Volume 1
Capítulo 20: Conversa entre amigos…
Lonios caminhou apressado pelos corredores, desejando espancar o primeiro que cruzasse seu caminho.
No entanto, se conteve. Após alguns minutos de ponderação, encontrou-se na torre de vigia. À sua frente, apenas o azul selvagem do mar.
O vigia ainda não havia assumido seu posto, pois estavam bem próximos da costa. Então Lonios se colocou no lugar do capitão e percebeu que ele estava certo.
Embora fosse convencido e arrogante, ele estava apenas cumprindo seu papel. Sãr Adon queria terminar logo essa missão e se aposentar.
Elisis, com seus dezessete anos, era pouco mais que uma adolescente e não tinha experiência para dar conselhos. E ninguém sabia quem ele realmente era; para todos, Lonios era apenas o Cavaleiro Andarilho.
Cavaleiros andarilhos não eram bem-vindos, muitos deles eram pouco mais que mercenários com um título, não confiáveis. O capitão, afinal, pensava estar sozinho nessa jornada.
Lonios permaneceu por alguns minutos diante do mar de éter que cercava a nave. A vastidão de branco e azul parecia infinita, e, naquele mar de tranquilidade, ele refletia sobre a missão.
A Peregrino estava ali, na vastidão do Éter, e não havia dúvida de que, com o Capitão e seus conselheiros, eles formavam uma equipe essencial para a jornada.
De repente, o som de passos interrompeu seus pensamentos. Alguém se aproximava, e, apesar de saber que não tinha nada a temer, a velha reação de alerta o fez se colocar em prontidão, reflexo de anos caminhando sozinho.
Da porta da torre, surgiu o rechonchudo Sãr Adon.
— Então, como foi a conversa com o capitão? — perguntou Adon.
— Do pior tipo possível — Lonios respondeu, mantendo a cabeça baixa.
— Já imaginava. O capitão é linha dura e quer o controle total da nave — disse Adon, com um suspiro.
— Pior do que isso. Ele nos acha incompetentes. Eu não sou confiável porque sou um cavaleiro "desempregado", você, porque está prestes a se aposentar, e Elisis, porque é muito jovem — Lonios explicou, frustrado.
— Já imaginava algo assim — Adon refletiu. Ele se aproximou da janela onde Lonios estava e olhou para o mar de éter, como o cavaleiro fizera antes. — Sobre mim, ele tem um pouco de razão. Você sabe quantas vezes já fiz essa travessia?
— Nem imagino — Lonios respondeu, se encostando na janela ao lado de Adon.
— Não sei dizer exatamente, já perdi a conta. Mas posso garantir que, desde que me tornei cavaleiro, passei mais tempo dentro de uma nave do que em terra firme.
— Já estou nisso há mais de cinquenta e cinco anos. Estou cansado, Sãr Lonios. Era para eu estar gozando da minha aposentadoria, com a minha família, vendo meus filhos, netos e bisnetos crescerem. — Adon abaixou a cabeça, e Lonios percebeu que ele quase sucumbiria às lágrimas, mas se manteve firme.
— Não, Sãr Adon, você vai voltar para a sua família. Eu sei disso — Lonios disse, com confiança.
Ele quase revelou quem era, mas, ao olhar para o velho cavaleiro, se segurou. A travessia seria cumprida, e Adon era o mais capacitado para isso. Mas as palavras não saíram.
Adon riu, visivelmente mais aliviado.
— Se você garante isso, então estou sossegado. De uma forma ou de outra, essa será minha última viagem, mas não estou aqui para falar sobre meus temores, Sãr Lonios — ele mudou sua expressão, parecendo mais leve.
— O que há de mais importante do que a conversa com o capitão, então? — Lonios perguntou, curioso.
— Vim aqui para lhe alertar sobre Elisis — disse Adon, com um tom sério. Lonios começou a se mover em direção à porta.
— Entendo que o senhor queira proteger a menina, ela é muito jovem para mim. Não se preocupe, não farei mal a ela. São só umas brincadeiras — Lonios tentou minimizar, mas Adon o interrompeu.
— Não, Sãr Lonios, o senhor não entendeu. Estou temendo por você. O senhor não conhece a natureza das amazonas.
— Elas têm missões diferentes das nossas. Enquanto nós lutamos com armas em guerras, elas lutam com astúcia e manipulação. Claro que elas são tão boas quanto os cavaleiros nos combates, mas suas missões envolvem espionagem e controle do inimigo.
— Entendo, Sãr Adon. Já conheci algumas amazonas. Sei que muitos países as eliminaram de suas fileiras por temerem que os governantes fossem manipulados.
— Já ouvi histórias de amazonas que, ao perceberem que a única forma de realmente proteger o país era tomar o controle, se casaram com os regentes e governaram através da manipulação. Vários países as aboliram por causa disso — Lonios explicou, ciente do perigo.
— Você conhece essas histórias? Já imaginava — Adon disse, aliviado. — Então tome cuidado com Elisis.
— Não creio que ela seja um problema. Ela é jovem ainda, provavelmente não desenvolveu todas as habilidades de uma amazona plena. Todos sabemos que um cavaleiro só se torna realmente bom com o tempo — Lonios ponderou.
— Engano seu, Sãr Lonios. O senhor não conhece como são treinadas as amazonas. Desde cedo, elas são treinadas para seduzir homens. Isso é o que fazem de melhor.
— Mas Elisis é diferente. Ela não foi treinada apenas para ser uma amazona; ela foi criada para um fim específico. Sua mãe, uma famosa amazona, estava tendo dificuldades para seduzir seus alvos devido à idade avançada.
— Ela planejou engravidar de Elisis, e, quando a menina tinha cerca de doze anos, ela já começou a desempenhar missões, disfarçada para parecer mais velha. Elisis já executa missões extremamente perigosas há mais de cinco anos.
— Ela é uma profissional, Sãr Lonios. E sua mãe, que costumava fazer missões de assassinato, pode ser a que mais matou entre todos os cavaleiros dessa nave.
“Isso, infelizmente, é o que você imagina, mas é uma pena que não seja verdade”, Lonios pensou enquanto observava Adon falar.
O que mais o surpreendeu, no entanto, foi o que o velho cavaleiro lhe dissera. Uma criança ser forçada a realizar tais missões não era algo saudável, afetava a saúde mental de qualquer um.
Mas Elisis parecia tão indefesa... Não seria possível alguém ser assim de propósito. Ou seria?
— Entendo, vou tomar cuidado com a Elisis — Lonios disse, tentando manter a compostura. — Mas vamos voltar para a nave, provavelmente já estão à nossa procura.
— Você não acreditou em mim, não é? — Adon o fitou em silêncio por alguns instantes.
— Mas, mesmo assim, tome cuidado. Se você deixar, ela pode ser muito perigosa e, sem sequer perceber, você poderá estar fazendo tudo o que ela quiser. Elas são treinadas para isso. É a natureza delas, e Elisis é a melhor nesse jogo.
Lonios não respondeu, apenas se manteve quieto. Com um suspiro, ele se virou e seguiu em direção à saída da torre de observação, com o velho cavaleiro logo atrás dele. Juntos, voltaram para a nave e para os seus afazeres.
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