Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 37: Primeira Guerra.

Yukiro  



— Eu aceito. Riki… aceitou entrar na guerra dos deuses.

— Por que você… repetiu a mesma frase?

— Sinto que foi importante isso para você.

— Entendo.

— Quer saber sobre a guerra?

— Pode falar.

— Após Riki aceitar a guerra… Krig se aproximou e assim os dois fizeram um pacto.

— Um pacto?

— Sim, eles não poderiam trair um ao outro… assim… eles começaram suas preparações.

— E os outros deuses?

— É óbvio que eles não iriam ficar para trás, o objetivo dessa luta para eles era que… eles teriam que ensiná-los o que é trabalhar em grupo, mas é óbvio que no meio dessa guerra… existia uma pessoa que não queria lutar, independente do lado… essa pessoa… era Mier.

— A terceira deusa.

— Sim, Mier estava triste porque seus amigos foram embora, mas o que mais a afetava… era o fato de ter que escolher um lado para lutar, infelizmente ela teria que aceitar dessa forma… não podia ficar no muro ou só observar a luta. Mier… estava confusa e triste.

— …

— As preparações foram complexas, o campo de batalha seria a cidade abandonada, aquela que eles passaram por primeiro, assim… eles iriam lutar para ver qual grupo era o mais forte, um trio, ou… alguns deuses.

— Se contar pela maioria…

— Sim… se contar pela maioria seria óbvio que os deuses iriam ganhar, mas o trio tinha uma carta na manga, e ela era… Riki.

— Riki?

— Não podemos esquecer que o poder dele não tem limite. Deixe-me te contar uma coisa… os deuses não possuem limite de mana.

— Pera, mas por que isso?

— Na verdade, nem deuses somos… é apenas uma torre importante para a mana existir no mundo.

— Não… entendi.

— Exemplo, o que mantém o equilíbrio de um gato, é a cauda. É como se a humanidade fosse o gato, e os deuses fossem a cauda. Nós mantemos o equilíbrio da mana, assim… sem nós… não há mana.

— Entendo…

Tenho um pensamento avoado sobre isso, mas como agora não é um momento certo de falar sobre… deixarei para depois.

— Ora, não tenha medo de falar seus pensamentos, eu posso lê-los, mas em nenhum momento irei contá-los a outra pessoa.

— Acho melhor não.

— Ha, você é até engraçada.

— Bem… Riki, Krig e Riko se arrumaram e foram direto para o local da guerra, os outros deuses criaram suas estratégias e começaram. Riki criou um exército de mais de 80 trilhões de pessoas, chegava a um ponto onde literalmente não tinha espaço para pessoas na terra, fazendo elas existirem até mesmo no espaço, Riki queria ter certeza de acabar com essa guerra em questão de segundos, mas o que ele não imaginou… é que eles já tinham isso em mente.

— Mas o que eles iriam fazer contra um exército tão grande?

— Ora ora, Yukiro o ser humano… é frágil e totalmente fraco. Sem ele o mundo pode até ser maravilhoso, mas é interessante ver como eles se matam.

— Não estou entendendo…

— Os deuses começaram a matar milhares deles, porque esses seres humanos tinham medo… você não pode usar sua própria espécie como arma, ela é fraca… terrível… e tem muito medo de tudo.

— …

— Sabe… Yukiro, o ser humano é a coisa mais hipócrita do mundo.

Nesse momento eu demonstro uma feição incrédula para Nina.

— O que foi?

— Você não é a primeira pessoa a me falar algo assim.

— Então você já sabe exatamente o que irei falar?

— De certa forma…

— Bem… vamos continuar. A guerra foi extremamente difícil para ambos os lados. Mas mesmo assim, em todas as guerras, existe um terceiro lado.

— Um terceiro lado?

— Sim… as pessoas que não queriam que aquilo acontecesse. A humanidade que vivia nessa época era pequena, mas mesmo assim era o suficiente para fazer o mundo viver, eles não queriam que uma guerra acontecesse… porque… seria terrível ver o seu mundo sendo destruído mais uma vez.

— Mais uma vez?

— Como eu disse, antes de nós…

— Tinha outras pessoas.

— Sim. E essas pessoas destruíram o seu mundo da mesma forma, com uma guerra. Mas eles não tinham deuses… eles não tinham poder. Era apenas… um poder destrutivo, bombas nucleares e coisas assim do tipo.

— Entendo.

— Desse lado que não queria a guerra, tínhamos alguns deuses e todos os humanos. Essa luta não iria afetar somente a vida na terra, iria afetar tudo. Por conta disso… muitas pessoas fugiram, Mier, Pérola… entre outras do tipo. Elas não queriam uma guerra, não queriam ter que lutar por coisas desse jeito, fazendo assim com que se escondessem. Pérola, a deusa da riqueza se escondeu… dormiu para sempre, Mier… esperou a volta de Riki e Riko… na casa anterior deles.

