Escolhido Brasileira

Autor(a): Bárion Mey


Volume 1

Capítulo 19

Luke

Que situação estranha… então esse é Arkus? Que aura intimidadora. Ele não fala uma palavra sequer, mantém o silêncio desde que chegamos ao escritório de Claus. Bebe seu chá tranquilamente, observando-me de perto. O único barulho que escuto são os de meus pensamentos inquietos.

— Você…

— Nunca imaginei que isso seria realmente possível — interrompe Arkus. — Lúcia, onde ela está? — Fico em silêncio, o que é quase uma resposta. — Entendo. É bem provável que esteja se escondendo.

— Como? Acha mesmo que Lúcia…, digo, minha mãe está viva?

— Quem você pensa ser sua mãe? Alguns bárbaros não são nada para ela!

Ele possui um olhar frio e forte, como gelo e fogo.

— Ela…

— Voltará quando achar seguro para ambos. — Ele se levanta da poltrona de couro. — Garoto, como é seu nome?

— Luke…

— Seu nome completo!

— Meu nome completo?

— Rhum! — Um sorriso estranho surge em sua face. — Ela não te contou nada mesmo, hein. Seu nome, garoto, grave bem em sua memória, pois você carrega um legado extinto através do tempo que passou.

— Legado extinto?!

— Seu nome completo é… — faz uma pausa dramática — Luke Drakhar, único herdeiro direto de sangue do clã mais antigo de toda Alduin! — Seu olhar sério penetra os meus.

Não consigo esconder meu espanto. Então quando Lúcia disse que somos de uma linhagem antiga… Ela não estava brincando. Levanto-me e me aproximo de Arkus. Meu olhar demonstra uma grande determinação de saber quem sou de verdade. Arkus apenas sorri.

— Você virá comigo — diz, pegando na maçaneta. — Irá descobrir quem é de verdade. — Abre a porta e se depara com Agnes o encarando.

— Seu… Seu… — Parece estar furiosa. — Onde pensa que levará meu pequeno irmãozinho? — retruca Agnes, prostrando-se na frente de Arkus.

— O garoto virá comigo. Já que sou avô dessa criança, a responsabilidade deve ser minha…

— E-ei…?!

— MESMO ASSIM, SEU VELHOTE! — grita Agnes. — VOCÊ NÃO PODE SIMPLESMENTE APARECER AQUI E LEVAR ELE EMBORA!

 Arkus lhe retribui um olhar hostil.

— Claro que posso, como vou!

Claus olha atentamente para Arkus, vendo o olhar severo dele para sua filha.

— Sr. Arkus, admiro sua intenção, mas… — Anda em sua direção com um olhar firme, e os olhos de Arlo e Arkus o seguem. — Tome bastante cuidado com como fala com minha filha. — Ele para ao seu lado. — Está na minha casa e não tolero esse comportamento, ainda mais contra Agnes! — Ele fica em silêncio. Tenho certeza de que deseja uma resposta.

— Você está certo, o erro foi meu. — O velho volta seu olhar para a menina. — Me desculpe, pequena garota. — Olha para mim e coloca a mão sobre meu ombro. — O que você quer?

Todos se surpreendem. Quer mesmo deixar uma escolha dessas para mim, seu velhote esquisito?

— Vou com você — respondo sem hesitar, tirando um sorriso do velho. — Irmã Agnes, virei visitá-la ocasionalmente…

— Por… Por que você tem que ir? — fala Agnes, atrapalhando-se ao tentar engolir o choro.

— Não precisa ficar assim. — Eu a abraço. — Muito obrigado. Mesmo. Por tudo o que fizeram por mim, principalmente… você…

Fico alguns minutos abraçado com ela, tentando fazê-la parar de chorar. Depois disso, vamos para fora, a carruagem de Arkus nos aguarda. Então foi isso que Lúcia quis dizer quando falou que ele entenderia se eu explicasse tudo.

De longe, enquanto a carruagem se afasta da mansão Pendragon, vejo Agnes acenar sua mão em movimentos lentos e pequenos, com os olhos inundados de lágrimas. Vejo Jya sair com uma mala em mãos, ela grita para que o cocheiro a espere.

Consigo vê-la se despedindo de Claus e Agnes. Então ela se aproxima.

— O que está fazendo? — pergunto, vendo-a jogar a mala dentro da carruagem.

