O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 14: Druida de Ferro

Daniel acordou banhando em suor, com o coração batendo à toda velocidade e com a cabeça latejando. Então respirou fundo ao ver que estava em seu quarto, sentado na cápsula de imersão, com o visor de realidade virtual retraído para cima, em posição de repouso.

Na lateral esquerda da máquina piscava uma mensagem em azul, dizendo: “Modo Hibernação”. Ele conferiu as horas no painel principal, eram 11:02 da manhã de domingo.

Ele se levantou, arrastou os pés até a cozinha e pegou a caixa de remédios em cima do guarda comida. Em seguida, destacou um comprimido e o colocou na boca. Foi até a geladeira, pegou uma garrafa d’água e bebeu uns engoles para ajudar na descida do comprimido.

Àquela altura a dor de cabeça havia atenuado a uma proporção tolerável. Restava ao remédio fazer sua parte em dar um fim à agonia. Daniel retornou ao seu quarto e deitou-se na cama para refletir.

As Provações Druidas, lembrou-se de que havia concluído os quatro desafios faltando menos de 300 milissegundos. Um choque de empolgação se alastrou por seu corpo, ele precisava descobrir o que aconteceu. então levantou-se da cama, voltou à capsula de imersão e entrou em Nova Avalon Online.

***

Estava de volta ao santuário, mas diferente da última vez, o pavilhão onde ficava a arena estava depredado, haviam pilares caídos, escombros espalhados e mato crescendo nos vãos do piso.

Voltei para o presente, pensou.

Tentou lembrar do caminho de volta, mas haviam brechas em suas memórias, porém ele não hesitou, e correu por onde acreditava ser a saída. O Refúgio dos Ursos de Ferro era grande e vazio, levou tempo para encontrar a primeira alma viva do lugar.

— Torvell — Ragnar gritou o nome do urso ao vê-lo se banhando nas águas do rio.

A criatura de olhos vermelhos o encarou, rugiu na sua direção e proferiu em sua voz poderosa:

— Druida, o que faz por aqui?

— Eu preciso ver Bjorn.

— De novo? Você passou quase um dia inteiro meditando…

Na verdade, foram horas no mundo real, mas o tempo dentro do jogo passava duas vezes mais rápido, portanto, um dia aqui dentro equivalia a 12 horas lá fora.

— Eu preciso meditar.

Ragnar falou mais para si do que para o urso, mas ele o respondeu, dizendo:

— Fique à vontade. Caso não se lembre, o Círculo de Convergência Natural fica naquela direção. — Torvell apontou o caminho com sua pata frontal direita.

Ragnar correu para o lugar indicado e, com grande alegria, encontrou o círculo onde meditou até se encontrar com Bjorn. Ele torceu para que desse certo uma segunda vez.

Antes de começar o ritual, ele se acalmou, pois, a ansiedade era tamanha que fez seu coração disparar. Estava louco para saber o que havia acontecido. Em seu Registro de Missões, a missão “O Legado de Bjorn” não fora alterada.

Foi necessário tempo e esforço para espantar os pensamentos brotando em sua cabeça, mas ele conseguiu. A calmaria agora reinava em sua mente. E mesmo que vez ou outra alguma dúvida aparecesse para atormentá-lo, ela era chutada para longe.

O vento batendo nas folhas das árvores, o canto dos pássaros e o burburinho de conversas distantes foram captadas por seu ouvido.

Ele abriu os olhos.

— Fico feliz que tenha voltado. Você me deixou preocupado desaparecendo daquele jeito… — disse uma voz familiar.

Ragnar virou-se, deparando-se com o espírito de Bjorn.

— Perdão. Eu acabei pegando no sono, aquela prova foi cansativa até para mim. — Preferiu dizer a verdade.

O espírito caminhou em sua direção.

— Como prometido, farei de você meu sucessor.

Ele apontou o cajado na direção de Ragnar, a ponta brilhou uma luz dourada.

Missão Secreta Concluída: O Legado de Bjorn (Nível: ???)

Você cumpriu com sucesso as quatro provações de Bjorn.

Por ser um sucessor digno, você foi reconhecido como um Druida de Ferro.

