Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 7 – Arco 3

Capítulo 69: A primeira estrela.

Shiori



Talvez a melhor forma de explicar onde estou… é em um deserto. Um lugar recheado de areia com um céu extremamente estrelado. O barulho do vento passava apenas uma coisa… a solidão.

Sentia que deveria ficar andando por aquele lugar, sem rumo algum… alguém em um ponto específico do deserto está me esperando, e eu sabia disso, por isso… corri, sem um limite na minha estamina, sem um rumo nem nada, apenas saí correndo sem parar.

O céu estrelado me dava uma sensação fria, como se apenas eu estivesse por ali. Por um tempo entendi que era verdade, mas mesmo assim uma pequena esperança existia no meu coração… ela dizia que havia em algum lugar desse imenso deserto, alguém que estivesse me esperando.

Um caminho solitário, passava por pequenos rios, pequenas montanhas de areia… até chegar perto de uma floresta. A transição era gigante e dava para perceber de longe que havia uma floresta perto de um deserto, havia um rio no meio, mas ele estava quieto, não tinha como passar para o outro lado sem um barco… apenas nadando era terrível, ainda que…

Eu não sei nadar.

Coloquei minha mão na água e ela estava gelada, não o suficiente para me congelar de vez, mas ainda sim era confortável. Duas paredes de fogo surgem no rio, criando uma passagem pra mim, do outro lado… estava a minha mãe. Sem pensar duas vezes corro em sua direção.

Ela estava cada vez mais se afastando de mim, corria e pulava pelas árvores, eu tentava acompanhar mas era muito difícil… até chegarmos em um penhasco… Solveig pula sem pensar duas vezes. Com um nó na garganta… eu também pulei.

A sensação de estar caindo era surreal, como se todos os meus problemas estivessem atrás de mim, mas não conseguem me alcançar. Caímos até passar por nuvens até ver uma paisagem extremamente linda, uma floresta de ponta cabeça acima de mim, e abaixo de mim… outra floresta, mas extremamente bonita e colorida.

Solveig olha pra mim e sorri como se estivesse extremamente livre… aos poucos ela se afastava cada vez mais e mais e não tinha uma forma de me aproximar. Gritei… mas nada acontecia, não havia uma forma de fazê-la parar no ar, não tinha como fazê-la encostar em mim. Na verdade é como se ela nem quisesse que isso acontecesse.

É como se… estivesse se afastando porque quer.

Sua boca se mexe falando uma coisa…

— Adeus.

E com isso… todas as florestas somem, as nuvens, o céu… tudo apenas some.

Apenas uma sala preta.

E lentamente me ajoelho. Um tablet aparece na minha frente juntamente com uma caneta, o tablet liga e um aplicativo automaticamente abre, como se fosse um vídeo.

Um botão de play aparece na tela e clico rapidamente, o ambiente se torna… o vídeo.

— Há muito tempo atrás… uma mulher nasceu nesse mundo.

A voz era de Solveig.

— Uma criança sempre animada e que tornava a vida de todos uma flor desabrochando de tanta felicidade. Seu nome era… Solveig. Todos viam o quanto ela era feliz e o quanto estava ali com todos, mesmo sem entender os problemas do mundo, a garota ainda sim tentava animar todos.

Tudo se transforma em uma casa, um orfanato…

— Até que um certo dia… tudo de pior aconteceu. A mãe adotiva dela, Akumo, havia enlouquecido… e assim abandonado todos.

Akumo? A deusa da escuridão era a mãe adotiva de Solveig?

— Essa é uma história que você apenas irá entender se acreditar, então… caso queira saber a verdade, ela estará na sua frente, basta você dizer se ela será ou não essa tal verdade que sempre procura.

Uma história…

— Suas memórias estão de volta, e apenas você será capaz de entendê-las, nem mesmo eu que sou sua mãe consigo entender o que está acontecendo aqui.

Hideki então… conseguiu derrotar a Nina, e por conta disso as memórias voltaram…

Pelo menos é isso que consigo pensar, então agora… o que eu estava procurando finalmente está na minha frente, mas por que? Por que estou com tanto medo de descobrir tudo o que aconteceu? Quero entender o motivo da minha mãe sumir, ela me deixar para trás e seguir sua vida.