— E como foi a guerra?

— Dolorosa… e é óbvio que o deus da criação ganhou. Ele… praticamente sozinho… matou todos os deuses de uma vez só, sem pestanejar… eles desistiram, mas mesmo assim ele continuou matando todo mundo, e pegando seus poderes… Riki aos poucos enlouquecia, ele querendo ou não… é um ser humano, e quando o ser humano tem muita coisa só… ele acaba enlouquecendo.

— Após a guerra?

— Riki se declarou deus.

— Mas… e Deus?

— Deus? Ahahaha, ele desistiu da sua segunda tentativa de fazer humanos, e foi viajar pelo espaço. Ele abandonou o mundo assim que a guerra começou, não importa o que faríamos, ele simplesmente não iria voltar.

— … 

— Se declarando deus do mundo, foi assim que Riki teve uma brilhante ideia. Criar algo que seria capaz de apagar as memórias de todos, assim… ninguém iria se lembrar dessa guerra.

— Foi assim que ele te criou?

— Ora, como você sabe? Enfim, foi assim que fui criada… não sou uma humana, nem um humano… sou um conceito.

— Um conceito?

— Sim… você não pode me matar, eu não vivo aqui.

Nesse momento ela corta sua cabeça, e aparece logo depois atrás de mim.

— Não tem uma forma de me matar, se alguém se lembra de mim… irei voltar como se nada tivesse acontecido.

— …

— Por isso… o pensamento que o Hideki está tendo nesse momento… é impossível de acontecer.

— O Hideki…? Ele está bem?

— Deve estar. Vamos continuar.

Não deve existir uma forma de eu questionar novamente, irei continuar até o final para descobrir cada vez mais coisas.

— Com a minha criação, apaguei as memórias de todos sobre essa guerra, inclusive dos deuses… Riki e Riko voltaram para casa no momento certo. Enquanto Mier esperava por eles, os dois voltaram numa tranquilidade, ninguém queria falar sobre o que aconteceu… até porque eles não lembravam. Então… eles começam a recriar toda a humanidade, e escrever nos livros que todos devem obedecer a Deus… no caso, o Riki.

— Ele praticamente estava fazendo uma lavagem cerebral em todos.

— Sim, e por conta disso… ninguém ia contra eles, os anos se passaram e algo aconteceu. Riki ao criar os humanos… fez eles da forma mais forte possível, e após ele recriar os deuses que assim serviam a ele… mal sabia que algo diferente poderia acontecer. Uma mulher matou um deus… seu nome era Akumo. Ela se tornou a deusa da escuridão.

— Por que ela fez isso?

— Ela queria poder o suficiente para proteger as crianças dela.

— As crianças?

— Sim… caso você não saiba, Akumo tem o sonho de ser uma mãe, e ela até cuidava de um orfanato, mas ela mesmo assim queria poder o suficiente para cuidar das crianças. Ela ajudava em guerras dos humanos, mas em uma… Akumo simplesmente voltou para casa e não queria saber de mais nada, só que os humanos foram cobrar.

— Cobrar?

— Sim, eles mataram todas as crianças dela, fazendo assim que ela enlouquecesse, mas isso é depois.

— Riki criou a deusa do sol, o seu nome era…

— Solveig?

— Não. É a mãe da Solveig, Taiyo.

— Taiyo…

— Sim, ela viveu sua vida normalmente até certo momento. Assim ela teve uma filha com o nome de Solveig, sem apresentações aqui… você já deve conhecer essa mulher, a filha dela foi uma das crianças que participava do orfanato de Akumo, ela não conhecia sua mãe… já que Taiyo não queria assumir a criança, o que fez Akumo cuidar.

— Solveig… era filha adotiva de Akumo?

— Sim, ela amava sua mãe adotiva, tanto que sempre esteve do lado dela falando que era a filha favorita de Akumo.

— Isso é uma surpresa…

— Não é? Solveig era fã demais de Akumo… mas coisas ruins acontecem. Após Akumo enlouquecer, Solveig, e suas duas irmãs fogem também.

— Irmãs?

— Ah sim… eu não falei, certo? Solveig era filha adotiva de Akumo, mesma coisa com Saionara e Alysci. 

— Espera… o que?

— Isso mesmo. Mas as três se separaram, Solveig foi vendida para Mier e Krig, enquanto as outras duas foram com Akumo.

— O que aconteceu com Solveig? Por que ela estava com esses deuses?

