Volume 1
Capítulo 46: O Motim…
O impacto foi tão forte que o velho caiu desacordado, seu corpo rechonchudo esparramado no chão da ponte. Todos ficaram em silêncio, observando o capitão imóvel, até que Adon declarou:
— A partir de agora, eu assumo o comando da ponte. Alguma objeção?
Ninguém respondeu. Os olhares deixaram o capitão desmaiado e voltaram-se para os afazeres.
Um clima de alívio quase palpável tomou conta do ambiente; parecia que todos ali estavam cansados das excentricidades e insultos do capitão.
— Muito bem, ignorem os piratas. Vamos em direção à Peregrino. E prendam o capitão em seus aposentos.
Tenente Ka acenou afirmativamente e traçou um curso ascendente. A nave pirata, contudo, começou a disparar com seus canhões.
Os projéteis acertavam a fuselagem da Brand, mas a tripulação ignorou os danos. Salvar a Peregrino, a nave mais moderna de Cenferum, era prioridade, mesmo que isso significasse sacrificar a Brand.
Os piratas, entretanto, não eram apenas bem armados, mas também rápidos, mais rápidos do que a Brand.
— Comandante, os piratas estão se aproximando perigosamente. Acho que vão nos abalroar — alertou Tenente Wenra, preocupada.
A menos de trinta metros, a nave inimiga avançava rapidamente.
— Maldição... Querem nos atrasar com uma batalha de convés. Se isso acontecer, não chegaremos a tempo de salvar a Peregrino — murmurou Adon, com o rosto marcado pela tensão.
— Eles provavelmente querem a nossa nave inteira. Nem estão atirando — acrescentou Lonios, pensativo.
Nimbus, percebendo o crescente clima de combate, começou a se afastar em direção aos aposentos de seu mestre, como havia sido ordenado.
— Aonde você vai? — perguntou Valeros.
— Sãr Lonios pediu que eu ficasse em sua cabine até tudo terminar.
— Fique aqui — disse Lonios de repente, surpreendendo-o. — Valeros tem razão. Não podemos dispensar um guerreiro tão bom como você. Hoje será o seu batismo de sangue, Nimbus.
Valeros sorriu, mas o clima na ponte era tenso demais para qualquer gesto amigável ser retribuído. Nimbus sentiu o coração acelerar.
Ele nunca havia lutado de verdade, mas sabia que agora seria matar ou morrer. Lonios o puxou para um canto e, com um olhar firme, começou a instruí-lo.
— Nimbus, isso não será como nos treinamentos. Piratas são traiçoeiros, atacam pelas costas. Não importa o quanto você tenha treinado com uma espada; se uma adaga perfurar suas costas, você estará morto. — Ele fez uma pausa, observando se Nimbus estava compreendendo. — Vamos lutar como uma dupla. Eu cuido da sua retaguarda, e você cuida da minha. Entendeu?
Nimbus demorou um instante para processar as palavras. Apesar da tensão, ele assimilou a estratégia.
— Sim, mestre. Entendi — respondeu, com a garganta seca, com ansiedade e medo dominando seus sentidos.
— Muito bem. Vamos lá. — Lonios sorriu levemente, talvez tentando acalmar o jovem.
Nimbus percebeu que o combate era iminente. Adon e Lonios já estavam na porta que levava ao convés. Valeros, ao seu lado, empunhava escudo e espada, sorrindo como se estivesse prestes a iniciar sua brincadeira favorita.
Mais atrás, Elisis segurava o arco com duas flechas prontas. Ela parecia imponente em sua armadura, tão bela quanto mortal.
Tomado pelo momento, Nimbus desembainhou sua espada longa. O peso, antes familiar, parecia insuportável. “Por que ela está tão pesada?”, ele se perguntava. Seria o medo? A tensão? Talvez ambos.
Atrás dele, Boagrius guardava a saída da escada. Duas filas de homens aguardavam, com expressões de terror que Nimbus raramente tinha visto. O ar estava carregado de antecipação, o tipo que precede o caos.
Muitos ali sabiam que aquele poderia ser seu último momento, agarrando-se a cada suspiro de vida enquanto esperavam pelo inevitável. Seus olhos estavam fixos nos que lideravam a frente.
Isso o aliviava um pouco; afinal, ele não era o único assustado com a situação. Todos ao seu redor ainda olhavam para ele, apavorados.
Então, algo lhe veio à mente: havia uma grande diferença entre ele, um aprendiz de cavaleiro, e um soldado. Seu mestre lhe explicara várias vezes isso, e agora estava evidente.
Ele deveria ser o farol a ser seguido nos momentos de desespero. A âncora para os guerreiros atrás dele. Eles se inspirariam em suas ações, e aquela atitude de medo não condizia com o que se espera de um cavaleiro.
Lembrando dos ensinamentos, Nimbus segurou a espada com força. De repente, aquilo que parecia pesar toneladas nas suas mãos se tornou leve, tão leve que ele a segurou com uma única mão.
Não sabia o que causava essa força repentina, mas queria acreditar que era a força de um verdadeiro cavaleiro se apoderando de seu corpo. Hoje, ele se tornaria um cavaleiro de verdade.
— Atenção, homens! — A voz de Sãr Adon o tirou dos pensamentos. — Devemos esperar que a nave inimiga se choque com a nossa, para depois sairmos para o convés. Não quero perder nenhum homem para o éter sem ao menos levar uma dúzia de piratas consigo.
Nimbus sabia que muitos ali iriam morrer, mas havia agora a possibilidade de que a morte não viesse apenas dos piratas, mas também de uma queda para o éter, abaixo da nave.
Segundo o Dr. Henry, seria uma queda aparentemente sem fim por vários minutos dentro de uma névoa cada vez mais densa lentamente corroendo seus corpos e ao mesmo tempo o esmagando. Depois, o corpo seria desintegrado devido aos gases nas camadas mais profundas.
A armadura que usava apenas prolongaria um pouco a vida, mas com sorte ele morreria primeiro por asfixia, evitando as horríveis dores da desintegração. Isso, se tivesse sorte.
De repente, um choque violento abalou a Brand, como se tivesse batido contra uma rocha ou algo imóvel. Imediatamente, todos dentro da nave quase caíram.
Nimbus se segurou contra a parede, mas os outros deram um ou dois passos, em resposta ao poder do impacto. A nave estava agora tomando um rumo diferente.
A nave pirata empurrava a Brand para longe. Então, Nimbus ouviu um grito que o aterrorizou. Era Sãr Adon.
— ATACAAAAR!
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