O Lixo da Família do Conde Coreana

Tradução: hxshiro

Revisão: Lordian


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 48: De Alguma Maneira (6)

Uma semana depois, Cale finalmente deixou o palácio.

Ele agora tinha acabado de usar a carruagem que possuía a tartaruga dourada dos Henituse para chegar até um lugar.

— Já faz um bom tempo.

O ruivo, que concordou com o que o Dragão Negro disse telepaticamente, estava atualmente na Praça da Glória, olhando para uma grande cerca localizada ao redor da parte norte do local que foi destruída pelas explosões.

— ...

Contudo, resolvendo parar de olhar para o lugar onde ocorreu tal desgraça, Kim, rodeado pela brigada de cavaleiros da família Henituse, liderada por seu vice-capitão, que também caminhava no centro de tal formação, começou a caminhar para frente, pretendendo chegar a uma outra área.

Oh, jovem mestre Luz Prateada!

Porém, de maneira repentina, enquanto continuava no ritmo, Cale acabou por ouvir alguém dizer algo que lhe causou muitos arrepios e, de imediato, começou a franzir a testa.

A-Ahem… hm…

Ele também pôde notar as tosses falsas usadas para tapar o sorriso no rosto do vice-capitão.

— Jovem mestre…

Sua testa começou a se enrugar ainda mais com o vice-capitão, que abaixou um pouco seu corpo e começou a sussurrar em seu ouvido.

— Acho que agora é conhecido como "Jovem mestre Luz Prateada"... Ahem, bem, pessoas excepcionais como você são obrigadas a receber tais apelidos excepcionais.

"Merda."

O ruivo reteve tal palavra rude em sua mente — "Jovem mestre Luz Prateada", "Jovem mestre do Escudo'' — ele não queria ouvir coisas tão bregas e embaraçosas. Todavia, Kim já sabia que teria sido muito pior se não fosse o príncipe herdeiro cuidando dos rumores, e por isso não podia reclamar muito sobre.

— Tenho certeza que eles vão parar se eu beber e agir como de costume, certo?

Na verdade, tudo o que ele podia fazer era falar estoicamente com o vice-capitão, e fazê-lo encolher os ombros.

E-Er…

O vice-capitão não pôde dizer nada e simplesmente se afastou.

Essa ação fez Cale esboçar um sorriso…

— Jovem mestre...

Mas ele desapareceu segundos depois; por causa do que o vice-capitão disse a seguir.

— Acho que seria melhor para você evitar o álcool, já que ainda está se recuperando.

Oficialmente, o ruivo ainda não estava 100% recuperado.

A história oficial era que ele, para proteger a multidão, foi ferido ao ter utilizado seu poder antigo além dos limites e causado um milagre que impediu as explosões.

Tal história milagrosa originou-se naturalmente do príncipe herdeiro; e por isso que a brigada Henituse estava ocupada protegendo seu ferido jovem mestre.

Bem, não era apenas o pessoal da capital, Kim logo pensou no conde Deruth, que planejava vir para a capital há alguns dias, e relembrou do que havia dito através de uma rede mágica de comunicação em vídeo.

"Cale, você viu os rostos dos desgraçados? Seu pai matará todos por você. Como eles ousaram fazer uma coisa dessas a uma pessoa que nem consegue balançar uma espada!"

Embora Deruth soubesse que Cale tinha um poder antigo, o fato de que até sua irmã mais nova era melhor do que ele na prática de espada lhe fazia considerá-lo como fraco.

"A razão pela qual a família Henituse não toma medidas drásticas não é por ser fraca. Lembre-se disto, Cale. Nós não tomamos nenhuma medida porque somos fortes. Ninguém fará nenhuma ação contra você como essa no futuro."

Foi o que a condessa Violan havia dito enquanto acalmava o conde. 

E ela não estava errada, pois nenhum nobre enviou qualquer mensagem ou veio procurar o ruivo assim que deixou o palácio e retornou à sua própria residência; nem mesmo Eric e companhia.

"Isso me rendeu um tempo de paz."

Kim tinha usado esse tempo livre com muita eficiência.

Ah, jovem mestre Cale.

Cale, que estava olhando para frente enquanto caminhava, podia ver um cavaleiro junto a um soldado guardando a entrada.

— Você precisa verificar minha identidade?

Negando, o cavaleiro sacudiu a cabeça para a pergunta do ruivo e abriu respeitosamente a entrada. 