Recompensa

Classe Lendária: Druida de Ferro

Você evoluiu para o nível 12

Ragnar mal pôde acreditar que o homem misterioso estava certo, havia mesmo uma missão secreta de classe lendária.

Tudo estava conectado, o incidente na estalagem, Merwin aparecer e lhe recompensar com um passe para o Santuário dos Lírios; E Lina, a Protetora do Santuário, só confiou a ele a missão do Covil das Serpentes por causa da carta da baronesa.

No Covil encontrou Lady Plissken e virou amida dela com o talento da classe druida, graças a isso, Najaha, a mulher serpente, lhe confiou o segredo para se transformar em cobra.

Com a nova forma animal Ragnar pôde entrar no buraco da parede que o levou até a tumba de Najir, onde encontrou a Perdição das Víboras, a arma que iniciou a busca por Bjorn.

E, se também não fosse pelo homem estranho que o contatou misteriosamente, Ragnar teria levado dias para encontrar o Refúgio dos Ursos de Ferro.

Tudo isso para enfim ser testado em uma prova de fogo de quatro estágios.

Mas ele precisava ver para crer, por isso abriu a janela de informações e distribuiu os pontos de atributos ganhos entre Poder Mágico e Talento Mágico. Aos poucos estava deixando de ser um avatar de dano físico para se focar em feitiços e habilidades mágicas.

Informações Gerais

[Nome: Ragnar] [Classe: Druida de Ferro]
[Nível: 12] [Experiência: 1.223/11.670]
[Vida: 372] [Energia: 160] [Mana: 192]

Atributos

[Força: 20] [Agilidade: 10] [Constituição: 10]
[Poder Mágico: 30] [Talento Mágico: 15]

Habilidades

Forma Animal: Urso de Ferro (Nível: 1): Você se transforma no temido urso de ferro, tornando-se ainda mais forte e resistente que um urso selvagem, mas continua incapacitado de conjurar feitiços.
Habilidade Especial – Patada Atordoante: Energiza sua pata com eletricidade para desferir um golpe atordoante em seu adversário.

Brisa Curativa (Nível: 3): Invoca uma lufada de vento que cura uma pequena quantia de vida do alvo escolhido.

Invocar Raízes (Nível: 3): Invoca três raízes que poderão prender até três inimigos por um curto período de tempo.

Raio (Nível: 5): Conjura uma descarga elétrica que poderá interromper o alvo.
Melhoria Nível 5:  Seus raios deixam uma marca de Choque no alvo por 20 segundos. Se você acertar essa habilidade em alguém com três marcas de Choque, o dano causado será 50% maior.

Ira da Tempestade (Nível: 2): Você sobrecarrega seu corpo com o poder da tempestade. Durante 30 segundos sua agilidade aumentará em 25%, e seus ataques causarão dano elétrico adicional. Esta habilidade pode ser utilizada na forma animal.

Talentos

Amigo da Selva: Sua presença pode incitar um animal a lutar ao seu lado.

Talentoso por Natureza: Você já é iniciado nas profissões de Herbalismo e Alquimia.

Visão Além do Alcance: Você detecta armadilhas e mistérios ocultos com maior facilidade.

A evolução lendária de classe alterou sua forma animal de urso selvagem para urso de ferro. Isso o fez pensar se agora era capaz de virar um urso tão grande e intimidador como Torvell.

Bjorn olhava na sua direção exibindo uma face serena, então disse:

— Você não está curioso para testar sua nova forma de urso?

Ragnar se concentrou e ativou a nova forma de urso. Seu corpo começou a ganhar massa e a tomar forma. Pelos pretos e grossos brotaram por todo o corpo. As mãos e pés se tornaram patas grossas, poderosas, e as camadas de ferro então surgiram.

Ele imaginou que o metal iria limitar sua movimentação, mas para sua surpresa ela retraia e esticava com a mesma naturalidade da camada de pele. A mutação finalizou e Ragnar ficou espantado consigo mesmo, ao olhar para si, imaginou que deveria estar do tamanho de Torvell.

— Esse é o poder verdadeiro de um druida de ferro — Bjorn comentou, acenando com a cabeça. — Mas você ainda é jovem, tem muito o que aprender. Isso que está sentindo é uma fração do seu potencial.

