O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 38: O Suspeito

Era a primeira vez que Artic e Skiff andavam juntos sem o resto do grupo. E a ausência de um amigo intermediário fez com que parte do trajeto fosse realizado em silêncio.

Artic estava relutante porque não queria papo furado, mas Skiff, por outro lado, ainda não se manifestou porque tinha dificuldades em achar algum tópico de interesse mútuo.

Nesse silêncio eles saíram da Vila Torino pelo portão oeste e continuaram avançando pela estrada de terra.

— Você e a Niki são amigos há muito tempo? — o caçador perguntou assim que saíram da estrada e puseram os pés no matagal.

Artic parou ao ouvir o pronunciar da última palavra, e retrucou sem rodeios:

— Sim, por quê? Quer saber se a gente está namorando?

Skiff recuou um passo.

— Vocês parecem ser bastante próximos, pensei que talvez fossem parentes ou… sei lá, entendeu?

— Fica tranquilo, mas se quiser chegar nela, eu dou um empurrãozinho, mas vou logo avisando, você não faz o tipo dela.

— Hein? E só estava puxando assunto. Eu nunca falei que estava interessado na Niki.

— Aham, sei — murmurou Artic, duvidando.

— Eu juro! — A voz de Skiff falhou na primeira sílaba da última palavra.

Artic abafou um riso.

— Relaxa, eu estava brincando. — Então sua face ficou séria. — A não ser que você realmente queira chegar nela.

— Eu não estou interessado! — retorquiu, categórico.

Mas Artic tinha tudo planejado, e lançou o golpe final semicerrando seus olhos azuis:

— Por quê? Acha ela feia?

— Quê? Não, ela é muito linda, mas é que… eu não, a gente…

Skiff caiu direitinho na armadilha. Artic gargalhava de tanta graça que achou da situação. E quando conseguiu controlar os risos, se desculpar:

— Desculpa, mas é que eu não pude deixar essa passar.

— Você é daqueles que prefere perder a amizade do que perder a piada, agora eu já entendi qual é a sua.

Apesar de se sentir um idiota por cair na armadilha de Artic, no fundo, Skiff estava feliz por ver o desabrochar desse lado brincalhão do cavaleiro, pois até aquele momento conhecera apenas o lado seco, direto e um tanto cínico do avatar de cabelo cacheados.

— Você está puto comigo? — perguntou o cavaleiro.

— Não, de forma alguma. Eu tenho alguns amigos que também vivem sacaneando os outros quando dá.

Nenhum deles percebeu que estavam falando em voz alta em meio a uma floresta mal iluminada pelos últimos raios de luz do sol poente.

— Então, Skiff, o que você faz da vida?

O caçador saltou por cima da raiz de uma árvore antes de responder:

— Eu tenho uma banda.

Artic parou onde estava para encará-lo.

— Que tipo de banda?

Skiff segurou o arco como se fosse uma guitarra e fingiu dedilhar uma melodia nela.

— Daquelas que tocam de tudo um pouco, mas focamos mais em rock e pop porque são nossos gêneros favoritos.

Artic voltou a avançar pela floresta, mas continuou o assunto:

— Vocês tocam por diversão ou já são profissionais?

— Meio a meio. A gente até toca por aí, mas não daria para viver só disso. Então eu trabalho meio período em um escritório na parte da manhã. E você?

— Também trabalho meio período, mas durante a tarde. Pela manhã curso administração na mesma universidade que a Niki.

— Legal — Skiff estava adorando conhecer mais sobre ele. — Você tem algum outro hobbie além de jogar?

— Não sei se conta, mas gosto de brincar no programa de criação de itens do jogo.

— É mesmo? Eu fiquei um dia inteiro tentando entender como funciona. Vi uns cem vídeos ensinando o básico, mas no fim, consegui fazer foi nada.

Artic abriu o menu do jogo e navegou pelos painéis. Um retângulo holográfico do tamanho da janela de uma casa se projetou em sua frente.

— Dá uma olhada no que estou trabalhando.

Skiff admirou a tela. Haviam números e códigos em todos os cantos, exceto no centro, onde uma peça cinza e preta girava devagarinho no próprio eixo. O formato era familiar, o peitoral de uma armadura pesada, mas ainda incompleta, faltando algumas peças nas braçadeiras e na ombreira direita.

