Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 33: Reconheço essa deusa.

Shiori

2 Horas depois.

  

 

Antes que seguíssemos a estrada, escutamos Any gritar o nosso nome.

— HIDEKI! SHIORI! MAKI! YUKIRO!

Ela era extremamente rápida, tanto que demora em torno de alguns segundos para ela alcançar a gente.

Any corria com uma mochila de viagem em suas costas, eu não entendia o que estava acontecendo. Mas ela se aproxima e assim começa a ficar ofegante.

— Então… aqui está… uma mochila.

— Uma mochila? — pergunta Maki.

— Sim, aqui tem comida, roupas novas… ah…

Any parece ter se lembrado de alguma coisa, e por conta disso seu rosto muda para uma expressão triste.

— Aconteceu alguma coisa, Any? — pergunto.

— Sim… eu esqueci do saco de dinheiro.

— Dinheiro?

— Sim, a princesa queria dar dinheiro para vocês, por terem me ajudado no passado.

— Eu acho que não é necessário isso.

— Eu até voltaria para buscar… mas estou muito longe.

— Muito longe, por que não vem com a gente? — pergunta Hideki.

— Ir com vocês?

— Sim, temos muitas coisas para resolver, então mais uma pessoa no grupo poderia ser algo incrível. Ainda mais com alguém com tanta habilidade igual você.

— Mas… será que vai ser perigoso?

— Bem… toda aventura é perigosa, então acho que vai ser um pouco.

— Será que isso vai preocupar a Emily…?

— Essa é a princesa, né?

— Sim.

— Talvez vá, mas sempre é bom fazer surpresas.

— É que o meu medo é ela colocar o exército pra cima, só para me procurar…

— Ela não… faria isso… certo? — pergunto.

— Tecnicamente sim.

— Bem, agora está tarde demais pra você só voltar. — diz Hideki.

Após sairmos daquela cidade, a noite voltou em um piscar de olhos, estranhamente essa crença que dizem ter medo da noite… não funciona com a Any.

— Sim, está tarde demais, mas sou uma aventureira, nesse momento eu posso sair.

— Então você consegue voltar?

— Então… eu não lembro de onde vim.

— Entendo, olhe pra trás.

— Mas é só seguir reto?

— Se a gente deixar ela seguir o caminho e se perder de novo, provavelmente vamos ser procurados, não? — pergunta Hideki.

— Provavelmente. — respondo.

— Você vem com a gente então, se ela sair com o exército por ai… apenas vamos… explicar toda a situação. — diz Hideki.

Sem poder reclamar ou falar algo contra, Any aceita.

Começamos a andar como se nada tivesse acontecido, apenas seguimos nosso caminho. Hideki ficava do meu lado e apenas apreciava a paisagem que estava à nossa volta, estranhamente não falava nada, apenas segurava minha mão… seu rosto estava com uma expressão estranha. 

Ele parecia que a qualquer momento iria chorar, seus olhos estavam sem vida alguma, como se estivesse preso em seus próprios pensamentos, talvez ele estivesse… era um pouco preocupante. Como uma namorada… o que eu deveria fazer? 

Tentar falar com ele pode ser impossível nesse momento. Conhecendo o Hideki melhor do que qualquer uma aqui, sei que ele às vezes gosta de ficar preso no próprio mundo, tenho a mínima ideia de como é lá… se é perfeito pra ele, ou se é pior do que a realidade.

Eram muitas as vezes que ele simplesmente parava de falar com qualquer um e só ficava olhando para outro lado. Se ele estiver pensando em coisas ruins? O que eu faço…? Se eu pudesse saber o que ele pensa, seria muito melhor poder ajudá-lo em tudo.

Mas sinto… que se ele soubesse que sua privacidade está sendo invadida, não iria ficar animado. Vamos só seguir em frente e veremos o que irá acontecer no futuro… quem sabe… se talvez não estamos tão longe assim.

Esse silêncio será quebrado em algum momento.

Juntos passamos por muitos lugares, pequenas casas abandonadas no meio da estrada, ou até mesmo gigantes florestas que não tem explicações, todos os lugares eram lindos… e no meio disso… uma pequena ponte de madeira com um rio que passava por baixo.

Do nosso lado da ponte estava um lugar lindo e extremamente perfeito, mas do outro lado… era como se tudo tivesse se transformado em poeira, como se uma guerra tivesse acabado de acontecer aqui.

