Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 5 – Arco 3

Capítulo 47: Criança amaldiçoada.

Any

3 anos atrás.



Essas pessoas que misteriosamente apareceram por aqui… são estranhas. E talvez seja por conta disso que eu tenha entrado em uma aventura tão gigante assim. Ir para o Reino Diamante… que coisa estranha, esse lugar é comandado por uma pessoa diferente.

Será que está tudo bem com a Emilly? Espero que ela não esteja se preocupando muito nesse momento, dizendo para os soldados me caçarem por todo o planeta… ela seria capaz de fazer uma coisa dessas. Mas talvez seja um pouco de culpa minha, já que nem avisei que isso iria acontecer, na verdade a culpa nem é tanto minha assim… mas tudo bem.

Na minha frente estava uma floresta morta, mas em questão de alguns segundos… tudo se transformou em uma gigante sala laranja. Não se sabia o que era parede… nem o que seria teto.

Na minha frente uma mulher estranha aparece, seu corpo parecia estar todo deformado e isso me… dava um sentimento que nunca tive antes, o sentimento de medo do desconhecido. Ele… acelera meu coração um pouco e ativa meu senso de perigo que está no meu coração, é como se essa pessoa… não fosse alguém para se confiar e para conversar.

— Seja bem-vinda ao meu lar, seu nome é… Any, não é mesmo?

— Quem… é você?

— Oh… é claro, eu preciso me apresentar. Meu nome é Nina, sou conhecida por todos como deusa das memórias! Sou eu quem controla tudo o que está na sua cabeça, todas as coisas que você lembra… eu sou quem coloca.

Então… é essa a pessoa que pode fazer o que quiser na nossa mente?

— Sim, sou eu mesma, também posso ouvir todos os pensamentos e fazer o que eu quiser com eles.

— Hm…

— Você não parece assustada, diferentemente do quanto estava falando na sua cabeça.

— Aquilo… estava mais para uma preparação.

— Entendo, você até que é engraçada…

— O que me traz aqui?

— A minha curiosidade.

— A sua curiosidade?

— Claro, quero entender o que está acontecendo no reino, afinal de contas… você é a filha ilegítima do rei.

Nesse momento é como se uma bolha estourasse na minha mente, assim eu consigo finalmente pensar normalmente… filha ilegítima… isso mesmo. Muitas pessoas pensam que sou irmã da princesa, simplesmente por termos nascido juntas… mas não. Meu pai e minha mãe não são os mesmos que da princesa.

— É… a sua história me deixa um pouco triste, tenho que confessar… — diz Nina.

— Minha história?

Dentro da minha cabeça, decidi apagar tudo o que estava relacionado ao meu passado, e só deixei coisas que realmente importava para mim, pois… lembro do que aconteceu ser extremamente terrível e ser algo que não queria lembrar nem por nada.

— Suas memórias não podem ficar comigo para sempre… preciso devolvê-las.

— Isso significa…

— Sim, você vai lembrar de tudo o que aconteceu.

— NÃO! Espera… talvez tenha algo que possamos concordar para que isso não aconteça…

— E o que você me daria em troca de não fazer isso…?

Talvez seja melhor pensar de forma coerente, não posso simplesmente voltar a pensar em todo o meu passado só de uma vez, nem posso nem chegar perto disso na verdade… mas não há nada que posso dar a essa mulher.

— Chega. Eu não estou afim de negociar. — diz Nina.

Ela estala os dedos… e o cenário se transforma em uma floresta… que estava pegando fogo. Havia algumas pessoas correndo, sendo algumas delas a minha mãe… uma linda mulher de cabelos encaracolados e vermelhos… e o meu pai, um homem de porte alto e que consegue cavalgar sem nenhum problema… eles estavam fugindo de outras pessoas, arqueiros, espadachins… entre qualquer coisa do tipo.

A minha mãe estava grávida… e sim, era de mim.