— Incrível…

— Esse é meu vigésimo projeto. Quem sabe, talvez, dessa vez ele saia do programa de modelagem.

— Você pretende forjar isso?

— Claro — Artic se empolgou. — Eu sempre admirei as armaduras customizadas em todos os VRMMORPGs que joguei, mas só aqui eu me deparei com uma ferramenta de criação tão complexa e divertida de mexer.

Skiff estava incrédulo, pois mesmo não sendo um expert em criação de itens, sua pouca experiência já o fez perceber como Artic era talentoso e esforçado, e sem dúvida alguma teria um futuro brilhante caso entrasse de cabeça nisso.

***

No coração da mata ao norte vilarejo, uma grande elevação rochosa de inclinação íngreme despontava como um espinho na superfície terrestre. E próximo ao topo dessa elevação, Julie e Niki se escondiam em meio as folhagens cobrindo as rochas.

De onde estavam elas tinham uma visão ampla de grande parte do vilarejo. Porém, aos poucos a luz do sol poente perdia o pouco de força que ainda lhe restava. E em breve, a noite faria o vilarejo mergulhar na escuridão.

— Avistou alguma coisa? — perguntou Julie, atenta a todo tipo de movimentação ao sudeste.

— Ainda não — respondeu Niki, sentada ao lado dela, mas olhando para outra direção.

Até aquele momento elas haviam trocado algumas poucas palavras. A caminhada e a subida ao rochedo foram pontuadas por uma meia dúzia de perguntas que não evoluíram para uma conversa. E Niki, que estava insatisfeita consigo mesmo, decidiu tentar mais uma vez, mas com uma pergunta que mataria sua curiosidade a respeito da missão:

— É realmente possível interrogar um NPC como nos filmes e séries policiais?

Julie não desgrudou os olhos do horizonte para responder:

— Se for alguém importante e que tenha alguma informação pertinente, sim. Os NPCs desse jogo são programados para se parecerem com pessoas reais, então, as vezes é difícil descobrir se estão escondendo algo.

— Faz sentido.

Julie se projetou para frente, fixando o olhar em um ponto do bosque.

— Acho que vi alguma coisa se movendo perto daquela clareira — finalizou apontando para uma pequena área ao sul.

Niki virou-se na hora e forçou os olhos para ver se encontrava alguém na clareira. Foi breve como um relâmpago, um vulto passou entre as árvores.

— Eu vou até lá capturar esse desgraçado — Julie disse ao se levantar. — Você poderia ficar aqui repassando a posição dele enquanto eu o persigo?

— C-claro — Niki respondeu no susto.

Julie agradeceu e saltou do penhasco, pousando na rocha mais próxima do paredão. Ela repetiu os saltos em uma velocidade espantosa nas pedras subsequentes até pisar no chão de terra da floresta.

— Uau — Niki se surpreendeu.

Momentos depois, a voz da lutadora soou em seu ouvido através da comunicação de grupo.

— Gente! Encontramos o suspeito. Venham até essas coordenadas. E fiquem atentos às instruções da Niki, ela será nossos olhos nas montanhas.

— Finalmente! — rugiu a voz de Ragnar.

— Já era hora — disse Havoc.

E Julie avançou como o vento pelas árvores, raízes e pedras em seu caminho.

— Acho que ele descobriu a gente! — A voz de Niki exprimia um nervosismo contido.

— Tudo bem, apenas me diga para onde ele foi.

— Leste.

— Droga — Julie praguejou, mordendo o lábio inferior.

Ela freou o avanço com uma derrapada que levantou as folhagens amarronzadas no chão. Com uma olhada rápida ao se redor, verificou sua posição exata naquele ambiente, então avistou o rochedo por onde viera. Tudo indicava que suspeito fugia para a direita.

— Ragnar e Havoc, ele está indo na direção de vocês, se preparem! — Sua voz transbordava empolgação.

Julie respirou fundo e ativou a Chama Espiritual, uma habilidade fortalecedora que aumentava os principais atributos de sua classe. Agora imbuída dessa força esmagadora, disparou com ainda mais velocidade pelo bosque.

E lá do alto do rochedo, Niki viu um ponto alaranjado e chamejante se deslocar na escuridão da floresta.