— Mier e Krig queriam matar Riki, pois ele estava enlouquecido demais, tentava mandar em tudo e todos e isso era terrível para os outros deuses, eles falavam que Riki era desconfortável.

— E você?

— Eu? Estava presa no meu próprio mundo, sem ligar para o que está acontecendo do lado de fora, querendo ou não… se houvesse uma guerra, eu seria a última a morrer, ou nem morreria.

— …

— Enfim, Mier pegou Solveig e matou Taiyo, fazendo o poder da deusa do sol passar para Solveig. Logo em seguida… Solveig teve uma filha, na mesma hora que Riki teve um filho. Seu nome é Hideki… e o nome da filha de Solveig… era Shiori.

— Eles nasceram no mesmo dia?

— Não, nasceram em meses diferentes. 

— Hm…

— Os dois filhos se conheceram em uma escola, e rapidamente se tornaram melhores amigos. Logo em seguida… coisas terríveis começaram a acontecer, Riko estava doente demais, assim ela morreu, Hideki não sabia disso… e Riki mentiu para o próprio filho, falando que sua mãe o abandonou. Na verdade Riki estava tão maluco que botou a culpa disso no Hideki. O que ele não sabia… era que Hideki também é um deus.

— O deus da destruição…

— Olha… até que você sabe bastante. Antes de Riko morrer, ela fez duas tranças que tocavam o chão com seu cabelo, aquilo significava… liberdade. E ainda por cima, ela deixou uma filha aos cuidados de Riki… seu nome era… e ainda é. Yukiro. 

— Eu…

— Sim, você é filha de Riko com Riki, ou seja… você é irmã mais nova de Hideki.

— …

— O que foi?

— Não sei o que deveria sentir sobre isso…

— Você é sem graça, vamos continuar. Após deixar essa filha, Riki vendeu a criança para mim, em troca de algumas coisas que não irei falar, assim eu entreguei a criança para umas pessoas fazerem o que quiserem.

— O que foi? Qual é a dessa expressão no seu rosto?

Quando menos esperava, e quando eu mais estava me segurando… sem eu perceber, meu rosto se contorceu até ficar com uma expressão de raiva extrema. Eu queria me segurar, porque não tinha o motivo de lutar… de qualquer forma… não iria conseguir matá-la, isso seria impossível.

— Você às vezes se torna interessante.

— Continua.

— Você quem manda. Riki assim recriou Riko, e me mandou apagar as memórias de Hideki perante a essas coisas, o que fez o garoto enlouquecer… e destruir mais da metade do mundo, por algum tempo… tudo foi quase extinto. Riki recriou o mundo e os humanos que foram mortos, assim eu tive que apagar as memórias de todos e fazer tudo voltar ao normal. Hideki agora amava sua mãe, que não era sua mãe… e era melhor amigo de Shiori. Tudo estava como planejado…

— O que Riki quer fazer?

— Não posso te falar. Hideki, após destruir metade do mundo… fez com que seu corpo morresse, assim Riki o reviveu, mas o que ele não esperava… era que agora existiam dois Hideki… e eu também não falei nada para ele.

— Dois Hideki?

— Sim, sua alma é diferente do seu corpo, duas pessoas vivem lá dentro, uma quer vingança pois sabe da mentira de Riki, e outro ainda está procurando o que fazer.

— Qual é o que eu conheço?

— O que está procurando o que fazer. A sua história a partir daqui… você já sabe. Mas todo esse início… será que você já sabia? Enfim, irei te devolver para seu lugar.

— ESPERA, AINDA QUERO —

Quando pisquei meus olhos… estava em uma floresta, a mesma que entramos… meu cabelo estava longo até demais… tocava o chão. O que aconteceu… 

Droga… tantas coisas… tudo para isso?

Droga…

Pego meu cabelo… corto com a minha espada.

— NÃO ERA ISSO O QUE EU QUERIA, DROGA!

— Yukiro?

Uma pessoa parecia na minha frente, era Hideki… mas ele estava completamente diferente, existiam duas tranças que iam até o chão. Hideki… estava se sentindo… liberto?

— Irm… 

Será que ele sabe disso? Quando comecei a falar o seu rosto ficou estranho… assim ele me dá a mão, tentando me ajudar a levantar.

— O que você está fazendo aqui? — pergunta Hideki.

— Nada…

— Eu estava procurando por todos, mas parece que Nina está… fazendo alguma coisa.

— Sim…

— Eu tenho um plano.

— Qual?

— … é assim.

Hideki me conta seu plano, de primeira instância eu percebo que parece dar certo, mas Nina consegue ler os pensamentos das pessoas, então ela provavelmente deve saber o que todos estão falando a qualquer momento, o que será que Hideki está planejando? Ele parece ter algo a mais além desse plano…

 



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