Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 31: A declaração.

Shiori

  

 

— Eu quero… ir para um lugar que talvez não tenha volta.

— Entendo…

— Você… vem junto comigo?

— Pode ter certeza que irei te acompanhar, independente de onde você estiver.

Me aproximo da cama… e assim fico na frente dela, entre a gente só há um espaço vazio, e ao nosso lado uma janela que tinha o céu noturno.

Fico perplexa com a situação, não era a resposta que estava esperando.

— O que foi? Está surpresa com o que?

Ele parece ter percebido…

— Hideki…

— Oi?

— Obrigada…

Sorrio timidamente, e o Hideki ri de uma forma engraçada. Mas tinha outras coisas que queria falar com ele.

— Hideki, você sabe a verdade agora…

— Oh, sobre você não poder sentir coisas?

— Só… coisas ruins…

— Entendo… olha, eu já imaginava algo do tipo, você estava muito quieta recentemente, eu ia te perguntar isso quando ficássemos só eu e você.

— Agora você sabe…

— Sim. Você não podia contar pra ninguém, né?

— Não… ainda não posso, não sei como estou conseguindo falar algo assim.

Ele se levanta e assim me abraça.

— Não vou te deixar pra trás nem nada do tipo, não precisa ter medo de nada.

Ele olha pra janela, tentando evitar me olhar.

— Agora… eu quem tenho algo para te falar, Shiori.

Seu rosto ficava um pouco vermelho, e ele tentava segurar um sorriso… ele olhava para todos os lados como se estivesse preocupado com alguma coisa, e principalmente, fazia sons esperando por uma resposta, como se estivesse ansioso.

— Está… tudo bem, Hideki?

— Claro… claro…

— Eu tenho que te contar algo que está preso na minha garganta… a muito tempo.

Nesse momento, o quarto começa a ficar iluminado, não por uma lâmpada ou algo do tipo, e sim por uma luz natural. E olhando para o lado de fora… vemos o que parecia ser impossível até então.

O amanhecer.

O sol estava nascendo no horizonte, o céu estava ficando azul… aquilo que era impossível até então, pois no final dos ataques da Akumo… ela retirou esse lindo céu azul da gente, como isso estaria voltando agora?

Hideki me olha e chama minha atenção, ele estava nervoso até demais… mas mesmo assim queria falar alguma coisa. O que será? Isso está deixando meu coração… acelerado.

— Shiori…

— Oi?

— Eu… eu te amo!

A luz do sol entra com tudo no quarto, iluminando cada pedaço desse cômodo inteiro… e foi esse o momento que ele se declarou. Por um momento fico confusa… amar? O que seria esse sentimento tão complexo que nós, seres humanos temos?

Ele solta todo o ar de uma vez, como se estivesse aliviado em falar algo desse tipo.

— Você nem expressou uma reação… — diz ele.

— D-Desculpa… eu não sei o que fazer…

Estar acompanhada do Hideki fazia meu coração feliz, e ainda faz… mas eu, uma mera pessoa que nem consegue fazer o que quer… tem o direito de ser amada por alguém desse nível?

— Desde… desde quando?

— O que?

— Que você me ama…?

— Faz muito tempo mesmo… mas nunca tive o momento certo para te falar algo do tipo, isso já estava ficando entalado na minha garganta… eu precisava te falar isso o quanto antes. Isso é o que eu sinto. Eu te amo.

Ele dá uma pausa, separa nosso abraço e dá uns passos pra trás.

— Eu quero poder te proteger, poder trazer a você a melhor vida do planeta. Quero poder ver e ouvir cada coisa… e te ajudar em tudo! Eu quero viver ao seu lado… para todo o sempre. Você pra mim… é como se fosse meu motivo de vida.

Ele estende sua mão.

— Shiori… você aceita viver comigo para todo o sempre?

O seu rosto demonstrava um sorriso infantil, aquele mesmo que ele sempre fazia somente pra mim… a sua declaração de amor já existia a muito tempo atrás… eu só não consegui perceber. Ele não queria me contar isso na academia, pois sabia que iria atrapalhar toda a situação… não queria me falar na casa da Maki, pois sabia… que não iria dar certo.