***

— Vamos, Havoc, depressa, acelera esse passo — dizia o grande urso de ferro avançando pela mata.

— Não… dá… — ela lutou para dizer, esbaforida após cinco minutos correndo sem parar.

— Nunca corra a toda velocidade, sua energia vai esgotar muito mais rápido desse jeito. Até o Skiff sabe disso. — Fez uma pausa proposital. — É claro que… fui eu que ensinei isso pra ele.

— Se eu não… tivesse corrido… desse jeito… eu… já… teria… ficado… pra… trás.

— Mas teria energia de sobras para lutar contra o espião.

Ragnar saltou para cima de uma rocha e utilizou o impulso para executar um segundo salto. Havoc ergueu os olhos e viu o grande animal desaparecer de vista. Segundos depois, um rugido forte precedeu grunhidos graves e nervosos.

Ela subiu na pedra e olhou para baixo. Ragnar estava na forma humana, com a lança apontada contra o coração de um sujeito encapuzado. O farfalhar de folhagens distraiu a atenção do druida e da espadachim, que na hora levantaram a guarda para receber os recém-chegados.

E o suspeito aproveitou da distração alheia e se levantou, cambaleou para frente e conseguiu se equilibrar para fugir de seus caçadores.

A dupla estacou diante do erro cometido. Julie irrompeu das folhagens de onde ouviram o barulho que os distraiu, os braços e as pernas dela emitiam uma energia alaranjada. Ela parou um instante e olhou para a dupla.

— Cadê o suspeito?

— Ele fugiu pra lá — Havoc apontou a ponta da Lâmina de Salazar na direção indicada.

Julie não perdeu tempo e correu naquela direção. Instantes depois ouviram-se gritos. Ragnar e Havoc correram até lá e encontraram Julie pressionando o joelho direito contra as costas do suspeito, a mão direita empurrava a cara dele contra a terra úmida.

— Eu me rendo. — A voz dele era grave.

A lutadora retirou uma corda do inventário e a utilizou para atar as mãos e os pés do suspeito. Ao dar o último nó, agachou-se e fez questão de apertar a corda mais uma vez para deixá-lo ainda mais desconfortável

Em seguida fez o suspeito se ajoelhar em frente ao grupo. Então puxou para trás o capuz que lhe ocultava a face, revelando um homem em seus quarenta anos de idade, com cabelo preto, curto e repleto de fios brancos.

Foi então que Artic e Skiff surgiram em meio as folhagens.

— Chegamos tarde demais — lamentou o cavaleiro.

— Não tem problema, o importante é que capturamos ele — disse Ragnar.

— Ele já abriu a boca? — Skiff estava louco para saber.

— Ainda não, mas dê uns minutinhos para nossa amiga profissional — o druida os tranquilizou. — Fiquem aqui, eu vou lá dar uma ajudinha.

Os outros desconfiaram, mas permaneceram a uma distância de dez metros da lutadora e do suspeito. Artic esperou até o druida parar ao lado da lutadora, e disse:

— Ou esses dois são parentes, ou eles já se comeram.

Niki e Skiff explodiram em risadas. Havoc ergueu as sobrancelhas e conteve o riso. Os alvos da piada olharam para trás na esperança de ver o motivo das risadas, mas preferiram deixar isso de lado e prosseguiram com o interrogatório.

O tempo passou com a lua avançado pelo céu de Nova Avalon, e apesar de toda a pressão exercida pela lutadora e pelo druida, o suspeito manteve-se firme.

— Eu já disse mil vezes, eu sou um cidadão de Salem. Eu estava procurando flores para levar a minha avó que mora nesse vilarejo — ele disse com convicção.

— Catando flores ao anoitecer, você não acha isso suspeito? — inquiriu Julie. — Além do mais, a gente viu você correndo entre as árvores, que pressa toda era aquela?

— Eu não queria me atrasar para o jantar.

Julie olhou para Ragnar.

— Me ajude a amarrá-lo na árvore.

O druida concordou e conduziu o suspeito até a árvore.

A lutadora retirou mais alguns metros de corda de seu inventário e a utilizou para prender o tronco do sujeito ao tronco da árvore. Como os braços e as mãos estavam coladas ao corpo, seria impossível de ele se solar sem a ajuda de outra pessoa.