Antes que eu pudesse sequer existir, o reino em que minha família era a realeza tinha sido atacado e ninguém conseguiu ajudar a conter o ataque, fazendo assim com que toda a população fuja sem sequer olhar para trás. O reino vizinho tentou firmar um contrato com meu pai, mas ele negou… pois naquelas folhas dizia que o nosso reino — Reino Diamante — tinha que perder mais de 40% de todas as ações feitas, isso significava perder quase metade de todos os nossos ganhos.

De início toda a população negou, e com isso o rei, no caso meu pai, disse que iria negar também. O contrato de proteção, por mais que ajudaria o nosso reino a ser mais amigável, iria ser praticamente como escravizar todos da população a favor do reino vizinho…

O outro rei ficou extremamente irritado com todas as ações do meu pai e assim decidiu atacar o reino, pois nas palavras dele… era perca de tempo fazer qualquer coisa com o nosso reino. Palavras tão maldosas fizeram meu pai enlouquecer e tentar fazer de tudo para proteger a população, mas chegou em um momento onde literalmente não tinha como.

O reino vizinho — Reino Esmeralda — tinha como rei, um estrategista de guerra, neto do deus da guerra, Krig.

No primeiro momento não tinha como se defender de um ataque desses, mas meu pai mesmo assim queria fazer de tudo para que o reino não tivesse esse fim, mas ele mesmo se pegou fugindo para outro lugar ao lado de sua família, logo depois de mandar todos fugirem.

Nada estava certo para minha mãe… ela, enquanto fugia, entrou em trabalho de parto. Isso fez com que meu pai tivesse que se esconder para tentar ajudar no parto da filha que estava na barriga da minha mãe, eles conseguiram se esconder e até começaram a fazer o parto… mas antes que conseguissem terminar.

— Finalmente te achei. — disse um homem misterioso.

O rei de Esmeralda os achou e assim… matou o meu pai na primeira oportunidade. A minha mãe, extremamente assustada… não conseguiu fazer nada, na verdade entre todos da família real, a minha mãe era a única que não tinha poder algum… ela sim era uma humana extremamente pura.

O rei de Esmeralda decidiu matar a minha mãe, mas isso não me afetou, que estava quase saindo dela. Depois que ele foi embora… eu nasci.

Chorei alto para que todos pudessem me ouvir… mas demorou muito para que alguém realmente pudesse me ajudar, e quem fez isso foi a rainha do reino Esmeralda… a Riche.

Riche era uma mulher incrível e que sempre estava tentando ajudar todas as pessoas do seu próprio reino. Diferente do rei, a rainha era uma pessoa bondosa e que sempre era contra todas as coisas que seu marido fazia, mas nunca tentava pará-lo.

Riche me segurou no colo e assim percebeu um pouco do que tinha acontecido, o corpo de uma mulher morta logo na frente fez com que ela deduzisse tudo. Assim ela decide que iria me levar para o reino dela e cuidar de mim como se fosse uma filha.

A rainha já tinha uma criança para cuidar, mas por conta do seu coração extremamente bondoso… ela simplesmente não conseguia dizer não a um bebê que nasceu de uma mulher morta. De início o meu nome era pra ser Ana, mas Riche não sabia disso… esse nome foi o que meu pai tinha decidido.

Riche decidiu me dar o nome de Any, que significa uma pessoa cheia de graça. Pra ela me ver crescer era como ver uma pessoa incrível nascer, e por conta disso ela decidiu me dar o nome de Any… Riche cuidou tanto de mim quanto da sua filha, Emilly, a verdadeira princesa do reino.

Por muito tempo eu era confundida como irmã gêmea de Emilly, porque no início da minha vida, Riche pintava meu cabelo da mesma cor do dela, simplesmente para dizer que eu era filha, caso contrário todos iriam descobrir a verdade, e não era isso o que ela queria…

Nos meus primeiros 5 anos de vida tudo tinha dado certo, eu era uma criança inocente que estava seguindo uma vida feliz… sem qualquer medo de seguir em frente, na verdade eu nem sabia o que era isso… mas mesmo assim queria atingir mais e mais conquistas, isso alegrava meu coração.

