Arco 2

Capítulo 36

— Ah! Então é ele! — exclamou um dos três que acompanhavam Bae Jaemin. Era um sujeito enorme, com pelo menos 2 metros de altura, que sorriu para mim.

Ele era o cara que parecia um guarda-costas enquanto acompanhava Bae Jaemin na escada rolante. Visto de frente, ele possuía uma cicatriz que atravessava diagonalmente seu rosto. Apesar do sorriso educado, a cicatriz conferia-lhe uma aparência sangrenta e áspera.

Eu não acho que ele poderia ser um guarda-costas profissional com um rosto desses… Presumi que ele fosse um amigo de Bae Jaemin ou, quem sabe, um membro da recém-formada guilda "Hahae". Ele também aparentava ser um Guerreiro.

— Qual é a sua relação com o nosso guildmaster-nim? — perguntou friamente um homem à esquerda, que tinha cabelo verde estilo bob e usava óculos redondos, concedendo-lhe uma aparência intelectual.

Enquanto ele me avaliava com o olhar, senti uma estranha animosidade que me era difícil compreender. Nossos olhares se cruzaram por um breve momento, mas seu olhar era mais frio do que aqueles que recebi dos grupos de expedições ao descobrirem que eu era um Necromante… Por que estou me sentindo tão desconfortável com o seu sorriso reluzente…?

— …Não esperava te encontrar de novo. Mas, pensando bem, o Hub é realmente pequeno. — disse a mulher que eu havia encontrado ontem, por fim. Não tinha certeza se suas palavras carregavam sarcasmo ou ternura, e tudo o que pude fazer foi permanecer em silêncio.

No mínimo, todos os três pareciam ser relacionados ao Bae Jaemin. Um deles não acabou se referir a ele como seu guildmaster? Talvez todos os três fossem parte de sua nova guilda… Apesar de saber que meu comportamento era indelicado, continuei fingindo demência, temendo ansiosamente dar um passo em falso.

— Se você vendeu Barnázios em massa, então deve ter participado de uma raid na dungeon <Segunda Companhia> para farmar os ingredientes. Isso implica que você deve ser um ranqueado de classe alta… Está realmente dizendo que não nos conhecemos antes? — argumentou Bae Jaemin com um sorriso, apesar de tudo.

Ele falava como se fosse inevitável que ranqueados de classe alta tivessem, de alguma forma, algum tipo de contato com ele.

Se bem que considerando seu status, provavelmente era verdade. Desesperadamente, tentei encontrar uma forma de reverter suas perguntas contra ele; percebi minhas mãos trêmulas e as segurei.

Seo Dawon, que estava batendo gentilmente nos meus ombros como se estivesse tocando um teclado, sussurrou em meu ouvido: 

— Vamos simplesmente dizer que eles eram de um amigo.

— …Não eram meus, um amigo os conseguiu — respondi cuidadosamente.

— É mesmo? E quem seria esse amigo? — indagou Bae Jaemin.

— Pergunta para ele por que você estaria vendendo os bens como intermediário — sugeriu Seo Dawon.

— …Por que eu estaria agindo como um intermediário?

— Não pode revelar quem é?

Não respondi com palavras — dei uma risada desconfortável. Os outros três ao nosso redor adotaram expressões estranhas, mas Bae Jaemin manteve o sorriso.

— Você tem outro estoque para venda em massa? Eu também estava atrás de mais Barnázios e fiquei desapontado ao saber que já tinham acabado.

— Não.

— Você não está me excluindo de propósito, certo?

Hesitei por um instante, incapaz de encontrar as palavras. Ele havia, inesperadamente, acertado em cheio.

Ao ver minha expressão, Bae Jaemin riu com falsa empatia. 

— Ah, por que está sendo tão cruel comigo? Tem certeza de que não vai me dar seu número? — Persistiu ele implacavelmente, mantendo seu foco no objetivo inicial.

— Bae Jaemin, você o seguiu até aqui só para conseguir o número dele? — questionou, incrédulo, o homem com a cicatriz no rosto, alternando seu olhar entre mim e Bae Jaemin enquanto ouvia nossa conversa.

— Sim, mas como pode ver… continuo sendo rejeitado.