“Existe uma “pessoa” que talvez possa te explicar tudo. Não sou eu, até porque não tem como. Mas… provavelmente já disse o nome dela. Nina. Ela é a deusa das memórias e tudo que é sobre o passado entre qualquer coisa do tipo, ela poderá te responder. Com ela… você pode descobrir o seu passado e entender o que está acontecendo. Assim quem sabe… você poderá acreditar nas coisas.”

Era isso que você queria que acontecesse? Que finalmente visse as minhas memórias e descobrisse tudo…

“Talvez seja melhor você ver a verdade com os próprios olhos do que alguém te falar isso, e a Nina poderá ajudar.”

Tudo o que ela fez foi tentar me matar e me humilhar com minhas próprias memórias… não sei se consigo diretamente acreditar nisso.

“Enfim, quando você descobrir a verdade, entenderá todos os motivos necessários sobre o que aconteceu, ou sobre o que vai acontecer.”

Sobre o que vai acontecer, certo?... Então aqui descobrirei tudo e entenderei todos os motivos de você ter feito isso. Será que realmente vale a pena sacrificar tudo agora para entender os seus motivos?

“Entendo o seu desejo de querer que eu te fale toda a verdade, mas infelizmente… não era possível. Eu não iria conseguir botar na sua mente tudo o que seria verdade, já que você é igual a mim. Seu coração fala mais forte que você, e por conta disso… tenho certeza que não iria acreditar em nada que envolvesse o Hideki.”

Ainda penso diariamente no que o Hideki poderia ter feito.

O tablet estava na minha frente e uma notificação apita perguntando se realmente queria ver a verdade. Meu coração palpita mais forte e todos os meus medos ficam à vista, era como se caso clicasse neste botão… tudo iria ficar claro o suficiente para desistir da minha própria vida.

Mas a real pergunta é… meu motivo de vida não é descobrir tudo isso?

Clico no botão de play novamente e.

— Tudo começa a muito tempo atrás, onde uma estrela deu a luz a outra estrela. Solveig nasceu e logo foi abandonada pela sua mãe, jogada em meio a lama e chuva… enquanto estava chorando muito alto, Akumo, uma ser humana comum até então… 

Está tudo bem, se acalme… Disse Akumo.

A criança apenas se acalmou quando a chuva parou e o sol se mostrou em meio às nuvens, sem uma mãe, nem ninguém para cuidar de si… Akumo pegou a criança e a cuidou como se fosse sua própria filha.

Entendi… então você só para de chorar caso o sol esteja a sua vista… sendo assim, o seu nome será Solveig! Exclamou Akumo.

Akumo, uma pessoa normal até então… adotou a minha mãe e cuidou dela… como se fosse sua própria filha…

— A visão que as pessoas têm umas das outras apenas se torna o que é por sua primeira impressão, mas… olha com cuidado o que aconteceu no passado, assim tudo poderá mudar.

O cenário mudou para uma mansão.

— A casa de Akumo era gigantesca e com isso ela chega e decide que era hora de ajudar as pessoas que precisavam, Akumo queria virar mãe… mas não de só uma criança, Akumo tinha o lindo sonho de ajudar crianças na rua, adotando-as e criando um orfanato.

Mas como… como ela ficou desse jeito que é hoje?

— Porém… tudo piorou em um dia… No ano que Solveig completa 6 anos.

Uma rua aparece na minha frente, e nela tinha Akumo com uma faca apontada para uma mulher toda escura.

— Essa é… a deusa da escuridão. E na frente dela estava Akumo com uma faca… mas como chegamos a isso? Akumo queria criar um orfanato para ajudar as crianças a serem livres… mas existia uma que não poderia ser livre, Solveig.

Minha mãe… não podia ser livre?

— A filha de uma deusa teria que ser sacrificada para não existir vestígios de que um dia o poder do sol poderia passar para outra pessoa. Por conta disso… Solveig tinha que morrer, por isso chegamos nisso, Akumo não queria entregar a sua filha.

— Akumo, desista.

— NUNCA! Vocês abandonaram a criança e agora querem matá-la? E a vida que tem pela frente?

— Isso… ela não pode existir.

— Ha! Só por que é filha da Taiyo?

— Sim, só por conta disso mesmo.

— Entendi… uma criança que não pediu para nascer, que não escolheu os pais, têm que sofrer as consequências de uma mãe que não sabe se controlar…

— Akumo, chega. Entregue a Solveig.

— NÃO! Pode me matar, torturar ou qualquer coisa… eu nunca vou te entregar a Solveig.