Julie se aproximou de Ragnar e disse baixinho:

— Precisamos conversar.

Um tanto curioso, ele seguiu ela até ficarem a pouco mais de vinte metros do suspeito, longe o bastante para que pudessem conversar sem que ninguém ouvisse.

Enquanto isso, a quinze metro deles, os demais integrantes do grupo confabulavam a respeito daqueles dois entre piadas sujas e outras de mal gosto. Apesar das risadas e gargalhadas que ouvia, Julie se manteve focada na missão.

— O que você achou da história dele? — perguntou ao druida.

— Suspeita demais. Eu acho que você poderia ser mais “direta”. — Ragnar fez as aspas com as mãos.

— Talvez. Eu pensei numa maneira de passar a história dele a limpo. Se ele realmente tem um parente no vilarejo, a gente poderia levá-lo até lá para ver se alguém o reconhece.

— Ótima ideia, Jú.

A conversa se encerrou e eles retornaram ao suspeito. Mesmo amarrado à árvore ele ainda exibia aquela face calma e cheia de confiança. Julie afrouxou a corda que o prendia, até ir ao chão.

— Ótimo — disse o sujeito. — Vocês perceberam o erro que cometeram, mas eu exijo um pedido de desculpas.

Ao finalizar, esticou os braços na esperança de que Ragnar desamarrasse suas mãos.

— Nós vamos ao vilarejo.

— O quê? Ah… tudo bem. — Sua voz tremia um pouco.

Nesse momento Ragnar soube que capturaram a pessoa certa. Agora cabia a eles arrancarem uma confissão.

***

Os seis se aproximaram do portão da Vila Torino com o suspeito sob custódia. Ragnar e Julie lideravam o grupo, enquanto o resto vinha atrás, alerta para qualquer sinal de perigo.

O clima tenso, porém, não era exclusividade do grupo, a guarnição alocada em frente ao portão exibia o mesmo semblante nervoso e inseguro de Skiff, o mais abalado do grupo.

— Quem são vocês e o que querem nesse vilarejo? — exigiu o homem de voz grossa brandindo uma alabarda. Sua postura indicava ser o único corajoso entre eles.

Os seis aventureiros e o suspeito pararam em frente ao portão fechado. Ragnar deu um passo à frente e respondeu:

— Nós capturamos o suspeito.

Do alto da muralha, uma das sentinelas bradou para o guarda lá em baixo.

— Senhor, eles são “aqueles” aventureiros.

O guarda da alabarda coçou o queixo, olhou para os seis, depois para o suspeito, então virou-se para trás e ordenou:

— Abram os portões.

E o portão foi aberto. Ragnar e seus amigos adentraram no vilarejo após agradecerem a gentileza da guarnição. E quando entraram, surpreenderam-se com o clima inquietante viram.

Guardas andavam de um lado para o outro. As luzes de velas e lareiras acesas dentro das casas denunciavam a insônia que acometeu a população naquela noite. E enquanto Ragnar admirava o que via, uma figura os recebeu:

— Aventureiros — disse um jovem bem-vestido, e após olhar para o homem amarrado, continuou: — Devo assumir que este é o suspeito que espionava nosso vilarejo.

— Sim, é ele mesmo — Julie respondeu. — E quem é você?

— Ah, mas é claro. Permita-me me apresentar, me chamo Luiz, sou o secretário do prefeito. Eu não estive presente na reunião porque estava tratando de outras pendências do vilarejo.

— Você poderia nos levar até o prefeito?

— Eu poderia, mas acho melhor trazê-lo até aqui. Não seria uma boa ideia levar esse sujeito para o centro da nossa vila.

— Você tem razão — admitiu Ragnar. — Nós ficaremos aqui, esperando.

O secretário agradeceu, deu-lhes as costas e se apressou pela rua principal. Ragnar olhou para a cara de seus amigos, o cansaço transparecia na face de cada um. Niki acabara de bocejar. Skiff esfregava os olhos e Artic se esforçava para manter os olhos abertos.

— Aguentem mais um pouco. Em breve nosso amigo aqui estará atrás das grades — disse puxando a corda que prendia o suspeito.

— Espero que sim — Havoc falou após se espreguiçar.