Ragnar retornou a forma humana, e agradeceu:

— Obrigado por fazer de mim o seu sucessor.

Bjorn se aproximou.

— Você alcançou seus objetivos, faça bom proveito de tudo que lhe ensinei… foi um prazer conhecê-lo, Ragnar. — Ele levantou seu cajado e o desceu contra a cabeça do mais novo druida de ferro.

***

Ele abriu os olhos e se viu sentado com as pernas cruzados sobre um círculo de pedra. Ao seu redor haviam os pilares esverdeados repletos de plantas trepadeiras. Na hora ele soube que havia voltado ao presente.

— E então? — disse uma vez grave ao seu lado.

Ragnar olhou para o lado e viu a figura assustadora que era Torvell.

— Eu consegui, me comuniquei com Bjorn, e aprendi muita coisa com ele.

— É mesmo? O que por exemplo?

O druida se levantou, olhou nos olhos vermelhos de Torvell, e ativou sua nova habilidade, transformando-se em um urso negro de olhos vermelhos semelhante àquele em sua frente.

Torvell recuou dois passos, rosnou, e então grunhiu:

— Não pode ser, como?

Ragnar resumiu seu encontro com Bjorn para o urso.

— Ele fez de você seu sucessor… não consigo acreditar em uma coisa dessas, mas o que foi que Bjorn pediu em troca? Que você cuidasse do jardim dele?

— Jardim? — Ragnar não soube se o urso estava brincando ou dizendo a verdade.

— À leste deste santuário há um grande jardim onde os druidas costumavam cultivar suas plantas ritualísticas.

— Por que você não me apresentou esse lugar antes?

— Lá só tem planta… que infernos você pretende fazer?

— Leve-me até lá — Ragnar pediu. — Por favor?

Torvell resmungou, mas aceitou guiá-lo até o jardim. Os dois andaram juntos por corredores, salões e passagens até chegarem em uma área em que Torvell anunciou:

— Chegamos.

Tudo que Ragnar via era mato.

— Tem certeza? —perguntou.

— Este é o jardim do santuário. Como eu já fiz minha parte em trazer você aqui, irei me retirar.

Torvell lhe deu as costas e caminhou na direção de onde vieram. Ragnar encarou o matagal em sua frente. Em seus lados encontrou dois caminhos estreitos de pedras que se embrenhavam para dentro da mata.

Voltando a forma humana ele lutou contra as folhagens para seguir o caminho das pedras. Minutos depois, a trilha desapareceu e seu pé direito afundou em um lamaçal.

Seria impossível seguir adiante dessa maneira, mas não tinha porquê buscar uma rota alternativa, bastou se transformar em serpente para seguir adiante.

Ragnar rastejou sobre a lama, logo em frente deparou-se com água, então perseverou até afundar por completo em algo semelhante a um lago. Para seu alívio era possível ver a margem do outro lado antes que acabasse se afogando.

Ativar Forma Animal: Cobra D’Água, ele pensou e riu de si mesmo antes de emergir. Quando chegou em terra firme, voltou à forma humana e ficou de queixo caído com a paisagem que o cercava.

Rosas, margaridas, lírios e outros tipos de plantas enfeitavam a pequena ilha rodeada pelas águas que acabara de atravessar. Ragnar puxou sua faca de coleta e tentou cortar todas as espécies de plantas ao seu redor, porém, para que fossem coletadas com sucesso era necessário evoluir a profissão herbalismo ao nível avançado.

Restava apenas uma planta a ser avaliada, uma espécie de Aloe Vera, porém maior e mais esbranquiçada, o druida se ajoelhou perante ela e cortou uma folha, já esperando ver a mensagem de fracasso.

Folha de Aloe Veraluna coletada com sucesso

Ele levou a mão ao queixo, pensou um momento, ergueu a cabeça e viu que aquela planta crescia por todo o jardim. Ragnar segurou a faca com força e coletou como se não houvesse amanhã.

Horas depois, mais de 286 folhas de Aloe Veraluna foram adicionadas ao seu inventário. Ele se levantou fazendo força, os músculos doíam, os joelhos estavam ralados e as vestes sujas da cintura para baixo.