— Eu vou te acompanhar para onde for, jovem mestre — diz Jya, sentando-se ao meu lado. — Algum problema, Sr. Arkus?

— Nenhum. — Ele pega um livro marrom chamado “O amanhecer da virtude” no banco ao seu lado e começa a lê-lo. Fica em silêncio durante todo o percurso, sem despregar os olhos das páginas.

O caminho não demora muito e, quando percebo, já estou no território Drakhar. Nós descemos, e vejo o olhar gentil acompanhado de um sorriso amigável de Jya me seguindo.

Ela me disse que estava pronta para apenas me servir. Viu algo em mim que chamou sua atenção. Agora… por que todos que conheci depois de sair da periferia de Hynder possuem casas tão extravagantes? A porta da mansão se abre e uma empregada mais velha surge.

— Sr. Arkus, bem-vindo de volta — reverencia em um cumprimento. Em seguida, direciona os olhos para mim. — E dessa vez, está acompanhado… — Olha para mim dos pés à cabeça. — Esta criança… poderia ser?! — Observa novamente, alternando os olhares. — Sr. Arkus, ele é…

— Prepare um quarto para ele e para a moça ao seu lado — fala Arkus. — Peça alguém para pegar suas roupas e organize tudo em seu armário.

Um mordomo surge de repente saindo das sombras. Sua aparência é incomum, com olhos semicerrados num tom cinza e o cabelo da mesma cor.

— Deixe comigo, sr. Arkus — diz o mordomo.

De onde esse cara surgiu? Não consigo nem mesmo sentir sua presença… A empregada me conduz pela casa até meu quarto no segundo andar. Ele é quase do mesmo tamanho do que me deram na mansão Pendragon, porém, ao invés de móveis exuberantes banhados a ouro, as prateleiras, guarda-roupa e a cama são todos elaborados de madeira. Tenho que parar de me surpreender assim…

Com minhas coisas todas arrumadas, o mordomo me guia pelo corredor até o escritório de Arkus. Passo olhando as espadas pregadas na parede como enfeites e um quadro de Arkus segurando uma garotinha no colo.

Chego em seu escritório e ele ainda se mantém lendo aquele livro. Sento-me em sua frente, numa poltrona de couro mais isolada.

— Não precisava ter revelado ser meu avô…

— Óbvio que precisava. — Arkus fecha o livro calmamente. — Não esconderei meu próprio sangue.

— O que fará se perguntarem como tem um neto? Irão perguntar quem é a mãe e onde ela está, e onde estive todo esse tempo…

— Rhum, não se preocupe com isso.

Pega uma jarra na frente dele e me serve um pouco de chá em uma xícara. Chá é tudo o que eles bebem por aqui? Como eu queria um pouco de café.

— Pelo visto não gosta muito de chá…

— Hum! Acredito que café seja melhor! — Meu sorriso sincero abre outro no rosto do velho.

Nós conversamos durante algumas horas. Eu lhe conto onde nasci, como vivíamos na periferia de Hynder, sobre o ataque bárbaro naquela noite e como foram meus dias infernais naquele lugar.

— Garoto… — Arkus se levanta e se aproxima de mim, ajoelhando-se em minha frente. — Vi você utilizando magia de raio quando cheguei na casa Pendragon. Quantos anos tem?

— Bem… — hesito um pouco. — Apenas cinco…

Ele esbanja um enorme sorriso de orelha a orelha com olhos brilhando de alegria e gargalha espantado.

— Impressionante, garoto. Nunca pensei que algo assim fosse possível.

Qual é a dessa reação estranha…?!

— O clã Drakhar — diz, colocando-se de pé. Escora-se na mesa e continua: — Todos, sem exceção, despertam aos sete anos.

— Aos se-sete?

— Essa é nossa linhagem, criança. Você foi abençoado para conseguir tal proeza.

— Na verdade… meio que...

Ele gargalha tão alto que até os empregados do andar inferior talvez possam o escutar. Contei que eu mesmo forcei meu despertar. Meio que esperava esse tipo de reação, mas não nesse nível.

— Você é mesmo filho daquele desgraçado.

— Está falando do meu…

— Isso é assunto para outra hora, garoto. — Anda para a porta. — Venha, quero lhe mostrar algo.

Nós dois saímos do escritório, passamos pelo corredor e descemos a escada curvada. Ele me leva até a frente da mansão, ficando de frente para mim.

