Volume V – Arco 14
Capítulo 125: Sem Volta
A Cidadela Restrita dos Shiro. Um pequeno recorte do berço da civilização. Houve um tempo onde este lugar e as outras centenas de acres de terra mais adiante formavam uma nação tão pacífica quanto poderosa. Agora não sobrou nada além de ruínas. Casas vazias, santuários cujos únicos fiéis são a natureza com suas folhagens e o vento, corroendo o espaço a cada dia que passa.
Entretanto, a época do ano trazia dois convidados novos. A neve, que vestia as florestas de branco, e o sangue dos cadáveres mortos espalhados pela região. Eram Senshis, armaduras prateadas, vestes vermelhas e peles cremadas, resultado de um relâmpago que desceu sobre eles. Caminhando sob o rastro de morte, um rapaz com roupas parecidas vagou às pressas, cortando o silêncio daquele fim de tarde.
O garoto já tinha visto isso antes. O mesmo cheiro de carne e metal queimados, só que mais intenso. As mesmas poças de sangue só que mais fresco. O mesmo responsável, mas diferente da primeira ocasião, ele não havia partido. Aquele que procurava estava bem à vista na cratera, epicentro da explosão, já caminhando para fora.
— Vai fugir de novo? — a exclamação ecoou — Suzaki!
O príncipe renegado se virou para o mirim. Revelando seu rosto coberto de sangue e olhos brilhando em azul. Enquanto Yanaho ativava sua aura vermelha reluzente ao tempo que juntava suas mãos.
— Agora somos só eu e você. Vou matá-lo aqui e agora, para garantir que nosso sonho seja realidade! — concluiu se lançando em direção ao algoz.
Era uma manhã ensolarada em Kagutsuchi. Seus cidadãos seguiam sua rotina como habitual até que um chamado dos portões fez com que os Senshis abrissem caminho na rua principal. Entrando em fila, estava as tropas Aka, esgotadas após uma longa viagem. Liderando a caravana, Onochi conduzia um pequeno número de Senshis, dois mirins e o comandante, ainda em coma.
Da primeira carruagem em diante, o estado dos homens piorava. O último carro tinha a carga completamente coberta. Eles pararam em uma praça reservada, às portas de uma pequena instalação de fachada vinho, altas colunas brancas.
Uma fila de homens e mulheres aguardavam a chegada da caravana na porta. Assim que eles estacionaram, grupos de quatro se dividiram para cada uma das carruagens. Cada par entre os quartetos, traziam uma maca para levar os feridos.
Somente os passageiros da primeira carruagem não desembarcaram. Quando os médicos recolheram todos os feridos, os Senshis que guardavam a praça liberaram a entrada de uma pequena multidão que cercou a carruagem.
Entre os mirins, Yachi olhava por cima do mar de pessoas ao seu redor quando ouviu uma voz chamar por ele. Da multidão saltou uma mulher que correu para abraçar o rapaz:
— Meu filho, você está bem. Todos aqueles feridos… Nós ficamos tão preocupados.
— Eu tô aqui, mãe — retribuiu o abraço — Eu tô aqui.
— Ficou sabendo alguma coisa do seu irmão? — perguntou o pai, chegando atrás.
— Eu não. A gente demorou tanto para chegar, disseram que a situação no deserto foi ruim — reparou nos rostos dos pais ainda mais preocupados — Mas não pode ter sido pior que a gente… Eh… Eu ainda tô vivo, então tenho certeza que tá tudo bem com ele também… Tomara.
— Nós vamos ficar mais uns dias na capital para receber Nakama, querido — a mulher acariciava os cabelos de Yachi — Sentimos falta de vocês.
— Nós também, mãe.
No caminho paralelo ao do companheiro Tsuneo tinha seu ombro puxado por um sujeito com ombros largos e pouco cabelo com um cavanhaque bem feito:
— Você não tem jeito mesmo, irmãozinho.
— Bom te ver também, irmão — respondeu curvando a cabeça.