Mas seu esforço foi recompensado quando um aviso apareceu.

Sua proficiência em Herbalismo avançou para o estágio Intermediário

Herbalismo

Estágio: Intermediário

Experiência: 16%

Benefícios

+10% de regeneração de vida e energia

+5 pontos em força, agilidade e constituição

Desbloqueia a coleta de plantas de nível Intermediário

Aumento na qualidade e quantidade de itens ganhos a cada coleta

Agora restava descobrir uma receita de alquimia que utilizasse as folhas de Aloe Veraluna, pois acabou coletado tantas que já era possível criar poções até evoluir a Alquimia para o estágio intermediário. Para fazer isso era necessário possuir os instrumentos da profissão ou ir até um laboratório público.

Ragnar analisou o mapa da região e viu que a cidade de Salem, também conhecida como Cidade Sombria, ficava mais próxima do Refúgio dos Ursos de Ferro do que Bremer.

Então ele se decidiu, iria praticar alquimia na Cidade Sombria.

***

A porta frontal da fortaleza Toca dos Lobos rangeu ao ser aberta. Os dois guardas que a abriram caminharam para dentro e permaneceram em guarda até a recém-chegada pisar no tapete vermelho que se estendia até o trono. Os guardas então se retiraram e fecharam a porta.

A garota sobre o tapete vermelho vestia um conjunto de couro preto sobreposto por uma couraça fina de prata. Ela ostentava uma espada embainhada na cintura, tanto o cabo da arma quanto sua bainha reluziam como a couraça.

Ela caminhou em linha reta, seu cabelo loiro, longo e levemente ondulados na ponta roçavam sobre as ombreiras da armadura. Ela parou ao ficar a poucos passos do trono onde um homem de expressão séria a aguardava.

— Tenente Havoc?

Ela respirou fundo antes de responder:

— Não conseguimos localizá-los.

As sobrancelhas do homem quase se uniram com a raiva que sentiu. Ele se ergueu do trono, a armadura de aço negro chacoalhou no processo. Em pé sua musculatura ficava à mostra, dos braços grossos até a panturrilha bem definida, como se esperaria de um guerreiro nível 50.

A visão do líder da guilda em fúria deixou Havoc apreensiva. Mas ele relaxou a postura e falou em tom calmo, mas categórico:

— Vou te dar mais uma chance. Você terá mais uma semana para encontrar o druida e os cúmplices que estragaram nossa taverna. E se você não cumprir essa ordem, eu terei de rebaixá-la de volta a sargento.

Ela tomou coragem para rebater:

— Mas, Zed, eu estou dando tudo de mim para encontrá-los. Não é justo ser rebaixada porque não consegui achar um mísero druida.

Zed exibiu um sorriso provocador.

— Caberá a mim decidir se é justo ou não. É bom lembrá-la que essa espada em sua cintura foi um presente meu, de quando você foi promovida para tenente.

Havoc apertou o cabo da espada com a mão esquerda.

— Não, por favor… — implorou, temerosa.

Zed caminhou até ficar em sua frente. Um feixe de luz trespassou o vidro de uma das janelas e iluminou sua face.

— A Lâmina de Salazar é preciosa demais para ficar com alguém incapaz de achar um druida numa cidadezinha como Bremer.

— Ele pode nem estar mais lá. Ele pode ter ido para Salem, ou, quem sabe, parou de jogar.

Zed repousou a mão direita sobre o ombro dela. Havoc estremeceu, suando frio.

— Ninguém decide simplesmente parar de jogar.  E, se ele de fato não está mais em Bremer… então eu recomendaria você se empenhar ainda mais. — Ele retirou a mão do ombro dela e recuou para trás.

— Tudo bem — Havoc se conformou, porém, um surto súbito de ousadia a fez questionar: — A Lâmina de Salazar, e seu eu falhar?

— Você terá duas escolhas: entregá-la pacificamente como a boa garota que é, ou ser marcada para sempre como alvo da Pata Negra.

Havoc curvou-se para Zed em respeito.

— Entendido, prometo encontrar o druida ainda esta semana.

Zed voltou a sentar no trono.

— Nós confiamos em você, Havoc. Boa sorte. E não nos decepcione.

 



Comentários