda espada vem em minha direção e eu toco nela…

Essa espada tem que sumir.

Eu faço com o resto, até me aproximar do chão…

Não sei uma forma de pousar… o que eu posso fazer? Calma, tem que pensar com calma… Fecho meus olhos.

Sinto algo me segurando… e… escuto uma voz extremamente familiar… era a Shiori.

— VOCÊ FINALMENTE VOLTOU…

Meu corpo começa a ficar quente.



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