Outros Senshis também encontraram suas famílias. Yanaho viu esposas, mães, pais e até filhos. Encostado em uma das carruagens, ele abaixou a cabeça até que percebeu no chão um par de pernas andarem na sua direção. Erguendo a vista, sua animação minguou assim que viu quem havia chegado para se encostar na carruagem junto com ele.
— Ninguém veio ver você também, Kazuya?
— Alguém devia esperar por mim?
— Não sei. Você sabe de alguém?
— Não, não conheci meus pais.
— Kazuya, como… De onde você veio?
— Lembro de ter acordado numa cabana e…
De repente, uma senhora gritou na multidão.
— Como assim meu filho não está aqui?
— Que conversa é essa de que Aiko não voltou? — outro homem levantou a voz.
— Está me dizendo que deixaram minha filha lá enquanto meu marido está em coma?! — uma terceira protestou.
Yanaho e Kazuya espiavam a confusão. Onochi estava trazendo o corpo de Iori numa maca, com a ajuda de um médico e Jin.
— Eu lamento — o Shiro pedia passagem — A condição dele é grave. Por favor, nos dêem licença.
— Como podem deixar meu filho pra trás e pedir licença?! — chorava a mãe de Yukirama — ele é… tudo o que me resta!
— Jin — sua madrasta chamou por ele — Por favor, explique o que aconteceu.
— Eu… sinto muito — Jin respondeu abaixando a cabeça, enquanto carregava a maca — Tentei de tudo para trazê-la de volta. Ela não quis.
De imediato as duas mães arregalaram os olhos, percebendo que se tratava da posição de seus filhos, se acalmaram. Mas não havia ninguém para aplacar a ira dos outros dois até que um Senshi que ajudou a fechar a porta do hospital atrás da equipe que trazia Iori, afastou os pais.
— O trabalho de seus filhos serão recompensados. Eles são mirins e portanto serão protegidos até que atinjam seu estado de maturidade. Se isso alivia sua angústia, estamos preparando reforços para enviar às montanhas nas próximas semanas e podemos levar correspondência para eles.
O Senshi continuou dando orientações sobre para quem designar as cartas, porém nenhum dos pais estava minimamente interessado naquela conversa. Aos poucos, a multidão se dispersava. Yanaho virou para o lado e Kazuya já não estava mais com ele. Foi então que alguém tocou em seu ombro.
— A volta foi complicada? — disse Kenichi.
— Oi, tio — suspirou — não tão complicada quanto a batalha. Perdemos feio.
— Guerras são longas. As coisas não ficam assim para sempre.
— Eu não sei se o que está acontecendo é como das outras vezes.
— Porque você é muito novo para saber — bagunçou o cabelo do mirim com as mãos — Tenta relaxar e aproveitar que está de volta.
— Eu queria que ele estivesse aqui — inclinou seus olhos para o chão, notando o silêncio de seu tio — Aconteceu alguma coisa, não foi? Por isso você tá aqui.
— Nos últimos meses decidimos deixá-lo caminhar pela vila no fim de tarde, para exercitar um pouco. Tinha anoitecido a horas e ainda não tinha voltado. Encontrei ele numa estrada para o norte. Não lembrava onde morava nem para onde estava indo.
— Então realmente como imaginávamos, só piora com o tempo — levou uma mão à cabeça.
— É o que parece. Por isso não cogitei em trazê-lo para te receber… me desculpe.
— Não é culpa sua, a culpa na verdade… — evitou o raciocínio — enfim. Alguém tem que cuidar dele enquanto eu longe, perdendo tempo aqui.
— Garoto — Kenichi abaixou até sua altura — Se você desistir agora, terão sido dois sonhos que morreram por causa da doença do seu pai. Seus pais praticamente deram a vida para você estar aqui. Não joga isso fora.
— Eu preciso descansar — deixou Kenichi ajoelhado no chão — Foi bom te ver, tio. Espero que ocorra mais vezes.