— Chegamos… — diz Maki.

O reino que estava do outro lado provavelmente era o Diamante.

Seu chão era cinzento, como se tivesse uma camada de pólvora, suas florestas estavam mortas…

— Tenham calma, o lugar não é perigoso para o ser humano, só não comam nada daqui… e nem coloquem muitas coisas no chão. — Maki respira fundo e continua — O uniforme de vocês não parece que vai aguentar muito…

— Na mochila tem roupas que são feitas para aguentar toda essa radiação.

— É algo perigoso, Any? — pergunta Hideki.

— A radiação não afeta o corpo humano… mas afeta muitas coisas que não tem vida. Mas acho que ninguém aqui quer sair pelado por aí, certo?

— Bem…

Antes que Hideki pudesse continuar a falar.

— Eu não quero, e ninguém quer. Então… onde vamos nos trocar? — pergunto.

— Pode ser atrás das árvores que estão desse lado. — diz Maki.

Então a mala gigante se abre e a Any vai retirando as roupas de cada pessoa e entregando para todos.

Cada um vai para um lado e nos trocamos… a roupa que é dada pra mim é meio estranha.

Era uma calça branca com um sobretudo branco com detalhes amarelos, era como a roupa de uma rainha… a camisa por baixo era simples e sem estampa alguma, mas o que chamava atenção era o quanto o sobretudo era extremamente branco, chegava ao ponto de refletir a luz a sua volta… era estranho por si só.

Havia um chapéu que parecia de palha… eu não sei se isso seria apenas um cosmético… ou era pra realmente se usar.

Coloquei preso no cinto da cintura que ia por cima do sobretudo e deixei ele aberto em baixo.

As ombreiras eram douradas e extremamente lindas.

Fechei o sobretudo na parte de cima e deixei a capa por trás e coloquei por dentro a bainha que estava junto. Ela ficava na minha cintura… e assim coloquei minha espada ali e voltei para o lugar desejado. 

O Hideki apareceu logo em seguida e sua roupa era estranha.

Ele parecia um aventureiro de uma época antiga, de certa forma… aquilo não combinava. Mas era muito fofo mesmo assim. Logo em seguida veio Maki, sua roupa praticamente não mudou nada, não tenho a mínima ideia do que ela foi fazer, mas voltou com as duas mãos erguidas como se tivesse feito algo errado.

— VOLTE AQUI, VOCÊ SABE O QUE ERROU! — gritou Yukiro.

— Não tenho nada haver com isso. — respondeu Maki.

De primeira eu me pergunto o que está acontecendo… mas logo depois aparece Yukiro e vejo.

— Essas roupas… quem foi que escolheu isso?

Yukiro demonstrava um rosto tão envergonhado que chegava ao ponto de dar pena, suas roupas eram de uma empregada de uma antiguidade. Aquilo não combinou nada com ela… mas mesmo assim era engraçado, pelo seu rosto dava um sentimento pesado na minha mente, rir daquilo era… como se eu fosse uma pessoa terrível. Seu corpo estava… todo coberto.

Assim aparece Any, que não mudou nada em suas roupas, mas mesmo assim estava rindo de toda a situação…

— Desculpe… mas essa não é pra você!

— Não… né?

— Aiai, desculpa, esse é pra mim!

Assim ela entrega uma roupa simples pra Yukiro e ela vai se trocar novamente.

Após voltar, Yukiro se demonstra com uma meia-calça totalmente escura e com uma saia de tamanho médio… com uma blusa longa branca, tampava todo seu corpo praticamente.

— Bem melhor.

E assim seguimos andando após a ponte…

O lugar tinha um cheiro extremamente terrível, mas mesmo assim… era fácil de se acostumar.

Começamos a andar sem rumo algum…

Pare. O que está fazendo por aqui?

Uma voz toca na minha cabeça, fazendo essa pergunta estranha… de imediato olho para os lados, como se tivesse a impressão de que já tive isso antes.

Não era pra chegar nesse momento… mas okay, é isso o que você quer, certo?

Uma chuva forte começa e a floresta que estava morta, ganha vida…

Maki, Any e Yukiro rapidamente se escondem nas árvores… mas eu e Hideki ficamos na chuva.

Antes que a chuva tocasse no meu corpo, ela evaporava… talvez pelo poder do sol estar no meu corpo… mas com Hideki não era assim, a chuva o molhava inteiramente… mas ele não se preocupava.