A partir daqui, ele teria que entrar sozinho na grande área reservada, mas com poucas pessoas.

O número daqueles que puderam entrar neste local era significativamente menor do que durante a celebração de aniversário.

— Jovem mestre Cale-nim, por favor, entre.

— Certo, obrigado. Continuem com o bom trabalho.

Kim, pensando que o cavaleiro estava provavelmente sobrecarregado pelo o trabalho, deu a ele tapinhas no ombro e o viu se curvar e responder vigorosamente.

— Sim, senhor!

Ele então entrou, sem saber que o mesmo cavaleiro o observou entrar por um longo tempo.

A Praça da Glória.

Hoje, Zed Crossman, o rei, planejou respeitar os caídos e dar medalhas a certas pessoas por suas ações durante o incidente terrorista.

Os que receberam as medalhas também ganhariam a qualificação para permanecer na segunda plataforma mais alta, bem abaixo do rei no palanque.

Cale, vestindo uma roupa preta mais luxuosa do que de costume, continuou a caminhar em um ritmo de lazer até finalmente chegar a um certo lugar.

— Cale, você chegou cedo.

Ele então sorriu para Eric Wheelsman, que havia chamado-o, e ficou imóvel.

Aquele era o lugar para os nobres, mas porque estava lá?

Eric, Amiru, Gilbert, e todos os outros nobres só podiam observá-lo em silêncio. E tudo porque todos tinham ouvido algumas notícias a respeito desta figura.

Cale Henituse recusou-se a aceitar a medalha de honra e a entregou a outra pessoa. Além disso, ele teve a coragem de arrastar seu corpo ainda ferido para participar da cerimônia.

Amiru olhou em sua direção; o ruivo estava olhando para o céu.

— Hoje é um lindo dia. Provavelmente porque estamos aqui para respeitar os caídos.

Os fios ruivos de cabelo agitavam-se com vento e criavam um contraste incrível com seu traje.

A nobre do nordeste esboçou um sorriso curioso após vê-lo como seu "eu" confiante de sempre.

— É provavelmente por causa de você, jovem mestre Cale.

"Minha?"

Kim olhou para Amiru com confusão, e abriu a boca.

— Você vai embora hoje, senhorita Amiru?

Com esta pergunta, ela apenas pôs um sorriso calmo e caloroso no rosto e respondeu de volta.

— Sim. E você amanhã, certo? Lhe espero no território dos Ubarr.

Cale achou aquela reação estranha, mas mesmo assim disse o que precisava dizer.

— Sim. Eu quero ver o oceano.

Ele planejava visitar o território Ubarr assim que deixasse a capital.

— Sei… É para a sua recuperação?

Uhum. Será bom pegar um pouco de ar fresco.

"Recuperação o escambau. Estou completamente saudável e vou para lá apenas para ficar mais forte!"

Mesmo tendo pensado isso, o ruivo apenas acenou com a cabeça para  a nobre e antes de acrescentar.

— Claro, mas essa não é a única razão.

Ah, é verdade.

Amiru, assim como Gilbert e Eric que estavam ouvindo, todos começaram a sorrir; um sorriso semelhante era esboçado no rosto de Kim.

Após hoje, todos os nobres já terão ouvido sobre o que estava prestes a acontecer — o desenvolvimento e o investimento para uma base militar no litoral nordestino. — Era por isso que Amiru e Gilbert estavam saindo correndo da capital esta noite; para evitar que qualquer informação falsa vazasse, assim como porque a coroa queria que as coisas progredissem o mais rápido possível.

E claro, isto só foi possível também porque a família Henituse concordou em emprestar uma quantia significativa de dinheiro para o território dos dois nobres do nordeste.

"Cale, estamos planejando enviar alguém, mas já que você pretende ir para lá, dê uma olhada também."

Já esta era a outra razão pela qual Cale acabaria tendo que visitar o território de Amiru e Gilbert.

"Pai, não seria melhor deixar só o especialista?"

"Ter mais pares de olhos é sempre melhor."

O ruivo, que não pode discordar em fazer o que Deruth pediu, logo teve suas recordações interrompidas.

— Estamos aos seus cuidados.

— Estamos aos seus cuidados, jovem mestre Cale.

Cale acenou para Amiru e Gilbert para indicar que não precisavam se preocupar com isso, enquanto olhava para trás, para a frente.

Com a chegada do rei, a cerimônia memorial e da entrega de medalhas logo teve início.

