Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 7 – Arco 3

Capítulo 65: Inexistente.

Nina



“Entendi.”

“Entendi tudo.”

“Matar pessoas é divertido.”

“É muito bom ver o sangue deles correndo por todo seu corpo enquanto morrem sentindo muita dor. Esses soldados que foram criados são inúteis, apenas são quantidades e mais nada, eles não chegam nem perto de mim e já morrem… talvez seja só continuar fazendo isso que uma hora ou outra tudo acaba.”

“Mas, em tudo que há algo bom, há algo ruim.”

“Escutar o pensamento dessas pessoas… é um sentimento terrível. Em toda minha vida nunca fui de escutar os pensamentos das pessoas, eu moro dentro deles, mas nunca parei pra ver e escutar o que está acontecendo à minha volta.”

“Por um momento… quase deixei de lado quem está dentro de mim.”

“Não posso deixar as coisas acontecerem assim, caso contrário perderei meu poder.”

“Só há uma forma de acabar com tudo isso, e é matando o real perigo dentre essas pessoas, o deus da destruição. Ele é exatamente como você disse, Riki… mas há um problema em tudo isso, ele está sabendo controlar o poder.”

“Se der certo uma fuga, irei dizer ao Riki o que esse garoto está planejando fazer… nas memórias dele são tão divertidas, chegam a me dar prazer só de escutá-las um pouco, mesmo que esteja indo contra o meu eu interior.”

“Vamos parar com isso, vamos começar… com a diversão!”

“Continuo matando o exército inteiro até Yukiro me enfrentar.”

“O campo de batalha se abre somente para nos observar, Yukiro estava trêmula e era perceptível o quanto estava com medo de algo terrível acontecer consigo mesma.”

“Espadas se colidem, o barulho de metal batendo é delicioso… já escutei milhares de vezes na minha vida… nunca me canso desse som, desse belíssimo som. Escutava também o som de passos se aproximando, cada passo ficava mais tenso que o anterior e isso me deixava aflita com uma coisa…”

“Uma pergunta entrava na minha mente enquanto essa luta continuava.”

“Quem está se aproximando?”

O sentimento de tensão é o mesmo quando Riki aparece na minha frente, a qualquer momento posso mudar os pensamentos dele, mas algo inverso invade a minha mente, como se ao fazer isso… tudo o que tinha planejado fosse embora logo em seguida.

“O medo, a ansiedade… ambos se juntavam em um sentimento só, o que é isso?”

“Jogo Yukiro pra longe com minha espada, e atentamente olho pra trás, lá estava esse deus da destruição se aproximando lentamente… todo machucado.”

— O QUE É ISSO? NÃO CONSEGUE MAIS ANDAR?

“Risadas começam a voar pelo ar. Tentei atacar o Hideki algumas vezes, porém todos os ataques são parados por uma barreira que havia se criado em volta dele. Não era isso… alguém estava protegendo essa pessoa. Lentamente se aproximava como se nada estivesse acontecendo, como se tudo fosse uma plena mentira.”

“Aponto minha espada em direção a ele, mas ao ver aquele olhar… aquele maldito olhar.”

“Seus olhos da cor roxa me fitaram com tanto ódio que era possível sentir o ar ficar mais pesado. Um sorriso se abre em meu rosto, era possível sentir essa expressão… essa deliciosa expressão.”

“Meus ataques eram bloqueados até apontar a espada diretamente a ele.”

“Minha lâmina aos poucos estava sumindo mesmo sem o Hideki ter tocado nela, a aura que se criava em volta dele era assustadora, talvez isso fosse o sentimento que ele queria passar apenas com o olhar…”

É a mesma coisa do Riki, o mesmo sentimento, o mesmo momento, a mesma forma… isso chega ao ponto de ser assustador… é como o ditado diz:

“Tal pai. Tal filho.”

“Maki surgia de trás dele, tentando me atacar com tudo, sua espada atravessa a minha mão direita que rapidamente é curada de forma falha, até mesmo a minha cura estava atrasada… o que está acontecendo? Any logo vinha de trás, fincando sua espada na minha mão esquerda, que também atrasa a minha cura.”