Os mirins se juntaram para serem levados aos alojamentos designados a eles na capital, há algumas ruas da enfermaria. Kenichi ficou de pé, estava pronto para deixar a praça quando viu Chaul vindo a cavalo até a entrada do hospital.
— Majestade — se curvou — O que te traz aqui a essa hora?
— Não sou apenas o Rei dos Senshis vivos e saudáveis — descia do cavalo, sendo escoltado por vários homens — estou aqui pelas minhas obrigações.
Dentro do hospital, os leitos se alinhavam contra paredes. Cada cama era simples, feita de madeira rudimentar, coberta por lençóis brancos. Onochi atravessava corredores recheados em busca de um lugar para repousar Iori, encontrando somente um quarto compartilhado.
Em meio aos gritos de dor dos demais Senshis, o segundo sobrevivente dos Shiro fechou os olhos e fez um novo exame no comandante em coma. Seu iro por mais que tocasse em Iori, era como se houvesse uma casca, protegendo a energia Kuro em seu subconsciente do que quer que Onochi tentasse.
Ao abrir a vista novamente, ele apenas olhou para Jin com uma expressão pessimista.
— É melhor você ir, rapaz.
— Eu não vou a lugar nenhum — Jin respondeu — Prometi cuidar do senhor Iori para Umi.
— Ei, Jin —Tsuneo entrava pela porta — como está o comandante?
— O que tá fazendo aqui? E sua família?
— É uma longa história — coçou a nuca.
— Eu lamento, mas não há nada a ser feito — respondia a provocação de Tsuneo.
— Por que isso sempre acontece com quem não deve acontecer — desabafou o mirim.
Foi então que a movimentação do corredor aumentou, Onochi podia ver pela porta. Algo tinha acontecido. Pedindo para que os mirins ficassem com Iori, ele resolveu espiar. Na entrada, notou um aglomerado de pessoas em volta do Rei de cabelos ruivos. Seus Senshis, abriam passagem para ele visitar os quartos um a um.
Onochi pediu licença, entrando junto com Chaul. Ele vagava pelas camas, sentado na beirada de cada leito, apertando as mãos dos conscientes como um pai preocupado.
— Você? Por aqui?
— Deve ser Onochi — Chaul ficou de pé — devo agradecer por sua intervenção nas montanhas. Os homens que chegaram a pouco relataram que as coisas seriam diferentes se você não estivesse presente — estendeu a mão para um aperto.
— É um prazer — cumprimentou — devo admitir que esperava alguém diferente visitando os Senshis. Esta não era a tarefa do Supremo? Onde está Ryoma?
— Eu poderia te fazer a mesma pergunta, pois nenhum dos meus dois comandantes estavam presentes para me avisar da chegada das tropas de Nokyokai.
— Está aqui para vê-los. Entendo.
— Não, eu vim aqui para ver meus Senshis, incluindo eles. Pode me apresentar os outros, por favor?
Quando finalmente chegaram no quarto de Iori, os feridos estavam sedados. Jin e Tsuneo viravam-se para a porta, esbugalhando seus olhos, se afastando do leito e curvando as cabeças diante da majestade que tinha brilho em cada parte do corpo.
— Estou sonhando? — cochichou Tsuneo.
— É ele mesmo — suava Jin.
— Se tranquilize meninos — pediu Onochi, fazendo sinal — e deem licença para sua alteza.
Jin relutou, mas o Tsuneo o puxou pelo braço. Assim que a porta se fechou, Chaul foi até a cabeceira da cama de Iori, deu uma boa olhada nele.
— Somente ele voltou? Vê Iori assim parte meu coração — fechava os olhos retirando a coroa.
— Sim, senhor.
— Entendo. Arata já era guerreiro antes mesmo de eu virar Senshi. Ensinar nunca foi o forte dele, designei ele para o internato quando ficou velho e rabugento demais para lidar com Titulares de gênio forte. Nunca encarei como um rebaixamento.
— Ele foi morto pelo príncipe renegado.
— Soube que é seu ex-aluno — encarou Chaul — há relatos dele no deserto — coçava a barba — Suzaki Sora.