— Estamos hoje aqui reunidos de novo para mostrar que não nos acovardamos ao medo.

De maneira mais robusta do que nunca, Zed falava em voz alta.

E mesmo que ainda houvesse, relativamente, um grande número de pessoas na praça, sua atmosfera era completamente diferente comparada com o início da primeira cerimônia.

Tudo estava muito silencioso.

— E com o fato de que muitas pessoas mostraram atos heróicos durante aquele incidente...

O rei continuava a fazer declarações num tom glorioso. 

— Fomos capazes de proteger esta terra como no passado, graças à suas bravuras.

Seu discurso alfinetava aos inimigos, assim como também reunia a multidão e dava esperança.

— ...

Por um momento, pareceu que Zed havia feito contato visual com o ruivo, já ele, que não perdeu tempo, apenas desviou lentamente seu olhar a fim de o pousar para além de sua pessoa; em direção ao céu atrás dela.

"Bênção do deus sol?"

Kim então lembrou algo que o Dragão Negro havia dito...

"Eu não sinto o poder de nenhum deus naqueles humanos fracos. O único especial é o príncipe herdeiro."

E muito menos havia provas concretas de que a família Crossman era abençoada por um deus.

Cale, que tinha descoberto outra coisa inútil, decidiu apenas seguir fingindo não saber de nada, como de costume.

Já o dragão, que pareceu ficar entusiasmado com o fato de que o ruivo lhe pediu para manter esse segredo entre eles, felizmente concordou.

— Já em respeito, agora entregaremos medalhas a esses bravos heróis!

Com o fim da cerimônia memorial, o rei iniciou a cerimônia de entrega das medalhas e todos os "bravos heróis" subiram um a um para receber a sua.

Wowwwwwwww!

clap, clap, clap!

Como se nunca estivesse em silêncio, uma torcida encheu a praça.

Fiuuuuuuu!

— Os humanos são interessantes.

Clap, clap, clap!

Fiuuuuuuuu!

Em meio a todo o barulho da multidão — por causa dos cavaleiros que recebiam uma medalha — a voz do Dragão Negro soou pela cabeça de Kim.

Wowwww!

Cale podia adivinhar o que ele achou interessante, entretanto, como um humano, entendia melhor os sentimentos das pessoas que ainda estavam vivas.

Havia momentos para ficar triste e momentos para ficar animado.

Clap, clap, clap!

E por isso que ele aplaudiu também os medalhistas.

O ambiente estava muito melhor agora; todas as pessoas apreciaram a premiação como se fosse um festival.

— Jovem mestre Cale.

Este ambiente feliz tornou possível qualquer pessoa se aproximar do ruivo agora mesmo.

Kim voltou-se para a voz baixa que lhe chamava.

Havia muitos nobres que tinham retornado aos seus territórios — pensando que a capital era um lugar perigoso depois dos eventos da praça. — E por isso, tirando os representantes de cada região, o número de tais figuras naquele mesmo lugar era menor do que antes…

— O que foi, jovem mestre Venion?

Porém um desses mesmos nobres, ou melhor, Venion Stan, se aproximou de Cale e o chamou.

— Ouvi dizer que recusou uma das medalhas. Você não se arrependerá?

Rapidamente, boa parte dos olhares dos nobres que observavam o palanque voltaram-se para Venion e Kim, que não sabia por que o filho do marquês Stan sorria tão suavemente e lhe fazia essa pergunta.

— Eu quero matá-lo.

Por outro lado, Cale estava mais preocupado que o corpo de Venion explodisse em sua frente.

Sim, ele tinha rejeitado a medalha; e a razão para isso era simples.

O ruivo não queria ficar, "gravado".

Há um registro de todos os reis do reino do passado no andar mais alto da biblioteca real. E, no andar inferior, contém o registro de todos os "heróis" que receberam diferentes medalhas de honra ao longo da história do reino.

"Isso pode soar como fama e honra para alguns, mas para mim soa apenas como correntes."

A coroa usava tais documentos com a desculpa de que era para fornecer dinheiro a esses heróis quando precisassem, mas o real motivo era ter sua localização e manter o controle sobre eles.

Logo, Kim não queria ser gravado em lugar nenhum.

E com o fato de que uma guerra iria eclodir em breve, isso também tornaria mais fácil esquecer alguém que não foi gravado pelos os esforços na praça.

E foi por saber muito bem disso que Cale tomou como parte da razão para ter decido dar um passo adiante durante o incidente terrorista.