Após essas palavras, percebi uma intensificação na aura sanguinária emanando do homem de cabelos verdes. Seo Dawon, igualmente sensível à hostilidade palpável no ar, observou: 

— Acho que Bae Jaemin disse isso deliberadamente. Parece que eles estão prestes a te esfaquear.

Aquele homem de cabelo verde é o servo de Bae Jaemin ou algo do tipo? Que tipo de reação é essa quando eu só rejeitei o seu guildmaster…

— [Clack clack clack!!]

Lackey, o eterno guardião dos meus sentimentos, tentou avançar furiosamente contra o homem hostil.

— De qualquer modo, o ID de contato dele está disponível no Bazar de Batalha. — interveio a mulher tatuada, felizmente aliviando a atmosfera tensa.

— Sim. As vendas são realizadas exclusivamente por meio desse aplicativo — afirmei.

No entanto, Bae Jaemin expressou sua atenção indesejada até o último momento.

— Então, espero obter seu contato pessoal depois de nos tornarmos mais íntimos —  Ele então pegou sua carteira e tirou um cartão de contato branco.

Eu realmente não queria aceitar o cartão, mas senti que recusar esse gesto social poderia me colocar em uma situação ainda mais desconfortável. Resignado, estendi a mão enquanto Bae Jaemin me entregava outro cartão de contato, desta vez em um tom azulado.

Que isso? Pensei, mas, cautelosamente, preferi ficar em silêncio.

— O Azul é o contato da guilda “HaHae”, enquanto o branco é o meu contato pessoal.

Seo Dawon não conseguiu reprimir uma risada, deixando escapar um som abafado atrás de mim.

— Ah… sim — respondi sucintamente, apressando-me em enfiar os cartões detestáveis no bolso. Sério, se eu contatar a guilda “HaHae”, não vou estar automaticamente te contatando também? Qual o ponto de me dar dois números diferentes? Será que ele só gosta de se exibir…?

— Se precisar de ajuda com algo, por favor, me avise. Mas não se sinta pressionado. — acrescentou Bae Jaemin.

Depois de ser tão insistente, não creio que ele se atreveria a falar sobre pressão… Ainda sim, ofereci meus cumprimentos educados, embora sem muita convicção.

— Ok, Ok, obrigado~ Vou indo agora. — E corri para o elevador. Minhas costas estavam grampeadas por 4 olhares insistentes, mas não os vi mais de dentro do elevador.

— O Bae Jaemin era gay? — murmurou Seo Dawon, enquanto saíamos do elevador.

— Hã? Por quê? O que te faz pensar isso? — exclamei, sem perceber o quão alto minha voz saiu até que um transeunte me lançou um olhar estranho e se afastou descaradamente de mim.

Droga… será que deixei transparecer demais o meu nervosismo? Felizmente, Seo Dawon preferiu ignorar minha exclamação, passando por cima da minha explosão só com um olhar questionador. 

— Ele estava sendo meloso para caramba. — continuou ele.

— …Hmm. Acho que sim? Eu presumi que ele estivesse apenas sendo pretensioso.

— Normalmente, não ofereço meu contato pessoal a garotos, os encorajando a entrar em contato sempre que precisarem.

— Ahh…

Inicialmente, eu tinha pensado o mesmo… mas a pessoa em questão é Bae Jaemin! Nosso encontro não ocorreu em circunstâncias normais e eu já estava ciente de sua profunda traição à guilda Yeonhong. Sinceramente, não sentia nada além de medo em relação a ele.

Provavelmente, ele acreditava que eu poderia ser útil de alguma forma…

…Seo Dawon passou o braço pelos meus ombros e se aproximou, como se fosse revelar algum tipo de segredo nacional. 

— Ei, talvez você não saiba, mas existem muitos pervertidos entre os ranqueados. É bom ficar esperto. — sussurrou.

— Quê?

— E, isso é só a minha opinião, mas… Bae Jaemin tem uma visão de mundo muito peculiar. Ele é o tipo de cara que fica excitado em costurar cascas de tangerina de volta.

Embora eu estivesse intrigado com a roupa suja que ele estava expondo, me questionava se ele não estaria apenas testando minha ingenuidade.¹

— Você também não é um ranqueado? — contra-ataquei, timidamente.