— O que mais sabe da batalha do deserto? — Onochi se impediu de falar por um momento.
Chaul mexeu a cabeça, fazendo sinal para eles saírem. O convite do rei os tirou dos corredores, direto para o telhado do prédio. Terminando de explicar a situação, Onochi precisou refletir um tempo antes de finalmente responder:
— Perdemos… o deserto inteiro?!
— Como eu havia dito, o suficiente. Oda, Ryoma e até mesmo seu irmão partiram há alguns dias. Ao menos, eles obtiveram sucesso em contornar a crise e proteger Oásis.
— Está me dizendo que… — suas mãos ficaram trêmulas — tivemos que juntar tudo isso, nossas melhores peças, somente para segurá-los?
— Pois é — respondeu friamente.
— Isso é loucura. O que passamos nas montanhas e agora isso, os Kuro são muito mais fortes do que imaginei — limpou o suor da testa — mal completamos um mês de guerra. Se esta pressão continuar…
— Nossos inimigos se prepararam por muito mais tempo que nós. Este período de improviso e adaptação vai passar — bateu nas costas largas do mestre Shiro — Aqueles que retornaram das montanhas ainda não sabem disso. Acredito que seja melhor para eles absorverem aos poucos.
— Eles vão saber. E não há jeito de fazer com que isso não seja cedo demais.
— Plantar desespero e calamidade agora não vai nos levar a lugar nenhum. Deixe que os sobreviventes compartilhem suas histórias na hora certa. Agora, estes homens precisam experimentar a normalidade que deixaram para trás.
— Tudo bem — respirou fundo — Tudo… bem.
— Assim que Ryoma retornar, vamos querer ouvir de você a respeito do Imperador Satoru — finalizou se retirando.
Pouco tempo depois, Onochi desceu de volta para Iori, encontrando Jin e Tsuneo próximos do comandante, agora na presença de um enfermeiro.
— Posso levá-los ao alojamento para passarem a noite. Aqui não é lugar para vocês dormirem, mas podem voltar aqui amanhã — Onochi reparou Jin ainda relutante.
— Sim, senhor — respondeu Jin entristecido.
Após a longa viagem, o local já estava pronto para recebê-los, com baldes para se limparem e barracas montadas com longas lonas em um terreno largo nos arredores da cidade.
O cheiro de barro, suor e sangue finalmente era varrido de Yanaho, quando esfregava seu corpo enquanto virava baldes d’água em si próprio. O silêncio perdurava entre sussurros dos mais velhos no alojamento. O vento frio e cortante da noite ressoava como uma música pelas barracas. Os olhos do mirim que encarava o teto pesavam com as lembranças dos últimos acontecimentos.
“Suzaki…”
— Ei, Yanaho, está aí, não está? — uma voz surgia do lado de fora.
Inclinando o corpo para fora da barraca, Yanaho encontrou seus dois colegas:
— Jin? Tsuneo?
— Aí está você — se aproximou, apontando — aquele seu mestre Branco, está te…
— Tá — interrompeu seguindo pela direção apontada.
Onochi estava na entrada do alojamento, conversando com os guardas até que percebeu seu aluno vindo em sua direção. Ele pediu licença e os guardas concederam, indo patrulhar um outro canto do acampamento.
— Quero saber qual o plano para encontrarmos ele de novo, já que agora estamos do outro lado do mundo — provocou Yanaho.
— Eu queria conversar sobre outro assunto com meu aluno e amigo. Acredito ser mais importante — tentou se aproximar.
— Ultimamente você sempre tem novidades — deu um passo para trás — qual é dessa vez? A piora do meu pai? Kenichi já me contou. Se dependesse de você, tenho certeza que eu seria o último a saber.
— Yanaho, eu passei o mesmo tempo fora que você. Nem teria como eu saber disso.
— Tá, que seja — jogou os braços pro alto — Fala o que é que tem para dizer. Mais um sermão sobre como tenho que esquecer Suzaki, assim como você fez esse tempo todo?