“Não conseguia me defender de nada, era tudo extremamente rápido, chegava no ponto de ficar parada apenas recebendo ataques.”

“O que importava pra mim estava na minha frente, onde meus olhos estavam fixados… no Hideki.”

“Enquanto se aproximava lentamente com um olhar de ódio, um sorriso se abria em seu rosto, quase igual ao meu.”

— Então… somos iguais.

“Fiquei falando sozinha como se ninguém estivesse me escutando, quando percebi… até mesmo o chão tinha deixado de existir, tudo estava deixando de existir.”

— Mesmo que tente me botar medo, isso nunca… NUNCA IRÁ ACONTECER.

“Eu consigo controlar todos meus sentimentos, é muito fácil simplesmente deixar de ter medo, é muito fácil…”

“Mas por que eu não consigo?”

“Medo era a única coisa que me deixava travada, e não conseguia pensar ou fazer outra coisa sem ter haver com o Hideki, era como se ele tivesse entrado na minha mente, os pensamentos das pessoas invadiam minha cabeça, até mesmo do exército que aos poucos também deixava de existir, era como se literalmente tudo estivesse sendo apagado.”

“Uma pequena voz estava no fundo de tudo isso, eu não conseguia ouvi-la, mas entendia que não era boa pra mim, como se tudo estivesse planejado desde o início.”

“Percebi enquanto ele se aproximava, Hideki… tinha me travado em um plano dele.”

“Em um plano na minha cabeça.”

O que?

Um pensamento avoado me acorda e percebo na situação que estou.

As garotas conseguiram me esquartejar inteiramente… minha cura nem ao menos conseguia fazer meu corpo voltar, já que ao acontecer… o mesmo membro era cortado novamente, não tinha como isso acontecer…

Droga, eu tenho que achar uma forma de sair daqui, tenho que achar uma forma de contar ao Riki o quão poderoso esse garoto se tornou…

— Conte. — disse Hideki enquanto estava em cima do meu corpo caído no chão.

— O que?

— Conte a ele… que estou me aproximando, e que irei fazer a minha vingança.

Hideki enfia a mão com tudo no buraco negro que estava no meu peito, ele se aproxima do meu ouvido.

— Conte a ele que… estou chegando.

— Não tem como…

— Grite, vai… grite por socorro. Antes de te deletar desse mundo, eu irei deixar você fazer um último desejo… e é um pedido de socorro. Quero que grite, peça por misericórdia, grite com toda sua garganta que estou me aproximando… nem que tenha de matar todos os deuses.

Vejo o garoto que estava na minha frente, um homem sem misericórdia de seus inimigos, que apenas parecia inocente, uma pessoa frágil, mas que na verdade era alguém totalmente diferente disso, seu olhar amedrontador estaria na minha mente… mesmo na vida após a morte.

— Mesmo que eu grite… ninguém irá ouvir.

— Ainda bem que sabe o que está fazendo. Isso me poupa muito tempo… deusa inútil.

“Deusa inútil.”

Esse era meu apelido que foi dado pelo Riki, de acordo com ele mesmo… foi dado pois eu nem conseguia usar o poder ao meu favor, em nenhum momento consegui mudar as memórias de uma pessoa, pois isso era demais até mesmo pra mim.

O plano dele havia dado certo, e percebi isso a partir do momento que fui tocada por alguém e não consegui mudar os pensamentos da pessoa, Hideki tinha me guiado… da mesma forma que o pai dele consegue guiá-lo.

As pessoas irão sentir a mesma coisa que estou sentindo, esse sentimento de tristeza por ter sido enganada por alguém que chegou a pouco tempo.

Ninguém nesse mundo poderá descrever o quão frustrante esse sentimento é. Posso dizer isso com todas as palavras.

“Então é isso, né? Hideki Hirai. Eu caí direitinho nesse seu plano, qual será a próxima coisa que irá fazer? Me deletar? Será uma grande honra deixar de existir.”

Meus pensamentos voltavam ao normal do nada, algo que eu não conseguia explicar, pois agora eu pensava somente em uma coisa. Somente uma pequena coisa estava na minha mente.

Entendi que naquele momento… estava morta, mais do que isso, estava completamente destruída, completamente… inexistente.