E agora, nesse momento onde estamos sozinhos… ele se aproveitou disso. Hideki não procurava um lugar para ter uma resposta positiva, ele procurava um lugar onde eu poderia pensar à vontade e lhe dar uma resposta…

Viver para sempre ao lado dele? Toda essa declaração me fez esquecer do que está acontecendo do lado de fora, e sinto que nem é hora de pensar nisso. O que realmente deveria estar na minha mente, é essa declaração, e como irei respondê-la de forma que não irá magoar o Hideki.

Não quero negá-la, viver para sempre ao lado da pessoa que mais esteve do meu lado nos piores momentos… seria algo incrível. Eu aos poucos entendo o que é esse sentimento que estava guardado no meu coração.

Querendo ou não, aos poucos eu também fui me apaixonando por ele, o seu jeito gentil e incrível de ser sempre esteve marcado na minha memória. Essa sua forma de cuidar das pessoas e sempre tentar entender os problemas por mais pesados que sejam. Essa sua forma de viver… essa forma de ser… você é incrível da sua forma, é incrível da melhor forma possível!

E eu… finalmente pude entender o que estava dentro do meu coração.

Lentamente, em poucos segundos que pareceram horas… eu finalmente entendi.

Seguro sua mão, para aquele que verdadeiramente precisa de mim…

— Eu aceito.

O jeito que você me chama, faz até mesmo o meu nome parecer especial.

Agora eu finalmente pude entender o que é o amor. Um sentimento forte que irá invadir o seu coração… e colocar nele algo tão importante que você sempre irá querer proteger… sempre irá querer viver ao lado disso.

Hideki trava por um momento e ele respira fundo.

— Até mesmo meus piores medos… sumiram nesse momento.

— C-Como assim?

— Eu estava com muito medo de você me negar… e dizer que deve seguir em frente para encontrar a verdade.

— E-Eu realmente devo seguir em frente para encontrar a verdade, mas posso fazer isso do seu lado…

— Entendo.

Hideki me puxa e assim coloca sua mão na minha cintura.

— E se eu… — diz ele.

— E se você…?

Como uma surpresa que nem pude fazer algo, o Hideki… me beija.

Meu coração se sente realizado com isso, é como se ele esperasse por esse momento por muito tempo… um sentimento que nem eu pude controlar…

Eu não precisava esconder mais nada dele, em toda essa vida… eu nunca estive sozinha, pois o Hideki estava do meu lado, desde a infância. Eu poderia contar qualquer tipo de problema a ele, que simplesmente tentaria achar um jeito de me ajudar. Eu sempre soube… mas nunca queria falar nada. 

Eu percebia que na verdade, o que mais importava pra você, não era a verdade… e sim como eu irei seguir esse caminho. 

O beijo para e assim olhamos atentamente um para o outro.

— Isso conta como se você fosse minha namorada agora, certo?

— Que tipo de pergunta é essa? — digo enquanto dou um sorriso de canto.

— É… É só pra ter certeza…

— Hahaha… sim, agora sou sua namorada.

Assim ele me abraça.

— Eu estarei sempre com você, e te ajudarei em tudo! Eu te prometo.

O calor do corpo dele me traz uma calma e felicidade… pois, mesmo em um universo tão grande… tão terrível… eu não estava sozinha. Eu nunca estive sozinha.

Naqueles momentos, ele estava comigo… em todos os momentos, não consigo pensar em como devo te agradecer por tudo o que fez, mas tenho certeza… de que assim pode ser a melhor forma.

— Você é incrível… Hideki.

— Somente pra você!

— Talvez pra todo mundo…

— Ahaha!

Mãe, eu acho que finalmente encontrei aquela coisa que um dia você me falou…

“Em algum momento você vai encontrar alguém que queira proteger e viver ao lado para todo o sempre, ficaria feliz se você pudesse encontrar alguém tão especial nesse nível.”

Por muitos momentos eu achei que essa pessoa seria você… mas ele chegou em um nível dentro do meu coração, que nem ao menos consigo pensar em outras coisas… mesmo as mais absurdas que estão acontecendo na minha vida.

Nesse momento, nesse amanhecer eu descobri que tenho alguém que pode dominar todo o meu coração…

Depois de muitos anos eu finalmente percebi.

— Eu te amo… Hideki.

— Eu também te amo, Shiori.

Alguém abre a porta…

— Agora que os dois pombinhos estão se amando, podemos ver uma coisa aqui?