Olhou pra cima e disse:

— Oh… está chovendo…

Logo em seguida ele me olha, dou um sorriso envergonhado como se nada tivesse acontecido. Mas mesmo nesse momento… apenas seguimos nosso caminho como se nada tivesse acontecido.

O chão cinza logo se torna vermelho e descobrimos que estamos em um terreno extremamente lindo… as árvores e as flores possuem vida… mesmo com o céu noturno.

Esse lugar brilhava tanto e era tão bonito que me deixava encantada… Logo após uns segundos a chuva acabou… e em questão de um piscar de olhos, toda a mata já havia morrido…

Você não pode estar aqui… Shiori.

De quem é essa voz?

Sou a Nina. Seja bem-vinda a minha casa…

Nina?

Sim… sou eu mesma!

Então ela realmente consegue ler meus pensamentos…

Claro!

Em uma história antiga… escutei que a deusa das memórias consegue ler e conversar com os outros pela mente…

Sim! Essa sou eu! Mas me diga… para quem você está explicando isso…?

Isso não é importante agora… eu necessito falar com você.

Eu também! Mas não quero me encontrar com você… Shiori, você é mais fraca do que imaginava, nem mesmo para o contrato da sua mãe você é forte.

Minha mãe falou com você!?

Claro… bem, vamos fazer um teste…

Pisque seus olhos.

Quando pisco, estou no meio do nada.

O que vê?

N… Nada.

Essa é você. Shiori… você é nada. Uma pessoa sem sentido.

Isso… não é verdade.

Está se sentindo triste? Ah sim… esqueci… eu consigo quebrar seus sentimentos.

Consigo passar por cima do que sua mãe fez.

Essa… pequena… como se chama? Maldição? Talvez… eu consigo passar por cima disso…

Como assim… passar pelo o que minha mãe fez?

Uma mulher estranha surge na minha frente, seus olhos eram da mesma cor dos de Hideki e Yukiro… seu cabelo era vermelho, seu braço era de uma cor escura, o outro era claro, sua roupa era preta e deixava grande parte do corpo todo exposto…

— Seja bem-vinda… pequena Shiori. Eu sou… Nina.

A deusa das memórias estava na minha frente…

Um sentimento estranho entra no meu corpo, era como se estivesse assustada com a estranheza… ela era… toda deformada.

— Eu acho que essa é uma forma triste de me colocar na sua mente… Shiori.

— O que?

— Deformada…? Assustada com a estranheza? Tenha calma… não irei fazer mal a você.

Nina então estala os dedos… e o lugar se transforma inteiramente em vermelho.

— Então essa é a sua mente… sempre quis saber como é os sentimentos da filha do sol… então aqui está! Hm…

— O que você quer… Nina?

— Não é essa a pergunta… Shiori. É o que VOCÊ quer! Vamos, me diga… por que está na minha casa?

— Minha mãe me mandou aqui.

— Ah sim… já estava esquecendo do contrato que tinha feito com Solveig, sabe… é difícil se lembrar dos mortos.

Raiva… era o possível sentimento que descreve esse momento.

— Calma, não precisa ficar brava… está tudo bem.

— Que teste é esse que tanto fala?

— Oh, sim… o teste, né!

Ela novamente estala os dedos.

— Está vendo isso aqui? Eu separei a sua alma do seu corpo… então agora é só eu e você.

A imagem que aparece na minha frente é Hideki segurando meu corpo e extremamente assustado, ele gritava pelo meu nome… como se estivesse em um sono profundo naquele momento… isso é assustador.

— Vamos, Shiori… dessa vez só está eu e você aqui. E… eu vou te testar, vou ver se você é boa o suficiente para descobrir a verdade.

— E o que acontece se não for boa o suficiente?

— Simples, tudo o que sua mãe fez… será em vão. 

— Espera…

— É isso… contrato é contrato, Shiori…

Em um estalar de dedos… me encontro em uma sala de aula comum… ao meu lado estava Hideki, mas não… era normal. Era uma criança.

— O que foi… Shiori? — pergunta esse Hideki.

Escute sua infeliz. Irei te testar das piores formas possíveis, então se prepare… sua infeliz.

E como você vai me testar.

Pequenos acontecimentos da sua vida… que eu quero piorar. Começando agora.



Comentários