— Quero testar sua força atual. — Arkus fica sério. — Preciso saber dos seus limites, e já vou logo avisando… — Tira as mãos de dentro do quimono. — Use tudo que tem, não pegarei leve.

Engulo seco e sinto o suor descer pela bochecha. Arkus é forte, absurdamente forte, tenho certeza disso. Lutar contra ele pode ser um grande aprendizado… e ele parece que não pegará nenhum pouco leve comigo. Agradeço por isso.

— Muito bem! Farei como deseja — respondo.

Hannah Tryger

O vovô é um completo imbecil. Passei um bom tempo sem vê-lo e nem pra dar uma moralzinha e ficar comigo um pouco. Imbecil. Imbecil. Imbecil. Deixa ele ver quando eu chegar na casa dele. Vai ver só. Finalmente consegui convencer a mamãe de ir até a casa do vovô, e não conseguimos nem brincar um pouco. Tive que convencê-la novamente a deixar eu voltar e ficar alguns dias aqui. Sinceramente, você me paga, vovô.

Quando entramos no território do vovô, olho pela janela e vejo um pequeno ponto branco e preto vindo voando até mim. Cada segundo que se passa, chega mais perto.

— O que é isso? — pergunto a mim mesma.

De repente, algo bate na carruagem, fazendo-a tombar de lado. Escuto os cavalos relincharem e o cocheiro gritar desesperado.

— PRINCESA?!

A parte de cima do veículo possui uma pequena entrada, tampada por uma janela. Ela se abre e o cocheiro me puxa para o lado de fora.

— Está bem, princesa? — pergunta preocupado, olhando se há algum machucado no meu corpo.

Escuto um barulho chocar contra a madeira da carruagem. Olho atentamente, conseguindo ver uma mão pequena se apoiar na parte amassada, tentando se levantar.

— Mas que droga… é essa? — exclama o cocheiro.

Sua mão está machucada, a camiseta branca com resquícios vermelhos, e, do seu rosto, pinga um líquido avermelhado.

— Oho! — Mais à frente da carruagem, vejo uma silhueta esguia se aproximando, animado.

— Aquele é… — Meus olhos voltam novamente para a pessoa em cima da carruagem, vendo seu rosto coberto de sangue.

— Saiba que ainda nem comecei, criança!

— Hah… Haah… — Sua respiração está pesada, e seus olhos ficam semiabertos.

Uma criança sai do ponto de impacto toda machucada. Fico preocupada, óbvio que eu ficaria. Meu vovô fazendo isso com uma criança tão pequena… Vou bater nele e contar pra mamãe o que ele fez. Pode ter certeza.

— Ei… — Olho pro seu rosto, mas… — Ele está… sorrindo? — pergunto a mim mesma.

O menino esbanja um sorriso inquietante e seus olhos ardem em chamas de determinação. Vovô sorri de volta alargando mais ainda os olhos.

— Ei, seu velho escroto… — A criança fica de pé cambaleando um pouco. Raios surgem cobrindo suas pernas. — Ainda não acabei. — Ele prende a respiração e avança rapidamente na direção do vovô, com um sorriso perturbador no rosto.

Vovô gargalha como um louco.

— Então venha, criança! Irei te mostrar algo…

— PAAREM! — grito desesperada. — O que pensam estar fazendo? Estão loucos?

Vou caminhando bufando até eles. Vejo a criança me encarar com o rosto coberto de sangue e repleto de hematomas.

— O-oi, minha querida…

— Silêncio!

— Glup!

Paro na frente do menino colocando a mão em seu rosto, tentando ver onde está o machucado.

— Quem… é você… — Ele fala com dificuldade, antes de desabar no chão.

— Eita! Acredito que exagerei um pouco. — Vovô o pega nos braços.

— Um pouco?! Você exagerou um pouco, vovô? — falo indignada.

— Tal-talvez um pouco até demais… — Ele se encolhe e recua um pouco.

Eu o acompanho até o quarto. Vovô chama algumas das empregadas para cuidar de seus ferimentos e trocar suas roupas.

— Bom… suponho que vou indo…

— Você não vai a lugar algum até me explicar o que vocês estavam fazendo! — Agarro a gola do seu quimono e o arrasto para fora do quarto.

— Magda, me ajude! Por favor!

— Silêncio, vovô!

 


 

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