Seo Dawon arqueou as sobrancelhas para um público imaginário, como se dissesse “Estão vendo isso?”. Porém, ele se recuperou rapidamente e respondeu à provocação no mesmo tom: 

— Bem, seguindo essa lógica, acho que também sou um pervertido, mas… no fim das contas, todos sempre pedem por mais? — E aproximou-se ainda mais, com um sorriso malicioso.

— Sai fora! — A expressão dele fez com que eu sentisse arrepios percorrendo pelos meus braços e rapidamente escapei de suas mãos.

— Se o nosso Yikyung-ie está curioso, deveria me dar a ordem. Como seu servente, sou obrigado a obedecer qualquer comando — disse ele, com um suspiro dramático, completando a atuação impecável de um homem sem autonomia.

— Por que eu pediria uma coisa dessas de você?! — gritei.

 

* * *

 

Eventualmente, minha paciência se esgotou e soltei um grito de frustração. Embora a multidão me encarasse com perplexidade, minha agitação superou qualquer constrangimento que eu pudesse sentir.

Meu plano original era comprar tudo o que precisava nesta saída, mas, por causa de vários eventos, fui atrasado. Restavam poucas horas preciosas antes dos negócios fecharem… além do mais, eu estava faminto. Decidi, então, voltar para casa. Poderia retornar amanhã para comprar os suprimentos ou simplesmente fazer o pedido online.

Pensei em comer fora, mas queria evitar o desconforto de comer enquanto Seo Dawon sentava e me observava sem nada melhor para fazer. (Embora os outros não conseguissem ver o homem, não é como se eu pudesse facilmente ignorar sua presença.)

No fogão a gás, preparei os ovos mexidos. Seo Dawon, esse idiota, impassível durante todo o processo, mal esperou que eu terminasse para vim para cima uma colher e hashis.

— Posso provar um pouco? — pediu.

— Você pode comer?

— Quero tentar — disse, levando uma colherada de ovos mexidos à boca.

Mentira…

Ele consegue comer?

No entanto, logo em seguida, ele fez uma careta e cuspiu os ovos em um papel toalha.

— Como esperado, não dá?

— Não tem gosto de nada…

— Ei!!

— Brincadeira. Estava delicioso, mas eu não consigo engolir. Uma pena.

Ainda sim, parecia que ele ao menos conseguia sentir o sabor da comida… De repente, senti pena dele. Peguei uma tigela, coloquei um pouco de arroz e alguns acompanhamentos² e coloquei na frente dele.

— Então, o máximo que posso fazer é experimentar? — indagou, fitando a comida com um sorriso amargo.

— Não queria comer sozinho. É suficiente se você fingir que está comendo. — declarei, complementando de forma direta e intencional: — É uma ordem.

— Obrigado — disse ele com uma voz rica e clara, acompanhado de um sorriso direcionado a mim. Assim, desfrutamos de um jantar esquisito, porém acolhedor.

Lackey também não possuía o necessário para engolir, mas ele também fingiu participar da refeição. O esqueleto servente estava ao meu lado, e eu lhe ofereci alguns pedaços de arroz enrolados em nori. Enquanto o observava mastigar com entusiasmo, senti-me culpado por ter obrigado a [Morder] o tempo todo sem nenhuma recompensa.

Perdão, Lackey.

 

*Ding Dong*

 

Enquanto terminávamos de comer, a campainha tocou.

Não tinha ninguém que costumava me visitar sem aviso a essa hora da noite. Caminhei até a porta, me perguntando se podia ser Bae Jaemin.

Seo Dawon já estava dois passos adiante de mim, com as mãos envoltas em uma luz dourada, prontas para lançar feitiços se necessário.

— Quem é? — chamei, nervoso, o visitante misterioso do outro lado da porta.

— Sou eu, Kim Sangyoon.

Escutei uma voz inesperada vinda do outro lado da porta.

 


Notas:

1 – A expressão utilizada aqui se traduz literalmente como "Cuspir na sua cara", que, em essência, significa zombar ou provocar alguém com informações absurdas.

2 – Os acompanhamentos coreanos, conhecidos como banchan, são essenciais em qualquer refeição, sendo comum encontrar de 3 a 8 pratos complementando o prato principal.

 

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