Levou mais de meia hora para o prefeito aparecer correndo pela estradinha principal, acompanhado por dezenas de pessoas. Ragnar reconheceu algumas daquelas figuras, pois estiveram com ele na reunião da prefeitura.

Joshua e sua comitiva pararam em frente ao grupo, mas antes de falar, parou um minuto para recuperar o fôlego.

— Este é o suspeito? — disse entre pesadas arfadas.

Ragnar e Julie confirmaram.

— Nós o encontramos se esgueirando pela floresta. Ele disse que estava catando flores para trazer à vó que mora no vilarejo.

O prefeito estudou o suspeito dos pés à cabeça, então voltou-se para as pessoas ao seu redor:

— Alguém daqui o reconhece?

Todos negaram.

— Meu senhor. — Joshua olhava bem para o suspeito. — Como você se chama?

— Matheus.

— E a sua avó?

— Maria.

— Onde ela mora? — O prefeito se aproximou um passo.

— No centro.

— Certo, mas perto de onde? Descreva a casa dela para nós. — A cada palavra a confiança na voz do prefeito aumentava.

— Ela… mora em uma casa de tijolos perto da… — Matheus olhava de um lado para o outro à procura de algo.

Ragnar teorizou que o suspeito buscava alguma referência para corroborar sua mentira.

— Senhor — Joshua interveio enquanto o suspeito ruminava. — Nenhuma casa aqui é feita de tijolos além da prefeitura e alguns prédios públicos. E até onde sei, nenhuma Maria mora no centro.

— O senhor está se confundindo.

— Não, eu tenho certeza. Minha memória nunca me enganou — o prefeito afirmou com serenidade.

— Há uma primeira vez para tudo — o suspeito continuava confiante em sua mentira.

O capitão da guarda se exaltou.

— Diga a verdade!

— Eu estou dizendo a verdade.

O prefeito, o capitão da guarda e as demais pessoas importantes do vilarejo continuaram pressionando. Com o passar do tempo a animosidade escalou para indignação. Ragnar observou aquelas dezenas de pessoas furiosas proferindo uma ofensa pior que a outra.

Enquanto isso, o suspeito mantinha a calma, o que só fazia piorar a situação.

O druida captou com o canto do olho uma movimentação vinda da lateral esquerda da turba. E já era tarde demais quando notou do que se tratava. A pedra atirada por um indignado atingiu em cheio o braço esquerdo do suspeito.

A pedra de formato arredondado rolou no chão após o impacto. E o baque produzido pela batida deixou Ragnar preocupado.

— Levem-no para fora, agora! — ordenou aos seus amigos.

Artic empurrou o suspeito em direção à saída, enquanto Ragnar e Julie faziam a contenção da massa enfurecida. Mesmo sob as súplicas do prefeito, a população não aquietou.

Foram minutos pavorosos para os seis jogadores, mas no fim, conseguiram levar o suspeito em segurança para fora das muralhas do vilarejo.

À cinquenta metros da entrada, Ragnar virou-se para trás e viu os guardas fecharem o grande portão de madeira.

— E agora? — perguntou Havoc.

— Honestamente? Eu já não sei mais — admitiu Julie. — Talvez devêssemos esperar o prefeito.

E virou-se para Ragnar, a face dele exibia aquela expressão, os olhos fixos no horizonte, os lábios comprimidos e a respiração levemente acelerada.  Julie se aproximou dele e perguntou:

— Eu conheço essa cara, o que está te incomodando?

— Ele está mentindo e não irá admitir, a não ser que a gente o obrigue.

— Espera aí, você vai realmente dar razão àqueles moradores?

— Só precisamos ser um pouco mais… diretos.

— Diretos como?

— Você quer mesmo ver?

Ela levou a mão direita ao rosto e coçou os lábios com o dedo indicador enquanto pensava.

— Eu não quero ser marcada como assassina de NPCs inocentes, não estou nem um pouco afim de fugir dos guardas da cidade. Então prometa que não irá machucá-lo.

— Eu prometo.

— Então vá em frente, abra a boca do desgraçado.

Ele mentalizou o comando, ergueu o braço esquerdo e estalou os dedos, invocando sua serpente companheira.

— Há quanto tempo, minha cara amiga rastejante.


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