— Uma luta iria acontecer, mas Akumo tinha uma carta na manga que usaria contra qualquer um…a faca que estava segurando não era uma qualquer… e sim um pedaço de diamante com o sangue de Deus.

— Por que… estou vendo tudo isso?

Na minha cabeça não tinha motivo para escutar toda a história da minha mãe. Não era isso que eu queria, apenas queria vê-la novamente e entender o meu passado.

— Assim como você… eu também queria conhecer a minha mãe, ainda que… as memórias de todas as deusas do sol estão com você agora, por conta disso… verá o que aconteceu comigo, somente assim irá entender o que aconteceu com você…

— …

— Akumo sem pensar duas vezes, corre em direção a deusa e finca sua faca com tudo nela, parecia um pequeno arranhão, mas na verdade era muito mais do que isso. O sangue de Deus não era compatível com nenhum corpo, por isso qualquer um que recebesse isso… morreria instantaneamente.

A deusa da escuridão tinha explodido em sangue até ver um pedaço dela jogado no chão.

— Isso é… o sangue de Deus?... Como… como conseguiu isso?

— Não importa agora, me dê o seu poder… porque é minha hora de vingar a minha filha.

— Hm, acha mesmo que irá conseguir matar todos os deuses?

— Não acho, tenho certeza. Todos vão sofrer, um por um… até não sobrar nada mais.

Akumo pega o coração da deusa e come como se fosse nada.

— Isso é tão… tão saboroso… o poder de um deusa está nas minhas mãos, e agora eu irei… conseguir vingar todos aqueles que morreram nas suas mãos… Riki, Riko.

Asas escuras nascem nas costas de Akumo, a tornando um anjo caído.

— Agora… a minha vingança vai começar.

— Eu sabia que Akumo estava aprontando alguma coisa, mas como uma criança apenas queria brincar, na minha cabeça… a minha mãe biológica era claramente Akumo, mesmo que não tínhamos nada em comum. Aos poucos tudo isso foi piorando, até porque… o corpo de Akumo não aguentava o poder da deusa da escuridão.

— Não aguentava?

— Não. O corpo dela era extremamente fraco, mal conseguia levantar um bebe nos braços, o poder era tanto que chegava ao ponto dela vomitar quase todo o sangue… por isso sua pele é extremamente branca. As cenas que eu via no banheiro enquanto era uma criança chegava a me assustar mais do que qualquer coisa.

— Ela… estava morrendo?

— Sim, aos poucos… Akumo estava morrendo.

— Mas…

— Com isso ela decide criar seu orfanato e transportar crianças que foram abandonadas para lá, um lugar incrível e que sempre estaria vivo… pelo menos é assim que as crianças estavam observando.

— …

— No topo de uma montanha que ficava ao lado de uma cidade, o orfanato foi criado… e lá eu recebi o poder da deusa do sol. Taiyo… morreu em um campo de batalha.

— E o poder foi diretamente a você?

— Sim, lembra do que foi dito pela Akumo? A filha de uma deusa teria que ser sacrificada para não existir vestígios de que um dia o poder do sol poderia passar para outra pessoa.

— Então com a morte da Taiyo…

— Sim, eu recebi o poder diretamente, os deuses achavam que eu já estava morta, mas na verdade estava viva e era apenas uma criança tentando viver uma vida normal. Mas esse poder veio em minha direção.

— E o que aconteceu com você… mamãe?

— Akumo me ajudou com tudo e disse que iria me proteger independente do que fosse acontecer. Até chegar… aquele maldito dia.

— Maldito… dia?

— Sim, o dia em que o poder dominou a mente de Akumo, Nesse momento ela pediu para que nós três fugíssemos. Eu… Saionara… e Alysci.

— Espera, esses nomes…

— Sim, a diretora e vice-diretora da academia que você foi estudar.

— Espera, elas eram suas irmãs?

— Sim…

— Um tempo depois eu fui sequestrada pela Mier e o Krig, fui testada milhares e milhares de vezes por eles apenas para entender como o sol funciona dentro de mim… no meio desses testes que duraram anos… eu tive você. Sim… você na verdade é filha de três pessoas ao mesmo tempo.

— Todos esses testes começaram…

— Quando eu completei 20 anos, é quando o sol finalmente nasce dentro de você.

— …

— Bem, agora finalmente… podemos começar a contar um pouco a sua história.



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