Volume 1

Capítulo 15: Quase Cavaleiro…

A viagem seguiu o mesmo padrão da anterior: longas cavalgadas e horas de treinamento com espadas. Desta vez, porém, Lonios também ensinou Nimbus a lutar com facas e a usar o arco e flechas. 

Ficou claro, no entanto, que o garoto não tinha muito talento para combates à distância. Ele era um desastre na arquearia. 

Diante disso, o cavaleiro encerrou esse treino, e a prática de Nimbus passou a se concentrar na espada, com o arco sendo utilizado apenas esporadicamente. Lonios destacou que, se o garoto soubesse manejar bem uma espada, poderia se sair bem com outros tipos de lâminas e armas similares. 

Os guardas, que os acompanhavam, observavam o treinamento em silêncio. Faziam alguns comentários entre si em momentos oportunos, mas nunca se arriscavam a treinar junto. 

Quando o dia de cavalgada chegava ao fim, os soldados montavam seus pavilhões e acendiam a fogueira. Eles se deitavam para descansar ou ficavam de guarda, sob as ordens de Lonios. 

Não caçavam e nem se preocupavam em buscar alimentos. Consumiam apenas as provisões que haviam trazido, e, é claro, Lonios e Nimbus se uniam a eles, saboreando os pães, embutidos e carne seca de excelente qualidade que os soldados ofereciam. 

Nada mais justo, depois de assistir ao espetáculo de treinamento que os dois cavaleiros protagonizavam.

No entanto, os soldados não pareciam muito impressionados. Talvez estivessem acostumados a ver o treinamento de outros cavaleiros. 

Nimbus nunca saberia, pois, depois de quase duas semanas de viagem e treino, chegaram finalmente a Cameron. Era quase meio-dia, e o sol estava a pino. A cidade era a menor em que Nimbus já estivera, não muito maior que a favela Juramento. 

Embora tivesse muralhas como as de Aldair, elas não eram tão imponentes ou bem construídas. O castelo de Verão, apesar de luxuoso, não se comparava ao Palácio da Solidão, mas ainda assim possuía um charme simples e aconchegante. 

O castelo possuía três torres, sendo a do meio significativamente mais alta que as outras. As muralhas, por sua vez, eram quase tão altas quanto as da cidade.

Antes de chegarem ao local, Sãr Lonios fez um aviso a Nimbus.

— Nimbus, cavaleiros andarilhos não são muito bem-vistos entre outros cavaleiros. Eles nos consideram inferiores por não termos um senhor para nos dar ordens. Eles certamente me tratarão mal, e talvez sejam hostis com você também. Entende?

Nimbus assentiu.

— Tudo bem então, haja o que houver, não revide as provocações. Quero que me prometa isso.

— O senhor quer que eu fique quieto se me tratarem mal? É isso? — Nimbus perguntou, um pouco inconformado. Mesmo sendo tímido, ele sabia que era de cabeça quente e não conseguiria resistir a provocações.

— Sim, é uma ordem, Nimbus.

Nimbus consentiu de má vontade.

— Eu prometo não revidar perante as provocações! — Lonios corrigiu, exigindo que o garoto repetisse.

Nimbus, sem muito entusiasmo, repetiu as palavras do mestre.

— Muito bem, vamos indo então.

Quando se aproximaram do portão, algo diferente aconteceu. Desta vez, ele não se abriu antes de sua chegada, como havia acontecido na capital. Um homem no topo da muralha gritou:

— QUEM VEM LÁ?

— SÃR LONIOS, O ANDARILHO, ESTAMOS AQUI POR ORDEM DO GRANDE LÍDER.

O portão duplo, imenso, começou a se abrir lentamente, e dois guardas armados com lanças surgiram. 

Eles não usavam armaduras completas como as do guardas do Palácio da Solidão, parecendo meros soldados, talvez os mesmos que patrulhavam a cidade.

— Prove que você é um cavaleiro e que o Grande Líder o enviou — disse um dos guardas, batendo a lança no chão, ignorando os guardas do governo ao lado de Lonios.

— Aqui está — Sãr Lonios retirou uma carta de seu sobretudo e a entregou ao guarda. A carta estava selada com cera e o brasão do Governo estava claramente visível. O guarda a abriu e leu seu conteúdo. Após alguns momentos, fez uma reverência e falou:

— Seja bem-vindo a Forte Guarda, Sãr Lonios o Andarilho. — Ele fez um gesto com a mão indicando o caminho e, em seguida, correu com a carta em direção ao castelo.

Desceram dos cavalos e, como no Palácio do Grande Líder, dois garotos os conduziram até o estábulo. Os guardas acenaram com a cabeça e se retiraram, levando os cavalos para a sala da guarda.

Ao entrar, notaram que o local era bem diferente do Palácio da Solidão. O grande pátio ficava antes das portas duplas que limitavam a entrada do castelo. 

Havia algumas construções ao longo das muralhas, a maioria delas eram os aposentos dos guardas, estrebaria e um canil.

No pátio, Nimbus viu um garoto de aproximadamente sua idade lutando com três guardas ao mesmo tempo. O garoto tinha características típicas do povo de Cenferum: mais alto que Lonios, com olhos claros, nariz aquilino e cabelo castanho. 

Apesar da juventude, ele possuía um físico impressionante, com braços, pernas e peitoral bem definidos e desenvolvidos. 

Estava vestido com um camisão de Cota de Malha e carregava uma espada curta, além de um escudo redondo com duas reentrâncias em forma de meia lua, onde o garoto apoiava a espada e espiava os oponentes.

O garoto se movia com agilidade, alternando entre atacar os três guardas e se defender com facilidade usando o escudo. Em um movimento rápido, desarmou um guarda com um giro de espada. 

Percebendo que o guarda atrás dele havia baixado a guarda, ele bateu com o escudo no rosto do oponente, derrubando-o no chão. No instante seguinte, arremessou o escudo contra o último guarda, que tentou se defender. 

Quando o escudo o acertou, ele ricocheteou, mas o garoto o capturou no ar. Aproveitando a desorientação do guarda, apontou a espada para sua garganta, forçando-o a se render. A luta foi vencida com facilidade, sem sequer suar.

Ele então virou as costas e se dirigiu à entrada do castelo.

— Amanhã treinaremos novamente, espero que lutem melhor do que isso — disse ele, sem sequer olhar para os guardas derrotados.

Os guardas apenas se olharam e se retiraram para seus alojamentos junto à muralha do castelo. Nimbus observava, agora compreendendo por que os guardas que os acompanhavam não estavam surpresos com o treinamento dos dois. 

O que aquele garoto fizera parecia algo insano, e Nimbus se sentiu pequeno diante de tanta habilidade. Nesse momento, Lonios interrompeu seus pensamentos e cochichou:

— Sem dúvida, ele é um cavaleiro ou um escudeiro prestes a se tornar um. Quando você atingir esse nível, poderá se considerar um bom cavaleiro, Nimbus. — Lonios colocou uma mão no ombro do garoto. 

— Mas ainda há muito o que treinar para chegar a esse nível. Talvez mais alguns anos. O uso do escudo parece simples, mas exige muito treino, especialmente com lança ou espada curta.

⸸ ⸸‌ ⸸‌



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