Essa pessoa era a Yukiro. Ela parecia não ter dormido muito bem… quer dizer, desde que chegamos aqui… o nosso sono tem sido desregulado. Mas, parando para pensar no que aconteceu…

— O sol… nasceu. — diz Yukiro.

De início isso parece ser algo normal, mas desde o ataque da Akumo… o amanhecer para gente era como o impossível, nunca iria acontecer.

— Como isso aconteceu… — pergunta Hideki.

— Oh. — diz Yukiro, como se estivesse impressionada com alguma coisa.

Seus olhos falavam mais do que sua reação, ela havia observado alguma coisa no céu… e eu também.

Normalmente seus olhos doem ao olhar fixamente para o sol, aqui não… é como se fosse um tipo de imagem, o calor sobe, e a sensação fica estranha igualmente… mas, talvez… aquilo não fosse o verdadeiro sol.

— O lugar… é como se fosse falso. — diz Yukiro.

Ela aponta para o céu que estava ficando azul.

— São polígonos, é como se fosse uma cúpula de vidro.

A luz do sol refletia em alguns painéis de vidro, demonstrando que o lugar é na verdade falso.

— Todo o céu azul é falso…

— Por que eles iriam fazer algo desse tipo? — pergunta Hideki.

— Talvez por conta de alguma crença.

Quem dizia isso era Maki que acabou de entrar no quarto despercebida.

— Bom dia Hideki, bom dia senhorita Shiori, bom dia Yukiro. — diz Maki enquanto se curva.

— Bom dia. — todos respondem.

Maki olhava para os lados como se estivesse desconfiada de alguma coisa.

— Nessa cidade, eles têm a crença de que a noite é inimiga do ser humano, então decidiram criar uma cúpula após o céu do dia sumir. Essa cúpula irá simular o dia e a noite.

— Por que eles só não deixam de dia para todo mundo ficar bem? — pergunta Hideki.

— Isso é porque o rei disse que as pessoas devem ver seus inimigos de frente. Não podem recuar. Então quando o sol some, eles desligam toda essa tecnologia… eu sinto que essa é a única coisa extremamente avançada que eles têm.

— De fato, esse lugar diz ser parado no tempo… se é isso… — diz Yukiro.

— Por que eles iriam fazer algo assim só por uma crença, isso não iria acabar com o psicológico das pessoas por descobrirem que é falso? — pergunta Hideki.

— Mas quem irá vir nesse fim de mundo só para provar que tudo isso é falso? — pergunto.

— Tem razão…

— Pra vocês isso pode ser um pouco estranho, pra mim também é… não imaginava coisas desse tipo em um lugar tão grande assim. Sinto que o rei tem alguma coisa para falar com todos.

— Como assim?

— Ele parece querer prender as pessoas aqui dentro, tanto que… a cidade aos poucos está se fechando.

Maki dizia isso enquanto mostrava uma foto pra todos, a cidade antigamente não tinha muros tão alto…

— Não existe um motivo para criar muros desse tamanho, os animais na floresta evitavam se aproximar da cidade por conta de tantas pessoas que tinham aqui… e ninguém de fora chegava para roubar.

— Talvez para evitar uma guerra? — pergunto.

— Uma guerra contra quem? Esse lugar é extremamente amado por todos, a única coisa ruim…

— Única coisa ruim…? — instiga Hideki.

— Nada. Deixe pra lá. Vamos parar de falar disso por enquanto, para onde iremos.

Minha mente assim se recorda do que vim fazer aqui, além de curar a raposa e todos os nossos ferimentos…

— Eu quero encontrar a Nina. — digo.

— Entendo, o reino das memórias não fica tão distante daqui…

— Como você sabe?

— Solveig me deu todas as informações.

— O que ela te disse.

— Pelo o que parece, aquele lugar se chamava Reino Diamante, e foi invadido pela Nina, ela tinha trocado as memórias de muitas pessoas só para não encherem o saco dela, então… quando forem se referir a Nina, tentem falar como se fossemos para o Reino Diamante.

— Vamos deixar a Mel aqui com a Any. — diz Hideki.

— Sim, não podemos carregar um animal pra cá e pra lá em meio a lugares extremamente perigosos.

Any assim chega no quarto.

— Bom dia gente! O que temos pra hoje?

— Vamos… ir para o Reino Diamante. — digo.



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