— Isso não tem nada a ver com você, Yanaho — apontou Onochi.
— Você tem que entender que Suzaki é meu amigo. Se ele tivesse vindo até mim, diferente de você… eu o ajudaria, custe o que custar!
— Suzaki passou por muitas coisas entre minha última conversa com ele e tudo o que fez. Não pode me culpar por isso.
— Ele passou por isso por que você não fez nada! Eu teria estado lá para ele. Em vez disso, fui pro deserto no seu lugar para ser preso enquanto meu pai definhava.
— O que tinha que acontecer, aconteceu. Eu te ensinei isso. Não adianta pensar no que poderia ter sido.
— É fácil para você falar — apontou o dedo na cara de Onochi — Eu não entendo, se fez tudo o que fez por mim pela profecia, por que não fez o mesmo pelo Su…
— Já chega! — berrou Onochi, segurando o punho do garoto.
Yanaho se lançou para trás se soltando, o grito foi alto suficiente para atrair os guardas que haviam saído em ronda. Onochi estendeu sua mão em direção ao aluno que se virava:
— Yanaho, espere…
— Bem — o rapaz interrompeu, dando as costas — Nisso nós concordamos: já chega.
O garoto se retirou sem olhar para trás. Onochi ameaçou segui-lo, mas os Senshis chegaram nele primeiro:
— Algum problema?
Onochi nem ao menos respondeu, apenas suspirou fundo seguindo o percurso contrário do menino de capa vermelha.
Uma semana se passou e nenhuma notícia do deserto. Os mirins receberam poucas visitas nos alojamentos. Alguns saíram para visitar a família hospedada temporariamente em Kagutsuchi, mas a maioria viveu entre as quatros paredes de seus quartos.
Yanaho estava deitado em sua cama, olhando para o teto, quando ouviu os sinos do portão principal da cidade. De uma vez só, todas as portas do corredor se abriram, exceto por uma. Yachi foi o primeiro a correr. Yanaho batia na porta que estava fechada, avisando:
— Kazuya. Devem ser eles!
Após duas batidas e nenhuma resposta, o aprendiz de Onochi girou a maçaneta. Trancada. Relutante, ele partiu sem seu amigo. Chegando na mesma praça, havia uma multidão ainda maior à espera dos Senshis.
Desta vez, os mirins que retornaram de Nokyokai também testemunharam a caravana liderada por Ryoma estacionar. Contudo, além de rever seus colegas, eles tinham um trabalho a fazer, trazendo macas e ajudando os feridos.
— São menos carruagens — Tsuneo reparou — Eles deixaram Senshis por lá?
— A coisa deve ter ficado feia — disse Jin — O Supremo não tinha sido enviado de primeira, né?
— Eu peguei um Senshi conversando no alojamento que os Kuro avançaram até Oásis — Yachi respondeu, acolhendo um Senshi manco que descia da carruagem.
— Onochi não me falou nada — Yanaho passou por eles, carregando um Senshi sozinho.
— Muito difícil — Tsuneo colocava o outro braço do Senshi em seu ombro — Se fosse o caso, o resultado seria catastrófico.
— E foi — o Senshi ferido interrompeu a conversa deles — esses boatos são reais, meus ferimentos mesmo foram na capital.
Tsuneo e Yachi trocaram olhares amedrontados. Após uma primeira rodada de feridos, Jin deu uma olhada na caravana e reparou que a última carruagem, era menor que as outras.
— Pessoal, acho que não tem o que se preocupar — ele apontava para o transporte — Mesmo com a derrota, acho que tivemos poucas baixas.
— Cadê a nossa turma? — Yachi olhava de um lado para o outro — Por que a demora?
— Devem estar focando nos feridos primeiro. É muita gente — tranquilizou Tsuneo.
Eles continuaram trazendo os feridos para dentro com ajuda dos médicos até sobrar meia dúzia de transportes para desembarcarem. Foi então que eles deixaram as famílias se virem. Os mirins do deserto desceram rapidamente. Masori foi a primeira a ser abordada por um casal.