Então é isso que você pediu para me cuidar, Riki, entendia melhor do que qualquer pessoa que seu filho é um perigo imenso… entendi agora… logo no final de tudo… entendi.

— Então… você me pegou direitinho nesse seu plano… deus da destruição.

Seu cabelo tampava seus olhos nesse momento, então não conseguia olhar diretamente para expressão que seu rosto fazia, mas só de observar um sorriso psicopata em seu rosto já era perceptível o que estava acontecendo.

Hideki conseguiu completar seu plano e estava extremamente feliz por isso, mais do que isso, de sentir extremamente realizado em saber o que estava acontecendo.

— Diga adeus… Nina.

— Nunca.

Um pequeno barulho sai de sua boca e assim…

Em menos de um piscar de olhos… já não estava mais na frente de Hideki.

Já não estava mais entre paredes brancas.

Já não estava mais com medo.

Nem ansiedade.

O que eu estava pensando mesmo?

As vozes pararam por um momento, não… qualquer barulho parou, nem mesmo a minha respiração escutei. Nem mesmo… as letras estavam fazendo sentido.

O que estou pensando? Por que é como se algo estivesse me formando?

Nada mais existia.

O que é existir na verdade? O que é não existir? Isso existe? O que existe?

Muitas coisas foram jogadas a um ar que não existia, muitos pensamentos foram travados em uma mente que não estava mais lá.

As paredes brancas se transformaram em pretas, e até mesmo o preto não existia.

O que parecia ter fim, agora não tinha mais.

Pelo menos, em meio a tudo isso, eu deixei de escutar os pensamentos avulsos que me impediram de lutar contra eles, será que agora eu posso correr até o Riki e dizer o que estava acontecendo?

Na minha mente eu fugi, mas pra onde eu fugi? Será que estou em um lugar muito escuro? Nem mesmo sei dizer.

Espada não existia, o mundo que era colorido, se transformou em preto e branco e logo em seguida nem mesmo essas cores existiam.

Não sabia se estava indo pra frente, pra trás, pros lados. Se estava caindo, subindo, não tinha noção.

A minha voz não existia, e até mesmo a voz que escrevia meus pensamentos estava sumindo.

Eu acho que acabei de entender o que está acontecendo, então esse é o poder do filho de um deus… o poder do deus da destruição. O poder que pode fazer qualquer coisa simplesmente deixar de existir, entendi então o que ele fez.

Dominou toda a minha mente e simplesmente me matou, sabia a minha fraqueza e fez com que tudo isso fosse apenas um jogo pra ele, pois sabia o fim de tudo isso.

Sabia o fim da luta e sabia a melhor forma de me derrotar.

Talvez eu poderia falar com toda e qualquer prioridade nesse mundo, se é que ele existe ainda.

— Você… realmente é forte.

Minhas últimas palavras foram jogadas ao inexistente, e aos poucos, pernas, braços, estômago, tudo… simplesmente deixou de existir.

Sentimentos já não eram o mesmo, haviam se transformado em letras que estavam jogadas pelo inexistente, que até mesmo elas deixaram de existir.

Diga adeus, né? Eu acho que é a hora certa para falar essa linda palavra que todos queriam ouvir de uma pessoa que nem ao menos fez um mal ao mundo.

Nem o bem, nem o mal, nada existia.

O sentido parou de existir também, então a confusão estava vindo, mesmo que nem ela existia, letras e mais letras e mais palavras, as coisas se formavam, por mais que não existiam. Cair nesse poder é terrível, já que nem ao menos irei conseguir dizer o que queria falar a uma pessoa, já que nem mesmo essa pessoa existe.

Bem, acho que a minha hora chegou, talvez no pior momento de todos, no momento em que queria falar mais. Talvez nem aguente alguns segundos…

“Se alguém em algum lugar estiver escutando esses pensamentos inexistentes, poderia me fazer um favor, um favor bem curto, mas que iria salvar todos do planeta terra, e talvez todos do universo inteiro. Derrotem Hideki Hirai, não permitam que um ser vivo que é tão poderoso exista. Façam o poder dele voltar e fazer até mesmo esse deus deixar de existir.”

Acho que é isso.

Adeus…

 



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