— Porque eu me arrependeria?

Esboçando um sorriso, o ruivo encarou o filho do marquês Stan e abriu a boca.

Ele não tinha nada para se arrepender; pois acabaria por receber uma bela recompensa, e o mais importante...

— Já é suficiente que tenhamos conseguido sobreviver.

Ele foi capaz de sobreviver sem se ferir gravemente. Essa era uma das verdades mais importantes para Kim Rok-Soo.

— ...

A área ao redor de Cale ficou em silêncio.

— Entendo...

Venion falou depois de um tempo, para quebrar tal clima.

— Ótimo. Ah, eu também sou muito tímido. Eu ficaria muito nervoso se eu fosse para lá receber uma medalha.

A expressão do filho mais velho do marquês Stan enrijeceu. Todavia, o ruivo apenas encolheu os ombros e se virou para aplaudir outra pessoa que estava recebendo uma medalha.

O Dragão Negro continuava a debater sobre como mataria Venion, antes de olhar para Kim e as pessoas ao redor e balançar a cabeça.

Havia muitas pessoas olhando para Cale agora mesmo; tanto os nobres quanto os plebeus lá embaixo o observavam.

Assim, pensando que as coisas ficariam muito complicadas e irritantes para Cale se matasse o filho do marquês Stan agora mesmo, o dragão então decidiu agir como o ruivo e ficar quieto, muito quieto, enquanto assistia à cerimônia.

— Com isto concluímos a cerimônia de hoje. No entanto, este rei aqui não esquecerá este momento. Me recordarei dele dia após dia para não esquecer dos bravos heróis.

A cerimônia terminou com os comentários finais do rei.

Swooish...

Um vento forte, parecendo indicar chuva, passou pela praça. O ruivo escovou para trás seu cabelo bagunçado.

O príncipe herdeiro havia dito que ele não precisava vir ao memorial hoje. Entretanto, Kim ainda apareceu.

Ele sabia o peso da morte de alguém.

Haa...

Suspirando profundamente, Cale terminou seu próprio gesto de respeito e colocou a mão direita em seu coração.

Este gesto alertou Eric, que começou a falar.

— Cale! O que foi!? Seu coração dói?

O ruivo observou Eric, que parecia estar em choque, e lhe lançou um olhar confiante — fazendo-o sorrir embaraçosamente enquanto se afastava. — O nobre do nordeste parecia estar muito envergonhado.

Kim sorriu para esta reação e deu dois tapinhas no peito; ele podia sentir o emblema dourado em seu bolso interno enquanto fazia isso. 

Aquela era a recompensa que ele havia recebido de Alberu.

"O príncipe herdeiro foi mais generoso do que eu esperava..."

Aquele emblema dava a Cale duas oportunidades para comprar qualquer coisa — independentemente do preço — do tipo que não importaria se ele comprava duas fatias de pão ou duas montanhas.

O ruivo iria usar essas duas oportunidades de forma muito eficaz no futuro.

"Tenho certeza que ele estava pensando, ‘Quanto você realmente pode gastar’, quando me deu isso."

Ou foi isso, ou lhe deu para ver exatamente o que ele poderia comprar.

"Pena que não conseguirá."

Kim começou a sorrir.

Havia muitas coisas únicas que se podia comprar no mundo, desde que soubesse como comprá-las.

— O que planeja agora, humano fraco? Tenha cuidado.

Cale ignorou o comentário preocupado do Dragão Negro, que tinha visto seu sorriso, e olhou em sua volta.

Ele fez contato visual com muitas pessoas.

No entanto, o ruivo confiou que esses olhares desapareceriam uma vez que deixasse a capital.


Cale, que havia retornado a sua residência e terminado de se preparar para sair cedo na manhã seguinte, entregou ao Dragão Negro um pedaço de bife junto com outros três itens.

O dragão agarrou o prato com o bife em cima, e perguntou sobre as outras três coisas.

— Para que servem?

Aqueles itens eram todos bombas mágicas com os dispositivos de detonação removidos; restava neles apenas a mana comprimida.

Com um sorriso malicioso, o ruivo estava planejando usar apenas uma destas três bombas.

— Para destruir um redemoinho.

Ele pretendia causar uma desordem no mar do nordeste do Reino Roan sem que ninguém soubesse disso.

E era possível, já que nem as tribos da sereias ou das baleias deveriam estar em tal lugar por enquanto.


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