Mas tudo começou a ficar estranho quando aprendi a falar, o sotaque de Esmeralda não entrava no meu corpo de forma alguma, parecia que tinha algo dentro de mim que me impedia de falar igual a eles. Para piorar… meu corpo tinha aspectos de Diamante, meu cabelo crescia mais rápido do que de todos, demorava para parecer que realmente tinha 5 anos…

O Reino Diamante é igual uma lenda que um dia me falaram… era como elfos.

Mas isso não entrava ao certo na cabeça de Riche, logo ela anunciou que eu estava com uma doença… e na cabeça do povo assim surgiu a “maldição de diamante”.

Uma maldição que faz seu corpo parecer com de um elfo, isso aconteceria caso seu sangue fosse “sujo” com o de uma pessoa de Diamante. Isso por muito tempo foi tratado como uma doença, quer dizer… até os dias de hoje é assim. Uma doença que praticamente não tem cura… pois a invasão ao Reino Diamante não deixou um sobrevivente se quer.

Logo após isso eu fui tratada como uma criança especial, que estava sofrendo de uma doença que não tinha cura alguma… o que me deixava triste, nenhuma criança queria brincar comigo… e os adultos faziam de tudo para me tirar o mais rápido possível de todos os estabelecimentos… e a princesa? Ela estava fazendo coisas de princesa, nunca teve tempo pra mim… o que me deixava extremamente triste.

Eu estava sozinha e não tinha ninguém para conversar, naquele momento eu não sabia que não era uma doença… então… comecei a me culpar por ter aquilo, o que deixou Riche extremamente terrível… ela tentou me ajudar, mas o que ela fez acabou piorando totalmente a minha situação, na cabeça dela estava tudo bem anunciar essa doença, mas o povo interpretou totalmente errado e não tinha nada o que fazer… dali em diante… a pessoa chamada de Any estava quase sendo exilada pelo povo.

Todos se perguntavam como é que eu estava conseguindo entrar no castelo real, já que na visão dos guardas… eu não deveria estar lá, assim eu estava completamente exilada pelo povo. A única pessoa que verdadeiramente falava comigo e que constantemente se desculpava por tudo o que fez… era a rainha.

O rei? Eu realmente não sabia o que ele estava fazendo naquele momento, de tempos em tempos ele aparecia como se nada tivesse acontecido… mas da mesma forma que as outras pessoas, o rei não dava a mínima para o que estava acontecendo comigo… mas ele me culpava todo dia.

De acordo com ele era minha culpa que a rainha estava extremamente triste, ela não tinha culpa de nada. O rei nunca levantou a mão pra mim, mas ele lembre levantava sua voz… o que me deixava extremamente aterrorizada.

Os meses se passaram, e aquela infância que toda criança sonhava que era morar em um castelo, pra mim era uma realidade… mas não uma realidade boa, e sim algo terrível e que todos os dias poderiam ser piores.

A princesa, de mesma idade que a minha… não sabia o que estava acontecendo, e por conta disso ela nunca me viu chorar ou se encolher em um canto para pedir que tudo parasse. Na verdade ela sempre me viu normal, na minha cabeça infantil, eu não queria deixar tudo aquilo ser demonstrado para a princesa, porque diferente de todas as pessoas… eu realmente amava a princesa.

Mesmo que não nos falamos muito, ela ainda sim era extremamente gentil comigo e me tratava como uma irmã, aquilo acendeu uma chama no meu coração, eu não queria desistir, queria seguir em frente ao lado da princesa como sua irmã mais nova!

Mas todo esse sonho… acabou no exato momento em que ela me pegou chorando em um canto do meu quarto, pedindo para que as pessoas parassem com tudo o que estava acontecendo. Pra princesa aquilo foi um choque terrível…

Ela se aproxima e assim me abraça… as suas palavras que me foram ditas naquele dia… nunca vão sair da minha cabeça.

— Foi difícil… não? Mas pode ter calma, eu estou aqui com você!



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