— Filha, você está a salvo! — dizia a mãe.
— Que bom — abraçou o pai — Ficamos tão preocupados.
— Eu estou aqui, pai, mãe — ela reparou numa discussão que se iniciava ali perto — aquilo é… — reparava numa mulher discutindo com um Senshi.
— Eu não vou perguntar de novo. Quando vão trazer meu filho de volta?! — gritava a mulher em lágrimas.
— Senhora seu filho está em serviço nas montanhas, já falamos isso. Tem certeza que não quer enviar uma correspondên-
— Com licença — Masori interrompeu os dois, acompanhada pelos pais — Eu preciso saber onde estão os mirins que vieram de Nokyokai, houve algum atraso?
— Eles chegaram há uns dias — respondeu o Senshi.
— Meu filho prometeu que voltaria — chorava de joelhos — eu quero saber onde está Yukirama agora!
— Mas… — as pernas de Masori ficavam bambas — o Yuki… ele…
— Como eu já disse mais de uma vez, seu filho está sã e salvo nas montanhas senhora — tentava ajudá-la a se reerguer.
— Está me dizendo que…
— Você não tem um exame médico a fazer agora que chegou, mocinha? — o Senshi a afastou interrompendo — Isso é conversa de adulto.
Masori era afastada pelos pais, quando de repente ouvia seu nome sendo chamado por trás. Olhando ao redor, Usagi e os outros faziam uma roda ao redor de alguém. Olhando mais de perto, Nakama e Yachi estavam juntos novamente com seus pais.
— É um alívio saber que todos de Nokyokai estão bem — disse Usagi recebendo Masori que se juntou ao grupo.
— Estão todos bem — dizia Yachi soltando seu irmão do abraço — apesar de…
— Yukirama ficou? — se aproximou Masori — que história é essa?!
— Masori… Agora não é a hora — Usagi pediu — Jin me contou tudo. Umi e Aiko também ficaram. Fica calma porque…
— Não esquenta, se você conhece bem ele já deveria prever isso — se aproximou Yanaho pegando ela no ombro.
— Eu sei… — respirou fundo, chutando o chão — ele é um moleque teimoso, mas como ele ousa deixar a mãe dele daquele jeito?
O grupo deixou Yachi e Nakama irem com seus pais para outro lugar. O clima de felicidade e euforia entre os mirins do deserto havia passado, assim que Effei e Kento desceram da última carruagem.
— Chegamos — o primeiro esticou os braços — Ainda bem.
— Ei, espera. Já foi todo mundo? — Yanaho começou a contar os mirins — Onde tá Etsuko? E o Katsuo?
— É, Usagi — Tsuneo olhou de canto — A gente ficou sabendo que a coisa foi até a capital. Por acaso eles tiveram que ficar? Não é possível que os Senshis escolheram eles em vez de você e a Masori.
— Gente…
— Relaxa, cara — Jin tocou em seu ombro — Nokyokai foi pesado para todo mundo aqui, também.
Kento e Effei balançaram os corpos, relutantes em falar. Emi começava a derramar lágrimas, fazendo todos arregalaram os olhos. Usagi tirou as mãos de Jin de seu ombro, tomando a frente. Um vento gélido circulou os jovens, quando Usagi abriu a boca prestes a falar:
— Pessoal os…
— Espera aí — sentia seu peito formigar — qual é do drama e desse silêncio, Usagi? Se eles se atrasaram ou ficaram…
— Etsuko e Katsuo morreram no deserto — interrompia Emi ainda chorando — eu lamento mas, não tem mais volta.
Usagi olhou nos olhos dos mirins que os receberam e apenas acenou positivamente com a cabeça. Tsuneo cobriu o rosto com as mãos. Jin se afastou de Usagi se lançando ao solo. Enquanto Yanaho ficou parado por alguns segundos. Olhos vidrados, queixo caído, ainda processando o que acabara de ouvir, enquanto apenas o som do vento pairava no ambiente.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.
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